Rio - O brasileiro é tido como um povo comunicativo. Há quem diga ter muitos amigos, com ótima troca afetiva. Mas será que as pessoas se tocam o suficiente? Parece existir entre nós uma carência profunda daquilo que mais desejamos: tocar, abraçar, acariciar. E isso vem desde muito cedo. Estudos mostram que entre as causas menos conhecidas para o choro em bebês está a necessidade de serem acariciados. Muitas mães rejeitam um contato mais prolongado com seus filhos com base na falsa suposição de que dessa forma eles se tornarão profundamente dependentes delas.
Não são poucos os pais que evitam beijar e abraçar os filhos homens, porque temem que assim se tornem homossexuais. Mesmo dois grandes amigos se limitam a expressar afeto dando tapinhas nas costas um do outro, enquanto as amigas trocam beijinhos impessoais quando se encontram.
A pele, o maior órgão do corpo, até há pouco foi negligenciada. Ashley Montagu, um especialista americano em fisiologia e anatomia humana, se dedicou, por várias décadas, ao estudo de como a experiência tátil, ou sua ausência, afeta o desenvolvimento do comportamento humano.
A linguagem dos sentidos, na qual podemos ser todos socializados, é capaz de ampliar nossa valorização do outro e do mundo em que vivemos, e de aprofundar nossa compreensão em relação a eles. Tocar é a principal dessas linguagens. Afinal, como ele diz, nosso corpo é o maior playground do universo, com mais de 600 mil pontos sensíveis na pele.
O sexo tem sido considerado a mais completa forma de toque. É possível ficar muito tempo acariciando alguém sem repetir nunca a mesma sensação. Em seu mais profundo sentido, o tato é a verdadeira linguagem do sexo. É principalmente através da estimulação da pele que tanto o homem quanto a mulher chegam ao orgasmo, que será tanto melhor quanto mais amplo for o contexto pessoal e tátil.
Montagu acredita que a estimulação tátil é uma necessidade primária e universal. Ela deve ser satisfeita para que se desenvolva um ser humano saudável, capaz de amar, trabalhar, brincar e pensar de modo crítico e livre de preconceitos. O psicoterapeuta José Ângelo Gaiarsa reforça as idéias de Montagu afirmando que "para todos os seres humanos é fundamental o contato, o toque, a proximidade, a carícia. Por isso estamos tão doentes. Falta-nos proximidade, contato; não trocamos carícias nem gostamos que toquem em nós. Quanto mais civilizados, mais asséptico, mais distante e mais frio. Só palavras. Pouca mímica. Nenhum contato. Por isso foi tão fácil inventar robôs."
POR REGINA NAVARRO LINS
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