9.21.2010

Como adiar a calvície


Exames precoces já permitem retardar a queda de alguns fios em mais de 20 anos
CARECA
Modelo calvo espia sua falta de cabelos. A calvície atinge 80% dos homens Os primeiros fios a menos na cabeça do engenheiro Fernando Maia, de 25 anos, foram notados no início da puberdade, aos 13 anos. Fernando mudou o corte de cabelo, trocou o xampu e testou um novo jeito de pentear. Mas a queda severa foi mais rápida que as tentativas de disfarce. Fernando assumiu a carequice e raspou o que restava. “Não suporto ver aquela meia dúzia de fios.” Seu irmão mais novo, o estudante Felipe Maia, de apenas 12 anos, não notou a perda de cabelos. Ainda. Mas, com o pai e o irmão calvos, resolveu investigar.

Felipe sabe tudo sobre sua cabeleira. A cada três meses submete-se a um exame que calcula a densidade e a espessura dos fios. O resultado é sempre comparado ao teste anterior. Felipe fez até um teste genético para ver se tinha genes associados à calvície. Sua tendência é pequena, de apenas 30%, segundo o exame, mas ainda assim considerável – e não pode ser ignorada.

A calvície é uma herança genética que afeta 80% dos homens e pelo menos 10% das mulheres. Ela pode ser lenta, mas também ocorre de forma severa e extremamente precoce. Há garotas de pouco mais de 20 anos com verdadeiras “clareiras” no topo da cabeça.

A primeira boa notícia é que a ciência nunca soube tanto sobre a alopecia androgenética – a popular calvície. Os médicos já conseguem perceber indícios bem antes da perda dos primeiros fios. Eles sabem como ela evolui. “É possível adiar a queda de fios que já estavam com raízes quase mortas”, diz Francisco Le Voci, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Mas para isso o diagnóstico tem de ser precoce.”

A verdade sobre a alopecia costuma ser mais dura que todos os mitos ligados a ela: pessoas que têm a calvície prevista no código genético terão de lutar contra ela até o fim da vida. Basta um momento de desatenção para os fios se tornarem mais curtos e finos. E os que caem não voltam. Não há como fazê-los ressurgir no couro cabeludo.

Para interromper o processo a tempo, os médicos costumam prescrever finasterida. O medicamento inibe um derivado do hormônio testosterona, ligado ao processo de calvície. Em pessoas com tendência mais branda, conseguem, quase, estacionar a calvície. Naquelas com forte propensão, apenas diminuem o ritmo de perda dos fios. A finasterida é acusada de causar impotência, mas os testes científicos revelam uma baixa incidência (1,5%). Outra substância, a dutasterida, indicada para o tratamento de alterações na próstata, é apontada como sua sucessora. Ela é cerca de uma vez e meia mais potente contra a calvície. Já é receitada pelos médicos, mas ainda não está aprovada para esse fim.

As loções e vitaminas até ajudam a segurar a cabeleira. Mas são mais indicadas para a queda de cabelo que não tem relação com a calvície. Ajudam a recuperar os fios perdidos depois de regimes radicais, traumas cirúrgicos, estresse ou sucessivos tratamentos químicos no cabelo, como tinturas e alisamentos. Esses cabelos nascem de novo. Mas os fios que caem por conta da calvície não voltam mais. Só com implante.

As novas técnicas de transplante capilar, como mostra o quadro ao lado, conseguem resultados bem mais naturais que há alguns anos. Os médicos retiram as estruturas que dão origem aos fios de áreas como a nuca, onde a calvície raramente ataca, e implantam, uma a uma, nas regiões afetadas. É possível diminuir as entradas e até preencher áreas do topo da cabeça.

A cirurgia custa entre R$ 5 mil e R$ 15 mil – e só pode ser feita por quem ainda tem uma boa área doadora preservada. Os médicos costumam indicar a cirurgia após os 35 anos, quando a queda de cabelo passa a evoluir de forma mais lenta. Aos 20, ainda não se sabe a que ritmo a calvície vai seguir.

Para a multidão de calvos que não pode gastar tanto, existem as próteses, que podem ser feitas a partir de fios de cabelo do próprio paciente. Elas são fixadas com uma cola especial na região calva e passam por uma manutenção mensal. O preço é bem mais acessível, a partir de R$ 800, mas o resultado nem sempre é tão bom, como revela a nova cabeleira do empresário Eike Batista, que os médicos acreditam ser resultado de uma prótese. Há também perucas modernas, bem-acabadas, que se prendem melhor ao couro cabeludo – mas que poucos se arriscam a usar.

A mais recente esperança para os calvos são os tratamentos com células-tronco, retiradas do bulbo do cabelo. Estudos experimentais produziram novos fios, mas eles crescem de forma imprevisível. Os especialistas acreditam que em 20 anos haverá tratamentos com células-tronco para eliminar de vez a calvície.
Época

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