12.19.2013

Quadrilha que vendia vagas em medicina fraudou Enem, diz polícia

Investigação aponta que grupo pagou R$ 10 mil para fiscal vazar prova.
Esquema cobrava até R$ 100 mil de candidatos em Barbacena.

Pedro Triginelli Do G1 MG

Prova do Enem encontrada com um dos suspeitos (Foto: Pedro Triginelli/G1) 
Prova do Enem encontrada com um dos suspeitos
(Foto: Pedro Triginelli/G1)
A quadrilha presa no início de dezembro por suspeita de venda de vagas em cursos de medicina em Minas Gerais e no Rio de Janeiro também é investigada por fraude no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), de acordo com o delegado Fernando José Lima, que presidiu o inquérito. Ainda segundo a polícia, a fraude ocorreu no exame deste ano, em Barbacena, na Zona da Mata mineira. O funcionamento do esquema foi revelado pela Polícia Civil em coletiva nesta quinta-feira (19), em Belo Horizonte.
"A quadrilha descobriu que o método de fiscalização do Enem era mais brando pela falta de detectores de metais", disse. Ainda segundo o delegado, os fiscais do exame na cidade também não pediam que candidatos de cabelos longos prendessem os cabelos. Dessa forma, favoreceu o uso de escutas por pessoas que contratam a quadrilha.
Um dos celulares usados para receber mensagens com as respostas do Enem (Foto: Pedro Triginelli/G1) 
Um dos celulares usados para receber mensagens com as
respostas do Enem (Foto: Pedro Triginelli/G1)
De acordo com as investigações, o suspeito de ser o chefe da organização criminosa teria pagado R$ 10 mil a um fiscal da prova em Barbacena, que, nos dois dias do exame, vazou os cadernos de cor amarela para um integrante da quadrilha. O delegado diz que isso ocorreu com agilidade, logo no início da prova, para que as questões fossem respondidas e passadas por ponto eletrônico e mensagem de celular a candidatos participantes da fraude. Ainda segundo a Polícia Civil, o fiscal ainda não foi identificado.
A apuração do caso mostra que, mesmo sem receber o caderno amarelo, o candidato marcava esta opção de cor no gabarito e reproduzia a frase de confirmação que consta em todos as provas da mesma cor. A frase era enviada aos candidatos pelo chefe da quadrilha. Ainda segundo a polícia, houve falha na conferência da marcação do gabarito pelos aplicadores da prova. Em alguns casos, candidatos usaram uma caneta que permitia ter a tinta apagada.
O delegado afirmou que candidatos pagaram entre R$ 70 mil e R$ 100 mil pelas respostas, mas ainda não há um levantamento do número de pessoas que podem ter sido beneficiadas no exame. Ainda segundo Lima, o candidato era orientado a estudar para a redação, que não poderia ser fraudada.
No dia 3 de dezembro, 21 pessoas foram presas na Operação "Hemostase", suspeitas de fraudar vestibulares de 11 instituições de ensino superior em Minas e no Rio de Janeiro. Cinco seguem detidas em Caratinga, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, incluindo dois suspeitos de atuar na fraude do Enem em Barbacena. Os demais, segundo a polícia, colaboraram com as investigações e, por isso, vão responder em liberdade.
A partir de agora, a investigação vai ser assumida pela Polícia Federal. Segundo o delegado Paulo Henrique Barbosa, há indícios de fraudes do Enem e os possíveis beneficiados vão ser investigados.
Procurado pela reportagem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou que acompanha as investigações referentes ao Enem.

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