9.20.2008

Conselho de Medicina determina que receitas sejam escritas por extenso e de forma legível

Conselho de Medicina determina que receitas sejam escritas por extenso e de forma legível
Rio - De tão ilegível, letra de médico já virou sinônimo de rabisco ou garrancho. Em alguns casos, a caligrafia indecrifável pode causar riscos à saúde dos pacientes. Quando o que foi escrito na receita não está claro o suficiente, os pacientes podem confundir o nome dos remédios ou tomar doses incorretas dele.

Segundo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 34% dos prontuários escritos a mão não são interpretados corretamente. Só em 2007, o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) registrou 1.853 casos de intoxicação por erro de administração, que inclui ‘letra ilegível’.

“Se o paciente não presta atenção ao nome do remédio, acha que o farmacêutico vai entender depois. Mas farmacêutico não tem obrigação de decifrar garrancho”, alerta Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox.

O Conselho Federal de Medicina admite o problema. Seu artigo 39 determina que as receitas médicas sejam escritas por extenso e de forma legível. Além disso, o capítulo 3 do Código de Ética Médica proíbe o médico de receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível.

Na opinião de Rosany, o médico também não é o único culpado. “O paciente precisa aprender a tirar dúvidas na consulta”, recomenda. E é isso o que faz a auxiliar de Contabilidade Leonora Suely Silva, 53: “Quando não entendo a letra, falo que não entendi e ainda anoto o nome do remédio. Se não faço isso, posso comprar o produto errado e piorar mais”.

Mas pacientes como Leonora ainda são exceção. A grande maioria já desistiu de decifrar os garranchos médicos. “Nem leio mais. Pego a receita, jogo na bolsa e entrego ao ‘rapaz da farmácia’”, confessa a aposentada Amália Souza Gomes, 68.

Mas e se o ‘rapaz da farmácia’ não entender o garrancho? “Se o rabisco for indecifrável, aconselho o paciente a ligar para o médico. Na dúvida, não vendo o produto”, assegura o balconista Luiz da Costa, 60.

Para piorar a situação, há remédios que têm o nome muito parecido. É o caso de um paciente de Adamantina (SP) que foi comprar remédio para gripe (Dipirona) e levou outro para o coração (Digoxina). É por essas e outras que a aposentada Maria Elizabeth Monteiro, 61, evita comprar remédio por telefone. Para não perder a clientela, o balconista André Gonçalves, 31, desloca um funcionário até a casa dela só para ter certeza do nome do remédio. “No fundo, os garranchos são todos iguais. Parece até que eles estudaram na mesma faculdade”, ironiza.

Computador: remédio seguro

Os pacientes do ginecologista João Ricardo Auler não têm do que reclamar. Há 10 anos, ele digita tudo: de receita médica a pedido de exames. “Minha letra é tão feia que nem eu mesmo entendo. Muitos pacientes já perguntaram se sou médico porque tenho letra feia ou se tenho letra feia porque sou médico”, diverte-se.

Para o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro, Paulo Oracy Azeredo, o maior prejudicado com a letra feia é o paciente. “Se o médico tem consultório, tudo bem. É só você ligar para ele e desfazer o mal-entendido. Mas e se não tiver? E se for médico de posto de saúde? Como o paciente vai saber quando será o próximo plantão dele?”, indaga Paulo.

Segundo Pablo Chasel, do CFM, o paciente que se sentir prejudicado pode denunciar o médico ao Conselho Regional de Medicina de seu estado. “O conselho abrirá uma sindicância e, dependendo do caso, a punição poderá variar desde uma advertência até a cassação do diploma”, observa Pablo, que garante não lembrar de denúncias do gênero.

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