Há algum tempo, existe nos Estados Unidos uma acalorada discussão sobre o quanto a pornografia está modificando as relações sexuais. Com a internet, os jovens têm livre acesso à pornografia cada vez mais cedo. Com isso, estariam encarando o sexo de forma diferente – e, às vezes, prejudicial aos relacionamentos “reais”. Não se trata de uma discussão moralista. Qualquer pessoa com a mente aberta sabe que assistir de vez em quando àquele filminho pornô com (ou sem) o parceiro serve para apimentar o sexo. Ou simplesmente ajudar no prazer solitário. Mas será que o consumo extremo de pornografia por parte de adolescentes e jovens adultos – o que costuma acontecer mais com os meninos – não constroi em suas mentes um cenário diferente da realidade?
Há algum tempo, li no site Salon o artigo de uma psicóloga que dizia o seguinte:
Mulheres não costumam gritar nem gemer tanto numa relacão sexual e, na maioria das vezes, não têm orgasmos escandolosos como nos filmes. Será que quando começarem a transar com suas namoradas, esses meninos não vão achar que há alguma coisa estranha? Talvez sintam até que suas performances não estão boas e desenvolvam algum tipo de insegurança. (…) A grande maioria das mulheres também não aprecia ser tratada como um objeto, nem ser humilhada ou destratada, como ocorre em alguns roteiros de filmes pornográficos. Será que esses meninos vão achar o sexo com suas namoradas sem graça?
Agora a discussão tomou o seguinte rumo: a pornografia pode causa disfunção erétil?
Um grande número de jovens cosumidores de pornografia na internet está sofrendo de ejaculação precoce, ereções poucos consistentes e dificuldades de sentir desejo com parceiras reais, diz uma das matérias mais lidas do mês de julho na revista Psychology Today.
Segundo a reportagem, uma pesquisa feita pela Universidade de Pádua, na Itália, indicou que 70% dos homens jovens que procuravam neurologistas por ter uma performance sexual ruim admitiam o consumo frequente de pornografia na internet.
Outros estudos de comportamento sugerem que a perda da libido acontece porque esses grandes consumidores de pornografia estão abafando a reposta natural do cérebro ao prazer. Anos substituindo os limites naturais da libido por uma intensa estimulação acabariam prejudicando a resposta deste homem à dopamina, um neurotransmissor. A dopamina está por trás do desejo, da motivação – e dos vicios. Ela rege nossa busca por recompensas. Uma vez que o prazer está fortemente ligado à pornografia, o sexo real parece não oferecer recompensa. Então esta seria a causa do não desejo, da não ereção, para muitos homens.
A carta de um leitor é um exemplo interessante do problema:
Muitos homens jovens, e eu me incluo neste grupo, estão vivendo um círculo vicioso: entre um relacionamento e outro, nos voltamos para a pornografia. Ficamos nisso por longos períodos, até ficarmos viciados e começarmos a falhar esporadicamente. Quando me aparece uma garota legal, não consigo ficar bem com ela, não “funciono” bem longe da forma com que as coisas são feitas na pornografia que costumo ver. Pra mim, sexo é aquilo. Então, o relacionamento sofre, não vai a lugar algum – e acaba. E volto à pornografia, por consolação. E o ciclo continua, com relacionamentos cada vez mais curtos e fases de pornografia mais longas. Tenho medo de onde isso vai me levar. Tenho medo de nunca conseguir me relacionar de verdade com uma mulher. Conheço muitos caras que gostam de suas mulheres, mas não conseguem se sentir atraídos por elas por muito tempo. Às vezes elas não ajudam mesmo. Mas muitas vezes são eles que não conseguem se dar bem com mulheres “normais”. Homens são seres que precisam de experiências sexuais intensas. (…) A pornografia é artificial como uma droga poderosa, que nos dá esse pico sexual alto e o alívio rápido. Infelizmente, como toda droga, o custo é alto. E a verdade é que nunca teremos tudo que queremos num relacionamento quando interagimos apenas com mulheres em 2D”.
Revista Época
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