Internacional
Entrevista
Segundo a parlamentar Nadia Abu Zaher, não é a
religião que impede a mulher de ser protagonista, mas sim os valores
socioculturais
por Marsílea Gombata
—
Alberto Medina López
A parlamentar Nadia Abu Zaher durante entrevista
em sua casa em Huwara, nas cercanias de Nablus
De Huwara, Nablus, Cisjordânia
Nadia Abu Zaher tem 37 anos, estudou jornalismo, fez mestrado em direitos humanos e obteve o título de Ph.D. em sistemas políticos comparados. Seria uma trajetória de superação, mas esperada, dentro de uma sociedade ocidental. A especialista, no entanto, vem de um vilarejo palestino onde a mulher tem um papel secundário e é uma das poucas mulheres a ocupar um assento no Parlamento em Ramallah, na Cisjordânia.
Quando tentamos agendar a entrevista, ela se mostrou contente em ter a repórter em sua casa em Huwara, nos arredores de Nablus, mas disse que não poderia receber o colega fotógrafo, a não ser que seus irmãos ou primos estivessem presentes e lhe dessem permissão. Explica-se: Abu Zaher não é casada e não tem filhos. A ausência de um homem na casa onde mora a impede de receber visitas masculinas. Além disso, é proibida de viajar a um país estrangeiro sem estar acompanhada. Quando se mudou para o Egito, onde obteve seu mais alto título acadêmico na Universidade do Cairo, foi obrigada e levar consigo sua mãe para lhe acompanhar durante o período no qual estudou no exterior.
Uma das únicas mulheres de seu vilarejo a obter um diploma universitário, Abu Zaher é especialista também em democracia. Além da sua briga diária para trabalhar em um Parlamento paralisado há seis anos devido à ruptura entre o Fatah e o Hamas, sua maior luta é para dar maior autonomia à mulher na sociedade palestina, onde o grande abismo entre homens e mulheres, afirma ela, não tem origem nos mandamentos religiosos, mas sim na herança histórica e cultural. “A religião impede que a mulher continue a estudar e tenha um grau de educação cada vez mais elevado? Não, a religião não diz isso. É a sociedade quem diz”, explicou Abu Zaher. “A minha ambição é mudar a sociedade na qual vivo, o jeito como as pessoas veem a mulher. Não deveríamos apenas ter o direito de ter filhos e criá-los, mas também o de termos nossa própria vida.”
Confira os principais trechos da entrevista:
CC - Como a senhora se sente sendo uma mulher dentro do Parlamento palestino? Há muitos desafios, além do que se espera de uma mulher no Legislativo de um país, com os quais tem de lidar?
NZ - Na verdade, como mulher sou obrigada a enfrentar vários problemas todos os dias, em diferentes setores da minha vida, inclusive no Parlamento. Simplesmente porque sou mulher não sou tratada como os homens que trabalham no Parlamento. Tenho um titulo de PhD, e há pessoas que sequer foram para a universidade, mas têm um salário muito maior que o meu. Estou falando, então, de um grande abismo sobre como tratam homens e mulheres. Os cursos geralmente são destinados aos homens, todos os homens controlam a maioria dos cargos de administração. Não apenas no Parlamento, mas em todos os ministérios acontece isso. A situação para uma mulher dentro da Palestina é muito, muito difícil.
CC - Mas seria uma exclusividade da Palestina ou algo comum a todos os países árabes? Qual seria a principal razão disso? A religião?
NZ – Sim, acredito que seja igual em todos. E não se trata de religião. A principal razão para que os países árabes funcionem assim está na história. Repousa no fato de termos sido controlados por muito tempo pelo Império Otomano. É essa a principal razão, e não a religião. Fiz um estudo sobre as leis e a mulher na sociedade árabe, para saber se a mulher é tratada dessa maneira nessas sociedades por causa da religião ou por outras razões, uma vez que não existe igualdade entre homens e mulheres perante as leis. Descobri que todas as leis dos países árabes têm origem nas leis otomanas. Essa herança é, até hoje, um grande problema não apenas para o povo palestino, mas também egípcio, jordaniano etc. Me pergunto, então, por que o islã sempre é culpado por essas questões. É realmente culpa do islã? O islã realmente diz para o homem matar a mulher por questões de honra? A mídia ocidental, que pinta os países árabes dessa maneira, nunca olhou para os países árabes sob uma perspectiva diferente. Eles esquecem o tempo todo que estivemos sob ocupação do Império Otomano e depois sob a ocupação europeia. Desde sempre, portanto, fomos controlados, indo de uma ocupação para outra. Nunca pudemos ser livres, sempre estivemos sobre controle. É certo isso? Como querem que um homem e uma mulher sob ocupação sejam livres, se sintam livres e pensem de uma maneira democrática? Imagine que sempre estivemos sob ocupação, e as coisas que fizemos foram feitas para lutar contra isso. A democracia precisa de tempo para se concretizar. Mesmo na América ou na França, ela não acontece simplesmente. Vinte, 40 ou 60 anos não são suficientes para impulsionar um estilo de vida calcado nos valores democráticos. É preciso um período bastante longo. E os EUA apoiam líderes árabes mesmo que sejam ditadores e não eleitos democraticamente. Por exemplo, Hosni Mubarak ou mesmo Saddam Hussein, que recebeu apoio de Washington por anos até ser apontado como o único entrave à democracia no Iraque. Se Saddam era o que diziam, por que apoiaram um líder não condizente com os valores democráticos?
CC - Quando a senhora fala do Império Otomano, quais seriam as particularidades ou características dele em termos de herança para os países árabes?
NZ - O conceito de Estado, por exemplo, é completamente distinto do qual temos hoje. Qualquer imperador otomano tinha suas próprias características, porque o império deveria ficar sob suas regras até que ele morresse. Depois disso, seu filho ou parentes tomavam o poder e passavam a governar e ditar as regras. E não havia leis ou eleições naquele tempo. Não havia separação, por exemplo, entre quem governa e quem julga, tudo estava concentrado nas mãos de um só homem, como nos reinados. Como pedir, então, para esse povo sob ocupação ser democrático? Sem leis, as únicas regras eram emitidas pelo imperador. E esse modelo originou esse no qual vivemos hoje. Não se trata, portanto, de religião.
CC - Qual a porcentagem de mulheres trabalhando nos territórios palestinos?
NZ - Não existem estatísticas oficiais sobre isso. Mas, de qualquer forma, a questão não é sobre quantas mulheres trabalham, mas sim por que todos os altos cargos administrativos e do governo são controlados pelos homens. Esse é um grande problema que temos, em especial no Parlamento. As mulheres são impedidas de fazer muitas coisas. Desde o estabelecimento da Autoridade Palestina, em 1994, as leis foram criadas por homens. Podemos, então, crer que a luta para as mulheres está terminada? No Parlamento há outras mulheres além de mim. Mas é uma situação inusual, porque a Casa está parada, não funciona e não conseguimos tirar benefício algum de sua existência. Além disso, a lei eleitoral que exige que 10% dos parlamentares sejam mulheres, na prática não nos beneficia e isso não acontece nunca. Sempre quem ganha a eleição são os partidos mais poderosos: o Hamas e o Fatah. Outro ponto problemático é que as mulheres eleitas não se interessam por questões sensíveis e relevantes para as mulheres. Não estão preocupadas em defender os direitos da mulher, mas sim nas rivalidades entre o Fatah e o Hamas. Não vi nenhuma mulher, por exemplo, dizendo que deveríamos mudar alguma lei ou dar mais apoio aos direitos da mulher. E quando vamos começar a nos preocupar com os direitos da mulher?
CC - Quais seriam os pontos mais sensíveis quando se trata dos direitos da mulher na sua sociedade?
NZ - Em toda sociedade, cerca de 50% das pessoas são mulheres. Mas trata-se de uma metade que não consegue avanços, porque as leis trabalham contra elas. O homem na sociedade palestina, na sociedade árabe em geral, está sempre no controle da situação, a ocupar posições mais altas. Em Huwara, por exemplo, onde vivem 6 mil pessoas, quantas mulheres puderam estudar e ter um titulo acadêmico de Ph.D.? Eu sou a única. E, mesmo assim, quando fui estudar sistemas políticos para ter meu Ph.D., tive de levar minha mãe para o Cairo porque não sou casada e não permitem que eu vá sozinha. Há, certamente, muitas mulheres aqui que gostariam de ser como eu. Mas não podem.
CC - Acredita que tenha um papel dentro dessa sociedade?
NZ - Claro que tenho um papel aqui. Tenho de transpor os obstáculos. Fui a primeira mulher a estudar jornalismo em Huwara. E a primeira vez que eu disse que queria estudar jornalismo foi como um terremoto, um escândalo dentro da minha família e do meu vilarejo. Não é aceitável para uma mulher estudar jornalismo aqui. Obtive meu título de jornalista em 1999, na Universidade Nacional de An-Najah, em Nablus. Depois fiz mestrado na Universidade de Birzeit, em Ramallah, e em 2012 me tornei Ph.D. pela Universidade do Cairo. Depois de ter estudado jornalismo foi como se eu tivesse aberto as portas para outras mulheres, como a minha sobrinha. Ela, certamente, não enfrentou os mesmos problemas que eu passei. Então, isso passou a ser aceitável e mais fácil do que foi para mim. Tenho ambições. Acho que a mulher deve ter os mesmos direitos que os homens. Não estou falando de religião, mas de tradições. A religião impede que a mulher continue estudando e tenha um grau de educação cada vez mais elevado? Não, a religião não diz isso. É a sociedade quem diz isso. E é nosso dever lutar contra isso. E é isso que cabe a mim: continuar a minha luta. Não foi fácil para mim e continua sendo um grande passo eu dizer que as mulheres têm os mesmos direitos, têm algo para dizer e algo para fazer. Não apenas o homem tem esses direitos. E a minha ambição é mudar a sociedade na qual vivo, o jeito que as pessoas pensam sobre a mulher. A mulher não deveria ter apenas o direito de ter filhos e criá-los. Ela tem o direito de ter sua própria vida e seguir suas próprias ambições e também mudar a sociedade, da qual ela deve ser um membro efetivo.
CC – A senhora acredita que a Primavera Árabe mudou um pouco esse cenário para as mulheres?
NZ – Não, não mudou. Esperávamos que isso fosse acontecer, mas infelizmente não ocorreu.
*A repórter foi enviada por CartaCapital para Israel para participar do curso Os Meios de Comunicação em Zonas de Conflito, promovido pelo Ministério das Relações Exteriores israelense
Nadia Abu Zaher tem 37 anos, estudou jornalismo, fez mestrado em direitos humanos e obteve o título de Ph.D. em sistemas políticos comparados. Seria uma trajetória de superação, mas esperada, dentro de uma sociedade ocidental. A especialista, no entanto, vem de um vilarejo palestino onde a mulher tem um papel secundário e é uma das poucas mulheres a ocupar um assento no Parlamento em Ramallah, na Cisjordânia.
Quando tentamos agendar a entrevista, ela se mostrou contente em ter a repórter em sua casa em Huwara, nos arredores de Nablus, mas disse que não poderia receber o colega fotógrafo, a não ser que seus irmãos ou primos estivessem presentes e lhe dessem permissão. Explica-se: Abu Zaher não é casada e não tem filhos. A ausência de um homem na casa onde mora a impede de receber visitas masculinas. Além disso, é proibida de viajar a um país estrangeiro sem estar acompanhada. Quando se mudou para o Egito, onde obteve seu mais alto título acadêmico na Universidade do Cairo, foi obrigada e levar consigo sua mãe para lhe acompanhar durante o período no qual estudou no exterior.
Uma das únicas mulheres de seu vilarejo a obter um diploma universitário, Abu Zaher é especialista também em democracia. Além da sua briga diária para trabalhar em um Parlamento paralisado há seis anos devido à ruptura entre o Fatah e o Hamas, sua maior luta é para dar maior autonomia à mulher na sociedade palestina, onde o grande abismo entre homens e mulheres, afirma ela, não tem origem nos mandamentos religiosos, mas sim na herança histórica e cultural. “A religião impede que a mulher continue a estudar e tenha um grau de educação cada vez mais elevado? Não, a religião não diz isso. É a sociedade quem diz”, explicou Abu Zaher. “A minha ambição é mudar a sociedade na qual vivo, o jeito como as pessoas veem a mulher. Não deveríamos apenas ter o direito de ter filhos e criá-los, mas também o de termos nossa própria vida.”
Confira os principais trechos da entrevista:
CC - Como a senhora se sente sendo uma mulher dentro do Parlamento palestino? Há muitos desafios, além do que se espera de uma mulher no Legislativo de um país, com os quais tem de lidar?
NZ - Na verdade, como mulher sou obrigada a enfrentar vários problemas todos os dias, em diferentes setores da minha vida, inclusive no Parlamento. Simplesmente porque sou mulher não sou tratada como os homens que trabalham no Parlamento. Tenho um titulo de PhD, e há pessoas que sequer foram para a universidade, mas têm um salário muito maior que o meu. Estou falando, então, de um grande abismo sobre como tratam homens e mulheres. Os cursos geralmente são destinados aos homens, todos os homens controlam a maioria dos cargos de administração. Não apenas no Parlamento, mas em todos os ministérios acontece isso. A situação para uma mulher dentro da Palestina é muito, muito difícil.
CC - Mas seria uma exclusividade da Palestina ou algo comum a todos os países árabes? Qual seria a principal razão disso? A religião?
NZ – Sim, acredito que seja igual em todos. E não se trata de religião. A principal razão para que os países árabes funcionem assim está na história. Repousa no fato de termos sido controlados por muito tempo pelo Império Otomano. É essa a principal razão, e não a religião. Fiz um estudo sobre as leis e a mulher na sociedade árabe, para saber se a mulher é tratada dessa maneira nessas sociedades por causa da religião ou por outras razões, uma vez que não existe igualdade entre homens e mulheres perante as leis. Descobri que todas as leis dos países árabes têm origem nas leis otomanas. Essa herança é, até hoje, um grande problema não apenas para o povo palestino, mas também egípcio, jordaniano etc. Me pergunto, então, por que o islã sempre é culpado por essas questões. É realmente culpa do islã? O islã realmente diz para o homem matar a mulher por questões de honra? A mídia ocidental, que pinta os países árabes dessa maneira, nunca olhou para os países árabes sob uma perspectiva diferente. Eles esquecem o tempo todo que estivemos sob ocupação do Império Otomano e depois sob a ocupação europeia. Desde sempre, portanto, fomos controlados, indo de uma ocupação para outra. Nunca pudemos ser livres, sempre estivemos sobre controle. É certo isso? Como querem que um homem e uma mulher sob ocupação sejam livres, se sintam livres e pensem de uma maneira democrática? Imagine que sempre estivemos sob ocupação, e as coisas que fizemos foram feitas para lutar contra isso. A democracia precisa de tempo para se concretizar. Mesmo na América ou na França, ela não acontece simplesmente. Vinte, 40 ou 60 anos não são suficientes para impulsionar um estilo de vida calcado nos valores democráticos. É preciso um período bastante longo. E os EUA apoiam líderes árabes mesmo que sejam ditadores e não eleitos democraticamente. Por exemplo, Hosni Mubarak ou mesmo Saddam Hussein, que recebeu apoio de Washington por anos até ser apontado como o único entrave à democracia no Iraque. Se Saddam era o que diziam, por que apoiaram um líder não condizente com os valores democráticos?
CC - Quando a senhora fala do Império Otomano, quais seriam as particularidades ou características dele em termos de herança para os países árabes?
NZ - O conceito de Estado, por exemplo, é completamente distinto do qual temos hoje. Qualquer imperador otomano tinha suas próprias características, porque o império deveria ficar sob suas regras até que ele morresse. Depois disso, seu filho ou parentes tomavam o poder e passavam a governar e ditar as regras. E não havia leis ou eleições naquele tempo. Não havia separação, por exemplo, entre quem governa e quem julga, tudo estava concentrado nas mãos de um só homem, como nos reinados. Como pedir, então, para esse povo sob ocupação ser democrático? Sem leis, as únicas regras eram emitidas pelo imperador. E esse modelo originou esse no qual vivemos hoje. Não se trata, portanto, de religião.
CC - Qual a porcentagem de mulheres trabalhando nos territórios palestinos?
NZ - Não existem estatísticas oficiais sobre isso. Mas, de qualquer forma, a questão não é sobre quantas mulheres trabalham, mas sim por que todos os altos cargos administrativos e do governo são controlados pelos homens. Esse é um grande problema que temos, em especial no Parlamento. As mulheres são impedidas de fazer muitas coisas. Desde o estabelecimento da Autoridade Palestina, em 1994, as leis foram criadas por homens. Podemos, então, crer que a luta para as mulheres está terminada? No Parlamento há outras mulheres além de mim. Mas é uma situação inusual, porque a Casa está parada, não funciona e não conseguimos tirar benefício algum de sua existência. Além disso, a lei eleitoral que exige que 10% dos parlamentares sejam mulheres, na prática não nos beneficia e isso não acontece nunca. Sempre quem ganha a eleição são os partidos mais poderosos: o Hamas e o Fatah. Outro ponto problemático é que as mulheres eleitas não se interessam por questões sensíveis e relevantes para as mulheres. Não estão preocupadas em defender os direitos da mulher, mas sim nas rivalidades entre o Fatah e o Hamas. Não vi nenhuma mulher, por exemplo, dizendo que deveríamos mudar alguma lei ou dar mais apoio aos direitos da mulher. E quando vamos começar a nos preocupar com os direitos da mulher?
CC - Quais seriam os pontos mais sensíveis quando se trata dos direitos da mulher na sua sociedade?
NZ - Em toda sociedade, cerca de 50% das pessoas são mulheres. Mas trata-se de uma metade que não consegue avanços, porque as leis trabalham contra elas. O homem na sociedade palestina, na sociedade árabe em geral, está sempre no controle da situação, a ocupar posições mais altas. Em Huwara, por exemplo, onde vivem 6 mil pessoas, quantas mulheres puderam estudar e ter um titulo acadêmico de Ph.D.? Eu sou a única. E, mesmo assim, quando fui estudar sistemas políticos para ter meu Ph.D., tive de levar minha mãe para o Cairo porque não sou casada e não permitem que eu vá sozinha. Há, certamente, muitas mulheres aqui que gostariam de ser como eu. Mas não podem.
CC - Acredita que tenha um papel dentro dessa sociedade?
NZ - Claro que tenho um papel aqui. Tenho de transpor os obstáculos. Fui a primeira mulher a estudar jornalismo em Huwara. E a primeira vez que eu disse que queria estudar jornalismo foi como um terremoto, um escândalo dentro da minha família e do meu vilarejo. Não é aceitável para uma mulher estudar jornalismo aqui. Obtive meu título de jornalista em 1999, na Universidade Nacional de An-Najah, em Nablus. Depois fiz mestrado na Universidade de Birzeit, em Ramallah, e em 2012 me tornei Ph.D. pela Universidade do Cairo. Depois de ter estudado jornalismo foi como se eu tivesse aberto as portas para outras mulheres, como a minha sobrinha. Ela, certamente, não enfrentou os mesmos problemas que eu passei. Então, isso passou a ser aceitável e mais fácil do que foi para mim. Tenho ambições. Acho que a mulher deve ter os mesmos direitos que os homens. Não estou falando de religião, mas de tradições. A religião impede que a mulher continue estudando e tenha um grau de educação cada vez mais elevado? Não, a religião não diz isso. É a sociedade quem diz isso. E é nosso dever lutar contra isso. E é isso que cabe a mim: continuar a minha luta. Não foi fácil para mim e continua sendo um grande passo eu dizer que as mulheres têm os mesmos direitos, têm algo para dizer e algo para fazer. Não apenas o homem tem esses direitos. E a minha ambição é mudar a sociedade na qual vivo, o jeito que as pessoas pensam sobre a mulher. A mulher não deveria ter apenas o direito de ter filhos e criá-los. Ela tem o direito de ter sua própria vida e seguir suas próprias ambições e também mudar a sociedade, da qual ela deve ser um membro efetivo.
CC – A senhora acredita que a Primavera Árabe mudou um pouco esse cenário para as mulheres?
NZ – Não, não mudou. Esperávamos que isso fosse acontecer, mas infelizmente não ocorreu.
*A repórter foi enviada por CartaCapital para Israel para participar do curso Os Meios de Comunicação em Zonas de Conflito, promovido pelo Ministério das Relações Exteriores israelense
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