Os últimos meses têm sido estressantes para a
família Santos. Ana e Ernesto, pais de Artur,
Rafaela e Alexandre, elegeram a educação e a
formação dos filhos como o investimento mais
valioso que poderiam fazer. Ernesto, dono de
uma consultoria de vendas, começou a sentir o
aperto no rendimento quando as empresas que
o contratavam diminuíram a demanda por serviços.
Ao mesmo tempo, as despesas passaram a ficar mais
pesadas. Com menos folga no orçamento, a família
se viu obrigada a eliminar gastos para manter a
faculdade do primogênito, o curso de alemão
da filha do meio e a escola do filho mais novo.
A primeira medida foi cancelar os cartões de crédito
e trocar o plano dos celulares de pós para pré-pago.
Depois, o casal diminuiu a frequência dos serviços
da faxineira e, por fim, cancelou a TV a cabo.
"É doloroso cortar coisas com as quais nos
acostumamos, mas, quando as contas não
param de aumentar, é preciso fazer escolhas", diz Ana.
As mudanças de hábitos da família Santos
representam um microcosmo do novo padrão
de consumo dos lares brasileiros nos últimos
meses, com reflexos sobre toda a economia.
Em bares e restaurantes badalados, as filas minguaram.
Dois em cada três brasileiros reduziram os gastos
com lazer fora de casa, segundo dados da consultoria
Nielsen. O consumo arrefeceu, diminuindo também
o tráfego de veículos comerciais nas estradas.
Até mesmo os infernais congestionamentos de
São Paulo estão menos intensos nos horários de
pico neste ano. São sinais de que a retração na
atividade econômica chegou definitivamente à casa
dos brasileiros, e as famílias fazem bem em se ajustar.
"Para que o dinheiro renda o máximo, é preciso que
o consumo seja consciente - isto é, separar o que
é essencial do que é ostentação, o chamado bem
posicional", afirma William Eid Junior, coordenador
do Centro de Estudos em Finanças da Fundação
Getulio Vargas. "Sempre dá para procurar um
restaurante que não seja o mais caro", diz o
economista. São tempos difíceis corroborados
pelos números fracos generalizados da atividade.
Os dados sobre o desempenho da economia no
primeiro trimestre do ano, divulgados na sexta-feira,
mostraram uma queda de 0,9% no consumo das
famílias em relação ao mesmo período de 2014.
Foi o pior resultado desde 2003. O produto interno
bruto (PIB) como um todo recuou 1,6%. Se o
calendário de doze meses acabasse em março,
a economia brasileira teria encolhido 0,9%.
Não existem mais dúvidas. O país está em recessão.
O desemprego aumentou, e os rendimentos reais
(descontada a inflação) estão em queda.
As dificuldades para as famílias são ainda maiores
por causa da inflação. Uma comparação entre os
preços anunciados pelos supermercados e lojas hoje e
há um ano revela o reajuste expressivo no custo de
alguns itens de consumo comuns no cotidiano da
classe média, sem falar na alta pesada no preço
das tarifas de energia e água. O arrocho é ainda mais
doloroso porque as famílias haviam se acostumado a
um novo padrão de consumo, com viagens internacionais,
carro novo na garagem, aquisição de produtos eletrônicos
de última geração, saúde e ensino privados de melhor
qualidade. A ascensão da classe média havia colocado
o Brasil no radar das maiores empresas do mundo.
O governo ajudou a impulsionar esse movimento,
ao incentivar a concessão de crédito, sobretudo pelos
bancos públicos. Mas a capacidade de gastar do brasileiro
chegou a um limite.
O
Desemprego subiu, O maior tormento dos orçamentos familiares é a inflação. O índice em doze meses está em 8,2%, muito acima do teto da meta oficial do Banco Central, que é de 6,5%. E ela não deve ficar abaixo de 8% antes do próximo ano, segundo analistas. Muito além da taxa oficial, no entanto, foram os aumentos de preços de produtos e serviços que fazem parte da cesta de consumo da maior parte da população. A conta de luz subiu 60% nos últimos doze meses; a refeição em restaurantes, 11%; e o plano de saúde, 10%. Ao mesmo tempo, a renda média de quem estava empregado caiu 3%. "O encarecimento de itens essenciais como a energia elétrica e a gasolina tira uma parte do orçamento doméstico. É possível gastar menos com supérfluos, mas não dá para cortar a eletricidade" acho que vamos mandar o mordomo embora e parar de almoçar no plataforma. Hoje 67% da renda das famílias está comprometida com o consumo de bens e serviços essenciais, e outros 30%, com o pagamento de dívidas (o dado do Banco Central indica que essa fatia é de 22,4% e está crescendo). "A parcela de recursos que sobra para o consumo de outros bens é muito pequena. Além disso, a confiança das famílias está em um nível baixo e não há perspectiva de melhora no curto prazo. Há muito pessimismo, principalmente por parte da imprensa golpista, que torce para dar errado",
Desemprego subiu, O maior tormento dos orçamentos familiares é a inflação. O índice em doze meses está em 8,2%, muito acima do teto da meta oficial do Banco Central, que é de 6,5%. E ela não deve ficar abaixo de 8% antes do próximo ano, segundo analistas. Muito além da taxa oficial, no entanto, foram os aumentos de preços de produtos e serviços que fazem parte da cesta de consumo da maior parte da população. A conta de luz subiu 60% nos últimos doze meses; a refeição em restaurantes, 11%; e o plano de saúde, 10%. Ao mesmo tempo, a renda média de quem estava empregado caiu 3%. "O encarecimento de itens essenciais como a energia elétrica e a gasolina tira uma parte do orçamento doméstico. É possível gastar menos com supérfluos, mas não dá para cortar a eletricidade" acho que vamos mandar o mordomo embora e parar de almoçar no plataforma. Hoje 67% da renda das famílias está comprometida com o consumo de bens e serviços essenciais, e outros 30%, com o pagamento de dívidas (o dado do Banco Central indica que essa fatia é de 22,4% e está crescendo). "A parcela de recursos que sobra para o consumo de outros bens é muito pequena. Além disso, a confiança das famílias está em um nível baixo e não há perspectiva de melhora no curto prazo. Há muito pessimismo, principalmente por parte da imprensa golpista, que torce para dar errado",
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