10.27.2013

LIBRA É PETROBRÁS

R$ 1 trilhão é pouco?

No maior leilão da indústria petrolífera global, o campo de Libra recebeu apenas uma oferta. Saiba por que o resultado é mais favorável do que parece

Mariana Queiroz Barboza

A 183 quilômetros da costa do Rio de Janeiro, no pré-sal da bacia de Santos, Libra é o maior campo de petróleo já descoberto no Brasil e o maior encontrado no mundo desde 2008. O “tesouro” com até 12 bilhões de barris recuperáveis de óleo, segundo estimativas da Agência Nacional do Petróleo, foi leiloado na segunda-feira 21 pelo preço mínimo, mas suficiente para transferir R$ 15 bilhões ao Tesouro em até 30 dias (um alívio para o pagamento da dívida pública) e dar o passo inicial de um projeto que deverá render R$ 1 trilhão à União nos próximos 35 anos – a maior parte destinada à educação e à saúde, como enfatizou a presidenta Dilma Rousseff em cadeia de rádio e tevê. Nas contas do governo, que considerou o preço atual do barril de petróleo (ao redor de US$ 100), estão os royalties, o excedente de óleo e os dividendos das ações da Petrobras. Para aqueles que consideraram o leilão um fiasco, eis aqui uma comparação interessante: R$ 1 trilhão equivale a todo o PIB da Argentina.
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Quando gigantes do setor petrolífero, como as americanas Exxon Mobil e Chevron e as britânicas BP e BG, começaram a desistir de fazer ofertas pelo campo brasileiro, a atratividade de Libra foi questionada. O apetite de estatais chinesas era interpretado por alguns analistas mais como uma estratégia geopolítica de assegurar reservas do que como uma oportunidade de lucrar com a exploração. Mas a entrada da anglo-holandesa Shell e da francesa Total, ambas com ampla experiência em águas profundas, no consórcio vencedor liderado pela Petrobras simbolizou o respaldo que o governo precisava. “Essa é uma situação ganha-ganha, porque o retorno será alto para as empresas e uma boa quantia ficará no Brasil”, disse à ISTOÉ Manouchehr Takin, especialista em petróleo do Centre for Global Energy Studies, de Londres. Para Pedro Zalán, geólogo e consultor independente, a composição do consórcio vencedor dá a garantia de que “a produção vai ser desenvolvida com as tecnologias mais modernas”.
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ARREMATE
Representantes da Petrobras, Shell, Total, CNOOC e CNPC
batem o martelo ao lado do ministro Edison Lobão
As estatais chinesas CNOOC e CNPC, que normalmente investem em ativos já em produção, ficaram com 20% do total. Essa é a primeira vez que elas colocam dinheiro no mercado brasileiro. Em entrevista por e-mail à ISTOÉ, o presidente da CNOOC, Li Fanrong, explicou o que o motivou a entrar no consórcio. “A participação no projeto de Libra é um reflexo de nossa confiança na economia brasileira”, disse. Como o conhecimento da China em petróleo é restrito a ambientes terrestres e águas rasas, muitos acreditam que a experiência no pré-sal brasileiro ajudará o País na exploração de blocos na África, onde já tem uma influência importante.
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Ao mesmo tempo em que a falta de concorrência mostra que o novo modelo de partilha precisa de ajustes, os especialistas  são unânimes em afirmar que esse não era um jogo para qualquer um. Devido ao bônus de assinatura (no valor de R$ 15 bilhões, comprometido antes do início da exploração), uma empresa que decidisse entrar com uma fatia de 10% deveria desembolsar, portanto, R$ 1,5 bilhão logo na assinatura do contrato. E o retorno não deve chegar em menos de seis anos. A própria Petrobras, operadora única de todos os campos do pré-sal, de acordo com a legislação atual, tem uma capacidade de investimento limitada. Neste ano, sua produção e seu valor de mercado caíram, enquanto a dívida subiu. Segundo o Bank of America, a Petrobras é hoje a companhia de capital aberto mais endividada do mundo, excluindo-se os bancos. “Se não houvesse a pré-definição da empresa operadora nos próximos leilões, esse seria um fator adicional de atração de outros consórcios”, diz o consultor Luiz Carlos Costamilan. “Esse termo tem que ser revisto.”
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CONTRA A PRIVATIZAÇÃO
Como em outras ocasiões, manifestantes entraram
em confronto com militares durante o leilão no Rio
O leilão de Libra, o primeiro no sistema de partilha, foi acompanhado por protestos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Segundo os manifestantes, Dilma teria quebrado uma promessa de campanha quando declarou que não privatizaria “a Petrobras e o pré-sal”. Além de o leilão concluído na semana passada não representar, nem de longe, uma privatização (a Petrobras, afinal, é a controladora do consórcio), esse tipo de discussão não traz benefícios. Atrair gigantes estrangeiros é fundamental para o crescimento da economia – não só pelos recursos que ingressam no País, mas pela expertise que os grupos internacionais podem oferecer. Com o início da exploração da camada pré-sal, o Brasil caminha para se transformar num dos maiores produtores e exploradores de petróleo e derivados do mundo. Por mais que os críticos gritem, embolsar R$ 1 trilhão, ou uma Argentina inteira, não faz mal a ninguém.
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