A síndrome da bela adormecida
A ciência estuda a estranha doença que leva as pessoas a dormir por até 30 dias seguidos. Infecções virais e causas genéticas podem estar por trás dos surtos
Monique Oliveira
a britânica Louise Ball, que é portadora da doença,
CAMA
Os pais da inglesa Louise precisam
acordá-la para que se alimente
Os três são portadores da Síndrome de Kleine-Levin (SKL), chamada também de síndrome da Bela Adormecida. A doença é rara e conta com mil casos conhecidos no mundo. Seu diagnóstico é difícil e geralmente é dado quando são descartadas outras hipóteses. “Não há um teste específico e o único dado que podemos assegurar é que a condição não é muito comum”, disse à ISTOÉ Tom Rico, coordenador do Centro de Narcolepsia da Universidade de Stanford (EUA) e um dos porta-vozes da Fundação Kleine-Levin, que ajuda portadores da síndrome em todo o mundo.
A doença costuma surgir entre o meio e o fim da adolescência e apresenta três sintomas recorrentes: hiperfagia (compulsão por comida), hipersexualidade e hipersônia (sono excessivo). Os doentes também podem ter crises de agressividade. Esses sintomas nem sempre estão presentes em todos os casos. “Realizamos o diagnóstico porque raramente o paciente apresenta os mesmos sintomas quando não está em crise”, explica a neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono e da Universidade Federal de São Paulo. “Em surto, ele entra em estado psicótico, perde o contato com a realidade.”
O paranaense Elizeu domingues chegou a dormir por
um mês inteiro. Quando acordou, não se lembrava de nada
De fato, é mais comum que as pessoas procurem ajuda quando a hipersônia é diagnosticada. “O sono é um dos sinais mais preocupantes identificados pelos familiares porque a pessoa passa a ter pouco contato com os outros”, explica Dalva. É por isso que a doença é registrada e tratada geralmente em instituições especializadas em distúrbios do sono. Em São Paulo, o Instituto do Sono é uma das instituições procuradas. “Já me deparei com oito casos da doença”, explica Dalva.
Poppy shingleton já passou seu aniversário de 18 anos
dormindo e perdeu natal e ano-novo porque
ficou adormecida mais de uma semana
Também a ciência registrou alguns gatilhos que podem deflagrar as crises. No estudo de Brasília, o garoto manifestou as primeiras alterações de comportamento depois de passar por um abalo emocional – a namorada ficou grávida e perdeu o bebê. Já Louise teve o primeiro surto depois de uma gripe forte. Acredita-se que uma disfunção do hipotálamo, estrutura cerebral que regula funções como o sono, a sexualidade e a temperatura do corpo, esteja por trás dos surtos.
Agora, o que a ciência tenta explicar com estudos mais complexos é por que especificamente essas pessoas desenvolveram a enfermidade. Um estudo da Universidade de Kumamoto, na província de Kumamoto (Japão), publicado recentemente, aponta para causas genéticas. O texto descreve a síndrome em dois irmãos gêmeos monozigóticos (gerados a partir de um único óvulo). Os primeiros sintomas ocorreram na mesma idade e todas as crises foram precedidas de algum episódio viral, como no caso de Louisie. Outras teorias sobre as causas genéticas da doença envolvem populações inteiras. “Há registros de alta prevalência entre a população asquenase (judeus vindos da Europa Central e Oriental)”, diz Tom Rico, de Stanford.
fotos: Worldwide Features/Barcroft Me; Phil Burner/Caters News/ZUMAPRESS.com
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