Dizem que o brasileiro precisa ser estudado. Quando isso acontecer, sugiro começar por Sérgio Moro, que encarnou todas as promessas de um novo tempo mas preferiu trocar a sua independência e o seu bom nome por um carguinho em Brasília. Seria uma história como tantas outras se não tivesse elementos políticos explosivos, não se misturasse com o destino do país e não comprovasse, mais uma vez, que não existem salvadores da Pátria.
No final do ano passado, quando aceitou o Ministério da Justiça, Moro era maior do que Bolsonaro. Moro era um herói, Bolsonaro era apenas o candidato eleito na falta de um nome pior. Para parte da população que estava apreensiva com o novo governo, Moro era o avalista moral da nova administração, a garantia de continuidade da Lava-Jato e de respeito à Constituição.
Agora, nem seis meses passados, ele encolheu como uma camisa que nunca deveria ter sido lavada na máquina.
“Como são maravilhosas as pessoas que não conhecemos muito bem”, dizia o Millôr.
Conhecíamos do Juiz Moro o que bastava: o seu trabalho, a sua coragem, as suas sentenças, as suas camisas pretas cafonas, a inicial aversão a entrevistas. Raramente tivemos, no Brasil, um juiz que, como ele, peitasse os grandes e os mandasse para a cadeia.
O Juiz Moro virou símbolo do que queríamos para o país: um homem ainda jovem, discreto, que não devia satisfações a ninguém, dedicado ao trabalho e a construir um Brasil melhor.
O Juiz Moro passou a ser reconhecido nas ruas, a ser cumprimentado aonde quer que fosse, a ser aplaudido em aviões e restaurantes. Virou manchete de jornal e capa de revista. Acho que ele mesmo se surpreendeu com a sua súbita fama, e passou a acreditar que era quem achávamos que era, o Combate à Corrupção em forma de gente, uma lenda viva.
Quando aceitou o Ministério da Justiça, escrevi, aqui mesmo, que Bolsonaro passava a ser refém de Moro:
“Moro tem estatura para enfrentar o presidente eleito. Afinal, se alguém está fazendo um favor a alguém nessa história, é o juiz ao capitão. Que, de certa maneira, para bem de todos e felicidade (quase) geral da nação, agora é refém da sua escolha.”
Errei na mosca.
Infelizmente, quem assumiu o ministério não foi o Juiz Moro, mas Sérgio Moro. O Juiz Moro, achávamos, jamais faria o jogo do poder, tendo condenado tantos poderosos; o Juiz Moro não se envolveria em negociatas, nem poria os seus interesses pessoais acima dos interesses da Nação. O Juiz Moro não tinha chefe, Sérgio Moro tem. O Juiz Moro não devia nada a ninguém, Sérgio Moro deve — ou aquela vaguinha preciosa do STF vai para outro.
O Juiz Moro deixou de existir no momento em que entregou o seu pedido de exoneração ao TRF-4, por ter um amigo em Brasília que lhe garantia um emprego melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário