4.14.2014

Manual para criar filhos sem sacrifícios

Por que as crianças francesas não fazem manha? Depois de propor a questão há alguns anos, a jornalista americana Pamela Druckerman continua com o tema em seu novo livro, ‘Crianças francesas dia a dia’ 

 Nota bpf: Como diria um amigo meu " QUERO VER DURO (SEM GRANA) "

Viviane Nogueira



Para Pamela, pais não devem se sentir culpados por ter vida além dos filhos
Foto: Divulgação/ Benjamn Barda / Divulgação/ Benjamn Barda


Para Pamela, pais não devem se sentir culpados por ter vida além dos filhos Divulgação/ Benjamn Barda / Divulgação/ Benjamn Barda

Qual é a principal diferença entre os pais franceses e os do resto do mundo?
Pais franceses são muito parecidos com os pais de classe média ao redor do mundo: cuidam das crianças com carinho, querem que elas sejam bem-sucedidas e as expõem a livros, música e natureza. A diferença crucial é que pais franceses esperam ter uma vida além dos filhos e não se sentem culpados por isso. Ao contrário, eles pensam que quando os pais têm uma vida equilibrada é melhor para os filhos. Eles enfatizam que, desde cedo, o bebê não é uma bolha impotente, mas uma pessoa racional.
O que acha da maneira brasileira de criar filhos?
Eu conheci algumas crianças brasileiras (e alguns homens brasileiros que agiam como crianças), mas não sou especialista. Dos e-mails que recebi de mães e pais brasileiros, tive a impressão de que enfrentam as mesmas questões dos pais americanos de classe média: sentem-se obrigados a fazer sacrifícios enormes pelas crianças, muito mais até que seus próprios pais e mães fizeram. Sentem-se sobrecarregados e inadequados. Há uma ansiedade que, façam o que fizerem, torna os esforços insuficientes.
O que você acha do poder que os pais dão às crianças atualmente?
Por que esse estilo de “crianças-reizinhas” surgiu nos últimos 20 anos? São muitos fatores. O aumento da distância entre pobres e ricos fez com que os pais quisessem dar todas as vantagens a seus filhos; o fato de hoje os pais serem a primeira geração assumidamente tratada com psicoterapia faz com que temam que qualquer coisa afete seus filhos; e novas pesquisas mostram a importância da estimulação precoce, então os pais estão começando a ter questões sobre “criação intensiva”. Como isso afeta os pais e as crianças? Uma nova conversa está começando, sobre como podemos fazer diferente, e muitas pesquisas novas validam o estilo francês de criação dos filhos.
Frustração seria a chave para crianças melhores?
Os franceses acreditam que uma criança que não sabe lidar com frustração ou tédio será infeliz. Uma das coisas apreciadas na França é dar tempo para que a criança brinque sozinha. Acredita-se que essa habilidade é desenvolvida com a prática. Os franceses também pensam que, quando as crianças não esperam conseguir o que querem imediatamente, a vida em família fica mais calma. Quando uma criança tenta interromper uma conversa, por exemplo, os pais franceses pedem que espere um minuto. Mas isso funciona de outra maneira também: quando uma criança está feliz brincando, os pais também não a interrompem.
A comida é um elemento central na criação das crianças no país europeu. É por isso que há receitas e cardápios de creches no fim do livro?
Algumas das ideias mais inteligentes que eu aprendi com pais franceses têm a ver com comida. As crianças francesas não “beliscam” entre as refeições,(exceto uma vez no fim da tarde). Então, quando chegam para o jantar, estão morrendo de fome.
Entre as dicas do livro, qual você acha a mais polêmica?
Alguns leitores americanos vão contra a ideia de que a divisão de trabalho meio a meio entre os pais pode não ser ideal. Acredito que seja ideal. Mas o Brasil é um país latino, como a França, e vocês provavelmente já perceberam isso!
E a mais importante?
A de que, às vezes, não há nada que se possa fazer. Toda vez que começo a falar com os pais franceses como se eles tivessem a receita mágica para criar os filhos, eles mostram que há limites para o que os pais podem controlar. Às vezes você tem que se sentar, observar e esperar, e há muito disso em ser pai também.
Quando você lançou o primeiro livro, ouvimos algumas críticas, inclusive de pais franceses. Como você lida com isso?
Os leitores franceses leram o livro não como um guia, mas pelo prazer de se reconhecer nele. Houve discussões sobre o livro na França. Fui a TVs e rádios, e, é claro, nem todos gostaram. Aqui é a França, terra de Descartes!


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