8.07.2013

Parecer normal ou ser normal não significa que tudo esteja bem


Parece até coisa de filme. Uma família inteira morta a tiros. O único suspeito para a polícia de tamanha barbárie é um garotinho de apenas 13 anos, filho do casal, também morto. O que se afirma é que era doente fisicamente (uma fibrose cística) e colecionador de várias qualidades: educado, tranquilo, inteligente, carinhoso, sossegado, querido, pacato (nunca arrumou briga com ninguém)… E amado. Embora, segundo o depoimento de um amigo à polícia, o menino cultivasse o desejo de matar sua família e tornar-se um matador de aluguel.
Raros são os casos em que os filhos assassinam seus pais no que é chamado de parricídio. Geralmente há um histórico de abuso emocional, físico e sexual vivido por eles até chegarem a este ponto. O que parece não ter sido o caso deste garotinho, se todas as suspeitas se confirmarem. Mesmo assim, é algo incomum.
Tão incomum que quando ocorre tendemos a negar. Pensamos em várias teorias e até em conspiração (armaram algo). E vamos continuar pensando em inúmeras outras possibilidades. Até porque nada se pode afirmar, mesmo que todas as evidências reforcem esta ideia. Afinal, não ficou ninguém para contar a história.
Para aqueles que os conheciam, eram uma família normal. Apesar de toda a normalidade, o que será que acontece para alguém tomar uma atitude tão extremada?
Tendemos a considerar algo normal, ou não, baseados naquilo que vemos: criança amada, família unida, e por aí vai. Esquecemo-nos, porém, de que há um mundo interno, rico em fantasia. Motivações e emoções que não seguem uma lógica. Parecer normal ou ser normal, dentro de padrões pré-estabelecidos, não significa que tudo esteja bem. Não somos apenas produto de um meio, mas temos característica com as quais nascemos e que vão tomando um rumo ou outro à medida que crescemos.
É interessante notar que atitudes extremadas não costumam vir de pessoas que são mais “descontroladas”, digamos assim. E sim daquelas que parecem superadaptadas. Estas nunca dão indícios de seus reais sofrimentos, afinal são educadas, carinhosas, sossegadas… Apesar de parecerem assim, não se sentem assim.
Não conseguem, muitas vezes, colocar para fora o que as incomoda, ou algum indício de que as coisas vão mal, muito mal. Forçam-se a se adaptar até que não dá mais.
Nem por isso temos que começar a ver o filho, o vizinho, ou seja lá quem for como um possível matador (afinal, ele parece tão normal!). Coisas assim são raras de acontecer. Talvez devêssemos prestar mais atenção aos nossos filhos e aos sinais que eles dão de que as coisas não vão nada bem. Saber mais de seus gostos, interesses, de sua vida. Como seu jogo favorito, por exemplo. No caso, o menino gostava de um game de um matador. Claro que a culpa não é do game, como muitos pensam. Em outros casos de assassinato, o jogo é um eco para o que os autores dos crimes sentiam.

Ou quem sabe nos aproximarmos e conversarmos mais com eles, sem suposições de que tudo esteja bem ou deva estar bem. Ou que são os melhores ou os mais perfeitos. Mas apenas o que eles sentem ou como se sentem.
De todo modo, se foi mesmo o garoto que realizou tudo isso, ele apenas concretizou uma parte de seu desejo: matar o pai. Muito provavelmente, assolado pela culpa, não suportou a realidade e deu um fim em si próprio. Bem que poderia ser um filme.

qua, 07/08/13
por Ana Cássia Maturano |

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