3.09.2015

Pesquisadores brasileiros extraem composto contra HIV de soja transgênica


A novidade, com biofábricas para a cianovirina, é uma realização da Embrapa em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e a Universidade de Londres

Agência Brasil
A biotecnologia está a cada dia propondo novos rumos para a indústria farmacêutica. A novidade é que pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) conseguiram extrair e purificar a cianovirina cultivada em soja transgênica, uma proteína presente em algas que é capaz de impedir a multiplicação do vírus HIV no corpo humano.

O pesquisador Elíbio Rech, da Embrapa: foram necessários seis anos para se chegar à etapa atual
Divulgação
O pesquisador Elíbio Rech, da Embrapa: foram necessários seis
 anos para se chegar à etapa atual

A pesquisa foi publicada pela revista científica "Science" e comprova 
que as sementes de soja geneticamente modificadas constituem, 
até o momento, a biofábrica mais eficiente e uma opção viável para 
a produção em larga escala da proteína.
“Estamos trabalhando para atingir esta etapa há cinco ou seis anos. 
Pudemos acumular grande quantidade de cianovirina dentro da soja 
conseguimos purificá-la”, explica o pesquisador da Embrapa Recursos 
e Biotecnologia, Elíbio Rech.
Desenvolvida desde 2005, a pesquisa com biofábricas para a cianovirina 
é feita em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos 
e a Universidade de Londres. O objetivo é produzir um gel com propriedades
 viricidas, para que as mulheres apliquem na vagina antes do relacionamento sexual.
O pesquisador, ressalta que o gel não é uma vacina contra a Aids nem um
 substituto ao preservativo, mas um coadjuvante importante no sistema.
 “O nosso foco é principalmente a África, onde grande parte das mulheres 
são contaminadas com HIV pelos parceiros. Na cultura de muitos países 
o uso do preservativo não é respeitado. Com o produto, a mulher não
 precisa da opção do homem em querer usar ou não, ela mesma pode se prevenir."
Segundo a Embrapa, se a soja transgênica for plantada em uma estufa menor do que 
um campo de beisebol (97,54 metros) é possível fornecer cianovirina suficiente para
 proteger uma mulher por 90 anos.
Os biofármacos, ou medicamentos biológicos, são obtidos por meio de fontes 
ou processos biológicos a partir do emprego industrial de microrganismos ou 

Segundo Rech, a origem do trabalho foi se voltar para a agricultura: “Então 
começamos a avaliar o uso da soja e do tabaco não só para o agronegócio,
 mas indo para o setor farmacêutico e para o setor industrial".

Para ele, as pesquisas com biofármacos fomentam o mercado farmacêutico, 
fazendo com que os medicamentos cheguem ao consumidor com menor custo, e valorizam ainda mais o agronegócio brasileiro, já que agrega valor às plantas.
Durante as próximas fases de desenvolvimento, os cientistas também contarão
 com a colaboração do Conselho de Pesquisa Científica e Industrial da
 África do Sul. Segundo a Embrapa, países em desenvolvimento com altos
 índices de proliferação da Aids terão licença de produção e uso interno livre 
de pagamento de royalties.
A Embrapa, em conjunto com outras instituições, estuda ainda biofábricas 
para produção do fator IX, utilizado para tratamento da hemofilia tipo B,
 uma doença hemorrágica, de herança genética, que leva à perda de 
mobilidade do paciente.
Os pesquisadores também desenvolvem uma soja que produzirá o hormônio 
do crescimento humano (hGH), utilizado por pessoas com distúrbios 
do crescimento, e ainda trabalham com o isolamento de genes de aranhas
da biodiversidade brasileira, com o objetivo de desenvolver fibras sintéticas 
como as da teia de aranha, flexí
veis e resistentes. Para explicar os possíveis usos da fibra, Rech faz uma 
com o plástico – "serve para quase tudo".
O trabalho intenso com soja tem uma razão para o pesquisador. 
Além de a planta possuir um sistema de produção consolidado no Brasil,
biologicamente é excelente pelo fato de 40% da semente ser proteína
 e o restante, óleo.“A soja é uma planta maravilhosa. Fazemos 
a manipulação que quisermos”, resume Rech.
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