11.10.2013

O risco político de Haddad

Medidas impopulares adotadas pelo prefeito de São Paulo, como o aumento do IPTU, provocam calafrios na cúpula do PT, que já prevê prejuízos eleitorais em 2014


Ao assumir o comando da prefeitura de São Paulo no começo deste ano, Fernando Haddad (PT) apresentou-se como um gestor de primeira linha. Disse que uma de suas prioridades era equilibrar o orçamento municipal, pois herdara uma cidade numa situação de insolvência. Em conversas com aliados, já prenunciava dificuldades nos primeiros meses de gestão. O que nem a população nem o PT, seu próprio partido, esperavam é que, na tentativa de solucionar os problemas, Haddad se envolveria em tanta polêmica e tomaria iniciavas tão impopulares em menos de um ano de mandato. A mais controversa delas é o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
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PESO-PESADO
Petistas temem que o prefeito Fernando Haddad
se torne um fardo eleitoral em 2014
Em uma canetada, condenada por 89% da população, Fernando Haddad ampliou em até 20% o valor pago em 2014 pelos contribuintes nos tributos de imóveis residenciais e em 35% para o comércio e a indústria. Pesquisas que chegaram à cúpula do PT, nos últimos dias, mostram um grande abalo na imagem de Haddad. O desgaste é tamanho que nem mesmo o fato de seu governo ter desmantelado um antigo esquema de corrupção operado por funcionários públicos serviu para retirá-lo da agenda negativa. Até na cúpula petista já há quem considere que, diante da atual conjuntura, o prefeito da capital paulista deixou de ser uma arma política e transformou-se num fardo na estratégia do partido de conquistar o governo do Estado de São Paulo em 2014. “Já vimos isso em 2004, quando a (ex-prefeita) Marta (Suplicy) criou vários impostos em São Paulo e ficou conhecida como Martaxa”, lamentou um cardeal petista, para quem Alexandre Padilha, o pré-candidato do PT ao governo, terá de manter uma distância regulamentar de Haddad se quiser obter êxito eleitoral no próximo ano.
Para setores do partido, desde que assumiu o comando da capital paulista, Haddad demonstrou características pouco recomendadas a um político de qualquer época. É fechado ao diálogo e costuma ser intransigente. Foi assim na questão da passagem de ônibus. Mesmo com as manifestações populares de junho ganhando cada vez mais força pelo País, o prefeito mostrou-se irredutível em baixar a tarifa do transporte público em R$ 0,20. Só recuou depois que várias capitais anunciaram a redução. O posicionamento do prefeito de São Paulo foi ainda mais radical no aumento do IPTU. Desde que a iniciativa se tornou pública, associações de bairros, entidades de classe e até o Ministério Público tentam convencê-lo a recuar de sua sanha arrecadatória. A medida, segundo Haddad, enquadraria os valores do imposto aos novos preços dos imóveis valorizados pelo boom imobiliário. O argumento contrário, porém, é simples e mais lúcido: o IPTU não deve ser corrigido com base na valorização ou desvalorização como quer o prefeito, pois para isso já existe outro tributo. O IPTU deve e pode ser atualizado, sim, mas usando como base outros critérios, como a oferta de serviços públicos na área em que o imóvel está localizado. De tão polêmico, o projeto foi aprovado na Câmara dos Vereadores por uma diferença de apenas três votos. Apesar da sanção do prefeito na quarta-feira 6, uma liminar proíbe que o aumento do IPTU entre em vigor.
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A administração Haddad encontra dificuldades até em áreas consideradas vitrines de sua campanha, como é o caso do transporte. Ao promover a alteração de dezenas de linhas de ônibus na zona leste de São Paulo no último mês, milhares de passageiros foram prejudicados chegando a esperar inutilmente por mais de uma hora nos pontos. A falta de planejamento foi total. Além de existirem poucas placas para comunicar aos usuários as mudanças, faltavam funcionários da prefeitura para orientar e alguns terminais nem sequer tinham capacidade para receber a quantidade nova de ônibus deslocados para lá. O motivo da alteração das linhas, na maioria dos casos, foi adequar os novos itinerários às faixas exclusivas de ônibus criadas na atual gestão. Elas, aliás, também são alvos de polêmica. Por um lado, permitem que os usuários de transporte coletivo façam seus trajetos de forma mais rápida. De outro, reduzem o espaço destinado aos carros, gerando mais trânsito.
Em meio a tantas controvérsias, o desmantelamento da máfia dos fiscais também foi visto com preocupação no seio petista. Para integrantes da legenda, isso acabou por azedar a relação do PT com o ex-prefeito Gilberto Kassab, neoaliado da sigla. A leitura no PT é que Haddad conseguiu aquilo que nem a oposição esperava dele. Não conquistou a empatia do eleitorado paulistano tradicionalmente contrário ao PT e, ao mesmo tempo, afastou uma parte dos eleitores cativos da sigla na capital paulista .
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EFEITO COLATERAL
Pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha
teme ser prejudicado por desgaste de Haddad

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