"A ordem é fechar qualquer acordo que garanta a manutenção do poder, para avançarem sem dó sobre o orçamento exclusivamente para atender à fome das hordas bárbaras. Lembra uma gincana de tirar o máximo possível no menor tempo", diz o jornalista Luis Nassif; "De cara, conseguiram a aprovação para ampliar o rombo orçamentário para R$ 170 bilhões. Ora, o fundamento político para o afastamento de Dilma Rousseff foi o descontrole fiscal", diz ele, apontando a contradição dos movimentos iniciais
O xadrez da irresponsabilidade fiscal do presidente interino
Por Luis Nassif, no jornal GGN
O desenho que emerge dos primeiros dias de presidente interino é um autêntico mapa do inferno.
Perdeu-se qualquer veleidade de apresentar um projeto
minimamente legitimador ao país, do interino colocar-se como mediador
visando recuperar a economia com o mínimo de danos às políticas
centrais, conduzir o país para o porto seguro das eleições de 2018,
preservando avanços e coibindo abusos.
A ordem é fechar qualquer acordo que garanta a manutenção
do poder, para avançarem sem dó sobre o orçamento exclusivamente para
atender à fome das hordas bárbaras. Lembra uma gincana de tirar o máximo
possível no menor tempo.
Confira.
De cara, conseguiram a aprovação para ampliar o rombo orçamentário para R$ 170 bilhões.
Ora, o fundamento político para o afastamento de Dilma
Rousseff foi o descontrole fiscal, devido às benesses de 2013 e 2014 e
ao ajuste desastroso de 2015, que jogou a economia no buraco. Não
faltaram estudos explicitando o aumento de gastos públicos.
De qualquer modo, mesmo os erros brutais cometidos tinham
uma justificativa macroeconômica: segurar o aumento do desemprego e dar
condições às empresas nacionais para competir com os produtos
importados.
Depois do desastre do pacote Levy, durante meses o
ex-Ministro da Fazenda Nelson Barbosa tentou medidas de flexibilização
do orçamento obedecendo a uma lógica macroeconômica responsável:
devolver alguma margem ao governo para reativar a economia pelo lado dos
investimentos públicos e das concessões impedindo o aprofundamento da
crise.
O governo Dilma é afastado e o interino assume, com seu poder lastreado na horda de bárbaros que assumiu o controle da Câmara.
A primeira medida foi ampliar o rombo orçamentário para R$ 170 bi.
Algumas justificativa macroeconômica? Nenhuma.
Para economizar, estão sendo efetuados os seguintes cortes:
· Redução dos recursos do BNDES para a indústria.
· Redução das verbas do Minha Casa Minha Vida para um
terço do previsto, significando a eliminação do subsídio para as faixas
de menor renda.
· Divulgação maliciosa de estudos sobre fraudes no
Bolsa Família (devidamente desmentidos por Tereza Campelo, ex-Ministra
do Desenvolvimento Social), visando capar o programa.
· Tentativa de obter o equilíbrio fiscal no médio prazo através do achatamento progressivo das verbas de educação e saúde.
E, afinal, para onde vão os R$ 170 bi?
Segundo a jornalista Helena Chagas, do site "Os Divergentes" (http://migre.me/tZ921),
ontem o presidente interino Michel Temer concordou com a votação, em
regime de urgência, dos projetos de aumento salarial de funcionários
públicos que estão empacados no Congresso. De uma só vez, haverá aumento
para servidores do Judiciário, carreiras do Executivo, funcionários da
Câmara e do Senado. Segundo Temer, numa notável demonstração de senso de
justiça, “quero tratar os três poderes de forma equânime”.
As obras serão distribuídas para os Ministérios,
descontingenciando o que for de interesse pessoal do Ministro, já que
não existe. Ou seja, o pacto conduzido por Temer reduz verbas não
permanentes – como Bolsa Família e MCMV – e aumenta gastos permanentes,
como os proventos da burocracia estatal.
Em outros campos, o mesmo espírito de pilhagem. Ontem, a
AGU (Advocacia Geral da União) manifestou-se no Supremo em favor da
distribuição de concessões de rádio e TV a políticos com mandato.
É assim que pretende convencer empresários e investidores
internacionais sobre os compromissos fiscais? Abre-se mão de prioridades
nacionais – como educação, saúde, inovação, financiamentos de longo
prazo – para dividir o bolo e cooptar as corporações públicas,
pretendendo comprar sua cumplicidade.
Nesses primeiros dias de governo, está emergindo uma
agenda tão clamorosamente antissocial, com tal dose de insensibilidade
que parece emergir dos tempos das cavernas. Nem se exige
responsabilidade social do interino, mas supunha-se que se guiasse por
um mínimo de esperteza política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário