10/10/2008
Não é a pílula mágica, mas tornou muito mais cómodas algumas das terapias de combate ao HIV. Há dez anos, um seropositivo tomava mais de 20 comprimidos por dia, hoje um pode ser suficiente. Um verdadeiro três em um. Dois laboratórios farmacêuticos gigantes juntaram-se para condensar num comprimido três compostos que até aqui eram administrados em separado e o resultado até aqui, dizem os médicos, tem sido animador. Em Portugal melhorou muito mas ser seropositivo ainda é ter uma consulta de alguns minutos de três em três meses para ver a carga viral. "Um só comprimido, uma vez ao dia, num esquema de primeira linha. É eficaz, seguro e bem tolerado", garante Joaquim Oliveira, médico infecciologista do Hospital de Dia da Universidade de Coimbra. O especialista, um dos convidados para a apresentação em Portugal do medicamento, que decorreu em Vilamoura, alerta no entanto para o facto de não ser uma "pílula mágica": "Pode até ter um efeito secundário, que é o de levar a pensar que [como a terapia é simples] não valem a pena medidas preventivas ou então que qualquer médico pode tratar", avisa. O Atripla - assim se chama o "remédio" antiretroviral de combate ao HIV1 - é feito à base de três compostos, o efavirenz, a emtricitabina e o tenofovir, todos eles já utilizados em terapêuticas há alguns anos. Mas, ao invés da toma de 3 a 5 comprimidos ao dia, permite aos doentes seropositivos que tomem apenas um, aumentando assim as probabilidades de aderência ao tratamento. É que segundo estudos apresentados por especialistas no Congresso Nacional de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica, SIDA e Parasitologia, no combate ao vírus da SIDA a eficácia depende em larga escala da regularidade do tratamento, e com muitos comprimidos, os esquecimentos são mais frequentes. "O Atripla não é a droga perfeita para todos", salienta Mark Nelson, responsável pelo. departamento de HIV do Chelsea-Westminster Hospital, ele que se tornou um adepto deste tipo de terapia. E Joaquim Oliveira acrescenta porquê: "O medicamento tem excepções, não pode ser administrado a grávidas ou mulheres em idade fértil com vida sexual activa e sem contracepção eficaz, mas também não serve para quem tenha insuficiência hepática ou renal ou ainda para jovens menores de 18 anos e idosos", diz, isto porque ainda não há estudos que suportem estes grupos. "Há muitos doentes que nos perguntam - E quando é que está cá o comprimido? E muitos deles podem nem sequer vir a poder tomá-lo", garante o médico. UM COMPRIMIDO, UMA VIDA - Ricardo Fernandes, presidente da Associação Positivo, reconhece as vantagens de apenas uma toma ao dia, contra as três a cinco que existiam até aqui. Mas avisa que, para um seropositivo, o mais importante continua a ser os efeitos secundários e a forma como é olhado pela sociedade. "É uma boa ferramenta mas não é uma varinha mágica. A toma única é um instrumento importante mas isso não pode levar ao desinvestimento noutros fármacos, mais eficazes ou com menos efeitos secundários", esclarece. De resto, admite que apesar da melhoria nas mentalidades, ser seropositivo ainda equivale a discriminação: "A qualidade de vida das pessoas é também ter trabalho, casa, comida, afecto e saúde física e mental. Nós, seropositivos, temos que ser parte da solução, é possível viver com HIV em Portugal", admite. O responsável da Associação critica ainda o facto de Portugal "partir sempre atrasado" para soluções que os Estados Unidos, O Reino Unido ou até a Espanha já implementaram há mais tempo. No nosso país, o fármaco foi aprovado em Dezembro pelo Infarmed, mas só lentamente está a ganhar terreno no Serviço Nacional de Saúde. UM EM VEZ DE DOIS, MAS PREÇO É O MESMO - Lazaro Poughias, director internacional da Gilead (uma das empresas que fabrica o fármaco, a outra é a Bristol-Myers-Squidd), adianta ao Observatório do Algarve que o objectivo principal do novo comprimido não é ganhar dinheiro: "A nossa intenção é manter o preço, não foi por causa do dinheiro", diz. "Estamos a investir no paciente", acrecenta. Segundo Lazaro Poughias, há que contabilizar os custos globais de uma terapêutica eficaz de combate ao VIH, não olhando só ao preço do medicamento: "Um paciente de HIV não é, hoje em dia, para ficar em casa, ele pode ir trabalhar e fazer uma vida normal, e isso também conta", afirma o responsável. O Atripla, cujas caixas têm 30 unidades, custa 801,33 euros, integralmente suportados pelo Estado. Cada seropositivo português custa em média ao Estado 27 euros por dia, devido aos tratamentos gratuitos que recebe. Mário Lino -
Fonte: Observatório do Algarve Online - Google Alerta
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