1.07.2011

"Beleza é algo relativo, depende de quem a contempla" - seria o conceito de beleza unicamente uma questão de opiniões?




Gregos e romanos tinham um conceito tão amplo quanto preciso sobre a beleza. Na idade antiga a simetria - a proporção correta - compunha os cânones da beleza, entendidos como o traçado antropométrico ideal, responsável pela harmonia do conjunto visual.
Ainda que do ponto de vista da ciência seja um modelo insustentável, o modelo clássico ou 'encontra adeptos ainda hoje, sobretudo entre cirurgiões plásticos. Estudar a beleza do ponto de vista da simetria, portanto, não é tarefa fácil e tampouco usual.
Para abordá-la, os autores encararam o tema sob uma perspectiva socioantropológica. Sem desprezar a dimensão biológica e estética, essa abordagem pressupõe que os padrões de beleza tão valorizados socialmente, resultam do próprio desenvolvimento da cultura contemporânea: em suma, simetria, textura e padrões faciais, além de biológicos, devem ser considerados constructos culturais que apresentam uma grande diversidade de estados e que suscitam imensa gama de atitudes.
Se considerarmos precipitadamente essa constatação dos autores, não nos seria difícil supor bastaria uma boa dose de bom senso para nos conduzir à mesma opinião. Mas a contribuição e novidade do artigo estão no percurso do estudo realizado, sem perder o fio das relações humanas responsáveis pela reconstrução de padrões e significados de beleza e simetria facial. Da estátua de Nefertite ao cinema falado, passando pelas novas tecnologias de imagem e de engenharia médica, retomando pesquisas realizadas e reflexões filosóficas, os autores destacam o lugar da face no corpo para, com Foucault e Freud entre outros autores, apontar que é nela que se aplicam as mais diversas tecnologias de poder, de manipulação de aparências, de transformação de fisionomia em substituição à original, anatômica.
Indicam que o novo padrão de higiene recomendado a todos os indivíduos inclui uma pele cosmeticamente tratada, e no mesmo percurso ajudam a compreender o aparecimento de um novo e específico campo de conhecimento – a neuroestética.
Os estudos e pesquisas considerados no artigo fornecem informações não só de identidades individuais (como sexo, etnia, juízos de juventude e velhice, semelhança e estética), como de suas interações, seus desejos e estados emocionais. É assim que acompanhamos o modo pelo qual o padrão de beleza da face moderna está relacionado também à textura além da simetria, e constitui motivo da criação da Cosmética Médica (ou Cosmiatria), conferindo credibilidade aos produtos que ajudam a produzir ao adicionar-lhes o status de medicamento.
Ao deslocarem as técnicas de simetria para as de texturização, os dogmas correspondentes de "antifeiúra" e "antiidade" transformam-nas gradativamente em mercadoria de primeira necessidade, produto a ser consumido diariamente, indispensável à sobrevivência, portanto. Os métodos industriais completam esse circuito associado aos progressos científicos e técnicos, e os produtos de beleza compõem o rol de artigos de consumo corrente.
É interessante o fato de os autores destacarem que o Brasil tem 1.258 empresas atuando neste setor, com um faturamento líquido de impostos acima de R$ 100 milhões, e que ocupa o quinto lugar entre os consumidores de cosméticos do planeta e o oitavo país em termos de indústria de cosméticos. Nosso mercado de beleza emprega direta e indiretamente 2,5 milhões de pessoas, ou seja, 2,7% da população economicamente ativa brasileira.
É nesse terreno escorregadio de 'compradores e vendedores de simetrias e texturas', terreno tenso e ambíguo entre liberdade e coerção, entre subjetividade e objetividade, que os indivíduos constroem 'estilos e qualidade de vida'. É possível atualmente, eleger um novo rosto e/ou um novo corpo com a mesma facilidade de quem decide comprar esta ou aquela roupa.


DA IMAGEM VISUAL DO ROSTO HUMANO: SIMETRIA, TEXTURA E PADRÃO
Autores:
Clayton Neves Camargos

Caio Alencar Mendonça

Sarah Marins Duarte 

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