Começa hoje uma contagem regressiva crucial para o futuro do governo interino. Se mantida a previsão de votação final do impeachment pelo plenário do Senado no dia 2 de agosto, nestes 60 dias Temer terá que convencer o Brasil de que o país estará melhor com ele, que Dilma deve ser condenada, perdendo o mandato e os direitos políticos por oito anos, sendo ele efetivado para nos governar até 2018.
Convencendo o Brasil, o Senado lhe dará os 54 votos necessários para se tornar presidente de fato. Do contrário, vai se aprofundar a tendência de alguns senadores a mudar de voto, frustrando o quórum necessário de dois terços.
Engraçada a lei brasileira do impeachment, já me disseram dois correspondentes estrangeiros. Ela autoriza o afastamento do ocupante da Presidência, eleito pelo povo, por maioria simples de votos. Ou seja, maioria dos presentes, desde que haja metade no plenário. Isso significa que, a rigor, estando 41 senadores no plenário, 21 já poderiam afastar o (a) presidente. O quórum de 2/3 é exigido agora, no julgamento, mas Inês já será quase morta nesta hora. Nos Estados Unidos, os dois terços são exigidos também no afastamento. É verdade que 55 senadores, um a mais que os dois terços, votaram pelo afastamento de Dilma. Mas agora, nestes 60 dias, eles podem minguar.
Temer sabe que a vitória de 11 de maio pode escorrer pelos dedos. Nas ultimas horas falou em herança, sem usar a expressão maldita, para justificar suas dificuldades. e disse já ter proposto agenda positiva para o país. Vai ver que o pais anda com problema de entendimento, porque não se entusiasmou. Nem mesmo o mercado. As quedas de ministros desgastam mas pesariam menos se o país estivesse apostando alto no governo que assumiu em 12 de maio. Não é isso que se vê.
E o que virá se, mais perto de agosto, estiver delineado um cenário de absolvição de Dilma? A questão de honra, para ela, para Lula e o PT, é demonstrar que não houve crime de responsabilidade. Que o impeachment foi um golpe com vestimenta legal. Mas ela mesma sabe que, se tiver os votos para não ser condenada, não terá as condições para voltar a governar. Ainda mais se tiverem sucesso as manobras de Eduardo Cunha para não ser cassado e seguir como eminência parda e poderosa na Câmara. E que volta não seria esta, depois que Temer virou de ponta cabeça a estrutura do governo e descontinuou importantes políticas públicas.
É nesta hora que terá de haver um acordo. Não um acordão secreto entre caciques, como o do impeachment, descrito por Jucá, para barrar a Lava Jato. Um acordo nacional, transparente, republicano, no qual todas as forças políticas aceitem zerar a disputa e chamar o povo a decidir nas urnas.
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