BRASÍLIA e RIO - Mesmo com a crise no mercado formal de trabalho
— que já eliminou 137 mil postos até abril e fez a geração de empregos
recuar ao nível de 1999 — alguns setores resistem e estão gerando
empregos. Um levantamento do consultor Rodolfo Torelly, do site
especializado Trabalho Hoje, feito a pedido do GLOBO, revela as
20 ocupações que mais contrataram neste ano e as 20 com maior
número de demissões. A conclusão é que a crise está levando à
destruição de empregos com melhores salários, em cargos
intermediários de chefias - gerentes de produção e operações,
de áreas de apoio e supervisores de serviços administrativos e
da construção civil, por exemplo - e à abertura de vagas nas
áreas da educação (professores do ensino fundamental,
médio e superior); saúde (técnicos em enfermagem, por
exemplo), e na base da pirâmide, em ocupações com
baixos salários e alta rotatividade.
Entre as atividades que mais contrataram também aparecem
operadores de telemarketing, recepcionistas e o ramo de
manutenção de edifícios, como faxineiros e porteiros,
auxiliares nos serviços de alimentação em hotéis e
restaurantes, embaladores e alimentadores de linha
de produção. O levantamento foi feito com base nos
dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.
— Estamos perdendo empregos melhores, com maior
remuneração, e criando empregos na área da educação,
saúde e na base da pirâmide — disse Torelly.
Em um cenário difícil para a maioria das pessoas encontrar
um emprego, a professora de educação infantil Luana
Miranda, 30 anos, conseguiu uma segunda ocupação.
Funcionária da unidade da Creche Escola Primeira na
Barra da Tijuca, ela começou a procurar uma vaga em
agosto do ano passado. O envio de currículos rendeu
frutos rapidamente. Em novembro já fazia entrevistas
e em janeiro estava empregada na creche. No mês
seguinte, assumiu uma nova turma em outra filial.
— Já trabalhava no turno da manhã e queria uma
ocupação também no turno da tarde. Tem demanda,
vejo muitas escolas abrindo. Há mercado para
todo mundo.
O expediente, porém, tem um custo. Cada turno é de cinco
horas. Somado ao tempo perdido no trânsito, são 12 horas
que Luana passa longe do marido e da filha, de 7 anos.
— É cansativo, mas é um esforço necessário para poder
manter o padrão e a qualidade de vida — conta ela.
Baiana natural de Irecê, Joélia Batista, de 26 anos, que
vive em Brasília, também conseguiu boas oportunidades.
Ela trabalhava com coleta e seleção de materiais recicláveis
e soube de uma vaga para auxiliar de manutenção de
prédios, que oferecia melhores condições de trabalho e
retorno financeiro. Depois de participar do processo
seletivo, foi contratada. Hoje trabalha das 6h às 16h e
diz sentir orgulho da conquista.
—- Quando soube da oportunidade não pensei duas
vezes. Consegui aumentar minha renda mensal e deixei
de correr riscos na coleta seletiva — enfatizou.
Se certos males vêm para o bem, no caso de Fabíola
Brazil, de 35 anos, uma demissão trouxe boas notícias.
A técnica de enfermagem trabalhava há pouco mais de
um ano como vendedora das Casas Bahia, no Norte
Shopping, no Rio, depois de procurar sem sucesso
vagas na área de saúde. Mas o movimento fraco no
comércio levou a uma redução da equipe de vendas
e ela foi demitida no fim de abril.
— As vendas não são como antes, e eu trabalhava por
comissão. No início, tirava R$ 2 mil, mas depois passou
a R$ 120, R$ 150. Os clientes não querem mais comprar
com juros e não têm mais tanto para gastar.
O shopping está cheio de gente olhando vitrine e
comendo na praça de alimentação, mas na loja falam
que vão comprar só em dezembro —- conta.
Agora, Fabíola voltou a trabalhar como enfermeira num
hospital e espera complementar a renda da família:
— Foi meu marido quem segurou as pontas nesse início
de ano. Com três filhos, os gastos com alimentação
pesam muito. Os meses de fevereiro e março foram
terríveis — conta.
Fortemente afetado pela crise, o mercado da construção
civil em Brasília já acumula 13 mil demissões na capital,
entre janeiro e março. Entre elas, cerca de 250 eram
engenheiros. O empresário Paulo Muniz, presidente
da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário
do Distrito Federal (Ademi-DF), contou que precisou
tomar algumas decisões difíceis para manter a
Construtora Conbral funcionando, como a redução
da equipe.
— Nenhum empresário faz isso com felicidade.
É uma questão de sobrevivência da empresa.
A Conbral tem 47 anos no mercado imobiliário
de Brasília. O último lançamento da empresa
foi em 2010. Os problemas do setor não começaram agora.
Em 2010 eram 1,2 mil homens trabalhando. Hoje,
são 200 profissionais que trabalham em obras de terceiros.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/crise-reduz-postos-de-tra
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