1. O que é lúpus?
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES ou
apenas lúpus) é uma doença inflamatória crônica
de origem autoimune, cujos sintomas podem
surgir em diversos órgãos de forma lenta e progressiva
(em meses) ou mais rapidamente (em
semanas) e variam com fases de atividade e de
remissão. São reconhecidos 2 tipos principais de
lúpus: o cutâneo, que se manifesta apenas com
manchas na pele (geralmente avermelhadas ou
eritematosas e daí o nome lúpus eritematoso),
principalmente nas áreas que ficam expostas à
luz solar (rosto, orelhas, colo (“V” do decote) e
nos braços) e o sistêmico, no qual um ou mais
órgãos internos são acometidos. Por ser uma doença
do sistema imunológico, que é responsável
pela produção de anticorpos e organização dos
mecanismos de inflamação em todos os órgãos,
quando a pessoa tem LES ela pode ter diferentes
tipos sintomas em vários locais do corpo. Alguns
sintomas são gerais como a febre, emagrecimento,
perda de apetite, fraqueza e desânimo.
Outros, específicos de cada órgão como dor nas
juntas, manchas na pele, inflamação da pleura,
hipertensão e/ou problemas nos rins.
2.Quem tem lúpus?
O lúpus pode ocorrer em pessoas de qualquer
idade, raça e sexo, porém as mulheres são
muito mais acometidas. Ocorre principalmente
entre 20 e 45 anos, sendo um pouco mais
4
frequente em pessoas mestiças e nos afro-descendentes.
No Brasil, não dispomos de números
exatos, mas as estimativas indicam que
existem cerca de 65.000 pessoas com lúpus,
sendo a maioria mulheres. Acredita-se assim
que uma a cada 1.700 mulheres no Brasil tenha
a doença. Desta forma, em uma cidade como o
Rio de Janeiro teríamos cerca de 4.000 pessoas
com lúpus e em São Paulo aproximadamente
6.000. Por essa razão, para os reumatologistas,
o lúpus é uma doença razoavelmente comum
no seu dia-a-dia.
3. O que causa o lúpus?
Embora a causa do LES não seja conhecida,
sabe-se que fatores genéticos, hormonais e
ambientais participam de seu desenvolvimento.
Portanto, pessoas que nascem com susceptibilidade
genética para desenvolver a doença, em algum
momento, após uma interação com fatores
ambientais (irradiação solar, infecções virais ou
por outros micro-organismos), passam a apresentar
alterações imunológicas. A principal delas
é o desequilibrio na produção de anticorpos
que reagem com proteínas do próprio organismo
e causam inflamação em diversos órgãos como
na pele, mucosas, pleura e pulmões, articula-
ções, rins etc.). Dessa forma, entendemos que o
tipo de sintoma que a pessoa desenvolve, depende
do tipo de autoanticorpo que a pessoa tem e,
que como o desenvolvimento de cada anticorpo
se relaciona às características genéticas de cada
5
pessoa, cada pessoa com lúpus tende a ter manifestações
clínicas (sintomas) específicas e
muito pessoais.
4. Quais são os sintomas
da doença?
Os sintomas do LES são diversos e tipicamente
variam em intensidade de acordo com a
fase de atividade ou remissão da doença. É muito
comum que a pessoa apresente manifestações
gerais como cansaço, desânimo, febre baixa
(mas raramente, pode ser alta), emagrecimento e
perda de apetite. As manifestações podem ocorrer
devido a inflamação na pele, articulações
(juntas), rins, nervos, cérebro e membranas que
recobrem o pulmão (pleura) e o coração (pericárdio).
Outras manifestações podem ocorrer
devido a diminuição das células do sangue (gló-
bulos vermelhos e brancos), devido a anticorpos
contra essas células. Esses sintomas podem surgir
isoladamente, ou em conjunto e podem ocorrer
ao mesmo tempo ou de forma sequencial.
Crianças, adolescentes ou mesmo adultos podem
apresentar inchação dos gânglios (ínguas),
que geralmente é acompanhada por febre e pode
ser confundida com os sintomas de infecções
como a rubéola ou mononucleose.
As manifestações clínicas mais
frequentes são:
a) Lesões de pele: ocorrem em cerca de
80% dos casos, ao longo da evolução da doen-
6
ça. As lesões mais características são manchas
avermelhadas nas maçãs do rosto e dorso do
nariz, denominadas lesões em asa de borboleta
(a distribuição no rosto lembra uma borboleta)
e que não deixam cicatriz. As lesões discóides,
que também ocorrem mais frequentemente em
áreas expostas à luz, são bem delimitadas e podem
deixar cicatrizes com atrofia e alterações
na cor da pele. Na pele também pode ocorrer
vasculite (inflamação de pequenos vasos), causando
manchas vermelhas ou vinhosas, dolorosas
em pontas dos dedos das mãos ou dos
pés. Outra manifestação muito característica
no LES é o que se chama de fotossensibilidade,
que nada mais é do que o desenvolvimento de
uma sensibilidade desproporcional à luz solar.
Neste caso, com apenas um pouco de exposição
à claridade ou ao sol, podem surgir tanto manchas
na pele como sintomas gerais (cansaço)
ou febre. A queda de cabelos é muito frequente
mas ocorre tipicamente nas fases de atividade
da doença e na maioria das pessoas, o cabelo
volta a crescer normalmente com o tratamento.
b) Articulares: a dor com ou sem incha-
ço nas juntas ocorre, em algum momento, em
mais de 90% das pessoas com LES e envolve
principalmente as juntas das mãos, punhos, joelhos
e pés. A artrite (inflamação das juntas)
tende a ser bastante dolorosa e ocorrer de forma
intermitente, com períodos de melhora e
piora. Às vezes também surgem tendinites.
c) A inflamação das membranas que recobrem
o pulmão (pleuris) e coração (pericardite)
são relativamente comuns, podendo ser leves e
7
assintomáticas, ou, se manifestar como dor no
peito. Caracteristicamente no caso da pleuris, a
dor ocorre ao respirar, podendo causar também
tosse seca e falta de ar. Na pericardite, além da
dor no peito, pode haver palpitações e falta de ar.
d) Inflamação nos rins (nefrite): é uma
das que mais preocupam e ocorre em cerca de
50% das pessoas com LES. No início pode não
haver qualquer sintoma, apenas alterações nos
exames de sangue e/ou urina. Nas formas mais
graves, surge pressão alta, inchaço nas pernas,
a urina fica espumosa, podendo haver diminui-
ção da quantidade de urina. Quando não tratada
rapidamente e adequadamente o rim deixa
de funcionar (insuficiência renal) e o paciente
pode precisar fazer diálise ou transplante renal.
e) Alterações neuro-psiquiátricas: essas
manifestações são menos frequentes, mas podem
causar convulsões, alterações de humor ou comportamento
(psicoses), depressão e alterações dos
nervos periféricos e da medula espinhal.
f) Sangue: as alterações nas células do
sangue são devido aos anticorpos contra estas
células, causando sua destruição. Assim,
se os anticorpos forem contra os glóbulos vermelhos
(hemácias) vão causar anemia, contra
os glóbulos brancos vai causar diminuição de
células brancas (leucopenia ou linfopenia) e
se forem contra as plaquetas causarão diminuição
de plaquetas (plaquetopenia). Os sintomas
causados pelas alterações nas células
do sangue são muito variáveis. A anemia pode
causar palidez da pele e mucosas e cansaço
e a plaquetopenia poderá causar aumento do
8
sangramento menstrual, hematomas e sangramento
gengival. Geralmente a diminuição dos
glóbulos brancos é assintomática.
5. Como o diagnóstico
é feito?
O diagnóstico é feito através do reconhecimento
pelo médico de um ou mais dos sintomas
acima. Ao mesmo tempo, como algumas
alterações nos exames de sangue e urina são
muito características, eles também são habitualmente
utilizados para a definição final
do diagnóstico. Exames comuns de sangue e
urina são úteis não só para o diagnóstico da
doença, mas também são muito importantes
para definir se há atividade do LES. Embora
não exista um exame que seja exclusivo do
LES (100% específico), a presença do exame
chamado FAN (fator ou anticorpo antinuclear),
principalmente com títulos elevados, em
uma pessoa com sinais e sintomas característicos
de LES, permite o diagnóstico com
muita certeza. Outros testes laboratoriais
como os anticorpos anti-Sm e anti-DNA são
muito específicos, mas ocorrem em apenas
40% a 50% das pessoas com LES. Ao mesmo
tempo, alguns exames de sangue e/ou de
urina podem ser solicitados para auxiliar não
no diagnóstico do LES, mas para identificar
se há ou não sinais de atividade da doença.
Existem critérios desenvolvidos pelo Colégio
Americano de Reumatologia, que podem ser
9
úteis para auxiliar no diagnóstico do LES,
mas não é obrigatório que a pessoa com LES
seja enquadrada nesses critérios para que o
diagnóstico de LES seja feito e que o tratamento
seja iniciado.
6. Como se trata o lúpus?
O tratamento da pessoa com LES depende
do tipo de manifestação apresentada e deve portanto,
ser individualizado. Dessa forma a pessoa
com LES pode necessitar de um, dois ou mais
medicamentos em uma fase (ativa da doença) e,
poucos ou nenhum medicamento em outras fases
(não ativas ou em remissão). Ao mesmo tempo,
o tratamento sempre inclui remédios para
regular as alterações imunológicas do LES e
de medicamentos gerais para regular alterações
que a pessoa apresente em consequência da inflamação
causada pelo LES, como hipertensão,
inchaço nas pernas, febre, dor etc.
Os medicamentos que agem na modula-
ção do sistema imunológico no LES incluem
os corticóides (cortisona), os antimaláricos e os
imunossupressores, em especial a azatioprina,
ciclofosfamida e micofenolato de mofetil. É necessário
enfatizar a importância do uso dos fotoprotetores
que devem ser aplicados diariamente
em todas as áreas expostas à claridade. O produto
deve ser reaplicado, ao longo do dia, para
assegurar o seu efeito protetor. Em alguns casos
podem ser usados cremes com corticosteróides
ou com tacrolimus aplicados nas lesões de pele.
10
Os sintomas mais leves podem ser tratados
com analgésicos, anti-inflamatórios e/ou doses
baixas dos corticóides (prednisona - 5 a 20 mg/
dia). Na vigência de manifestações mais graves
do LES, as doses dos corticóides podem ser
bem mais elevadas (prednisona - 60 a 80 mg/
dia). Geralmente, quando há envolvimento dos
rins, do sistema nervoso, pulmões ou vasculite
é necessário o emprego dos imunossupressores
em doses variáveis de acordo com a gravidade
do acometimento. Um aspecto importante no
uso desses medicamentos é a atenção necessá-
ria quanto ao risco aumentado de infecções, já
que eles diminuem a capacidade do indivíduo
de defender-se contra infecções, incluindo a tuberculose.
Em pacientes com LES grave, com
rápida evolução, pode-se utilizar altas doses de
glicocorticóide por via endovenosa.
O uso da cloroquina (ou hidroxicloroquina)
está indicado tanto para as formas mais leves
quanto nas mais graves e deve ser mantido mesmo
que a doença esteja sob controle (remissão),
pois auxiliam na manutenção do controle do LES.
7. Que outros cuidados
as pessoas com lúpus
devem ter?
Além do tratamento com remédios, as pessoas
com LES devem ter cuidado especiais com
a saúde incluindo atenção com a alimentação,
repouso adequado, evitar condições que provoquem
estresse e atenção rigorosa com medidas
11
de higiene (pelo risco potencial de infecções).
Idealmente deve-se evitar alimentos ricos em
gorduras e o álcool (mas o uso de bebidas alcoólicas
em pequena quantidade não interfere
especificamente com a doença). Quem está
utilizando anticoagulantes por ter apresentado
trombose (muitas vezes relacionada à síndrome
antifosfolipídeo associada ao LES), deve
ter um cuidado especial que é a manutenção
de uma dieta “monótona”, ou seja, parecida em
qualidade e quantidade todos os dias, para que
seja possível um controle adequado da anticoagulação.
Pessoas com hipertensão ou problemas
nos rins, devem diminuir a quantidade de
sal na dieta e as com glicose elevada, devem
restringir o consumo de açúcar e alimentos ricos
em carboidratos (massas, farinhas e pães).
Outra medida de ordem geral é evitar (ou
suspender se estiver em uso) os anticoncepcionais
com estrogênio e o cigarro (tabagismo),
ambas condições claramente relacionadas à
piora dos sintomas do LES. Pessoas com LES,
independentemente de apresentarem ou não
manchas na pele, devem adotar medidas de
proteção contra a irradiação solar, evitando ao
máximo expor-se à “claridade”, além de evitar
a “luz do sol” diretamente na pele, pois além de
provocarem lesões cutâneas, também podem
causar agravamento da inflamação em órgãos
internos como os rins. Outra medida muito importante
é a manutenção de uma atividade física
regular, preferencialmente aeróbia que ajuda
não só para o controle da pressão e da glicose
no sangue, mas também contribui para melhorar
a qualidade dos ossos, evitando a osteopo-
12
rose e melhorando o sistema imunológico.
O objetivo geral dos cuidados com a saúde
(incluindo os medicamentos) para as pessoas
com LES é permitir o controle da atividade
inflamatória da doença e minimizar os efeitos
colaterais dos medicamentos. De uma forma
geral, quando o tratamento é feito de forma
adequada, incluindo o uso correto dos medicamentos
em suas doses e horários, com a
realização dos exames necessários nas épocas
certas, comparecimento às consultas nos perí-
odos recomendados e os cuidados gerais acima
descritos, é possível obter um bom controle
da doença e melhorar de forma significativa a
qualidade de vida das pessoas com LES.
8. Quanto tempo dura
o tratamento?
O lúpus é uma doença crônica, assim como
também o são a hipertensão, diabetes, várias
doenças intestinais, alergias e outras doenças
reumatológicas. Todas as pessoas que têm essas
doenças necessitam de um acompanhamento
prolongado, mas isso não quer dizer que a
doença vai estar sempre causando sintomas, ou
impedindo a pessoa de viver sua vida, trabalhar
fora ou cuidar dos filhos e da casa, pois
a evolução natural do lúpus, se caracteriza por
períodos de maior e menor “atividade” (com
quantidade maior ou menor de sintomas). Ao
mesmo tempo, o uso regular dos medicamentos
auxilia na manutenção da doença sob controle
13
e, o uso irregular dos corticóides, antimaláricos
(difosfato de cloroquina ou hidroxicloroquina),
azatioprina e micofenolato mofetil favorece a
reativação da doença.
Quando a pessoa com lúpus, não aceita
a existência da doença e não se conscientiza
que são necessárias algumas mudanças no dia
a dia, as coisas ficam bem mais difíceis, pois
quem tem LES, deve manter um acompanhamento
médico para sempre.
Algumas medidas são para a vida toda
como proteção solar (chapéus, sombrinhas,
etc., além dos cremes fotoprotetores já citados),
não fumar, exercícios físicos regulares, controle
alimentar, não faltar às consultas, realizar
exames com a periodicidade recomendada e
seguir as orientações e sempre retirar suas dú-
vidas com seu médico reumatologista.
Quanto ao uso dos remédios, isto varia de
acordo com a fase da doença. O reumatologista,
que é o médico especialista para o tratamento
do LES, sempre vai tentar empregar os medicamentos
nas menores doses possíveis, pelo
menor tempo possível, mas a decisão quanto a
que doses utilizar em cada momento, depende
de uma avaliação especializada que é feita durante
a consulta. Portanto, as doses prescritas
não devem ser modificadas para que não haja
retardo na melhora programada, mesmo que
a pessoa esteja se sentindo bem a acredite que
daria para reduzir os remédios. Antes de qualquer
mudança na dose de qualquer medicamento,
a pessoa com LES sempre deve conversar
com o seu reumatologista.
As consultas geralmente são marcadas
14
a cada 3 a 6 meses, no entanto, nos casos de
doença em atividade, podem ser necessários
retornos mais freqüentes, como semanal e, se
necessário até mesmo com internação hospitalar
(condição que não é necessária para a maioria
das pessoas com LES).
9. Quem tem lúpus
pode engravidar?
Durante muito tempo os médicos acreditaram
que quem tinha lúpus não poderia jamais
engravidar. No entanto, já há cerca de 20 anos,
sabe – se que a gravidez não está proibida para
as mulheres com lúpus, mas que ela deve ser
programada. O ideal é que a pessoa com LES
só engravide com a doença totalmente sob controle
por pelo menos 6 meses, portanto antes de
pensar em engravidar, converse com seu reumatologista,
já que alguns medicamentos usados
no tratamento do LES devem ser suspensos
antes da gravidez. A cloroquina por outro lado,
pode e deve ser mantida durante a gestação.
Normalmente as pessoas com lúpus vão
ter crianças normais. Por outro lado, sabemos
que existe uma pequena chance de ocorrer um
abortamento, ou do bebê nascer prematuro ou
com baixo peso. Ao mesmo tempo, as pessoas
que têm hipertensão (por qualquer razão e
não só pelo LES), têm mais chances de desenvolver
pré-eclâmpsia que é uma complicação
grave da gestação. As mulheres com LES que
também têm a síndrome antifosfolipídeo (ou
15
apenas os anticorpos antifosfolipídeos), têm
mais chance de perda do bebê e podem necessitar
usar anticoagulantes (injeções de heparina
ou warfarina) durante toda a gravidez.
Uma situação especial que pode ocorrer durante
a gravidez em pessoas com LES (e também
sem LES) é o desenvolvimento de um bloqueio
cardíaco, que determina batidas mais lentas do
coração do bebê. Hoje em dia, já se sabe que
esse tipo de problema está relacionado à presença
de um anticorpo no sangue da mãe (anti
Ro), que passa pela placenta e afeta o coração do
bebê. Apesar disso, a grande maioria dos bebês
filhos de mulheres com esse anticorpo, não tem
nenhum problema. Esse mesmo anticorpo também
pode causar uma situação chamada lúpus
neo-natal, na qual o bebê nasce ou desenvolve
manchas parecidas com as de quem tem lúpus.
No entanto essas manchas são temporárias e a
criança não desenvolve lúpus propriamente dito.
Do ponto de vista genético, as chances de
uma mulher com LES, ter um filho que também
desenvolve LES, são muito pequenas. Mas atualmente,
já sabemos que pessoas que têm um
familiar com LES, têm mais chance de também
desenvolver LES.
Ainda em relação à gravidez, alguns remé-
dios podem ser usados durante toda a gestação,
outros (como a maioria dos imunossupressores
e alguns para hipertensão), devem ser evitados.
Portanto, a gravidez de uma mulher com LES,
sempre deve ser planejada e sempre deve ser
considerada uma gestação de alto risco, para
que medidas mais rigorosas de acompanhamento
possam ser instituídas. O acompanha-
16
mento pré-natal deve ser iniciado no primeiro
momento que a pessoa com LES saiba que está
grávida e também é essencial a manutenção do
acompanhamento no pós-parto, incluindo programação
dos medicamentos que podem ser
usados durante a amamentação. Ainda que a
gestação em quem tem LES seja considerada
sempre de alto risco, se todos os cuidados forem
tomados, a grande maioria das gestações é
tranquila e bem sucedida.
10. Verdades e mentiras
sobre o lúpus.
Estresse emocional causa lúpus? Não.
Emoções negativas como a perda de um parente
próximo ou uma separação, podem desencadear
os sintomas iniciais da doença ou provocar uma
reativação. Esses fatores não são a causa, mas
contribuem para sua exacerbação (reativação).
Quem tem LES tem mais chance de ter
uma infecção? Como sabemos, o lúpus é uma
doença que interfere com o sistema imunoló-
gico, que é o nosso sistema de defesa contra as
infecções de uma forma geral. Este desequilibrio
facilita um pouco o aparecimento de infecções.
Por outro lado, na maioria das vezes,
as infecções nas pessoas com LES, são facilitadas
pelo uso de alguns medicamentos (corticóides
e imunossupressores) que ao inibirem
a produção excessiva de anticorpos, inibem
17
alguns dos mecanismos naturais de defesa do
nosso organismo.
O lúpus tem cura? O LES é uma doença
crônica que passa por períodos de atividade e
períodos de remissão. Logo nessas fases (remissão),
a pessoa pode ficar totalmente bem,
sem qualquer sintoma, mas isso não significa
que o distúrbio imunológico que “causou”
o LES, foi corrigido definitivamente. Logo, o
ideal é que consideremos o LES como uma doença
crônica, que pode ficar sem sintomas mas,
que sempre vai necessitar um acompanhamento
médico contínuo.
Há algum problema de usar remédios
para outras doenças já usando os medicamentos
para lúpus? Possivelmente sim. A
única forma de saber é discutindo com o seu
reumatologista a receita toda. Embora ocorra
raramente, alguns remédios para tratamento da
hipertensão, alguns antibióticos, remédios para
o colesterol e mesmo alguns para tratamento
de infecções por fungos, podem provocar sintomas
semelhantes aos do lúpus ou interferir
com os do lúpus.
Os remédios para o lúpus sempre deixam
a pessoa inchada? Não. No entanto os corticóides
quando em doses altas, para as fases mais
ativas e graves da doença, podem deixar a pessoa
inchada. Outro aspecto é que os corticóides
aumentam o apetite. Logo, quando for necessá-
rio o uso de doses altas desses medicamentos, é
necessário controlar a dieta e manter uma ativi-
18
dade física regular. O seu reumatologista sempre
tentará usar a menor dose possível e essa tende
a ser bem baixa após o controle da fase ativa da
doença e, as doses baixas de corticóide causam
pouca ou nenhuma inchação.
O lúpus pode causar trombose? Não. No
entanto a síndrome antifosfolipídeo que pode
estar presente em associação com o LES em
algumas pessoas, causa tromboses.
Quem tem LES pode se aposentar por
doença? Não. A maioria das pessoas com LES
pode ter uma vida produtiva cuidando da casa,
trabalhando fora, estudando etc. No entanto,
algumas pessoas têm uma evolução mais complicada
e perdem a capacidade produtiva. Nesses
casos isolados, que ocorrem com quem tem
lúpus e também com quem tem outras doenças,
pode haver indicação de algum benefício da
previdência social.
É possível a pessoa ter duas doenças autoimunes
juntas? Sim. A pessoa que tem uma
doença autoimune tem na verdade, um distúrbio
do seu sistema imunológico que favorece o desenvolvimento
de uma ou mais doenças imunológicas.
A síndrome antifosfolipídeo é uma doen-
ça que se associa em muitos pacientes com LES.
Outras doenças podem ter os mesmos
sintomas de LES? Sim. Os sintomas do lúpus
não são exatamente exclusivos. Pessoas que tem
hanseníase, hepatite C, rubéola ou outras doen-
ças autoimunes podem desenvolver sintomas
19
muito parecidos e podem também ter o exame
de FAN positivo sem que tenham lúpus.
Quem tem LES tem mais problemas de
coração ou de câncer? Sim. À semelhança de
várias outras doenças inflamatórias, pessoas com
LES tendem a ter mais doenças cardiovasculares.
A hipertensão, o colesterol elevado e a insuficiência
renal, todas condições que são mais freqüentes
em quem tem LES, contribuem significativamente
para a maior freqüência das doenças do
coração e por isso merecem atenção especial durante
o cuidado com o LES de uma forma geral.
Por outro lado, o risco de câncer é praticamente o
mesmo da população em geral (apesar desse risco
ser discretamente maior) e por isso, pessoas
LES também devem atentar para as medidas de
prevenção, que incluem principalmente cuidados
quanto ao câncer de mama e do colo do útero.
A pessoa pode ter o exame de FAN positivo
e mesmo assim não ter LES? Sim. Algumas
doenças e mesmo pessoas sem doença
alguma, e também parentes de pessoas com
doenças autoimunes podem ter FAN positivo e
nunca desenvolverem LES. Cabe ressaltar que
na maioria das vezes os títulos desse exame
(FAN) tendem a ser baixos e que títulos altos
do FAN (dependendo do padrão encontrado),
mesmo que a pessoa não tenha sintomas de lú-
pus, requerem observação a longo prazo (sem
que seja necessário usar nenhum remédio).
E se a pessoa tiver os sintomas de LES e
o exame de FAN for negativo, a pessoa pode
20
ainda assim ter LES? Sim. Mas espera-se que
todas as pessoas portadoras de LES apresentem,
ao longo de sua evolução, o exame do FAN
positivo.
Quem tem LES pode tomar vacinas?
Sim. Algumas vacinas devem ser usadas por
quem tem LES porque aumentam as defesas e
dentre essas as mais importantes são as contra
a pneumonia pneumocócica e as contra o vírus
da gripe além das geralmente indicadas no Programa
Nacional de Imunizações do Ministério
da Saúde. Se a pessoa com LES estiver usando
imunossupressores, incluindo os corticóides,
não deve receber as vacinas com vírus vivos
atenuados como as da febre amarela, varicela,
rotavírus e Sabin.
Quando o tempo está nublado, também
é necessário proteger-se com fotoprotetor?
Sim. A maioria das pessoas com lúpus tem sensibilidade
ao sol, e essa sensibilidade não é só à
luz direta do sol, mas à claridade. Logo, mesmo
nos dias nublados e na sombra de uma forma
geral, é necessário usar fotoprotetor e preferencialmente
cobrir-se com uma blusa fina.
Existem produtos “naturais” ou vacinas
que melhorem a imunidade? Não. A melhor
atitude para melhorar a imunidade é manter
uma vida saudável, incluindo uma dieta balanceada,
sem álcool, cigarro ou excessos dieté-
ticos. Não existem produtos que melhorem a
imunidade e alguns podem mesmo prejudicar
a sistema imunológico.
21
As informações contidas nesta cartilha
são gerais e não representam obrigatoriamente
todos os espectros clínicos
possíveis de serem encontrados em pessoas
com lúpus.
Em caso de dúvidas, converse com o seu
reumatologista.
Se você desejar, entre em contato com a
Sociedade Brasileira de Reumatologia,
no portal www.reumatologia.org.br ou
através do endereço eletrônico da SBR:
contato@reumatologia.com.br.
O portal da SBR também contém um
link (ícone) para acesso a referências sobre
os reumatologistas em cada um dos
estados do Brasil: clique em “procure
um reumatologista”.
Fonte: Sociedade Brasileira de Reumatologia
Fonte: Sociedade Brasileira de Reumatologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário