8.27.2010

Saúde dos Dentes

Conheça os erros mais comuns que praticamos na hora de cuidar da dentição, segundo estudo americano

HÁBITO
Depois de comer sempre cuidar da higiene da boca.
Quem nunca ouviu falar que cárie é coisa de criança ou que ela só acontece quando a pessoa come muito açúcar? Pois afirmações como essas são tão verdadeiras quanto dizer que misturar manga com leite pode matar. Preocupada com esses mitos que rondam a saúde bucal e em como essas informações erradas interferem na prevenção, a pesquisadora americana Carole Palmer, da Escola de Medicina Oral da Tufts University, nos Estados Unidos, resolveu reunir em um trabalho os principais tabus sobre o assunto. O objetivo foi esclarecer, ponto a ponto, a razão de as ideias serem equivocadas.

No artigo, há a citação dos seguintes mitos: os cuidados dentários começam com a primeira dentição, cáries afetam somente a boca, mais açúcar na alimentação significa mais cáries, não tem problema perder dentes de leite por causa das cáries, osteoporose não tem nada a ver com os dentes e ter cáries é coisa de criança. Contra cada um, Carole apresenta evidências consistentes. Um exemplo é o conceito errado de que indivíduos mais velhos têm menos risco de apresentar doenças nos dentes. Em geral, os adultos, principalmente aqueles com idade mais avançada, usam algum tipo de medicamento. E alguns desses remédios podem reduzir a salivação. Entre eles estão os antidepressivos, os diuréticos, os anti-histamínicos, os calmantes ou remédios para dormir. “O problema é que menos saliva implica mais dificuldade para a limpeza natural da boca”, explicou a pesquisadora à ISTOÉ. “Por isso, quem faz uso desses medicamentos precisa ingerir água mais vezes ao dia para compensar o efeito da droga”, complementou. Também são um problema comum entre essa população as doenças periodontais, que afetam a gengiva e os ossos de sustentação dos dentes. “Elas podem favorecer o surgimento de cáries ao longo das raízes dos dentes”, alertou a especialista.
Outro pensamento – o de que os piores inimigos dos dentes são os alimentos mais açucarados – é derrubado com a constatação científica de que, na verdade, o que importa é a quantidade de tempo em que o dente fica exposto ao açúcar, e não a quantidade do ingrediente presente na guloseima. Explica-se: a cárie é efeito de uma alteração no pH da boca. Quando as bactérias que naturalmente habitam a cavidade bucal entram em contato com açúcares ou carboidratos fermentáveis presentes nos alimentos, elas consomem essas substâncias, produzindo ácido. Esse ácido, por sua vez, vai se acumular sobre o dente, retirando-lhe cálcio e fósforo. Se a pessoa não escova devidamente seus dentes, eles ficam gradativamente mais porosos. O resultado é uma sensibilidade aumentada a estímulos que normalmente existem na região bucal, como o movimento da língua, a salivação ou a mastigação de alimentos. “Ou seja: a quantidade consumida de açúcar ou carboidratos fermentáveis não importa. O que leva à cárie é a exposição constante a essas substâncias”, esclarece Marisa Malt, vice-presidente da Associação Brasileira de Promoção da Saúde Bucal.

O conceito de que não existe problema em perder dentes de leite para a cárie – ele ia cair mesmo, pensam muitos pais –, também traz consequên­cias sérias. “O dente de leite tem função”, diz a odontopediatra Gabriela Schneider, do Ateliê Oral, de São Paulo. “Ele auxilia a mastigação, ajuda no desenvolvimento dos músculos da face e serve como guia para que o dente permanente cresça corretamente”, explica. Sem ele, o dente permanente pode demorar mais para nascer ou mesmo nascer torto – o que exigirá, posteriormente, o uso de aparelhos corretivos (leia mais sobre os mitos no quadro).

A ideia de reunir – e desmistificar – os tabus surgiu depois de anos nos quais a professora Carole cansou-se de ouvir enganos sobre a saúde bucal. A experiência lhe permitiu confirmar que a informação truncada ou insuficiente é uma das razões, por exemplo, que explicam o crescimento de um problema tão fácil de combater, como a cárie. Só para ter a dimensão do estrago: a Organização Mundial da Saúde calcula que, somando-se todos os dentes cariados do mundo e dividindo-os pelos cerca de 6,8 bilhões de habitantes do planeta, ter-se-ia uma média de 2,2 cáries por pessoa. “Essa é a doença infecciosa mais comum em todo o planeta”, disse Carole.

Com a divulgação do trabalho, a pesquisadora americana espera contribuir para frear essa escalada. De fato, quanto mais informação, melhor. Na casa da ex-modelo Tatiana Machado Eiras, 30 anos, em São Paulo, os filhos Theo, 3 anos, e Mirella, 7 anos, são orientados desde bem pequenos. “Levo meus filhos ao dentista desde quando nasceram os primeiros dentes de leite”, conta Tatiana. E eles aprenderam direitinho: Theo adora balas, Mirella, chocolates e biscoitos. Mas, depois de comer, eles vão direto para a pia com a escova e a pasta de dentes. “O Theo já usa até fio dental”, diz a mãe. Para ela, o problema com a escovação é bem diferente daquele enfrentado pela maioria dos pais. “Tenho que ficar em cima para que o Theo não escove os dentes demais.”

Isto é

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