Em entrevista exclusiva à Der Spiegel, a maior revista alemã, o ex-presidente Lula afirmou que não sente medo de vir a ser alvo do juiz Sergio Moro, numa das próximas fases da Operação Lava Jato; "Não tenho medo da prisão", disse Lula; "Preocupa-me muito mais o fato de, na nossa democracia, parecer ser possível se tornar uma vítima de mentiras desse tipo"; ele também disse acreditar na volta da presidente Dilma Rousseff e afirmou que Michel Temer age como se tivesse poder absoluto; "Ele se comporta como Fidel Castro, que se instalou em Havana com seus guerrilheiros. Temer parece acreditar que ficará no poder por 70 anos. Ele trocou o comando de todos os postos importantes, dos ministérios, do Banco Central, da Petrobras. É absurdo"
Da Deutsche Welle – Em entrevista à revista alemã Der Spiegel publicada
neste sábado (02/07), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala
sobre a crise política e econômica enfrentada pelo Brasil. Ele rebate
acusações de corrupção e defende a presidente afastada Dilma Rousseff,
criticando o presidente interino Michel Temer.
Ao ser questionado pela
revista sobre o processo de impeachment em andamento contra Dilma, Lula
voltou a falar em "vingança". "O impeachment foi um ato de vingança do
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o qual não ajudamos quando foi
acusado de corrupção."
Lula reforçou também que
ainda não foi provado nenhum crime cometido por Dilma. "Essa coisa toda
com o orçamento não passa de uma acusação barata. Quem está insatisfeito
com o resultado das últimas eleições, deveria esperar pelas próximas",
afirmou. "Uma mudança abrupta não faz bem para o país."
Para o ex-presidente, as
chances de que o impeachment não se concretize são boas. Seria
necessário conseguir o apoio de apenas mais seis senadores, disse. Além
disso, o presidente interino, Michel Temer, "cometeu muitos erros".
"Ele se comporta como
Fidel Castro, que se instalou em Havana com seus guerrilheiros. Temer
parece acreditar que ficará no poder por 70 anos. Ele trocou o comando
de todos os postos importantes, dos ministérios, do Banco Central, da
Petrobras. É absurdo", criticou Lula.
"Se a Dilma de fato
voltar, vamos precisar de meio ano para contratar e dispensar gente de
novo", concluiu. A votação sobre o afastamento definitivo de Dilma está
prevista para agosto.
O ex-presidente apontou a
desaceleração econômica e uma "sociedade cada vez mais polarizada" como
fatores que levaram ao processo de impeachment.
"Tudo isso se refletiu
num Parlamento que não apenas bloqueou todos os projetos de lei do nosso
governo, mas que também espreitava uma oportunidade de expulsar o PT,
depois de quase 14 anos, do poder", disse. "Parece que a democracia
incomoda uma parcela da sociedade", disse, referindo-se às "elites
conservadoras."
"Não tenho medo da prisão"
Quanto a acusações de
corrupção contra ele, Lula afirmou que a mídia, mais especificamente a
TV Globo, o taxou de corrupto ao afirmar que ele possui dois imóveis,
apesar de ele não ser o proprietário deles. "Eles querem me desmoralizar
perante à opinião pública."
O passo a passo do impeachment
"Um juiz investiga o senhor. O senhor não tem medo de ser preso?", perguntou a Der Spiegel.
"Não tenho medo da prisão", respondeu Lula. "Preocupa-me muito mais o
fato de, na nossa democracia, parecer ser possível se tornar uma vítima
de mentiras desse tipo."
O ex-presidente afirmou
que casos de corrupção estão vindo à tona graças ao PT, que estabeleceu
as bases legais para isso nos últimos anos. "A crise é um sinal de que o
Brasil avançou na luta conta a corrupção [...] Um dia teremos orgulho
do que está acontecendo no momento."
"Não abandono uma companheira"
A Der Spiegel
também abordou a nomeação de Lula para o cargo de ministro-chefe da Casa
Civil, em março deste ano, suspensa pela Justiça. "O senhor queria
escapar das garras do juiz, como supõem seus adversários?", perguntou a
revista.
Lula alegou não ter feito
nada de errado e destacou que já havia sido convidado por Dilma para
assumir o cargo no ano passado. "Eu achava que não havia lugar para dois
presidentes no Palácio do Planalto, e recusei", disse.
Com uma piora da crise,
seus aliados o teriam pressionado a tentar "afastar o impeachment". "Eu
não abandono uma companheira somente para salvar minha própria
reputação", afirmou.
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