Rio -  Foram vários os sinais que fizeram Juliana Paes acreditar que seria dela, e de mais ninguém, a missão de trazer à tona a ‘Gabriela’ que há 37 anos entrou para a história da TV. “Quando recebi o convite fiquei muito emocionada. O Roberto Talma (diretor de núcleo) me chamou em sua sala junto com o Maurinho (Mauro Mendonça Filho, diretor geral) e disse: ‘Você será a Gabriela, cravo e canela’. Suspirei de alegria. Não sabia se gritava, se fingia tranquilidade”, relembra Juliana.
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Foto: Divulgação

A cartinha que ganhou do pai e a aprovação da antecessora, Sonia Braga, deram a certeza. “Dá um friozinho na barriga, é uma sensação de ‘putz, que responsa’, mas me sinto desafiada com grandes papéis”, assegura. Os astros também conspiraram a favor. Parece que foi ‘Gabriela’ quem escolheu Juliana. “Foi uma grande coincidência, talvez Jorge Amado já estivesse no meu caminho. Antes de saber da novela, existia um projeto para cinema, que acabou não dando certo. Mas os produtores, na época, pediram que eu lesse a obra dele. Então, escolhi ‘Tieta’, e quando estava no meio do livro, fui convidada para fazer ‘Gabriela’”.
A cor já é de canela, faltava o cheiro de cravo, que já não falta mais. Ela deixou o cabelo crescer e encrespar, as curvas voluptuosas deram lugar a um corpo mais seco, magro e tudo ficou ao natural, sem maquiagem e esmalte nas unhas. Carregou no sotaque baiano, andou de chinelo de couro, ficou sob sol escaldante, passou sede e fome no sertão, onde gravou as primeiras cenas da trama, adaptada por Walcyr Carrasco, para sentir na pele o que a retirante sentiu.
“Construí ‘Gabriela’ ali. Foi incrível! Gosto de estar produzida, mas para personagem não tenho esse tipo de vaidade. Se tiver que ficar gorda, feia, eu fico”, garante a atriz, que aprendeu até a cozinhar: “Com a Cida, uma baiana arretada. Fiz abará, acarajé, bolinho de estudante. Fiz uma moqueca para a família que foi um sucesso”, conta.
Como bicho solto, Gabriela quebra tabus em plena década de 20. Juliana mergulhou fundo nesse universo de desejo e vai aparecer nua e em cenas quentíssimas de sexo com Humberto Martins (Nacib): “Quando entro no estúdio não sou mais eu, me entrego totalmente. As cenas de nudez estão lindas.
O amor deles pega fogo. Que sirva de inspiração!”. E admite: “Sou muito passional, já fiz loucuras por amor, sim, só que é segredo”. Mas pondera: “Minha sensualidade não tem a ver com a de Gabriela. Ela é mais transparente”. A personagem não resiste e é pega na cama com Tonico Bastos (Marcelo Serrado). Juliana acha a questão da traição delicada: “Temos muitos anos de culpa cristã. Ainda vai levar um tempo para a sociedade aderir ao amor livre”.
Apesar de não ficar tão à vontade com as imagens mais picantes, o marido de Juliana, Carlos Eduardo, apoia. “É óbvio que rola ciúme. Mas ele é maravilhoso. Estamos juntos há oito anos, três de casamento. O segredo é dialogar. Claro que, às vezes, brigamos, é normal. Mas sempre nos ouvimos. Nada de deixar pra depois”, revela a atriz.
E, se depender dela, o público vai voltar a se deliciar com a releitura de um dos maiores clássicos da nossa literatura, com direito a muita pimenta. “Novela das onze é mais safadinha”, instiga.
Sonia Braga é inspiração
Embora tenha ficado chateada com a equipe do ‘Fantástico’ por não citar seu nome na reportagem sobre a novela, Sonia Braga aprovou Juliana Paes para a nova versão: “Achei a escolha perfeita”. Juliana conta que a primeira Gabriela foi supergentil: “Recebi flores e um cartão carinhoso dela. As pessoas muito falam sobre comparações, responsabilidade de viver uma personagem tão mítica, mas acima de tudo tem minha admiração por ela. Sonia é uma inspiração pra mim”.
Sobre a crítica do autor Aguinaldo Silva, que a achou velha para o papel, rebateu: “Todos têm o direito de achar o que quiser. Só quero fazer o meu bem feitinho e surpreender até as pessoas que achavam que eu não seria perfeita. Mas a maioria achou e é isso que importa”.

POR Flavia Muniz

O Dia