9.14.2010

A terapia da reconciliação

Método de Constelação Familiar ajuda a resolver problemas no lar

"Família é a base de tudo". Quem nunca ouviu essa frase? No entanto, nem sempre o convívio com as pessoas próximas é fácil. Para harmonizar situações de separação ou relacionamentos desgastados pelo tempo e por brigas, por exemplo, o método de Constelação Familiar pode ser eficaz. A ideia é ajudar as pessoas a resolverem conflitos no ambiente doméstico e colocá-las em contato com o poder de cura dentro das relações em família. Mais do que terapia, pode ser um trabalho a serviço da reconciliação. "Eu me alio aos pais ou às pessoas que sofreram injustiças ou dificuldades e trabalho nisso. A cura parte deles, não de mim. Minha função é ajudar um sistema a encontrar o seu caminho e a sua ordem", explica a terapeuta em Constelações Sistêmicas Familiares, Débora Ganc.

A harmonia no ambiente familiar depende de alguns fatores chamados "Ordens do Amor". Ao todo, são três leis que regem a vida em família: necessidade de pertencer e de criar vínculos; preservar o equilíbrio entre dar e receber; e necessidade de segurança e ordem, que é sentida através da hierarquia que existe dentro de casa. A terapeuta acredita que os relacionamentos são bem-sucedidos quando as pessoas entendem essas três necessidades e conseguem equilibrá-las. No entanto, o convívio passa a ser problemático e destrutivo quando a família esquece as regras.

"Ordem e amor devem andar unidos para a dinâmica familiar funcionar bem. Muitos problemas surgem quando alguns encaram essas leis como uma questão de opinião e tentam modificá-las. Porém, é difícil para nossa alma se acostumar ao amor, se não tiver ordem. O amor se adapta a ela e floresce, assim como uma semente se adapta ao solo e cresce. Só encontraremos a solução para nossas dificuldades se entendermos essa lógica", explica a terapeuta.

Como funciona o método

A Constelação Familiar consegue trabalhar questões como separações, persistentes problemas financeiros e até doenças crônicas e mentais. O método é criado entre paciente e terapeuta, que estabelecem as questões difíceis ou incômodas a serem desenvolvidas. Depois disso, é organizado um encontro em grupo (workshop) e o especialista escolhe o número de pessoas que considera necessário para representar os membros da família do paciente. A ideia é que os escolhidos - que podem ser desconhecidos ou familiares da pessoa - fiquem colocados diante dela em uma posição de maneira intuitiva.

Assim, a Constelação ganha vida. Aqueles que representam os familiares (ou empresas, cargos e doenças) começam a sentir as emoções, medos e desejos da pessoa que estão representando. "Presenciar essa dinâmica pode parecer estranho para quem testemunha pela primeira vez. Mas essas observações se tornam inquestionáveis à medida que você experimenta a verdade, a lealdade e o amor que se mostram em uma Constelação Familiar. Cada família possui sua própria consciência fabricada por todos os seus membros. Isso é a alma familiar", explica a especialista.

Segundo a terapeuta, é durante a realização do método que todas as desarmonias presentes naquela situação aparecem. Com a participação daqueles que "representam" os papéis de outros, a verdadeira história da família é expressa e vista claramente pela primeira vez, de uma maneira singular e espantosa. Isso faz da Constelação Familiar uma experiência profunda. "Muitas pessoas relatam que reconheceram as situações que representaram, mas que ficaram surpresas com a intensidade da experiência. Independente da idade, cada um de nós é uma criança e o maior desejo é encontrar harmonia em família", lembra Débora.

A formação dos vínculos familiares

Os vínculos em família são sentidos e formados principalmente na infância. Assim como uma árvore não determina onde cresce, uma criança também é submetida à sua família sem questionar, aderindo a ela com força e persistência. Os pequenos experimentam essas ligações familiares como uma forma de amor e de felicidade. "É importante que ninguém seja esquecido ou excluído do ambiente doméstico. As crianças podem ficar emaranhadas nas emoções e traumas de um outro membro da família e assumir essas emoções como sendo suas", alerta a especialista.

Além disso, a terapeuta acredita que alguns eventos podem ter um impacto profundo e deixar marcas nos membros de uma família. Por exemplo, morte prematura de um dos pais ou avós, acidente trágico no qual membros da família faleceram, abortos espontâneos ou provocados, morte de uma criança, algum membro da família forçado à condição de "ovelha negra", adoções, ou uma mãe que morreu ao dar a luz. O método de Constelação Familiar ajuda a entender e solucionar esses eventos que podem ser agentes de perturbação no lar.

No caso de conflitos entre pais e filhos, por exemplo, as ordens do amor pregam que é papel dos pais darem as dádivas aos filhos, como impor limites e oferecer oportunidades. Mas deve ficar claro que o filho só tem direito de receber o presente porque mais tarde retribuirá esse amor. Isso mostra a capacidade de cada um aceitar a vida que lhe foi dada. "Muitos não entendem que ao rejeitar seus pais, estão rejeitando a si mesmos. Essas pessoas podem sentir que não alcançaram a realização em suas vidas. Nossos pais nos dão a vida, além de nos nutrir, educar e proteger. O filho deve reconhecer essa dádiva e dizer aos pais que aceita todo amor que recebeu de sua família", ensina a especialista.

Débora Ganc

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