Dermatologia
Pesquisa brasileira revela que a psoríase, uma inflamação crônica da pele, está relacionada a condições como obesidade, hipertensão e depressão
Psoríase: lesões podem cobrir de 3% a 10% do corpo
(Thinkstock)
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PSORÍASEA psoríase é uma doença autoimune, crônica e não contagiosa caracterizada por inflamações da pele, que afeta de 1 a 3% da população mundial. Atinge igualmente homens e mulheres. Caracterizada pela presença de manchas vermelhas, espessas e descamativas, que aparecem, em geral, no couro cabeludo, cotovelos e joelhos. Em outros casos, pode se espalhar por toda a pele e também atingir as articulações. Existem dois picos de idade de prevalência: antes dos 30 e após 50 anos, mas podem surgir em qualquer fase da vida. As causas não são exatas, mas é uma doença com um forte componente genético, e também pode ser desencadeada por infecções, medicamentos anti-inflamatórios, obesidade, clima (mais comum em lugares frios), consumo de cigarro e álcool, e stress emocional.
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O tratamento pode ser feito com cremes, medicamentos orais e fototerapia. Há também a opção dos imunossupressores, mas estes são muito caros (o tratamento pode custar até 100 000 reais por ano) e não cobertos pelo SUS para pessoas com psoríase. Os imunossupressores são recomendados a pacientes que não responderam às outras abordagens.
"A pessoa se sente envergonhada com as lesões na pele, fica mais retraída e desenvolve um comportamento depressivo ou hábitos que levam à obesidade", diz Ricardo Romiti, dermatologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e um dos autores do estudo, divulgado nesta quinta-feira.
Outra possível explicação é que a lesão cutânea ajuda a desencadear processos inflamatórios no resto do organismo, aumentando o risco de doença coronariana, por exemplo.
Alto risco — De acordo com o estudo, feito pelo laboratório Janssen, dentre as pessoas com psoríase que apresentam alguma enfermidade associada, a maioria (75%) tem sobrepeso ou obesidade. Outras associações comuns são hipertensão (32%), colesterol alto (25%) e diabetes (17%), fatores de risco para cardiopatias.
A pesquisa também forneceu evidências de que pessoas com psoríase apresentam um risco maior de desenvolver problemas emocionais, como ansiedade (39%), depressão (26%) e alcoolismo (17%).
"Isso não significa que uma pessoa com uma lesão decorrente de psoríase vai enfartar, mas sim que pacientes com formas graves da doença correm um maior risco de ter algum problema cardíaco ou psicológico", diz Romiti.
Os dados foram baseados em um levantamento com 877 pacientes atendidos em 26 centros especializados em psoríase localizados em dez estados brasileiros. Os participantes tinham, em média, 48 anos. Metade deles apresentava um grau leve da doença, ou seja, as feridas cobriam até 10% do corpo – para efeito de comparação, a palma da mão cobre 1%. O restante manifestava formas moderada ou grave da condição.
Medicamentos experimentais melhoram tratamento da psoríase
Em testes clínicos, medicamentos conseguiram reduzir as lesões apresentando poucos efeitos colaterais
Duas novas drogas apresentaram resultados promissores no tratamento da psoríase, doença não contagiosa caracterizada por lesões na pele, que atinge entre 1% e 3% da população mundial. Segundo os resultados publicados no periódico médico New England Journal of Medicine, nesta quinta-feira, 75% dos pacientes apresentaram melhora nas lesões da pele após 12 semanas de tratamento.Ambos os medicamentos inibem a ação de uma citocina (molécula que ajuda as células a se “comunicarem”) chamada interleucina-17 (IL-17). Os remédios usados atualmente, como o Stelara, atuam sobre outras citocinas, como a IL-12, IL-23 ou em receptores dessas moléculas. Essas citocinas agem causando inflamações que geram as placas características da psoríase.
"Por atuarem na IL-17, são uma nova classe de medicamentos contra a psoríase”, explica Caio Castro, dermatologista da Santa Casa de Curitiba e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Os dois medicamentos estão na segunda fase de testes clínicos. O Ixekizumab, da Eli Lilly, que age inibindo diretamente a IL-17, proporcionou uma melhora de até 77% nos pacientes que receberam dose mínima, e 82% nos que receberam dose máxima, após 12 semanas de tratamento. Entre 38% e 39% tiveram melhora de 100% no mesmo período.
O Brodalumab, da Amgen, que inibe o receptor da IL-17, mostrou um índice de eficácia de 75% com a dose mínima e entre 77% e 82% com doses moderadas após 12 semanas. Em média, proporcionou melhora de 45% nos pacientes que receberam uma dose de 140 mg, 76% naqueles que ingeriram doses de 280 mg e 86% nos que usaram doses de 210 mg.
Efeitos colaterais — Os efeitos colaterais mais comuns em medicamentos para o tratamento da psoríase são infecções e inflamações nas vias respiratórias e reações no local das injeções. Em casos mais raros, os pacientes desenvolvem tuberculose.
Nenhum efeito colateral foi observado no Ixekizumab. Os efeitos apresentados pelo Brodalumab foram mais raros, mas incluíram queda nas células de defesa, dores no rim e gravidez ectópica (que acontece fora do útero).
Segundo um dos participantes das duas pesquisas, Craig Leonardi, professor de dermatologia clínica na Universidade de Saint Louis, nos Estados Unidos, a ausência de efeitos colaterais foi impressionante. "As duas drogas tiveram o melhor desempenho de todos os estudos que já participei", disse ao site Health Day. A surpresa ocorreu porque outros estudos já associaram os inibidores de IL-17 com um maior risco de ataque cardíaco.
Para Caio Castro, a presença de menos efeitos indica que os medicamentos podem também agir menos. "Para alguns pacientes poderá funcionar bem, mas não deverá ter a mesma eficácia com outros, já que age em apenas uma citocina. De qualquer forma, é uma nova arma para o arsenal contra a psoríase, já que muitos pacientes não respondem a nenhum dos medicamentos atuais."
"Os resultado iniciais dos estudos mostram que são medicamentos eficazes, com rápido início de ação e sem efeitos colaterais maiores. No entanto, para serem aprovados pelos órgãos reguladores (FDA nos EUA e ANVISA no Brasil), ainda serão necessários estudos de fase 3 e avaliação a longo prazo", afirma a mestre em dermatologia Gladys Martins, coordenadora do ambulatório de Psoríase do Hospital Universitário de Brasília e membro do IPC (International Psoriasis Council). Ambos os medicamentos devem levar por volta de 3 anos para chegar ao mercado.
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