BREJO DA MADRE DE DEUS E FREI MIGUELINHO (PE) - A
demanda de médicos no interior do país é gigantesca e a cubana Teresa
Rosales, 47, se surpreendeu com a recepção de seus pacientes em Brejo da
Madre de Deus, no agreste pernambucano.
“Eles [pacientes] ficam de joelhos no chão, agradecendo a Deus. Dão beijos”, afirma a médica, que atendeu 231 pessoas neste primeiro mês de trabalho dos profissionais que vieram para o Brasil pelo programa Mais Médicos, do governo federal.
O posto de saúde em que Teresa trabalha fica no distrito de São Domingos, região pobre e castigada pela seca. Durante os últimos quatro anos, o posto não tinha o básico: médicos. Até o final de setembro, quando Teresa chegou ao distrito, quem andava quilômetros de estrada de barro até chegar à unidade de saúde sempre voltava para casa sem atendimento.
A situação se repetia a algumas ruas de lá, no posto onde o marido de Teresa, Alberto Vicente, 43, começou a trabalhar em outubro.
“Foi Deus quem mandou esse homem. Era uma dificuldade, chegou a fechar o posto por falta de médico”, disse a aposentada Isabel Rocha, 80, que agora controla o diabetes sob orientação médica.
Alberto e Teresa integram um grupo de 400 cubanos que chegaram pelo Mais Médicos na primeira etapa do programa. Outros 2 mil dos seus conterrâneos começaram a trabalhar no dia 4 de novembro, 76 deles em São Paulo. Uma terceira leva de 3 mil médicos da ilha chegou esta semana a cinco capitais. A previsão é que eles comecem a trabalhar em dezembro.
Os médicos têm alimentação e moradia fornecidas pelas prefeituras e recebem por mês entre R$ 800 e R$ 900 do governo federal. O restante da bolsa de R$ 10 mil mensais é distribuído entre parentes dos médicos e o governo cubano.
Atendimento
Alheia à polêmica salarial, a população lota os postos que há um mês estavam vazios, já que não havia médicos.
A agricultora Maria Inácia Silva, 69, havia visto um médico pela última vez em 2005. Ela se disse impressionada pela forma como foi atendida pelo cubano Nelson Lopez, 44, novo médico do povoado de Capivara, em Frei Miguelinho (PE).
A diferença no atendimento está desde a organização dos móveis: a cadeira do paciente fica ao lado da mesa do médico, para que o móvel não seja uma barreira entre eles.
“Gostamos de examinar o paciente, dedicar um tempo a ele, considerá-lo gente”, disse Lopez.
As filas e as consultas são longas. Ainda estava escuro quando Maria Inácia Silva chegou ao posto e ela só foi atendida na hora do almoço. Passou cerca de meia hora no consultório e finalmente soube que as dores que sente se devem ao reumatismo. “Ele é ótimo médico, apesar de estrangeiro. Em 69 anos, nunca vi um médico tão bom”, disse Maria Inácia.
Lagarto e Facebook
A língua portuguesa não é a única novidade à qual os médicos cubanos tiveram que se acostumar. Essa, aliás, foi uma dificuldade superada logo nos primeiros dias de trabalho em Pernambuco, dizem.
Apesar da experiência internacional em países pobres, no interior de Pernambuco algumas ditas contradições sociais e hábitos peculiares surpreendem os estrangeiros.
Nelson Lopez, 44, já trabalhou na Venezuela e na Gâmbia, mas se impressionou quando famílias pobres da zona rural de Frei Miguelinho (PE), onde a água do posto de saúde é armazenada em baldes, pediram fotos com ele para postar nas redes sociais.
“Um lugar pobre, com essas condições, e as pessoas têm Facebook, internet. É uma coisa um pouco contraditória”, disse, admirado.
Além disso, Lopez se disse chocado com o consumo indiscriminado de remédios controlados. Especialista em medicina tradicional, faz palestras explicando o perigo e apresenta chás e infusões feitos com plantas da região.
Fora do consultório, o desafio é se adaptar a hábitos exóticos. Quando a reportagem visitou o município, na semana passada, ao lado do posto de saúde um grupo tentava caçar um lagarto para o almoço daquele dia.
O médico ainda não precisou experimentar o animal, mas tenta se habituar a comer cuscuz todos os dias em pelo menos duas refeições, além do café fraco e doce.
Nos fins de semana, Lopez visita seus conterrâneos Alberto Vicente, 43, e Teresa Rosales, 47, em Brejo da Madre de Deus (PE), a 77 quilômetros de lá.
O casal de médicos já tem uma rotina durante a semana: quando terminam o trabalho, seguem a pé para casa, cuidam dos afazeres domésticos, estudam, assistem novela e logo vão dormir. Ganharam da prefeitura duas bicicletas, mas Teresa diz que estão sedentários.
Os médicos falam diariamente com os familiares em Cuba pela internet. Os parentes perguntam sobre o Brasil, condições de trabalho e do lugar onde vivem. A casa está quase toda equipada. Ainda faltam guarda-roupa, máquina de lavar e ar-condicionado. A médica também quer gradear o imóvel. “É um bairro muito tranquilo até agora, mas eu sinto medo porque não conheço bem”, disse ela.
“Eles [pacientes] ficam de joelhos no chão, agradecendo a Deus. Dão beijos”, afirma a médica, que atendeu 231 pessoas neste primeiro mês de trabalho dos profissionais que vieram para o Brasil pelo programa Mais Médicos, do governo federal.
O posto de saúde em que Teresa trabalha fica no distrito de São Domingos, região pobre e castigada pela seca. Durante os últimos quatro anos, o posto não tinha o básico: médicos. Até o final de setembro, quando Teresa chegou ao distrito, quem andava quilômetros de estrada de barro até chegar à unidade de saúde sempre voltava para casa sem atendimento.
A situação se repetia a algumas ruas de lá, no posto onde o marido de Teresa, Alberto Vicente, 43, começou a trabalhar em outubro.
“Foi Deus quem mandou esse homem. Era uma dificuldade, chegou a fechar o posto por falta de médico”, disse a aposentada Isabel Rocha, 80, que agora controla o diabetes sob orientação médica.
Alberto e Teresa integram um grupo de 400 cubanos que chegaram pelo Mais Médicos na primeira etapa do programa. Outros 2 mil dos seus conterrâneos começaram a trabalhar no dia 4 de novembro, 76 deles em São Paulo. Uma terceira leva de 3 mil médicos da ilha chegou esta semana a cinco capitais. A previsão é que eles comecem a trabalhar em dezembro.
Os médicos têm alimentação e moradia fornecidas pelas prefeituras e recebem por mês entre R$ 800 e R$ 900 do governo federal. O restante da bolsa de R$ 10 mil mensais é distribuído entre parentes dos médicos e o governo cubano.
Atendimento
Alheia à polêmica salarial, a população lota os postos que há um mês estavam vazios, já que não havia médicos.
A agricultora Maria Inácia Silva, 69, havia visto um médico pela última vez em 2005. Ela se disse impressionada pela forma como foi atendida pelo cubano Nelson Lopez, 44, novo médico do povoado de Capivara, em Frei Miguelinho (PE).
A diferença no atendimento está desde a organização dos móveis: a cadeira do paciente fica ao lado da mesa do médico, para que o móvel não seja uma barreira entre eles.
“Gostamos de examinar o paciente, dedicar um tempo a ele, considerá-lo gente”, disse Lopez.
As filas e as consultas são longas. Ainda estava escuro quando Maria Inácia Silva chegou ao posto e ela só foi atendida na hora do almoço. Passou cerca de meia hora no consultório e finalmente soube que as dores que sente se devem ao reumatismo. “Ele é ótimo médico, apesar de estrangeiro. Em 69 anos, nunca vi um médico tão bom”, disse Maria Inácia.
Lagarto e Facebook
A língua portuguesa não é a única novidade à qual os médicos cubanos tiveram que se acostumar. Essa, aliás, foi uma dificuldade superada logo nos primeiros dias de trabalho em Pernambuco, dizem.
Apesar da experiência internacional em países pobres, no interior de Pernambuco algumas ditas contradições sociais e hábitos peculiares surpreendem os estrangeiros.
Nelson Lopez, 44, já trabalhou na Venezuela e na Gâmbia, mas se impressionou quando famílias pobres da zona rural de Frei Miguelinho (PE), onde a água do posto de saúde é armazenada em baldes, pediram fotos com ele para postar nas redes sociais.
“Um lugar pobre, com essas condições, e as pessoas têm Facebook, internet. É uma coisa um pouco contraditória”, disse, admirado.
Além disso, Lopez se disse chocado com o consumo indiscriminado de remédios controlados. Especialista em medicina tradicional, faz palestras explicando o perigo e apresenta chás e infusões feitos com plantas da região.
Fora do consultório, o desafio é se adaptar a hábitos exóticos. Quando a reportagem visitou o município, na semana passada, ao lado do posto de saúde um grupo tentava caçar um lagarto para o almoço daquele dia.
O médico ainda não precisou experimentar o animal, mas tenta se habituar a comer cuscuz todos os dias em pelo menos duas refeições, além do café fraco e doce.
Nos fins de semana, Lopez visita seus conterrâneos Alberto Vicente, 43, e Teresa Rosales, 47, em Brejo da Madre de Deus (PE), a 77 quilômetros de lá.
O casal de médicos já tem uma rotina durante a semana: quando terminam o trabalho, seguem a pé para casa, cuidam dos afazeres domésticos, estudam, assistem novela e logo vão dormir. Ganharam da prefeitura duas bicicletas, mas Teresa diz que estão sedentários.
Os médicos falam diariamente com os familiares em Cuba pela internet. Os parentes perguntam sobre o Brasil, condições de trabalho e do lugar onde vivem. A casa está quase toda equipada. Ainda faltam guarda-roupa, máquina de lavar e ar-condicionado. A médica também quer gradear o imóvel. “É um bairro muito tranquilo até agora, mas eu sinto medo porque não conheço bem”, disse ela.
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