Cientistas questionam 'nível ideal' de vitamina B12
Sabe-se há muito tempo que vitaminas precisam ser obtidas de fontes externas ao corpo - comidas e bebidas, e, no caso da vitamina D, exposição ao sol - e que a ausência do volume necessário de uma determinada vitamina pode resultar em doenças bem definidas e ocasionalmente mortíferas.
Mas nas últimas décadas os estudos epidemiológicos vincularam diversos nutrientes, especialmente as vitaminas C e E, o beta caroteno e o ácido fólico, a doenças crônicas, como câncer e enfermidades cardíacas. Isso levou as pessoas a consumir esses produtos em dosagem elevada a fim de evitar as conseqüências funestas.
Mas quando testes clínicos organizados com métodos científicos foram conduzidos, a maior parte dessas promessas iniciais se provou falsa. Agora, mais uma vitamina, a B12, está sendo discutida como fator em diversas doenças que comumente afligem pessoas mais velhas, entre as quais derrames e problemas cardíacos, Mal de Alzheimer e demência, fragilidade, depressão, osteoporose e até mesmo alguns cânceres.
Como no caso das demais vitaminas, os indícios quanto ao papel que um nível baixo de B12 possa desempenhar nesses problemas derivam inteiramente de estudos epidemiológicos - aqueles que acompanham uma população inteira, nesse caso medindo o nível de vitamina B12 em seu organismo de maneira a determinar se existem correlações de saúde.
Por exemplo, um estudo continuado com 2.576 adultos em Framingham, Massachusetts, vincula os baixos níveis de B12 no sangue a perda de massa óssea em homens e mulheres; um estudo com 703 mulheres na casa dos 70 anos de idade que vivem em suas casas em Baltimore vincula a deficiência de vitamina B12 a fragilidade; e um estudo publicado este ano sobre 107 pessoas com idade superior a 60 anos, moradoras em comunidades para idosos e acompanhadas por cinco anos, vincula o baixo nível de B12 a uma redução da massa cerebral.
As mais recentes constatações atraíram muita atenção, dado o problema do Mal de Alzheimer e o fato de que a B12 protege o sistema nervoso. Em muitos dos estudos, os sintomas foram constatados em pessoas com níveis de B12 pouco inferiores aos normais. Em alguns casos, sintomas foram constatados em pessoas com níveis de B12 bem superiores aos que causam a mais conhecida das doenças vinculadas à deficiência dessa vitamina, a anemia.
As constatações levaram alguns especialistas a questionar se os níveis de B12 no sangue hoje vistos como ideais o são realmente.
Um nutriente complexo
Os estudos sugerem benefícios consideráveis da elevação nível de B12, especialmente em adultos com mais de 50 anos. Mas esses tipos de estudos não são capazes de provar causa e efeito. Até que testes clínicos com o uso de grupos de controle e administração de placebos sejam conduzidos, será impossível determinar se a elevação artificial nos níveis de B12 que apresentem níveis baixo pode ser considerada segura e benéfica.
Mas crescente número de especialistas, mencionando explicações bem estabelecidas para a queda no nível de B12, especialmente em pessoas mais velhas, instam todas as pessoas de mais de 50 anos a elevar seu consumo de B12 por meio de suplementos ou alimentos fortificados. Esses especialistas acreditam que isso não deve atrapalhar e pode ajudar a manter as pessoas saudáveis.
O Dr. Donald Jacobsen, bioquímico da Cleveland Clinic que estuda a B12 há 40 anos e é consultor de uma empresa que está desenvolvendo um novo suplemento da vitamina, explica que ela é necessária em todas as células do corpo.
Porque é solúvel em água e apenas uma pequena fração do volume consumido é absorvida pelo corpo, o uso de dosagens elevadas parece seguro, ele afirmou.
O corpo tem um método complicado de adquirir B12 natural. Nos alimentos de origem animal, a vitamina chega ao corpo transportada por proteínas. Ela precisa ser separada destas pelo ácido estomacal antes que possa ser absorvida.
O grupo de risco mais freqüente, no caso da escassez de B12, é o formado pelas pessoas mais velhas. No caso de pessoas com mais de 65 anos, o nível de B12 fica abaixo do ideal em 30% delas.
"O problema é sério", disse o Dr. J. David Spence, neurologista e especialista em derrames no Instituto Robarts de Pesquisa, do Canadá. "E perto de 80% dos adultos mais velhos que sofrem deficiência de B12 não sabem que têm o problema", ele disse.
Opiniões divergentes
O Dr. Godfrey Oakley, epidemiologista e pesquisador da Universidade Emory, em Atlanta, acredita que vitamina B12 deveria ser adicionada à farinha, o que eliminaria o problema de escassez do produto para as pessoas com baixa acidez estomacal.
"Essas pessoas não costumam adoecer muito por esse motivo, mas o risco de que venham a desenvolver demência, osteoporose e doenças cardiovasculares é mais elevado".
Mas outro veterano pesquisador do ramo, o Dr. Ralph Carmel, hematologista e diretor de pesquisa do Hospital Metodista de Nova York, em Brooklyn, acautela contra esse tipo de recomendação. "Os vínculos encontrados em estudos podem ser importantes, mas ninguém demonstrou que receber B12 adicional faz diferença para desdobramentos futuros", ele afirma. "Precisamos de testes clínicos".
Além disso, ele sustenta que o pequeno volume de B12 na maioria dos suplementos não bastará para corrigir uma deficiência amena. "Não se pode mudar nada", diz Carmel, "até que a pessoa comece a receber uma dosagem de mil microgramas diários".
The New York Times
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