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REQUIÃO: Governo Temer prepara armadilha para um possível retorno de Dilma; entenda…
maio 29, 2016
Dimas Santos
Houve
quem se surpreendesse quando a equipe econômica de Meirelles pediu
autorização ao Congresso para fixar uma nova “meta” fiscal extremamente
folgada, uma meta de 170 bilhões de reais. Afinal, o valor é o dobro da
meta que a presidente Dilma pediu e que na época foi considerado
“irresponsabilidade fiscal” pela imprensa e pelo Congresso.
O
que Meirelles quer não é uma meta, é uma autorização para gastar à
vontade. Os tais 170 bilhões de reais certamente correspondam ao maior
déficit primário da nossa história, em valores correntes. Muito estranho
para um governo que foi alçado ao poder em meio a uma campanha pela
austeridade fiscal, a que Dilma, supostamente, era avessa.
Se
a Dilma está sofrendo processo de impeachment por ter dado as tais
pedaladas, na ânsia de cumprir uma meta fiscal muito ambiciosa, que
sentido faz dar um imenso cheque em branco para o governo interino?
Continua…
Tanta
incoerência explícita, escancarada, tanto cinismo militante incomodam.
As réguas e as regras que valem para uma não valem para outros? Noventa e
seis bilhões de meta fiscal pedidos por Dilma são irresponsabilidade,
mas os 170 bilhões pedidos por Temer transmudam-se em virtude.
Enfim,
considera-se normal que os políticos, na luta pelo poder, façam
pronunciamentos incoerentes, contraditórios.Desdizem hoje com toda
ênfase o que declaravam com fervor ainda ontem. Políticos que queriam o
impeachment diziam uma coisa antes. Agora dizem o contrário.
No
entanto, o que mais assusta é que a mídia, os economistas e “o mercado”
finjam que não há incoerência, que não usam dois pesos e duas medidas.
Da crítica azeda, desaforada de antes ao entusiasmo de hoje não
decorreram sequer 30 dias.
Isso
é grave, gravíssimo, pois indica que faziam terrorismo com o déficit
menor de antes e agora nem se importam com o déficit muito maior. Enfim,
ao que tudo indica, os políticos, “o mercado” e seus economistas
investiram pesado, até mesmo sua credibilidade, para viabilizar o
impeachment e agora investem pesado para viabilizar o novo governo.
Há
anos, todo santo dia, estamos acostumados a ler nos jornalões, a ver e
ouvir na mídia monopolista que o terror dos terrores para os
economistas, para o mercado, para as agências de risco, para os
investidores, que o terror dos terrores para eles é o déficit público
crescente. Mas, agora, nada comentam sobre o crescimento exponencial
desse déficit proposto por Meirelles.
Isso significa que esperam ganhar algo muito maior? O que será?
Antes
de conjecturar sobre isso, faço uma pequena explanação a respeito dos
fatos já conhecidos, para entender as estratégias que movem a atual
equipe econômica:
1) A
previsão de um déficit primário colossal mostra que o governo está se
preparando para adotar uma espamódica política fiscal contra-cíclica
keynesiana só para 2016 para recuperar a economia, mas supostamente
revertendo em 2017. Porém, na prática, para 2016 ao menos, será muito
mais arrojada do que a estratégia fiscal adotada por Dilma em seu
primeiro mandato. Estratégia essa, sabemos, objeto de todos os tipos de
críticas e xingamentos por parte da imprensa, dos economistas de mercado
e da antiga oposição.
2) Se
o governo busca adotar uma política fiscal arrojada, infere-se que ele
esteja disposto a usar todos os meios para fazer a economia crescer,
inclusive radicalizar aqueles meios usados por Dilma e que foram a base
para o horror que “o mercado” e a “elite” têm da presidente.
3) Mas
isso seria considerado uma loucura, que precipitaria a explosão da
dívida pública, se não fosse esperado pelo “mercado” uma redução abrupta
e substantiva dos juros.
4) Como
a duplicação da previsão de déficit foi digerida amistosamente pelo
“mercado”, a redução dos juros já está acertada entre “equipe econômica”
e “mercado”.
5) Porém,
o governo é fraco e continua na mão de todos que viabilizaram o
impeachment. Isso significa que o “mercado”, que se regozija com os
juros altos, está ganhando em troca algo muito melhor.
6) O
que seria? O Pré-Sal?A radicalização das privatizações? A suspensão dos
direitos trabalhistas e dos direitos previdenciários? A apropriação de
uma gorda fatia dos recursos que iriam para educação e saúde? Tudo isso e
um tanto mais. Na verdade, essas medidas já foram anunciadas pelo novo
governo. Então, para ganhar tais prebendas, o mercado aceita a política
fiscal contra-cíclica em 2016 e juros baixos. Esse é o pacto de que
tanto se fala nesse novo ambiente político, o “pacto entreguista”.
7) Mas
isso não é muito impopular para ser realizado por um governo interino?
Sim. E pode não dar certo e não dando certo sempre existe a
possibilidade da volta do governo eleito.
8) Nesse
caso, a equipe econômica do Meirelles estaria preparando uma armadilha
para manterDilma amarrada aos compromissos e políticas neoliberais
propostas pelos interinos.
9) A
armadilha chama-se “mecanismo de fixação do teto da dívida” obrigando
que os gastos públicos fiquem congelados em 2017, em termos reais!
10) Sabemos
que a trégua do “mercado” à política fiscal irresponsável do governo
interino se deve ao “pacto entreguista”. No entanto, na mídia, Meirelles
vende que a trégua do mercado se deve à proposição do “mecanismo de
fixação do teto da dívida”. Ou seja, o “mercado” está dizendo: “Eu não
me preocupo com o fato de Temer ter um déficit duas vezes maior do que
Dilma, porque Meirelles vai aprovar no Congresso um mecanismo que
congela os gastos públicos em 2017, mesmo se Dilma voltar ao governo”.
11) Se
isso acontecer, o Estado e o país ficarão ingovernáveis, no caso de
volta de Dilma. Ou no mínimo, colocará Dilma novamente de joelhos frente
ao Congresso e ao dono do Congresso, a mídia.
12) Caso Dilma não volte, Temer fulmina essa armadilha facilmente com o apoio que tem no Congresso, na mídia e no “mercado”.
13) Mas,
antes disso, irão aprovar todo tipo de entrega do país. E Dilma, caso
volte, estaria tão fraca e tão à mercê Congresso que não poderia
reverter nada e teria que dar continuidade e implementar as políticas
neoliberais de Meirelles.
14) O
ex-ministro Nelson Barbosa já deu indicações de que deve continuar a
mesma política de Meirelles, caso volte, pois, segundo ele, o que o
governo interino está fazendo “não é novidade” e que propostas que ele
mesmo lançou em março, como ministro de Dilma, Meirelles está anunciando agora.
15) Meirelles quer colocar o país entre o fogo e a frigideira. Logo, precisamos combater essas medidas.
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