O
governo brasileiro, por meio do Instituto de Tecnologia em Fármacos
(Farmanguinhos/Fiocruz), vai iniciar as operações da fábrica de
antirretrovirais e outros medicamentos em Moçambique. A cerimônia para
celebrar o fim das obras da unidade de produção ocorrerá neste sábado
(21/7), na capital Maputo, no final da cúpula da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP). Oficialmente denominada Sociedade
Moçambicana de Medicamentos (SMM), a unidade fabril é a primeira
instituição pública no setor farmacêutico do continente africano.
Estarão
presentes ao evento de sábado o vice-presidente da República, Michel
Temer, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, o vice-presidente de
Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Jorge Bermudez, e o diretor de
Farmanguinhos, Hayne Felipe e o diretor da fábrica em Maputo Roberto Camilo.
Do lado moçambicano participarão o ministro
da Saúde, Alexandre Manguele, o presidente do Conselho de Administração
do Instituto de Gestão das Participações do Estado (Igepe), Apolínio
Panguene, o presidente da SMM, Alcino Ndeve, e a diretora-executiva da
SMM, Noémia Muissa.
De
acordo com o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, "Farmanguinhos teve
um trabalho fantástico em termos de realizar um trabalho inédito no
campo das relações externas e certamente único na área da saúde. Por
meio de uma parceria horizontal, de identificação de quais são as
vulnerabilidades e as demandas de um país africano, foi montada uma
parceria e se viabilizou uma fábrica que será dos moçambicanos. Nós
ajudamos a constituir essa fábrica, o governo brasileiro doou os
equipamentos, houve também doções de empresas privadas que atuam em
Moçambique. Haverá ainda capacitação de pessoal para a área,o que
inexistia em Moçambique, vamos ajudar o país a construir um aparato
regulatório na área de saúde - que a Anvisa ajudou a configurar. Esse
processo significará que teremos uma fábrica não somente qualificada em
Moçambique, mas com a perspectiva de ser certificada internacionalmente
pela Organização Mundial da Saúde e poder fornecer medicamentos para
toda a África subsaariana".
A
iniciativa faz parte do acordo de cooperação entre os dois países e
deve beneficiar cerca de 2,7 milhões de pessoas que vivem com HIV/Aids
naquele país. Nesta primeira etapa, serão rotulados 3.255 frascos de
Nevirapina 200 mg, o que equivale a 195.300 unidades farmacêuticas.
Inicialmente serão produzidos três antirretrovirais -
Lamivudina+Zidovudina, Nevirapina e Ribavirina - num total de 226
milhões de unidades farmacêuticas por ano. Futuramente, outros cinco
serão incluídos na lista. A tecnologia para desenvolvimento e produção
dos medicamentos será transferida gradualmente por Farmanguinhos. Além
dos antirretrovirais, há previsão de fabricar 21 tipos diferentes de
medicamentos, entre os quais antibióticos, antianêmicos,
anti-hipertensivos, antiinflamatórios, hipoglicemiantes, diuréticos,
antiparasitários e corticosteróides. A estimativa é que a fábrica
produza cerca de 371 milhões de unidades farmacêuticas por ano,
incluindo antirretrovirais e demais medicamentos.
A
Fundação Vale foi parceira da Fiocruz no projeto, com financiamento de
80% das obras de infraestrutura da fábrica, que tem três mil metros
quadrados de área construída. O processo de implantação começou em 2003,
envolvendo várias etapas. O apoio do governo brasileiro, orçado em
cerca de US$ 23 milhões, contempla todas as etapas, passando pelos
estudos de viabilidade, aquisição de equipamentos, transferência de
tecnologias, capacitação técnica, validação e registros, e submissão de
certificações de âmbito nacional e internacional. O apoio estende-se
ainda à elaboração do plano de negócios e ao fornecimento de diretrizes
para a sustentabilidade da organização. Segundo a diretora adjunta da Fiocruz, Lícia de Oliveira, o papel do Brasil é levar para Moçambique a
experiência do Sistema Único de Saúde, que registra vários sucessos
visíveis, como, por exemplo, o combate ao HIV/Aids e a produção de
medicamentos genéricos.
Com
aproximadamente 24 milhões de habitantes, Moçambique sofre com uma
epidemia da doença que atinge 11,3% da população, conforme dados do
Conselho Nacional de Combate ao HIV/Aids (CNCS) daquele país. Segundo o
diretor do escritório da Fiocruz na África, José Luiz Telles, aumentar o
acesso regular dos medicamentos com qualidade aos pacientes é, hoje,
questão prioritária da agenda da saúde pública moçambicana. “A
instalação da fábrica de antirretrovirais contribuirá para alcançar este
desafio. Na linha de produção, por exemplo, está o medicamento
Nevirapina hoje utilizado no protocolo nacional de tratamento das
crianças infectadas e para a prevenção da transmissão vertical, isto é,
de mãe para o bebê”, diz.
Atualmente,
de acordo com CNCS, 15% das moçambicanas grávidas entre os 15 e 49 anos
de idade vivem com o vírus HIV. A epidemia tem um caráter heterogêneo
em termos geográficos, socio-demográficos e socioeconômicos: mulheres,
residentes urbanos, moradores das regiões sul e centro são mais afetados
pelo HIV e Aids. A principal via de transmissão continua a ser
heterossexual em cerca de 90% dos casos em adultos.
Nota boaspraticasfarmaceuticas: Na montagem e direção da fábrica em Maputo, destacou-se o competente Roberto Camilo de Farmanguinhos trabalhando incansavelmente, com a sua equipe, para que esta inauguração pudesse acontecer
.Paulo Rangel, Juan, Roberto Camilo e Antonio Celso Brandão
Foto recente em Farmanguinhos (Alex Mansur)
Com Agência Fiocruz de Notícias
Brasil inaugura fábrica de remédio de aids na África
Unidade foi instalada em Moçambique e terá a expertise da Fiocruz; primeira atividade será rotular remédios
Quinta, 18 de Julho de 2012, 22h30
Fernanda Bassette
O governo brasileiro inaugura neste sábado, 21, uma fábrica de medicamentos para tratamento de aids em Moçambique, na África, por meio de um acordo de cooperação entre os dois países assinado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A fábrica terá a expertise da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), via Farmanguinhos, mas será totalmente administrada pelo governo moçambicano.
O Brasil investiu ao menos US$ 23 milhões nessa parceria. Ao governo de Moçambique coube a missão de adquirir um prédio para a instalação da fábrica, além de fazer toda a contratação de pessoal. A unidade vai funcionar em uma área adaptada de uma fábrica de soro já existente.
Segundo Hayne Felipe da Silva, diretor do Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fiocruz/Farmanguinhos, a fábrica terá capacidade de produzir 21 tipos de medicamentos: 8 antirretrovirais e 13 para diferentes doenças, como hipertensão e diabete.
A unidade foi projetada para atender a demanda de toda a população de Moçambique e produzir 400 milhões de unidades de medicamentos por ano. Mas, segundo Silva, é possível que a unidade seja ampliada para atender também os países vizinhos.
Por enquanto, porém, a fábrica vai apenas rotular as embalagens de um tipo de antirretroviral produzido no Brasil – a nevirapina – para dentro de um ano, em média, começar a produzir os remédios. Nessa primeira fase, serão rotulados 3.255 frascos de nevirapina (195 mil comprimidos).
Atraso. O início das operações da fábrica em Moçambique está atrasado ao menos três anos e meio. Em outubro de 2008, Lula visitou a unidade e anunciou que a fábrica iniciaria a rotulagem de medicamentos em março de 2009 e até o final daquele ano a unidade produziria os comprimidos por conta própria. Naquela época, já havia atraso no início do funcionamento da unidade.
Silva, da Fiocruz, atribui o atraso ao governo moçambicano, que teria demorado para adquirir o espaço onde a fábrica vai funcionar e não teria recursos suficientes para a compra dos equipamentos – foi daí que surgiu a parceria com a Vale.
“Quando recebemos a área da fábrica de soro, em 2009, tínhamos de cumprir todo o trâmite de compra de equipamentos importados, adaptar todo o local, fazer a capacitação de pessoal. Esse processo não é simples nem rápido”, afirmou.
Moçambique tem cerca de 20 milhões de habitantes e é considerado um dos 50 países menos desenvolvidos, que disputa com vizinhos africanos doações estrangeiras para conter o avanço da aids. Estima-se que 2,7 milhões de moçambicanos estejam infectados pelo HIV, o que corresponde a 12% da população.
fábrica em Maputo
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