5.17.2013

Emagrecer aos poucos ou de uma vez só?



Artigo publicado pela Universidade de Alabama revela que metas ambiciosas são mais úteis para emagrecer

Emagrecer aos poucos ou de uma vez só?


por Gabriel Moro | design Fernanda Didini | foto Dercílio
Se a batalha para perder peso ganhasse os contornos de uma fábula infantil, a história da lebre e da tartaruga se encaixaria como uma luva. Afinal, "devagar e sempre" é um lema recorrente para quem acredita que emagrecerem longo prazo seja mais eficaz do que eliminar vários quilos em poucos dias— lema que, por sinal, é respeitado dentro dos consultórios de muitos médicos e nutricionistas. Mas uma grande revisão de estudos publicada no respeitado periódico The New England Journal of Medicine aponta que essa crença não passa de mito. Se o assunto é emagrecer, concluiria nossa fábula, a lebre teria tudo para vencer a tartaruga.

No artigo, os cientistas capitaneados pela Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, analisaram centenas de pesquisas sobre perda de peso ao redor do mundo e chegaram à conclusão de que muito do que se propaga no senso comum não tem fundamento. "Ainda não existem evidências de que o emagrecimento lento e gradual apresente melhor resultado", diz a professora de nutrição Krista Casazza, uma das autoras do levantamento. Na verdade, Krista e os colegas depararam com dados que indicam justamente o contrário.

Dois estudos sérios, o primeiro da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e o segundo da Universidade da Flórida, nos EUA, por exemplo, mostraram, depois de acompanhar por pelo menos um ano os voluntários, que as pessoas que haviam emagrecido rapidamente nas primeiras semanas tiveram mais sucesso em manter a forma do que aquelas que fizeram um programa de perda de peso durante meses. "Isso serve de alerta para sempre buscarmos evidências antes de acreditar no que dizem por aí", diz Krista. Seria esse, então, o sinal verde para abandonar os planos alongo prazo e investir em medidas capazes de secar a barriga em duas semanas?

Diante da polêmica questão, alguns experts em obesidade preferem adotar cautela. "Geralmente as dietas que prometem eliminar muito peso em períodos curtos são violentamente hipocalóricas", alerta a nutricionista Ana Maria Ramos, da Universidade Federal de São Paulo. Segundo ela, nosso corpo às vezes reage de maneira inesperada ao déficit repentino de calorias. Por isso, dietas rígidas que limitam a ingestão de certos tipos de alimentos — como a das proteínas, a do Dr. Atkins e a de South Beach — podem ativar crises de ansiedade e comportamentos compulsivos, entre outras coisas.

"Existem muitas ideias loucas, descabida se maléficas que até trazem um resultado imediato a quem se propõe emagrecer para uma data especial, como um casamento", analisa o endocrinologista Alfredo Halpern, professor da Universidade de São Paulo. "Ocorre que, se a pessoa não mudar alguns hábitos, vai recuperar os quilos tão rapidamente quanto os perdeu", completa. 


Criar asas ou ter o pé no Chão?

Mudança de hábito implica cumprir uma agenda perene de compromissos, estabelecendo objetivos e desafios. E a mesma revisão publicada pelo The New England Journal of Medicine aborda o tema, classificando como mito a ideia de que trabalhar com metas realistas (perder 1 quilo em duas semanas) é melhor que se impor alvos ambiciosos (invertendo a lógica: perder 2 quilos em uma semana). O senso comum diz que o indivíduo pode ficar frustrado e até desistir da luta com a balanças e não conseguir cumprir as missões em curto prazo. "É uma hipótese que faz sentido, mas a ciência mostra que desafios ambiciosos fazem com que as pessoas justamente emagreçam mais", declara o estudo, que reúne quatro pesquisas, feitas desde 2004, apontando para essa direção.

Mas também aí existem ponderações, já que a perda ou o ganho de peso dependem da interação de componentes fisiológicos, emocionais e comportamentais. "Engordar e emagrecer envolvem mecanismos complexos, que variam de pessoa para pessoa", afirma o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo. Assim, não existe um único padrão quando falamos de estímulos para emagrecer e respostas às estratégias escolhidas. O sujeito pode tanto reagir positivamente ao ver que perdeu 1,5 quilo em uma semana quanto negativamente por não ter atingido a meta que havia se colocado(como 2 quilos nesse período).

Uma ideia incontestável, para o estudo americano e para os especialistas ouvidos por SAÚDE, é que regime algum surtirá efeito em longo prazo se o indivíduo não mudar seu estilo de vida. "É preciso reorganizara agenda para aliar alimentação equilibrada a prática regular de exercícios físicos", resume o endocrinologista Walmir Coutinho, presidente da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade.

Para ele, ainda falta formação aos médicos no que toca à necessidade de convencer os pacientes dessa transformação. Coutinho observa que muitos profissionais não especificam as atividades físicas recomendadas, por exemplo. "Pode ser função do médico sugerir um programa que se encaixe à rotina, com o mínimo de chances de o paciente abandoná-lo por falta de praticidade", opina. "Só dizer que é preciso se exercitar é muito superficial."

Sob esse olhar, a fábula da lebre e da tartaruga não terminaria na linha de chegada. Na busca pelo peso ideal, emagrecer é apenas a primeira das muitas bandeiradas de uma longa corrida rumo à vida saudável. "Nenhum médico vai falar pra você parar de perder peso se a estratégia que você adotou está dando certo", diz Halpern. "Quer ficar em forma rápido, seguir metas ambiciosas? Vá em frente, desde que não faça bobagem com a sua saúde e que as mudanças benéficas na sua rotina não parem depois de emagrecer",

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