Por Ricardo de Castro
Os antiinflamatórios estão presentes no dia-a-dia de todos nós, talvez pela sua eficácia em combater dores, inflamações lombares, trazendo alívio imediato. Segundo pesquisa, os antiinflamatórios são os campeões de venda no quesito automedicação.
Aquela dorzinha incômoda, tensões musculares pelas sessões na academia, um simples tombo, são fatores que nos levam a correr vorazes à farmácia a caça de um antiinflamatório. O medicamento é vendido sem prescrição médica ou qualquer tipo de controle. Existe uma grande variedade disponível no mercado, em forma de comprimidos, cremes, pomadas, gotas, injetáveis - seu uso na maioria das vezes é oral.
Morton Sheinberg, clínico reumatologista e pesquisador imunologista do Hospital Albert Einstein, acrescenta que "os novos antiinflamatórios conhecidos como inibidores da ciclooxigenase 2 possuem comprovada eficácia na redução de úlceras gástricas. Já usar aspirina ao mesmo tempo neutraliza o efeito benéfico dos novos antinflamatórios no sistema digestivo."
Segundo o especialista "temos três produtos por via oral e um por via parenteral: etoricoxib, lumiracoxib e celecoxib por via oral e parecoxib por via parenteral com os nomes comerciais de arcoxia, prexige, celebra e bextra. Os problemas cardiovasculares dos novos antiinflamatórios são discretamente maiores dos que os convencionais tipo Voltaren, Cataflan,Nimesulida etc. Efeitos colaterais, que requerem hospitalização, por sua vez, estão cada vez mais freqüentes."
Sheinberg diz ainda que a obtenção desses medicamentos no Brasil sem receita é um problema grave. "Nas farmácias, o balconista desconhece o uso do medicamento que, em idosos, representa um risco de interações e efeitos adversos.Em crianças, seu uso por problemas respiratórios é muito comum e pouco têm efeito terapêutico. É perigoso, pode causar danos cardíacos, hepáticos e renais
Os cuidados com os antiinflamatórios são maiores quando se faz uso dos mesmos por tempo prolongado em enfermidades crônicas como é o caso das artrites inflamatórias."
Já o clínico geral do Hospital Sírio Libanês, Alfredo Salim Helito, declara que "o medicamento é eficaz se bem ministrado com acompanhamento médico". O médico alerta: "Não confundir inflamação com infecção. Quando o processo inflamatório tem como origem um verme (bactéria, fungo, vírus ou parasitas) em geral isso passa a ser infecção. Inflamação é o processo de reação do organismo a uma agressão que pode ter várias causas como traumas, doenças reumatológicas, que causam dor, vermelhidão, inchaço e aumento da temperatura na região."
"A descoberta da substância revolucionou a medicina no tratamento da dor no pós-operatório. O efeito é mágico como analgésico", diz Helito, ressaltando que, "infelizmente em grande parte dos casos existe a automedicação, e o uso diário sem orientação médica pode causar danos a saúde".Esse efeito não é tão mágico em doenças respiratórias.
As causas para o uso desordenado do medicamento são alarmantes e podem provocar riscos a saúde do paciente. Estudos comprovam casos de insuficiência renal, problemas hepáticos (hepatite),cardiológicos, alteração da mucosa gástrica, úlcera e hemorragias pulmonares. "Usado sem orientação médica ou fiscalização pode ser fatal", alerta Helito.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vem fiscalizando com maior atenção a comercialização do COX-2, novo antiinflamatório mais conhecido como coxibe ou ainda inibidor seletivo. Alguns medicamentos foram retirados do mercado sob suspeita de causarem efeitos no sistema cardiovascular. Em função desses alertas, a Anvisa, juntamente com a Cateme (Câmara Técnica de Medicamento), organiza debates, discussões sobre os efeitos colaterais desses antiinflamatórios.
As informações quanto a problemas cardíacos não foram comprovados, existe somente uma suspeita. No entanto, a Cateme recomendou às empresas que fosse indicado na bula dos coxibes advertências e restrições quanto ao uso do medicamento.
O médico e professor da Unicamp Gilberto Nucci, especialista em farmacologia, explica que o medicamento, "promove alívio das dores e redução do quadro de inflamação. Entretanto, no tratamento de patologias inflamatórias crônicas, seu benefício é discreto, visto não influenciar a progressão da doença." Nucci também alerta quanto a automedicação.
Moisés Cohen, professor do departamento de Ortopedia e traumatologia da Universidade Federal de São Paulo, diretor do Instituto Cohen, clínica médica especializada na reabilitação do corpo em esforço físicos em esportistas e tratamentos de ortopedia, se utiliza de antiinflamatórios na recuperação dos seus pacientes. "É preciso utilizar o medicamento com precaução. O tratamento varia para cada paciente", diz. Cohen evita prescrever antiinflamatórios para pacientes idosos ou que apresentem um quadro clínico com problemas gástricos, ou renais.
A discussão sobre os possíveis riscos que os antiinflamatórios causam a saúde do paciente está em pauta desde a sua descoberta. A maioria dos especialistas concorda com a gravidade da automedicação e o uso contínuo do medicamento sem orientação de um profissional especializado.
Por isso, lembre-se de que os antiinflamatórios devem ser usados com cautela, com prescrição e acompanhamento médico. Siga corretamente as orientações médicas. Observe os efeitos colaterais durante o tratamento e informe imediatamente seu médico. São medicamentos aparentemente inofensivos, mas que podem lesar a muito a saúde, principalmente crianças.
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