Brasil transfere para África tecnologia contra Aids
17 de outubro de 2008
Em ação estratégica de cooperação em saúde com os povos africanos de língua portuguesa, governo brasileiro doa fábrica de anti-retrovirais para Moçambique
Moçambique vive uma triste realidade: mais de 670 mil crianças estão órfãs, pois perderam seus pais na luta contra a Aids. Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), apenas 5,7% das pessoas que precisam de tratamento naquele país estão recebendo a ajuda necessária. Como forma engrossar o esforço para reverter essa situação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciaram nesta quinta-feira (16), em Moçambique, a doação de uma fábrica de anti-retrovirais para o país. Com a medida, o Brasil se vale da experiência na área, para contribuir com a redução da mortalidade relacionada à doença e melhorar da qualidade de vida dos portadores do vírus.
“A ação permitirá não só a Moçambique enfrentar a epidemia de Aids, mas, também, apoiar os demais países da África, produzindo antiretrovirais e colocando esses produtos a disposição da população africana”, afirmou Temporão. Para o ministro, a doação da fábrica de anti-retrovirais reforça a estratégia do governo brasileiro de ampliar os acordos de cooperação com os países africanos, sobretudo com aqueles que integram a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), e de ampliar as ações de desenvolvimento entre os países do hemisfério Sul.
O projeto é de extrema importância para a saúde pública moçambicana. Números do país mostram que 16% da população é infectada pelo HIV, parcela que chega a 25% em algumas regiões. Esse percentual corresponde a um universo de 1,6 milhão de pessoas infectadas, mais do que o dobro do número registrado no Brasil, estimado em 620 mil pessoas.
Para viabilizar a implantação da fábrica, o governo brasileiro liberou R$ 13,6 milhões em equipamentos, obras de adequação do espaço físico e aquisição de equipamentos e insumos. Essa primeira etapa estará concluída ainda em 2009. Até que seja concluída a transferência de tecnologia para fabricação dos medicamentos em Moçambique, três anti-retrovirais (Lamivudina + Zidovudina, Zidovudina, Lamivudina) serão enviados a granel e embalados no país africano. Todo o processo de transferência de tecnologia deve durar 3 anos.
A equipe de Farmanguinhos/Fiocruz responsável pelo projeto capacitará profissionais moçambicanos que trabalharão na fábrica de anti-retrovirais. Os primeiros dois módulos de treinamento – Projeto Executivo e Garantia de Qualidade – serão realizados no Brasil, durante o mês de novembro.
FIOCRUZ ÁFRICA – Nesta sexta-feira, as autoridades brasileiras participaram da solenidade de inauguração do escritório da Fiocruz África, a primeira unidade da Fiocruz em território estrangeiro. O escritório, que funcionará nas dependências do Centro Cultural Brasil-Moçambique, dará suporte à implantação da fábrica de anti-retrovirais.
O escritório da Fiocruz em Maputo, capital moçambicana, contribuirá para intensificar as atividades da Fundação Oswaldo Cruz em todo o território africano. Hoje a Fiocruz oferece cursos de mestrado em Angola, na área de saúde pública, e em Moçambique, na área de ciências da saúde, além de cursos de doutorado em Cabo Verde e Guiné Bissau.
“Essa unidade permitirá que a Fiocruz ofereça a sua capacidade em cursos de mestrado, doutorado e especialização, em doenças infecto contagiosas, saúde pública, planejamento em sistema de saúde e captação de recursos humanos estratégicos, entre outros. Será um espaço de fomento da capacitação dos países da África auxiliando na estruturação de sistemas de saúde e na capacidade de enfrentar os graves problemas de saúde do continente”, disse Temporão.
ANVISA – Pela cooperação em saúde entre Brasil e Moçambique, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) auxiliará o Ministério da Saúde de Moçambique na estruturação de órgão regulador e de vigilância sanitária de medicamentos no país africano.
A Anvisa capacitará profissionais moçambicanos, qualificando-os em atividades como o combate à falsificação de medicamentos e ações de inspeção técnica. O governo de Moçambique também passa a reconhecer a Anvisa como autoridade regulatória, capaz de avaliar os medicamentos que serão enviados do Brasil para a fábrica de anti-retrovirais em Maputo.
A assistência técnica da Anvisa ao governo de Moçambique é um dos itens previstos em Memorando de Entendimento assinado em 20 de setembro de 2008, no Rio de Janeiro, durante encontro de ministros da Saúde da CPLP.
Fonte: Ministério da Saúde.
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