8.25.2011

Nova técnica promete impedir que 'A. aegypti' transmita a dengue

Mosquitos infectados pela 'Wolbachia' não adquirem o vírus da dengue.

Ideia foi testada na natureza com sucesso na Austrália.

Tadeu Meniconi Do G1, em São Paulo
Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Queensland, na Austrália, desenvolveu uma técnica que pode revolucionar o combate à dengue. A equipe de cientistas descobriu que uma bactéria, a Wolbachia pipientis, impede que o mosquito Aedes aegypti adquira o vírus da dengue. Dessa forma, ele não transmite a doença.
Essa bactéria se transmite sempre da mãe para os filhos. Os cientistas infectam ovos em laboratório e, a médio e longo prazo, conseguem espalhá-la por toda uma população de mosquitos. Desta forma, o plano é soltar insetos com a Wolbachia na natureza e, como consequência, frear a transmissão da dengue.
O mecanismo já tinha sido descrito anteriormente numa pesquisa de 2009, tanto que foi listado pelo G1 entre avanços importantes da ciência contra a dengue numa reportagem de fevereiro deste ano. No entanto, os resultados publicados nesta quarta-feira (24) pela revista científica Nature trazem novidades importantes, que aperfeiçoaram a técnica.
Pesquisador Scott O'Neill com um vidro de mosquitos 'Aedes aegypti' (Foto: Eliminate Dengue Program ) 
Pesquisador Scott O'Neill com um vidro de mosquitos 'Aedes aegypti'
(Foto: Eliminate Dengue Program )
Por que funcionou?
Luciano Moreira, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz em Belo Horizonte, que participou da pesquisa, explicou que os dois estudos foram feitos com cepas – subtipos – diferentes da bactéria.
No primeiro trabalho, a cepa wMelPop-CLA, atingiu o efeito desejado, que era barrar o vírus da dengue. No entanto, os mosquitos tiveram piora em algumas funções, e seria “um pouco problemático soltá-los na natureza”, segundo o pesquisador.
Por isso, os cientistas passaram a fazer as experiências com outro tipo da mesma bactéria Wolbachia, a cepa wMel. Desta vez, conseguiram bloquear o vírus da dengue e provocaram efeitos colaterais relativamente pequenos.
Com a nova cepa, o modelo estava pronto para ser testado na natureza. Foi o que aconteceu, e o teste deu certo. A equipe liderada por Scott O’Neill soltou na natureza mosquitos infectados e monitorou a presença da Wolbachia durante quatro meses.
Isso foi feito em duas localidades diferentes, ambas próximas a Cairns, no nordeste da Austrália, região onde a dengue existe, mas não é uma epidemia. A quantidade de mosquitos infectados beirou os 100% numa das populações e ultrapassou 80% na outra.
Tais resultados foram considerados uma prova de que o modelo pensado funciona na prática. O próximo desafio é fazer os testes em regiões nas quais a dengue é um problema de saúde pública. “Isso vai começar a ser aplicado em breve no Vietnã e na Tailândia, talvez ainda esse ano”, afirmou Moreira, que disse que ainda não há previsão para que o Brasil seja incluído no programa.
“É uma estratégia bastante promissora”, resumiu Moreira, sobre o uso da Wolbachia. “A partir do momento em que os mosquitos [que têm a bactéria] invadem a população, espera-se que haja impacto sobre a dengue nos locais”, completou o pesquisador.

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