Na faixa etária de 13 a 19 anos, número de casos é maior entre as mulheres e, dos 20 a 24 anos, divisão por gênero é semelhante. Entre os homens, jovens se infectam mais em relações homossexuais
Os números mais recentes da aids no Brasil mostram que a epidemia, na década de 2000, comporta-se de forma diferente entre os jovens. Na população geral, a maior parte dos casos está entre os homens e, entre eles, a principal forma de transmissão é a heterossexual. Considerando somente a faixa etária dos 13 aos 24 anos, a realidade é outra. Na faixa etária de 13 a 19 anos, a maior parte dos registros da doença está entre as mulheres. Entre os jovens de 20 a 24 anos, os casos se dividem de forma equilibrada entre os dois gêneros. Para os homens dos 13 aos 24 anos, a principal forma de transmissão é a homossexual.
Diversos fatores explicam a maior vulnerabilidade dos jovens para a infecção pelo HIV. Entre as meninas, as relações desiguais de gênero e o não reconhecimento de seus direitos, incluindo a legitimidade do exercício da sexualidade, são algumas dessas razões.
No caso dos jovens gays, falar sobre a sexualidade é ainda mais difícil do que entre os heterossexuais. “Eles sofrem preconceito na escola e, muitas vezes, na família. Isso faz com que baixem a guarda na hora de se prevenir, o que os deixa mais vulneráveis ao HIV”, explica Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Como uma resposta a essa realidade, o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres fará uma campanha publicitária por ocasião do carnaval, com mensagens dirigidas para esse público. Pela primeira vez, a ação terá dois momentos. No primeiro, veiculado uma semana antes dos dias de folia, as peças tratam do uso da camisinha. Na semana seguinte ao carnaval, outros materiais falarão sobre a importância de se fazer o teste anti-HIV quando se viveu alguma situação de risco.
A mensagem para quem vai curtir o carnaval é de prevenção. O slogan “Camisinha. Com amor, paixão ou só sexo mesmo. Use sempre” é direcionado para quem tem relação estável ou casual. São três vídeos, um para as meninas, um para os jovens gays e o outro (a ser veiculado no período pós-carnaval) de incentivo à realização do teste de HIV. Em ambos a protagonista é uma camisinha falante que alerta os jovens para o uso do preservativo, narrada na voz da atriz Luana Piovani, que aderiu à campanha e não cobrou cachê.
Desde 2000, essa é a décima vez que os jovens são tema de campanhas de massa desenvolvidas pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Há também ações dirigidas para esse público em atividades específicas, como as paradas gays, carnavais fora de época e outras festas populares com grande participação dessa faixa etária.
O aumento de casos de aids entre as mulheres se deu em todas as faixas etárias. Em 1986, a razão era de 15 casos de aids em homens para cada caso em mulheres, e a partir de 2002, a razão de sexo estabilizou-se em 15 casos em homens para cada 10 em mulheres. Na faixa etária de 13 a 19 anos, o número de casos de aids é maior entre as mulheres jovens. A inversão apresenta-se desde 1998, com oito casos em meninos para cada 10 casos em meninas.
Entre 2000 e junho de 2009, foram registrados no Brasil 3.713 casos de aids em meninas de 13 a 19 anos (60% do total), contra 2.448 meninos. Na faixa etária seguinte (20 a 24 anos), há 13.083 (50%) casos entre elas e 13.252 entre eles. No grupo com 25 anos e mais, há uma clara inversão – 174.070 (60%) do total (280.557) de casos são entre os homens.
SAIBA MAIS:
Aids avança entre garotas com idades de 13 a 19 anos
A doença, que sempre afetou mais os homens, mudou de cara. Jovens com mais de 12 anos podem fazer teste de HIV sozinhos
Rio - Trinta anos depois do primeiro caso de Aids no Brasil, a epidemia mudou de cara entre os jovens com idades de 13 a 19 anos. Nesse grupo, as meninas já são 60% das pessoas contaminadas — o vírus sempre afetou mais homens do que mulheres no País em todas as faixas etárias. Ontem, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, lançou no Rio a Campanha de Prevenção a Aids no Carnaval e garantiu que adolescentes com mais de 12 anos podem fazer testes de diagnóstico de HIV mesmo sem a presença dos pais.
“É um direito desse jovem, mesmo sem autorização da família, fazer a testagem. A questão central é a saúde”, disse o ministro. A campanha, que tem como slogan ‘Camisinha. Com amor, paixão ou só sexo mesmo. Use sempre’, tem como público-alvo as garotas e os rapazes gays com idades entre 13 e 19 anos. Na segunda fase, após o carnaval, jovens serão incentivados a fazer o teste.
Segundo o estudo do ministério, 64,8% das mulheres com idades entre 15 e 24 anos fizeram sexo no último ano, e 66% delas não usaram preservativos em todas as relações casuais. A confiança no parceiros faz com que 30% não usem o preservativo.
“As mulheres têm dificuldades de negociar o uso do preservativo. Elas usam nas primeiras relações com um parceiro, mas depois acabam confiando e abrem mão da proteção, mesmo sem saber se o parceiro tem o vírus ou não”, diz Eduardo Barbosa, diretor adjunto do Departamento de DST e Aids do Ministério. “As relações hoje são mais passageiras e cada vez mais o início sexual é precoce”.
A dificuldade de acesso e até mesmo o constrangimento de ser vista com um preservativo facilita a exposição das jovens. “ A sociedade é machista. Quando a garota tem preservativo, começam as brincadeiras maliciosas, pejorativas”, diz Eduardo, lembrando que os meninos se orgulham de ter preservativos na carteira.
O medo de que os pais descubram o produto na bolsa também dificulta a proteção. “Se a família é mais rígida, mais religiosa, por exemplo, fica mais complicado para essa adolescente ter camisinha em casa e ter que se explicar”, diz Jane Portela, do Programa de Prevenção a DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde. A ingestão de álcool é outra preocupação. “A bebida altera os sentidos e é difícil ter a lucidez de usar camisinha”, diz Jane.
Autora do livro ‘Aids e Juventude: gênero, classe e raça’, Stella Taquete lembra uma característica dos adolescentes que aumenta o risco. “Eles não têm maturidade. Não acreditam que podem se contaminar”.
Rapazes gays também expostos
O preconceito está fazendo com que os gays já sejam maioria entre os homens com Aids, na faixa entre 13 e 19 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, nessa idade a transmissão da doença já é 39% por sexo homossexual e 22%, heterossexual. Entre a população masculina em geral, 45% dos contaminados relatam que a transmissão ocorreu por sexo com mulheres.
“Eles sofrem preconceito na escola e, muitas vezes, na família. Isso faz com que baixem a guarda na hora de se prevenir, o que os deixa mais vulneráveis ao HIV”, explica Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST/Aids do Ministério da Saúde.
O jovem A., 20 anos, soube que estava com Aids há dois anos. “Procurei meu ex-namorado, mas ele não quis falar sobre o assunto. Quando a gente começou a namorar, a gente usava camisinha, mas com o tempo a gente acaba confiando e abrindo mão uma vez ou outra”, diz ele.
Ele diz que custou a acreditar no resultado do teste. “Afeta muito a autoestima quando a gente sabe. Contei aos meus pais, mas nem todos os amigos sabem”.
Vânia Cunha e Pâmela Oliveira (O Dia)
Confiança no parceiro é principal motivo para dispensar camisinha
A confiança no parceiro é a principal razão para deixar de usar camisinha mesmo quando se trata de sexo casual, revela estudo inédito da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Foram ouvidas 79.075 pessoas que procuraram os Centros de Aconselhamento e Testagem para fazer o exame de HIV entre 2000 e 2007 e afirmaram não ter usado preservativo. Do total, 43,68% apontaram essa razão para deixar a camisinha de lado. Nesse grupo, 23,5% disseram ter tido relações com parceiros eventuais.
"Ainda é muito difícil conscientizar sobre o uso da camisinha. Há pessoas que deixam de usá-la porque confiam no parceiro, mas depois buscam um teste de HIV, o que mostra que podem ter refletido melhor", diz Maria Clara Gianna, diretora do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids.
Ela diz que o que preocupa não é o fato de ter parceiros eventuais, mas de confiar neles a ponto de dispensar a prevenção. "Tanto em caso de parceria fixa quanto eventual, a confiança deve ser bastante avaliada."
Se um casal estável decidir parar de usar o preservativo, o melhor é que faça o teste de HIV. "Fazer o exame é importante, mas não é suficiente, já que ele pode cair no período da janela imunológica", pondera Gianna. Trata-se do intervalo entre a infecção pelo vírus e a detecção de anticorpos pelos exames. Esse tempo, no qual pode haver resultado falso-negativo, é de duas a oito semanas, mas pode se prolongar.
Para aumentar a segurança, a psicóloga Maria Cristina Antunes, pesquisadora do Nepaids (Núcleo de Estudo para a Prevenção da Aids), da USP (Universidade de São Paulo), recomenda refazer o exame três meses depois, mas diz que não se pode dispensar a chance de infidelidade. "De acordo com estudos, cerca de 45% da população brasileira já foi infiel. A camisinha é a melhor proteção", afirma.
Não gostar da camisinha foi a segunda razão mais citada para deixá-la de lado. Uma dica para reduzir o desconforto é passar lubrificante por dentro e por fora do acessório, diz Antunes.
Falta de informação é o terceiro item no ranking de "desculpas". "Mesmo com todas as campanhas existentes, ainda há esse problema. Precisamos continuar falando sempre a respeito", diz Gianna.
Rápida capacidade evolutiva explica invulnerabilidade do vírus da Aids
A rápida evolução do vírus HIV, causador da Aids, é o principal fator de seu caráter letal e dos problemas para combatê-lo, comprovou um estudo publicado nesta quinta-feira (11) pela revista "PLoS Computational Biology".
Segundo a pesquisa, apenas um vírus basta para iniciar a infecção. Após a infecção, em pouco tempo o paciente hospeda milhares de versões do mesmo vírus, todas elas diferentes e em concorrência para infectar as células.
O estudo acrescentou que a rápida e especial evolução do vírus em cada paciente é o que permite ao HIV desenvolver resistência às drogas antivirais. "Em cada paciente se acumula uma enorme diversidade do HIV e essa é a razão pela qual é um vírus tão poderoso", indicou Ha Youn Lee, professor da Universidade de Rochester e autor do estudo.
A pesquisa do HIV realizada pelo grupo liderado por Lee também descobriu que a evolução do vírus não ocorre em um ritmo constante, desacelerando quando diminui o nível das cruciais células imunológicas conhecidas como CD4+T.
Segundo os cientistas, é possível que diante do enfraquecimento do sistema imunológico o vírus não sinta sua "pressão seletiva" e não necessite mutar.
"Em uma pessoa com um forte sistema imunológico, o vírus tem de mudar para sobreviver", afirma Thomas Leitner, professor do Laboratório Nacional dos Álamos e especialista em evolução viral e bacteriana.
"Mesmo uma pessoa que viveu uma década ou mais com o vírus em algum momento sofre um enfraquecimento de seu sistema de defesas. É nesse momento que o vírus evolui. É um processo muito dinâmico", indicou.
Estigma contra portador de HIV
Embora tenham qualidade de vida e perspectivas de tratamento melhores hoje do que no início da epidemia, os portadores do vírus HIV ainda são estigmatizados, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde.
Foram entrevistadas 8.000 pessoas em todos os Estados do país, com perguntas sobre o relacionamento cotidiano com portadores do vírus.
Para 22,5% delas, não se pode comprar legumes e verduras em locais onde trabalhe um portador de HIV. Outras 19% disseram que alguém com Aids não pode ser cuidado na casa da própria família, e 13% acham que uma professora com HIV não pode dar aulas em nenhuma escola.
Para João Pires, diretor da ONG GIV (Grupo de Incentivo à Vida), o estudo mostra que governo, escolas e veículos de comunicação têm falhado ao informar sobre as formas de contágio do vírus.
O HIV só é transmitido por via sexual, por contato do vírus com o sangue ou pelo leite materno. Compartilhar copos e toalhas, por exemplo, não traz riscos. Há esclarecimentos sobre as vias de contágio no site www.aids.gov.br.
Hepatites B e C afetam dez vezes mais pessoas que Aids
As hepatites B e C são doenças crônicas que afetam 500 milhões de pessoas em todo o mundo --dez vezes mais que a Aids-- e deve-se dar a elas a mesma atenção e visibilidade que a outras enfermidades como a Aids, a tuberculose e a malária, alerta a ONG Aliança Mundial contra a Hepatite.
"Uma em cada 12 pessoas está infectada pelas hepatites B ou C e existe uma grande carência de esforços e vontade política para ocupar-se dessas doenças", alertou a associação durante assembléia anual da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Cerca de 1,5 milhão de pessoas morrem a cada ano desses dois tipos de hepatite, o que faz com que a doença seja "uma das ameaças mais importantes à saúde mundial", ressaltou a ONG, que determinou o 19 de maio como o primeiro Dia Internacional da Hepatite.
Um dos maiores problemas que os cientistas enfrentam é a ausência de dados estatísticos sobre o assunto.
As experiências apontam a responsabilidade dos governos de difundir informação sobre a hepatite e supervisionar as transfusões sangüíneas, que são uma das vias mais comuns de contágio.
A hepatite B é uma infecção severa do fígado causada por um vírus transmitido pelo contato direto com o sangue ou outros fluidos corporais como o suor ou o leite materno.
A variante da hepatite B pode ser prevenida eficazmente com uma vacina. Não existe nenhum tipo de prevenção contra a hepatite C, que é transmitida pelo contato com o sangue infectado.
Folha online
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