Em 1903, o presidente Rodrigues Alves enviou um ofício ao Instituto Pasteur, de Paris, solicitando a indicação de um competente bacteriologista-sanitarista para erradicar a febre amarela dos centros urbanos. Recebeu a resposta de que “o melhor especialista está aí no Brasil, Oswaldo Gonçalves Cruz”. Inaugurava-se, naquele momento, uma decisiva página da história da saúde pública brasileira. “Deem-me liberdade de ação e eu exterminarei a febre amarela dentro de três anos”, disse o então jovem médico, de apenas 30 anos. E assim foi, ainda que ao preço de uma revolta popular, a Revolta da Vacina, de objeção à obrigatoriedade da imunização contra a varíola e da inspeção domiciliar — considerada uma violação da propriedade privada. Rodrigues Alves, que perdera uma filha para a febre amarela, brigou por Oswaldo Cruz, que virou piada, inspirou tema de marchinha de Carnaval (“não embarco na canoa que a vacina me persegue / vão meter ferro no boi ou nos diabos que os carregue”), mas venceu. Corte-se para 2018, abruptamente, e, mais de um século depois, vive-se uma revolta ao avesso, a da população brasileira varando madrugadas em filas, acampada em tendas de náilon, até mesmo ameaçando invadir os postos de saúde, como aconteceu na Zona Leste de São Paulo, à procura de vacinação.
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