A descoberta de um continente submerso a 1,5 mil quilômetros da costa pode aumentar a área de domínio marítimo do País e virar fonte de combustíveis e metais raros
Juliana Tiraboschi e Ana Carolina Nunes
A lenda de
Atlântida, mencionada pela primeira vez em contos do filósofo grego
Platão, falava de uma ilha rica em metais preciosos que teria sido
destruída por um cataclismo e afundado no Oceano Atlântico por volta de
9.500 a.C. Nesta semana, uma expedição do Serviço Geológico do Brasil
(CPRM) feita em parceria com a Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia
da Terra e do Mar (Jamstec) e com universidades nacionais pode ter
encontrado uma Atlântida brasileira. Os pesquisadores levantaram
indícios de que o Elevado Rio Grande, uma cordilheira submersa a 1.500
quilômetros da costa sul do Brasil, já fez parte da plataforma
continental do País.
Para levantar mais detalhes sobre a geologia do local, um time de pesquisadores brasileiros pegou carona no submersível japonês Shinkai 6500 e fez mergulhos a até 4.000 metros de profundidade. “Coletamos sedimentos de quartzo, que é um componente do granito”, diz José Angel Perez, professor de oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí e chefe da equipe nacional da expedição. Segundo Perez, apesar dos novos e fortes indícios de ligação do elevado com o continente, mais estudos são necessários para comprovar a origem da formação. É preciso, por exemplo, perfurar a rocha e se certificar de que ela realmente tem granito em seu interior.
Se a hipótese for comprovada, o Brasil pode requerer posse desse território junto à ONU, o que permitiria a exploração de metais como cobalto e manganês. É possível que a região também abrigue reservas de petróleo e de um combustível sólido conhecido como hidrato de metano (confira quadro). Segundo o economista Maurício Canêdo Pinheiro, da Fundação Getulio Vargas (FGV), as vantagens econômicas só seriam possíveis no longo prazo e a um alto custo. Ele lembra, entretanto, que o território pode oferecer outro tipo de riqueza: “A descoberta pode ampliar nossa soberania oceânica, o que beneficiaria a indústria pesqueira.” Hoje, ela é de 200 milhas, mas o Brasil pleiteia ampliar esse limite.
Fotos: divulgação. infografia: Fernando Brum
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