9.18.2008

FDA começam a divulgar as drogas suspeitas de causar danos à saúde

Autoridades americanas começam a divulgar as drogas que são suspeitas de provocar danos à saúde. Nos últimos quatro anos, a agência americana que controla medicamentos e alimentos, a FDA, tem lutado para recuperar a imagem de instituição independente, imune a pressões da indústria farmacêutica. O escândalo Vioxx, ocorrido em 2004, ainda é um trauma. Na ocasião, a agência demorou a divulgar os relatos de infarto observados em pacientes que tomaram o antiinflamatório. Foi acusada de ter vínculos perniciosos com os laboratórios e de ter colocado em risco a vida de milhões de pessoas. Por causa disso, a FDA foi obrigada a mudar a forma como lida com os relatos de efeitos adversos observados depois que os remédios já estão no mercado. A sociedade - inclusive a brasileira - tem muito a ganhar. A agência começa a divulgar os nomes dos remédios suspeitos de causar danos à saúde, antes mesmo da conclusão das investigações. Entram na lista - divulgada a cada três meses - drogas supostamente relacionadas a problemas relatados por médicos, pacientes ou pelos próprios fabricantes. Em alguns casos, o efeito adverso relatado não decorre do princípio ativo - e sim de bulas malfeitas. Textos imprecisos podem levar o paciente a errar a dose. A mudança é fruto da pressão da sociedade americana, que resultou numa lei aprovada pelo Congresso no ano passado. Ela obriga a FDA a divulgar essas listas. "É um grande avanço também para os brasileiros", diz o médico Wanderley Marques Bernardo, da Associação Médica Brasileira. "A entrada de um remédio na lista chama a atenção dos pacientes e dos médicos. Eles passam a observar e relatar problemas que antes poderiam passar despercebidos." Depois que um remédio é aprovado no Brasil, a Anvisa não monitora sistematicamente os pacientes para saber se eles estão apresentando efeitos adversos. Isso é feito corriqueiramente nos Estados Unidos. Por isso a FDA logo fica sabendo quando algo vai mal. "Com essas listas, a Anvisa precisa acompanhar os sinais dados pela FDA", afirma Bernardo. Uma lei aprovada pelo Congresso americano no ano passado obrigou a FDA a divulgar as listas. A primeira lista divulgada contém 20 remédios. Quase todos são vendidos no Brasil. Um deles é o Cymbalta, um antidepressivo lançado em 2004, investigado pela suspeita de causar retenção urinária. O fabricante afirma conhecer alguns casos em que isso ocorreu. "Todos foram relatados à FDA e à Anvisa", diz Mariano Janiszewski, diretor médico da Eli Lilly. O Tykerb, uma das drogas mais modernas contra o câncer de mama, lançado no Brasil em outubro do ano passado, é suspeito de provocar danos hepáticos. A agência não revela a gravidade desses danos nem a quantidade de pacientes que teriam sido afetados. A GlaxoSmithkline afirma que o risco potencial existe, mas que o remédio continua sendo seguro. Outra droga sob investigação é o Tysabri, da Biogen Idec. A droga, aprovada pela Anvisa em agosto, é usada no tratamento de esclerose múltipla. A FDA investiga se o remédio pode causar câncer de pele do tipo melanoma. A empresa afirma não acreditar que exista um risco aumentado de melanoma nos pacientes tratados com o remédio. A lista da FDA deixa margem para muitas dúvidas. A agência já está sendo criticada por grupos de pacientes nos EUA. Muitos alegam que a lista é quase inútil porque faltam detalhes cruciais como o número de casos relatados e a gravidade dos problemas apresentados. A divulgação precoce dos remédios sob investigação pode causar pânico. Os pacientes podem deixar de tomar os medicamentos por conta própria e sofrer sérias conseqüências. Por enquanto não há prova de que esses remédios provoquem graves danos. Mas é bom que a população tenha conquistado o direito de saber que eles estão sendo investigados. ANTES QUE SEJA TARDE - A cada três meses, a FDA vai tornar pública a lista dos remédios sob investigação, ainda numa etapa muito precoce dos trabalhos, Isso é bom porque... Evita-se que milhões de pacientes continuem tomando os remédios e se expondo a riscos desnecessários enquanto a segurança das drogas é analisada Isso é ruim porque... A divulgação precoce de suspeitas contra medicamentos pode provocar pânico. Os pacientes podem deixar de tomar os remédios por conta própria. ALGUNS DOS REMÉDIOS QUE ESTÃO NA PRIMEIRA LISTA - Tykerb - Câncer de mama - Unidades vendidas: não divulgado; Mercado: aprovado no Brasil em outubro de 2007. É vendido em 24 países; Risco potencial: efeito tóxico sobre o fígado. Cymbalta - Depressão - Unidades vendidas: 240 mil por ano no Brasil; Mercado: aprovado no país em setembro de 2004. É vendido em 92 países; Risco potencial: retenção urinária. Tysabri - Esclerose múltipla - Unidades vendidas: aguarda aprovação de preço para ser vendido no Brasil; Mercado: aprovado no país em agosto de 2008. É vendido em 36 países; Risco potencial: câncer de pele do tipo melanoma - Cristiane Segatto -
Fonte: ÉPOCA

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