2.07.2012

Tratamento com o medicamento importado Beromun reduz o risco de amputação por câncer

No último mês, foram feitas no país as primeiras cirurgias para tratar câncer usando um medicamento importado que aumenta as chances de "matar" o tumor e evitar que a perna ou o braço afetados sejam amputados.

'Amputar é um palavrão; não nos conformamos'
A primeira operação foi no dia 26 de janeiro, em um paciente com sarcoma no antebraço, no Hospital São José, em São Paulo. No dia seguinte, uma mulher com melanoma na perna foi operada no Hospital A.C. Camargo.
O medicamento --chamado Beromun, mas mais conhecido como TNF (fator de necrose tumoral)-- mata as células do tumor e permite que a quimioterapia penetre mais nele.
Um dia depois, destrói os vasos sanguíneos que irrigam o tumor, matando-o também por falta de oxigênio.
Até duas semanas atrás, o remédio só era usado no exterior. Por isso, pacientes que precisavam do TNF tinham que viajar para outro país para fazer o tratamento.
Com cirurgia e quimioterapia, os pacientes com melanoma tinham 50% de chance de evitar a amputação e aqueles com sarcoma, 20%.
O melanoma é o tipo mais perigoso de tumor de pele. Já o sarcoma tem origem em células de tecidos como de músculos, ossos e gordura.

Editoria de Arte/Folhapress
Com a adição do TNF, as chances de conservar o membro aumentam para 90% no caso de quem tem melanoma e 50% para os pacientes com sarcoma, segundo João Duprat, diretor do departamento de câncer de pele do Hospital A.C. Camargo.
"O TNF permite salvar o membro em dois terços dos casos que iriam para a amputação", afirma Antonio Buzaid, coordenador-geral do centro avançado de oncologia do Hospital São José.
Como o medicamento é muito forte e a dose de químio usada em conjunto para matar o tumor é dez vezes maior que a suportada pelo organismo, o medicamento só pode ser usado na perna ou no braço com câncer, e os membros precisam ser "isolados" do corpo.
Isso quer dizer que uma máquina de circulação extracorpórea separa o sangue do membro e os medicamentos do resto do corpo.
Um garrote ajuda a evitar vazamentos. Se houver escape de mais de 10% do TNF para o corpo, pode haver queda na pressão e até sintomas de uma infecção sistêmica, afirma Duprat.
A operação já era feita no Brasil para melanoma, apenas com a químio, sem o TNF. A resposta era boa para tumores menores. Mas, no caso de sarcoma, só a quimioterapia não dava uma boa resposta. A saída para tratar os pacientes era a amputação.
Duprat acredita que, anualmente, cerca de 250 pacientes com sarcoma e melanoma que correm o risco de amputação poderiam se beneficiar da cirurgia com o TNF.
ÚLTIMO RECURSO
A amputação é indicada por dois motivos: reduzir risco de metástase e melhorar a qualidade de vida do paciente. "O tumor cresce e começa a cheirar mal e sangrar. O convívio social fica muito ruim para o paciente."
Há, no entanto, quem se recuse a amputar o membro. "Isso ocorre com frequência e há pacientes que chegam numa situação catastrófica. A perfusão pode ser uma alternativa", afirma Duprat.
O novo tratamento, no entanto, ainda é para poucos. Como a fabricante do remédio não entrou com o pedido de liberação na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a importação só pode ser feita pelo paciente que usará o TNF, a um custo de US$ 20 mil (R$ 34.400), tirados do próprio bolso.
 MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

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