12.16.2012

Eu sou homossexual

Tatá Lopes, atriz
Se tem coisa que eu não entendo é o porquê de essa frase ainda chocar tanto.
Achei conveniente começar o meu texto dessa forma. Mas eu poderia intitular esse texto de  “Eu sou bonita” ou “Eu tenho cabelos brancos” ou “Eu gosto de chuchu cru”.
Pensando bem, eu não começaria esse texto falando dos meus cabelos brancos. Morro de vergonha deles e os escondo uma vez por mês na cadeira do salão.
Mas, no caso da sexualidade, muitas das vezes é difícil de esconder. Principalmente quando não se tem vergonha dela.
Afinal, por que escondê-la? Por que por máscara no que faz parte de sua identidade? Porque continuar no armário?
No armário pode parecer mais seguro. É compreensível. Principalmente quando há casos como o de André Baliera, brutalmente espancado por dois idiotas.
Segundo a própria vítima e testemunhas que estavam no local, André caminhava na rua quando começou a ser agredido verbalmente por dois homens dentro de um carro. Assim sem mais nem menos. Baliera começou a retrucar às agressões, ainda também no campo das palavras. Ele poderia ter ficado calado? Sim, poderia. Mas quem conseguiria? Por que o faria? Quem teria sangue frio para ser agredido e não responder à altura?
Eu não teria.
Os dois rapazes musculosos e com blusas coladas em seus corpos sarados desceram do carro e espancaram André. Assim, como quem não quer nada. Apenas porque André não tem vergonha de defender sua sexualidade. Bem diferente de mim, que tento esconder minha idade sentando na cadeira do cabeleireiro uma vez por mês.
Eu me pergunto se as duas moçoilas, digo, rapazes, fariam o mesmo se André estivesse na praia, ali em frente à Farme de Amoedo, no conhecido “point gay” de Ipanema, onde milhares de rapazes (que, por coincidência ou não, são bem parecidos com os que bateram em Baliera) se reúnem nos fins de semana.
Penso que eles não seriam tão “machos”, não.
A gente precisa parar de achar que homossexuais são seres de outro planeta, que a gente não convive com eles, que eles são diferentes de qualquer outra pessoa, que eles não estão nas nossas famílias, ali, escondidos num armário.
Como não tivemos até hoje um beijo entre dois homens ou duas mulheres de forma decente na televisão brasileira.
Na verdade, acho até meio burro. Americano, que não é nada bobo na arte de ganhar dinheiro, sabe o quanto atingir esse grupo é importante  e rentável. Já fizeram seriados de gays e lésbicas de todos os tipos. Sabem que os homossexuais são consumidores vorazes, existem e não são diferentes. Muito pelo contrário: têm mais voz, porque estão acostumados a ter que gritar pra ser ouvidos. Estão acostumados a ter que responder sempre que ofendidos. Como André Baliera e tantos outros.
Eu vou sempre lutar pelo que é meu de direito – quando o que é meu de direito não infringir o direito do outro. O direito de trepar com quem eu quiser, a hora que eu quiser, do jeito que eu quiser. O direito de ter celulite,  de dar pinta, o direito de encher a cara de botox, o direito de ser quem eu quiser ser. Eu luto pelo meu direito de ser eu mesma e de andar na rua sem medo.
Não, eu não sou homossexual. Mas se eu tivesse começado esse texto dizendo que “eu gosto de chuchu cru” você teria começado a lê-lo?
Época

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