11.09.2011

O desafio da inovação em medicamentos

 
A Iniciativa dos Medicamentos Inovadores
Todas as doenças são influenciadas por um número maior ou menor de fatores. Entre
estes destacam-se, por um lado, fatores externos, tais como as toxinas, a radiação, os
agentes infecciosos, a angústia, fatores individuais, tais como o sexo, a idade, a alimentação,
o stress, e, por outro lado, a predisposição genética, que faz com que o nosso corpo
reaja ao ambiente de determinada maneira. Pequenas alterações nos nossos genes
podem desencadear, evitar, promover ou aliviar as doenças. O mesmo se aplica às influências
externas. A combinação de todos estes fatores determina se, quando e com que
gravidade uma pessoa adoece.
Os medicamentos, por vezes, têm os efeitos pretendidos, mas outras vezes não. Um
doente pode tolerar bem uma determinada terapêutica e outro não, além de que os medicamentos
podem provocar efeitos secundários graves. Estas diferenças devem-se, pelo
menos em parte, ao material genético que faz de cada um de nós um ser único e que, consequentemente,
faz com que cada um reaja de forma diferente aos compostos químicos.
A biologia moderna pode ajudar a entender as consequências médicas destas diferenças
e, de facto, já levou à identificação de muitos factores genéticos que influenciam a acção
dos medicamentos. Há uma nova disciplina científica – a farmacogenómica – que trata
especificamente das relações entre o nosso genoma e os efeitos dos medicamentos.
Ao mesmo tempo, está a ser dada cada vez mais atenção aos principais alvos da terapia
farmacêutica, nomeadamente as proteínas. Mais uma vez surge um novo ramo da ciência,
a proteómica, que se debruça sobre o estudo das complexas inter-relações entre as
proteínas de um organismo. A aquisição de uma boa compreensão da interacção entre os
factores hereditários e não hereditários nos doentes, é um passo essencial para a obtenção
de uma terapia melhor orientada.
As aplicações da biologia molecular estão, efectivamente, a fomentar o desenvolvimento
de uma nova abordagem do diagnóstico e da terapêutica, conhecida como medicina
molecular. Agrupada em redor deste termo há uma multiplicidade de modernas técnicas
de investigação e de disciplinas. Estas incluem a farmacogenómica, a procura de novos
alvos para os medicamentos, a investigação do proteoma, a procura de pequenas, mas
importantes, diferenças conhecidas como polimorfismos de nucleótido simples (SNPs) e
novas técnicas, tais como a reacção em cadeia de polimerase (PCR) e os chips de ADN.
Todos estes esforços e descobertas são dirigidos, em última análise, a um único objectivo,
ou seja, um diagnóstico e terapêutica mais precisos. Esse objectivo é a identificação
da causa da doença, de forma a considerar as possibilidades de intervenção e, em seguida,
instituir um tratamento eficiente. Estes objetivos são agora mais relevantes do que
nunca e a investigação está presentemente a dar passos importantes para a consecução
desses mesmos objectivos. A genética, a genómica e a proteómica abrem perspectivas
completamente novas nas áreas do diagnóstico e da terapêutica.
As novas perspectivas
No passado os métodos para combater doenças complexas eram largamente baseados
no método de tentativas, precisamente porque estas perturbações não são causadas por
um simples agente ou mutação de um gene, mas resultam de uma combinação de influências
externas e internas, com factores predisponentes e protectores, variáveis ou inalteráveis.
Isto verifica-se na maior parte das doenças que afectam as pessoas que vivem
em países industrializados, como, por exemplo, o cancro, a doença de Alzheimer e outras
formas de demência, a artrite reumatóide e a asma.
Todas as moléculas descobertas recentemente, e que desempenham um papel numa
doença, constituem um potencial alvo para os medicamentos. Por exemplo, nas últimas
décadas, os investigadores descobriram cada vez mais oncongenes, isto é, as variantes
dos genes promotores de cancro. Muitos agentes anti-cancerígenos actuam restaurando
a função correcta dos produtos destes genes.
O conhecimento da estrutura de uma molécula alvo permite saber antecipadamente se
uma determinada substância possui potencial para ser utilizada como medicação.
Embora tenha ainda de passar a prova de múltiplos ensaios, a concepção racional informatizada
de produtos farmacêuticos pode reduzir, em larga medida, o número
de substâncias a seleccionar para futuro desenvolvimento. Conhecendo-se
as condições para o possível desencadeamento de uma patologia, o risco individual
de um doente pode ser determinado e podem ser tomadas as medidas
preventivas adequadas. É precisamente neste campo, contudo, que se torna necessária
uma investigação mais aprofundada. Até há algum tempo atrás, isto
implicava pesquisa e trabalho sistemático extremamente enfadonhos. Agora,
graças ao Projecto do Genoma Humano, que estuda a sequência de todo o genoma
humano, os dados mais importantes passaram a ficar disponíveis. É precisamente
dentro desta rede que os medicamentos actuam e só agora é que
a ciência começa finalmente a compreender como, onde, quando e porque é
que eles actuam.
A Iniciativa dos Medicamentos Inovadores
Face ao incremento de necessidades médicas a aguardar resolução e de desafios
cada vez maiores na área dos cuidados da saúde, como a demografia em
mutação e as doenças emergentes, a responsabilidade de descobrir e desenvolver
novas soluções terapêuticas torna-se cada vez mais prioritária. Os progressos
científicos, a par do rápido desenvolvimento das novas tecnologias, oferecem
aos investigadores novas vias para melhorar o processo de desenvolvimento
dos medicamentos e apoiar a inovação, desde a descoberta de uma nova substância
alvo, até à validação e aprovação clínica de novos medicamentos.
Os desafios científicos e médicos em perspectiva são demasiado complicados
para um único grupo, uma vez que não é através de uma atuação isolada que
os laboratórios farmacêuticos, as instituições académicas ou o Estado poderão resolver
as questões médicas com que se confrontam os doentes do nosso planeta. Todos os intervenientes
no processo de desenvolvimento dos medicamentos terão de trabalhar em
conjunto, a fim de fazerem progredir as fronteiras da ciência, pois só através dessa conjugação
de esforços se poderá contribuir positivamente para o progresso dos doentes e
da sociedade.
A Iniciativa dos Medicamentos Inovadores, apoiada pela Comissão Europeia, é um fórum
que tem como objectivo fazer avançar a investigação biomédica, a fim de possibilitar
uma melhor previsão da real eficácia e segurança das novas terapêuticas, melhorando
consequentemente o actual processo de desenvolvimento. O extraordinário progresso
das tecnologias moleculares, verificado nos últimos anos nas áreas da ciência e da medicina,
abre uma nova e prometedora era, na medida em que esses novos conhecimentos podem
ser aplicados na criação de abordagens inovadoras de combate à doença, criandose
uma liderança biomédica com benefícios significativos, tanto para os doentes, como
para a sociedade.
A Iniciativa promoverá parcerias coordenadas entre o sector público e privado, com
todos os intervenientes empenhados em ultrapassar os principais desafios científicos do
processo de investigação e desenvolvimento. Esta situação irá acelerar o acesso a novas
e inovadoras terapias e revitalizar o panorama científico na área biomédica, na Europa.
Expectativas: mais conhecimento para as ciências médicas
As ciências médicas encontram-se em plena mudança. A biologia molecular tem vindo
a ocasionar um fluxo de descobertas e a tecnologia moderna introduziu técnicas de miniaturização,
automatismo e paralelismo na investigação e desenvolvimento. As ciências
médicas constatam cada vez mais que quadros clínicos aparentemente idênticos podem
ter causas subjacentes totalmente diferentes, requerendo um tratamento personalizado.
Além disso, e apesar de sucessos de menor impacto, as opções disponíveis para o tratamento
de muitas das patologias mais comuns continuam a ser insuficientes. Está, no entanto,
iminente um período de mudança radical.
Na base desta evolução está a convicção de que não há duas doenças iguais. É agora
já evidente que, excetuando um número diminuto de doenças hereditárias e de algumas
infecções graves, poucas têm uma causa simples ou única. Estas descobertas não
constituem uma novidade, nem sequer uma surpresa, mas, no entanto, confrontam as ciências
médicas com um novo problema: até à data, o princípio “uma doença - um tratamento”
permanecia uma realidade indiscutível. No entanto, se não existem duas doenças
iguais, muitos dos tratamentos utilizados podem não ser eficazes ou, pelo menos, não ser
apropriados.
Um medicamento pode ser adequado para um doente, mas não para outro, embora
ambos apresentem a mesma doença, porque a eficácia e a tolerância de um medicamento
podem variar de indivíduo para indivíduo. Há já algum tempo que os farmacologistas
se dedicam à investigação das razões subjacentes a este fenómeno, mas só recentemente
as técnicas moleculares tornaram possível a aplicação destes conceitos à medicina clínica.
A farmacogenética ameaça, atualmente, subverter a segunda parte do dogma “uma
doença - um tratamento”, apelando, em muitos casos, à sua reformulação. Assim, as indicações
terapêuticas dos medicamentos já existentes tenderão a ser mais reduzidas e a
descoberta de novas substâncias ativas será absolutamente crucial. Por outro lado, a distinção
entre as possíveis variantes de uma doença implicará uma abordagem específica
em relação a cada quadro clínico, em detrimento de quadros clínicos generalizados.
Um exemplo de uma importante predisposição farmacogenética é o do gene para o receptor
beta2 adrenérgico. A activação deste receptor nos pulmões relaxa os músculos lisos
das vias aéreas. Como tal, alguns medicamentos anti-asmáticos têm como objectivo activar
este receptor, pelo que a presença de uma determinada alteração no gene para este
receptor pode reduzir em muito a eficácia de alguns dos medicamentos anti-asmáticos.
Por outro lado, os factores externos também são importantes na determinação da eficácia
e da segurança dos medicamentos. De entre esses factores destaca-se a alimentação.
Certos tipos de alimentos podem interferir com os medicamentos, acelerando ou
neutralizando o seu efeito e afetando a sua excreção e utilização. O mesmo se aplica às
interacções entre diversos medicamentos, que pode acelerar ou reduzir os efeitos de cada
um e exacerbar mutuamente os diversos efeitos secundários.
O desenvolvimento de novas terapêuticas para evitar e tratar a doença baseia-se na
aplicação clínica dos resultados da investigação básica e dos progressos das técnicas
biológicas. O principal objetivo dos projectos de investigação desenvolvidos nos laboratórios
de investigação é transformar o crescente conhecimento dos mecanismos moleculares,
que são a causa das doenças, em terapêuticas eficazes, com um benefício significativo
para o doente.
A Iniciativa dos Medicamentos Inovadores é uma colaboração inédita dos setores
público e privado à escala europeia, estabelecida entre grandes e pequenas empresas
biofarmacêuticas e de cuidados de saúde, incluindo, igualmente, os reguladores, as universidades
e os doentes. O objetivo é apoiar a rápida descoberta e desenvolvimento de
melhores medicamentos destinados aos doentes e reforçar a competitividade europeia,
assegurando que o sector biofarmacêutico continue a ser um sector dinâmico e de alta
tecnologia.
A Iniciativa dos Medicamentos Inovadores assegurará para o sector biofarmacêutico
europeu o apoio estratégico específico para benefício dos doentes, bem como dos cientistas
e dos cidadãos da Europa. A Iniciativa propõe um número de medidas concisas e práticas,
que visam acelerar a descoberta e o desenvolvimento de medicamentos inovadores
mais eficazes e com menos efeitos secundários.
Os principais constrangimentos no processo de desenvolvimento de novos medicamentos
têm vindo a ser identificados e relacionam-se com a previsão da sua segurança e da
eficácia e o preenchimento das lacunas existentes nas áreas da gestão do conhecimento,
da educação e da formação. A Agenda Estratégica de Investigação descreve as recomendações
para resolução desses constrangimentos e um plano para a sua implementação.
Risco associado ao fracasso do projeto
Os constrangimentos foram identificados através de uma consulta alargada junto dos
intervenientes no processo de I&D biomédico, bem como através da revisão da literatura
existente. Por exemplo, os dados sobre o desenvolvimento de novos medicamentos indicam
que a probabilidade de uma nova substância activa ultrapassar a fase pré-clínica,
isto é, o estudo laboratorial inicial sobre toxicidade, para a fase de aprovação no mercado
é de 6 % ou mesmo inferior. Os fatores habituais que mais contribuem para o fracasso
do projeto são a falta de eficácia (25 %), as preocupações sobre a segurança clínica (12
%) e os dados toxicológicos resultantes da avaliação pré-clínica (20 %).1
A principal necessidade da indústria biofarmacêutica é a capacidade de prever o insucesso
nas fases o mais precoces possíveis do desenvolvimento do medicamento. No futuro,
as perspectivas apontam para a capacidade de se identificar com a maior antecedência
possível a falta de eficácia e o potencial de causalidade de reações adversas.
Um dos progressos mais significativos no processo de desenvolvimento dos medicamentos,
entre 1991 e 2000, foi o aperfeiçoamento do trajeto molecular, através da melhoria
do valor de previsão de estudos sobre o metabolismo. Este progresso foi possível
graças à validação da correlação dos dados de absorção e de metabolismo obtidos in vitro
com dados clínicos. A Iniciativa dos Medicamentos Inovadores tem como objetivo estabelecer
correlações clínicas semelhantes, dentro das diferentes disciplinas científicas.

Alvos para os medicamentos
Devido à multiplicidade das suas funções e propriedades, as proteínas são, indubitavelmente,
os mais importantes alvos do organismo para os medicamentos. Quase todos os
medicamentos atualmente utilizados influenciam a estrutura molecular do corpo humano,
ao nível das proteínas. Há outras substâncias do nosso corpo que são também potenciais
alvos para a acção medicamentosa.
Os açúcares servem muitas vezes de marcadores e permitem o reconhecimento mútuo,
podem assumir inúmeras e diversas formas e são, actualmente, objeto de intensa investigação.
Os lípidos formam não só uma grande parte das membranas da célula, mas actuam
igualmente como hormonas e antioxidantes, para além de muitas outras funções. Todas
as substâncias iniciais, produtos intermédios e produtos finais do nosso metabolismo
são teoricamente susceptíveis de ser influenciados pelos produtos farmacêuticos.
As indicações para novas entidades químicas ou biológicas serão determinadas, não
só pelas causas moleculares da doença a ser tratada, mas também pelo perfil farmacogenético
de cada doente. Isto aplica-se especialmente quando um diagnóstico específico é
conjugado com uma gama correspondente de terapias personalizadas. Nesta área só se
poderá progredir se ambos os campos evoluírem em conjunto e na mesma direcção.
Num futuro a longo prazo, o doente poderá esperar que o medicamento que lhe é prescrito
seja mais específico para a sua condição do que actualmente. Os efeitos de quase
todos os medicamentos utilizados hoje em dia podem variar mais ou menos quanto à sua
acção e, em casos extremos, poderão mesmo ser ineficazes. Além disso, a incidência de
efeitos secundários graves tem de ser reduzida, uma vez que a ocorrência ocasional de
tais efeitos só poderá ser tolerada se a doença em causa for relativamente rara e não
estiver suficientemente estudada e se, como tal, as opções terapêuticas e a experiência
forem limitadas.
O facto das opções de tratamento disponíveis para a maioria das doenças comuns serem
ainda limitadas significa, acima de tudo, que a sociedade tem de estar mais disposta
a correr os riscos associados ao desenvolvimento de novos medicamentos com mecanismos
de acção inovadores. Sem dúvida que o futuro continuará a reservar-nos surpresas,
como quando, por exemplo, se descobre que uma substância activa bem conhecida possui
propriedades benéficas previamente desconhecidas. Apenas o investimento nas ciências
básicas e em novas tecnologias, direccionado para a compreensão da natureza da
doença, poderá trazer benefícios acrescidos para os doentes de todo o mundo.
Desta forma, o progresso médico dependerá, em grande parte, da exploração de novas
vias, principalmente através de novas moléculas alvo. Acima de tudo, novos diagnósticos,
novos alvos e novos grupos de medicamentos significam uma investigação consideravelmente
mais acelerada e um desenvolvimento de maiores esforços, não obstante se mantenha
o risco de fracasso.
Através desses esforços o progresso está a abrir portas a novas e prometedoras oportunidades
para a medicina a nível técnico e científico. O diagnóstico e o tratamento personalizados
prometem ser substancialmente mais eficazes, ter efeitos secundários muito
menores e podem simultaneamente abordar as causas das doenças, cujo tratamento tem
sido, até à data, apenas sintomático ou inespecífico. Apesar de todos os aspectos imponderáveis
de carácter comercial e ético, as novas possibilidades impõem também, de certo
modo, a obrigação moral de aplicar as novas descobertas da medicina moderna no benefício
prático dos doentes.
A Agenda de Investigação Estratégica
As dificuldades inerentes à investigação biomédica e ao processo de desenvolvimento
atuais são a previsibilidade dos estudos pré-clínicos, antecipando a eficácia e a segurança
clínicas, e toda a avaliação global do balanço entre benefícios e riscos para os doentes
junto das autoridades reguladoras. Os processos regulamentares precisam de reflectir novos
conhecimentos e incluí-los num quadro de regulamentação mais adequado, que apoie
a rápida descoberta e desenvolvimento de melhores medicamentos, o que irá facilitar o
acesso dos doentes aos novos medicamentos e aumentar a produtividade da descoberta
e desenvolvimento farmacêuticos.
A promoção de progressos científicos e tecnológicos, em torno dos impasses acima referidos,
poderá impulsionar a base europeia de investigação e desenvolvimento biomédicos
e acelerar a descoberta e o desenvolvimento de medicamentos inovadores. A Agenda
de Investigação Estratégica é um objectivo ambicioso e que está dentro das capacidades
coletivas do sector biomédico europeu. O setor reconheceu a necessidade urgente de
revolucionar o paradigma de desenvolvimento convencional, a fim de apoiar uma mais
célere descoberta e desenvolvimento de melhores medicamentos.
A iniciativa tem igualmente como objectivo aumentar os progressos já atingidos através
de colaborações entre os setores público e privado à escala Europeia. Essas colaborações
levam a projectos de investigação pré-competitivos, isto é, um tipo de investigação
em que as empresas não são adversárias dos seus concorrentes, mas dispõem de igual
acesso aos resultados.
O desenvolvimento de uma nova substância activa é um processo longo e complexo,
que requer avultados recursos. Várias estimativas situaram os custos, no período entre
1994 a 2004, em cerca de 300 a 800 milhões de euros2. Há uma grande possibilidade
de uma nova molécula não conseguir chegar ao mercado por diversas razões, em diferentes
etapas do processo global. Durante os últimos dez anos, a despesa nos sectores farmacêutico
e biotecnológico tem vindo a aumentar progressivamente, sem um aumento
correspondente, em termos de resultado, de novos medicamentos.
Estes números mostram a necessidade urgente de iniciativas radicalmente diferentes,
a fim de se reduzir o a taxa de insucesso durante as fases a jusante do processo de descoberta
e desenvolvimento. Iniciativas desse tipo permitiriam uma mais rápida descoberta
e desenvolvimento de melhores medicamentos e que a Europa se tornasse num local preferencial
para o investimento da indústria biofarmacêutica.
Recomendações
A Agenda de Investigação Estratégica inclui recomendações que contemplam o processo
completo de investigação e desenvolvimento biomédico, desde a fase da descoberta
ao lançamento e fases posteriores, isto é, a farmacovigilância. A fim de se acelerar a descoberta
e o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes, com menos efeitos secundários
e que cheguem mais rapidamente aos doentes, tanto a avaliação da segurança
como da eficácia de novas entidades moleculares precisam de ser melhoradas ao longo
de todo o processo de desenvolvimento, assim como a gestão dos conhecimentos e as capacidades
nas áreas da educação e da formação.
A Agenda de Investigação Estratégica está organizada em quatro áreas estratégicas
ou em quatro pilares:
• Previsibilidade da avaliação da segurança: refere-se aos impasses relacionados com a
previsibilidade da avaliação da segurança e da avaliação risco-benefício, junto das autoridades
reguladoras;
• Previsibilidade da avaliação da eficácia: refere-se aos impasses relacionados com a
accção farmacológica previsível, a identificação e a validação dos biomarcadores,
o recrutamento dos doentes e a avaliação do risco-benefício, junto das autoridades
reguladoras;
• Gestão dos conhecimentos: refere-se aos impasses relacionados com falhas na tecnologia
da informação, fornecendo plataformas para análise de grandes quantidades de
informação, de uma forma integrada e previsível;
• Educação e formação: refere-se aos impasses relacionados com falhas nos conhecimentos
especializados e capacidades em investigação biomédica e desenvolvimento. Este
pilar irá identificar e resolver falhas específicas na área dos conhecimentos e das capacidades.
O pilar da educação e formação irá assegurar o reforço do panorama da educação
biomédica na Europa.
O objectivo da Iniciativa dos Medicamentos Inovadores é coordenar e impulsionar o investimento
conjunto público-privado, dentro de cada um dos quatro pilares da Agenda
de Investigação Estratégica, criando, desta forma, sinergias entre os novos conhecimentos e capacidades científicas em cada um deles, de forma a apoiar a rápida descoberta e
desenvolvimento de melhores medicamentos.
Melhor previsibilidade da avaliação da segurança
A fim de se melhorar a previsibilidade da avaliação de segurança, foram acordadas as
nove recomendações seguintes:
• Criar um Centro Europeu para a Investigação da Segurança dos Medicamentos para
identificar as necessidades de investigação em ciências relacionadas com a segurança
dos medicamentos;
• Desenvolver biomarcadores para indicação da relevância e da utilidade das descobertas
laboratoriais iniciais;
• Estudar a importância de carcinogenes não genotóxicos;
• Desenvolver in silico métodos de previsão dos tipos de toxicidade convencionais e recentemente
reconhecidos;
• Explorar as implicações de toxicidade não detectável em animais, em termos de risco
humano;
• Optimizar os recursos de dados e reforçar a evidência baseada na farmacovigilância;
• Desenvolver e reforçar metodologias e estruturas para a farmacovigilância;
• Desenvolver métodos inovadores de previsão do risco e da avaliação do
risco-benefício;
• Formar e educar profissionais de saúde e doentes.
Melhor previsibilidade da avaliação da eficácia
Para melhorar a previsibilidade da avaliação da eficácia, foram acordadas as nove
recomendações seguintes:
• Desenvolver uma melhor compreensão dos mecanismos da doença;
• Desenvolver modelos de previsão da eficácia clínica in vitro e in vivo;
• Desenvolver in silico simulações da doença;
• Estimular a medicina translacional de forma integrada na indústria e no meio
académico;
• Criar estruturas europeias de redes de imagem, para estabelecimento de normas e de
centros regionais de excelência;
• Criar centros europeus para validação de biomarcadores, baseados na proteómica e na
genómica;
• Coordenar o desenvolvimento de redes nacionais de doentes e de bases de dados, para
desenvolver uma autêntica organização à escala europeia com o objectivo de proceder
à selecção de doentes e à análise de ensaios clínicos;
• Formar um consórcio europeu de partes interessadas, para tratar das questões relacionadas
com a demonstração de valor acrescentado, incluindo questões sobre a qualidade
de vida, outcomes notificados pelos doentes e consequências da doença;
• Desenvolver uma parceria com as autoridades reguladoras para a concepção de novos
projectos e análises de ensaios clínicos, para apoiar a aceitação de biomarcadores,
para promover a partilha de dados e a consideração conjunta de questões de carácter
ético.
Gestão do conhecimento
A fim de se resolver os impasses na gestão do conhecimento no processo de descoberta
e desenvolvimento de novos medicamentos foram acordadas 15 recomendações
principais:
• Formar uma equipa de gestão de conhecimento translacional para apoiar projectos sobre
a segurança individual e a eficácia, para definir normas de compatibilidade e para
promover a partilha de tecnologia apropriada;
• Formar uma equipa de base para a gestão do conhecimento, que conceba a arquitectura
global de uma plataforma de integração das ciências biofarmacêuticas/biomédicas;
• Formar uma comissão científica consultiva, que dará o seu apoio a questões sobre tecnologia da informação aplicada, à avaliação de prior art, bem como à identificação de
propostas de tecnologia complementar;
• Formar grupos de trabalho para a avaliação de aspectos interdisciplinares como, por
exemplo, a montagem e a simulação de processos patológicos, para a validação de especificações
e para a definição de prioridades;
• Formar grupos de trabalho interdisciplinares para propor linhas de orientação sobre
questões de gestão relacionadas com a partilha de dados como, por exemplo, a propriedade
legal, regulamentar, ética e intelectual;
• Avaliar a abordagem e o investimento necessários para a construção de um núcleo de
uma plataforma estrutural ontológica;
• Desenvolver normas optimizadas para a protecção de dados num ambiente de fornecimento
de serviços via Internet;
• Desenvolver normas e modelos para divulgação dos serviços via Internet, dos serviços
científicos e da propriedade das fontes de dados, dos conjuntos de dados, dos objectos
científicos e dos elementos de dados;
• Desenvolver modelos optimizados de representação de conhecimentos e de normas de
troca de dados para sistemas complexos, procurando estabelecer sinergias com as iniciativas
actuais;
• Desenvolver novas ontologias de domínio específico, assentes em alicerces teóricos já
estabelecidos e em iniciativas atuais, em modelos de representação de dados normalizados
já existentes e em ontologias de referência;
• Desenvolver instrumentos avançados de modelagem de texto para processos complexos,
tal como se encontram descritos nas patentes e na literatura, para além e acima
do simples relacionamento entre entidades;
• Desenvolver novos instrumentos de exploração de dados como, por exemplo, a simulação
e a modelagem multi-escala, integrando desde o nível da molécula até ao nível
da biologia de sistemas e do órgão até ao nível do organismo vivo;
• Construir uma base nuclear de dados de referência, com dados experimentais validados,
extraídos da literatura;
• Conceber normas e construir um instrumento especializado para apresentação das propriedades
das fontes locais, num contexto federado;
• Projectar normas para um instrumento especializado que oriente os utilizadores através
da complexidade dos dados, dos modelos de dados, das ferramentas de simulação
e de modelagem.
Educação e formação
Para se resolver os impasses existentes nas áreas da educação e da formação, foram
acordadas cinco recomendações:
• Estabelecer uma Academia Europeia de Investigação de Medicamentos, incluindo uma
unidade central de coordenação e um Conselho para a Educação e Formação;
• Estabelecer programas para a integração no desenvolvimento de medicamentos, comissões
de ética e organizações de doentes;
• Estabelecer programas para ciências relacionadas com a segurança dos medicamentos,
para cientistas a trabalhar na investigação e desenvolvimento farmacêuticos e para
profissionais de medicina farmacêutica;
• Estabelecer programas de regulamentação com base em negócios;
• Estabelecer programas para bioestatísticos, e bioinformáticos.
A Agenda de Investigação Estratégica não tem como objectivo contribuir para normas
internacionais per se, no entanto, a implementação destas recomendações irá permitir
que as novas abordagens sejam avaliadas e executadas de forma mais sistemática e objectiva.
Em suma, a colaboração e a coordenação à escala europeia é essencial para garantir
que os doentes beneficiam dos progressos da biotecnologia, na medida em que os
desafios científicos que a Europa atualmente enfrenta são demasiado complexos e não
permitem o seu tratamento isolado.
Impacto na investigação laboratorial e clínica
A Agenda de Investigação Estratégica é o resultado de um longo e extenso processo
de consulta junto dos intervenientes do processo de I&D biomédico. Para além disso, os
intervenientes terão a oportunidade de propor actualizações à agenda, com base em novos
desenvolvimentos científicos ou tecnológicos, relevantes para os objetivos e para o
âmbito do programa.
O problema da investigação na área dos medicamentos é fácil de perceber – debatemo-
nos com demasiados projectos porque as moléculas em estudo nem sempre resultam
ou são pouco seguras. Acrescente-se ao prejuízo financeiro, a utilização de animais. O aumento
da taxa de sucesso na descoberta de medicamentos, através da Iniciativa de Medicamentos
Inovadores, teria um impacto directo na utilização de animais.
A aplicação de novas tecnologias deverá ajudar a substituir, a reduzir e a aperfeiçoar a
utilização de animais na investigação laboratorial (conhecida na língua inglesa como os
3 Rs: “replacement, reduction and refinement”): substituição significa trocar os modelos
animais por técnicas válidas sem recorrer a animais, a redução apela ao uso de métodos
que permitam obter a informação necessária através de um número mais reduzido de
animais e aperfeiçoar significa a aplicação de métodos que causem o menor sofrimento
possível.
A Iniciativa dos Medicamentos Inovadores faz várias recomendações que têm implicações
nos 3 Rs.
• Primeiro, o aumento da utilização de técnicas in vitro e in silico, para prever e retratar
a actuação de substâncias activas nos animais, poderá substituir alguns dos actuais
testes in vivo.
• Segundo, o desenvolvimento de biomarcadores poderá promover, a longo prazo, a
redução de animais, através de testes mais previsíveis e que forneçam dados mais
significativos.
• Terceiro, a compreensão da base mecanicista da carcinogenicidade genotóxica poderá
levar à substituição dos actuais testes a longo prazo por ensaios in vitro ou por testes
de curta duração em animais.
• Quarto, modelos animais da doença mais previsíveis terão como consequência um menor
número de moléculas e menos falhas de conceitos em termos de eficácia.
• Quinto, a partilha de dados pré-competitivos com sucesso deverá levar a um desgaste
menor, com as consequentes implicações na redução do número de animais
utilizados.
Em resumo, o potencial da Iniciativa dos Medicamentos Inovadores, para a criação de
um novo paradigma de descoberta e desenvolvimento de novos medicamentos, baseia-se
numa utilização mais sistemática de biomarcadores e na aplicação de tecnologias inovadoras,
tais como a proteómica e a genómica, conjugadas com as capacidades apropriadas
de gestão dos conhecimentos.
Fonte: © EFPIA European Federation of Pharmaceutical Industries and Associations

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