1.24.2012

'Cidade está perdendo a luta pela prevenção do HIV entre usuários de drogas´, dizem ativistas


da Agencia Aids
De acordo com os dados mais recentes da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, 74.310 pessoas foram registradas com aids na cidade até 2009. Quase 13 mil casos são entre usuários de droga injetável, o que representa aproximadamente 17% do total.

A supervisão Técnica de Saúde da Sé, área de atendimento da Prefeitura na região central da cidade, registra a maior notificação de aids entre usuários de droga injetável em todo o município, 1.133 até 2009.

O uso de drogas foi o provável meio de transmissão da hepatite B em São Paulo, entre 2007 e 2009, em 794 pessoas. No mesmo período, 1.480 pegaram hepatite C também em decorrência do compartilhamento de seringas, cachimbos e canudos para consumo de drogas.

“Nem na Cracolândia e em nenhum outro lugar da cidade há ações efetivas de prevenção de doenças entre usuários de drogas. Existem apenas projetos isolados em parceria com a sociedade civil”, afirma o Coordenador do Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada (EPAH), José Araújo Lima Filho.

Para ele, o poder público não está conseguindo responder à vulnerabilidade dos usuários de droga frente ao HIV e às hepatites virais. “Usuários de droga que moram na rua, por exemplo, muitas vezes não são atendidos nas unidades de saúde porque estão sujos. Antes de serem vistos como vulneráveis a todas essas doenças, os dependentes químicos precisam ser vistos pelos serviços públicos de saúde e pela sociedade como cidadãos”, critica.

O ativista disse ainda que a recente operação na região central de São Paulo deixou claro que o governo não tem solução para o problema do uso de drogas. “Eles não estudam sobre o assunto, e muito menos incentivam pesquisas nesta área com a intenção de solucionar o problema. O que ocorreu na Cracolândia foi um ato de violência pública assistida e aplaudida pela sociedade”, disse.

Rodrigo Pinheiro, Presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo, confirma que muitas pessoas procuram essa rede de organizações não governamentais para reclamar sobre o despreparo dos serviços de saúde no atendimento de usuários de drogas. “Os profissionais de saúde precisam se aproximar mais destas pessoas com a intenção de conquistar a confiança delas e assim encaminhá-las aos serviços especializados”, afirma.

Para ele, só depois de estabelecida uma confiança do dependente químico para com os profissionais de saúde será possível discutir prevenção. “Não dá pra falar de sexo seguro, por exemplo, com uma pessoa que está sobre os efeitos de drogas e a única coisa que lhe interessa é procurar por mais droga”, enfatizou.

Domiciano Siqueira é um dos fundadores da Associação Brasileira de Redutores e Redutoras de Danos (ABORDA) e há mais de 16 anos trabalha com educação sobre DST/aids e drogas. Segundo ele, a maneira como a polícia abordou os dependentes químicos na Cracolândia foi inútil. “Foi um show da polícia que poderá ser usado até em campanhas eleitorais”, comentou. “Todas as vezes que tentaram retirar os usuários de uma determinada região, a ação foi temporária”, acrescentou.

O especialista acredita que a operação na Cracolândia é um exemplo de como os governantes e o senso comum da sociedade gostariam de agir com os dependentes químicos. “Tudo que não gostam, querem eliminar”, finaliza.
  

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