6.02.2010

Pesquisa mostra que terapia de casal funciona

Cena da série "In Treatment", onde casal procura ajuda para decidir se ela deve manter gravidez

A terapia de casal não é apenas uma tábua de salvação para relacionamentos à beira do naufrágio.

Fases mais delicadas do casamento, como o nascimento do primeiro filho, já são motivo para que muitos casais compartilhem o divã.

"Para pessoas de origens diferentes, se deparar com o desejo do outro é uma situação crítica. Com o nascimento de um filho, essas coisas se acirram. E há também a necessidade de adaptação na sexualidade", diz a terapeuta Tai Castilho, fundadora do Instituto de Terapia Familiar de São Paulo.

A saída dos filhos de casa e a mudança de papéis que isso implica é outra situação que leva os casais a procurar ajuda. Para as mulheres, que são as que mais tomam a iniciativa, a falta de vontade de transar é um dos principais motivos, segundo a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, autora de "A Cama na Varanda" (ed. Best Seller, R$ 44,90).

Sem falar nas "emergências", como traições ou situações de luto e depressão.

"E tem gente que procura um terapeuta para se separar", diz o psicólogo da USP Ailton Amélio da Silva, autor de "Para Viver um Grande Amor" (ed. Gente, R$ 32,90).

Nesses casos, o encontro pode ser útil para trabalhar mágoas e a sensação de fracasso. "Mesmo que se separem, a terapia é muito importante, principalmente se têm filhos. O que faz as crianças sofrerem é a incompetência dos pais na separação", afirma Navarro Lins.

E FUNCIONA?

Desacreditada por alguns, a terapia de casal funciona, sim. Ao menos é o que mostra a maior pesquisa clínica já feita sobre o tema.

Psicólogos da Universidade da Califórnia, nos EUA, atenderam 134 casais em crise profunda durante um ano. Depois de 26 sessões, dois terços dos relacionamentos ficaram bem melhores.

Cinco anos após o fim do tratamento, metade dos casais estava melhor do que antes, 25% se separaram e 25% seguiram sem mudanças.

A terapia não faz milagres nem serve para evitar a separação a todo custo.

Nas grandes crises, o primeiro objetivo é ajudar o casal a decidir que caminho seguir. Se a separação for a melhor saída, o terapeuta ajuda a reduzir os danos.

"Sou sempre favorável a tentar, mas não é o papel do psicólogo decidir quem tem razão. Nosso papel é mais de parteiro, de ajudar a realizar aquilo que está dentro das pessoas, que é compatível com os valores e objetivos de cada um", afirma Silva.

Para Tai Castilho, o profissional funciona como se fosse um tradutor, que ajuda os dois a se comunicar.

Apesar das vantagens da terapia de casal, há situações em que o atendimento individual é mais indicado.

"Coisas estruturais de cada um têm que ser tratadas separadamente. Gente que tem baixa autoestima, que é muito ciumenta, por exemplo", diz Silva.

Em média, o atendimento dura de três meses a um ano.

COMO NOSSOS PAIS

"A gente entrava, brigava e saía mais leve"

O Carlos passou em um concurso e mudamos de cidade. Eu tinha 17 anos. Casei aos 18 e depois de dez meses começamos a terapia, porque ou a gente fazia alguma coisa ou se separava.

Tivemos uma criação muito diferente: eu tinha tudo o que queria, o Carlos começou a trabalhar aos 14 anos. Começamos a brigar e não conseguíamos conversar.

Sem conhecer ninguém, o máximo que eu fazia era ir até a esquina. Ele passava o dia todo fora. Éramos muito imaturos: se ele chegava dez minutos mais tarde, a discussão durava a noite toda.

Na terapia, eu falava mais, mas ele me surpreendeu. Em casa, era curto e grosso, e na terapia conseguia desenvolver bem por que fez aquilo, por que deu briga.

A gente entrava, brigava e saía mais leve. Durou um ano e meio e só paramos porque o Pedro nasceu. Se não fosse a terapia, a gente não estaria mais junto.
Karina, 22

"Os dois ficavam em silêncio; foi complicado"

Casamos em 2005. Quando fomos morar juntos, apareceram diferenças que não víamos na época de namoro. A gente brigava por motivos bobos e nunca chegava a uma solução.

Quando não suportávamos mais, a Karina falou para fazermos terapia e eu topei. Os dois ficavam meio em silêncio, aí a psicóloga perguntava como havia sido o dia e, no meio da sessão, começava a briga. Foi complicado.

Com o tempo, fomos contando os casos, ela perguntava da relação dos nossos pais e entendemos que havia coisas em nós que precisavam ser resolvidas.

A solução foi conhecer as nossas diferenças, o que tínhamos de ruim que prejudicava a relação. Os nossos problemas eram coisa de criança. A gente espelhava comportamentos dos pais.

Ficamos mais calmos, conseguimos um diálogo. Como pessoas, melhoramos muito. Não imagino como seria sem a terapia.
Carlos,29

IR OU FICAR

"Terapia é bom como apanhar de chicote"

No nosso 12º ano de casamento, a gente estava em pé de guerra, sem saber se queria continuar. A terapia foi a busca de alguém para mediar a conversa. Durou dois ou três meses.

O casamento estava tão chato que um de nós se interessou por outra pessoa. A gente achava que não se importaria de magoar o outro. E importa.

Só que, para não chatear o outro, você abre mão de coisas e nem sempre é um bom negócio. Isso eu percebi na terapia.

Terapia de casal é tão bom quanto apanhar de chicote. A pessoa fala coisas que você acha o fim da picada, tem o terapeuta ouvindo, dá vergonha.

Você sai do controle, tem que admitir erros monumentais. Mas tem uma hora que é a solução, porque não dá para conversar.

A primeira pergunta dela foi: "Vocês querem separar ou ficar juntos?" E a gente não sabia dizer. Teve desde o primeiro minuto uma sensação de que havia algo a ser salvo.
Renata, 46

"Chegávamos juntos e saíamos separados"

Separar é sempre uma possibilidade. Nosso problema era pior: não dava para conversar. A intenção era entender o que estava ocorrendo e tomar uma decisão. Na época, achava que era para entender minha verdade.

A temperatura subia rapidamente. A gente chegava junto e saía separado. Não foram conversas fáceis, mas foi fundamental para a gente se entender.

A terapeuta tinha que intervir às vezes, mas era bom falar verdades que em casa fugiam do controle. A Renata não tinha muita facilidade de ouvir. Eu vi que tinha que exigir essa atenção.

Demorou pra ficar bom de novo. Você está tão viciado numa dinâmica que demora para mudar. Dois anos depois, fizemos uma viagem redentora. Me senti zerado, a perdoei e me perdoei pelo que a gente tinha feito um para o outro.
Júlio,45

UMA SOGRA NO CAMINHO

"No início, a mãe dele dominava a sessão"

A gente brigava como todo namorado, até que tive que conviver com minha sogra. Ela achava que eu tinha roubado o filho dela.

Ela estava sempre entre a gente, e o Bruno ficava em cima do muro. Eu sou pavio curto também. Um dia, ela saiu com um ex-caso dele, batemos boca e eu disse que ou ele dava um jeito ou não tinha mais condição.

Decidimos fazer terapia. No começo, minha sogra dominava a sessão. Depois, a terapeuta começou a levar para o relacionamento: por que a gente se provocava tanto com ironias?

Entendi que tenho que respeitar a família dele e aprendemos a nos blindar contra minha sogra, explicando que ela não podia vir aqui em casa sem avisar.

No começo, era um campo de batalha, porque a terapia cutuca coisas que não queremos assumir. Não gosto de expor meus problemas, mas o resultado foi excelente.
Cláudia, 26

"As criancices dela não mudaram tanto"

Temos dez anos de diferença. Quando a gente se conheceu, a Cláudia tinha 22 anos. Terminamos depois de um ano e, quando voltamos, ela reconheceu que era muito ciumenta.

Eu não concordava com algumas atitudes dela e, para mim, não servia como era antes. Era insegurança, muita intransigência. Coisas da idade.

Depois de um episódio entre a Cláudia e minha mãe, eu falei que não tinha condição de continuar. Foi uma somatória de coisas, a gente brigava por besteira.

Pensei que a terapia poderia nos ajudar a entender quem estava certo. Depois de um tempo, ela quis parar, porque começou a pegar pesado. É estressante.

A questão entre mim, ela e minha mãe foi resolvida. As criancices da Cláudia não mudaram tanto, mas é um processo.

Por mim, eu continuava. Se você ama e quer ficar com a pessoa, vale a pena bater um papo.
RACHEL BOTELHO
Folha de São Paulo

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