sex, 13/07/12
por yvonnemaggie |
Em Avenida Brasil o mal está presente sem a menor sombra de dúvida e até agora parece concentrar-se na figura de Carminha. Mas, como me disse um motorista de taxi, Nina faz mal a todo mundo que tem por ela um sentimento de amor. Ela não pode ser a personagem boa da novela, mesmo que no final consiga provar que a malévola Carminha é um lobo em pele de cordeiro, vai ser difícil Nina mostrar ter trilhado o caminho do bem.
Nina, Carminha, Monalisa, Zezé, Jana, Muricy, Ivana, Noêmia, Alexia, Verônica, mãe Lucinda, Suelen, Olenka, Tessália e as meninas Ágata e Paloma, formam um conjunto diversificado de mulheres entre homens perversos, com exceção do maravilhoso e ingênuo Tufão, que só perde em ingenuidade para o jogador que não marcou o pênalti do final do campeonato de 1950, o namorado de Muricy. Ah, e o time de futebol inteiro do Divino, inclusive o que se tornará marido de Suelen, a Maria chuteira, para encobrir sua homossexualidade, é feito de jovens “naturalmente” bons, ingênuos e vivendo para um sonho maior do que apenas obter riqueza e ostentação.
Os personagens da novela – talvez com exceção de uma das mulheres de Cadinho, Alexia, de família rica decadente – subiram na vida, inclusive todas as empregadas domésticas da trama, mesmo a Zezé que mora em uma comunidade, com exceção de Nina, fazem parte da nova “classe C”, ou da nova classe média. A maioria caminha na corda bamba sem distinguir o bem do mal.
Se João Emanuel Carneiro teve a intenção de tratar de um tema tão atual conseguiu e, mais ainda, descreveu um Rio de Janeiro de hoje, como fazia Nelson Rodrigues nos anos de 1950 na sua famosa coluna A vida como ela é. Nelson Rodrigues era cronista de futebol e também retratava os jogadores deforma atavicamente boa. A história de Avenida Brasil se passa em torno de um personagem tão real quanto um Garrincha ou um Romário. A vida na “mansão” é um resumo das vidas de muitos desses jogadores e da nova classe média com pouco estudo e muito acesso ao crédito e ao consumo. Uma casa cheia de empregadas, de pequenas tragédias e muita intimidade. Personagens vilãs que não são vilãs e boas que podem virar más estão ali para nos fazer pensar sobre a vida como ela é hoje, ou como parece ser.
Novela é coisa séria, afinal, grandes escritores escreveram histórias em capítulos, lidas diariamente e acompanhadas com muita ansiedade no chamado romance de folhetim. No século XIX, neste gênero , no qual brilharam Joaquim Manoel de Macedo, Machado de Assis e José de Alencar, os capítulos eram publicados no pé de página dos periódicos. Assim como as novelas de hoje, prendiam os leitores com um vertiginoso transcorrer de acontecimentos que retratavam a nova vida das cidades. Os dramas de então certamente eram diversos, mas os caminhos para o leitor ou o ouvinte se prenderem à história continuam os mesmos.
Como no folhetim, a vida brasileira está presente nas novelas, e os dilemas morais da nossa sociedade são vividos pelas heroínas da história, tanto hoje quanto no século XIX. O romance de folhetim e a novela apresentam dramas humanos, dos mais inquietantes e agonísticos, aos mais frívolos e cotidianos. Em Avenida Brasil, que os brasileiros seguem com o coração na boca, o tema central é quase dostoievskiano, e às vezes me sinto no meio da luta travada na consciência de Raskónikov, de Crime e castigo, quando vejo Nina e Carminha, duas personagens geniais, em suas constantes maquinações. Ambas, uma totalmente ciosa, perseguindo um desejo de vingança, outra, absolutamente amoral, representam dilemas contemporâneos que podem ser resumidos na expressão banal: Os fins justificam os meios? É justo se vingar, e até assassinar alguém que foi responsável pela morte de seu pai ou de um ente querido?
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