Na última sexta-feira (29), a Anvisa recebeu entidades do comércio varejista e representantes dos usuários e vigilâncias sanitárias, para debater a lista de produtos de venda permitida em farmácias e drogarias, de que trata a Consulta Pública 69/07.
A reunião ocorreu em razão do compromisso assumido pela Anvisa, no início de maio, em Audiência Pública sobre o tema no Senado Federal. O objetivo do encontro foi fortalecer o debate e tornar a proposta mais transparente, respeitando a independência e atuação dos Poderes e, com isso, assegurar o cumprimento das normas e regras de proteção à saúde e atender às necessidades dos consumidores.
A publicação da norma resultante da Consulta Pública está entre as prioridades da agenda regulatória da Anvisa para 2009. Atualmente, a Agência trabalha na análise e na consolidação das contribuições recebidas. Em breve, o texto será consolidado e passará pela deliberação da Diretoria Colegiada da Anvisa.
Gripe suína
02/06/2009 - Revista Istoé
O Brasil, que tem nove toneladas de Tamiflu, comprará mais lotes do antiviral, usado no tratamento da gripe suína. As negociações com a Roche, para redução no preço, podem mudar de direção, a partir da próxima semana.
Como a Organização Mundial da Saúde avalizou o genérico do Tamiflu, o governo tentará abastecer os depósitos do Ministério da Saúde com o produto do laboratório indiano Cipla.
Indústria farmacêutica
02/06/2009 - Revista Istoé Dinheiro
Um das maiores transações empresariais realizadas no Brasil em 2009 pode naufragar. Na semana passada, a compra da fabricante brasileira de genéricos Medley pela francesa Sanofi-Aventis foi impedida de ser finalizada pelo governo federal. Em parecer enviado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), os ministérios da Justiça e da Fazenda afirmaram que a análise da pro- posta mostrou "alta probabilidade de exercício de poder de mercado", com possíveis "efeitos nega- tivos aos consumidores, como elevação de preços". O negócio envolve 500 milhões de euros.
Estímulo a laboratório público está engavetado há dois anos
01/06/2009 - O Estado de S. Paulo
O principal programa do governo federal para alavancar a produção de medicamentos dos laboratórios públicos está há dois anos na gaveta. O Profarma Produtores Públicos, um eixo do chamado Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Complexo Industrial da Saúde, criado pelo BNDES em 2007, só pode liberar financiamentos depois que a gestão dos laboratórios for submetida a uma auditoria. O problema é que até hoje o governo nem sequer contratou a empresa para essa tarefa.
"Perdemos um tempo precioso", disse ao Estado o presidente da Associação Brasileira dos Laboratórios Oficiais (Alfob), Ricardo Oliva, que também é diretor da Fundação para o Remédio Popular (Furp). O Profarma prevê o financiamento do BNDES para projetos de ampliação e modernização dos laboratórios públicos que se dedicam à produção de medicamentos e outros insumos usados no sistema de saúde brasileiro. Existem no País 17 laboratórios públicos, responsáveis pela produção de 145 medicamentos. Segundo Oliva, por falta de recursos, 66% da capacidade dos laboratórios está ociosa.
"Não somos contrários à avaliação da gestão dos laboratórios. O problema é a demora", afirmou o presidente da Alfob. Como nem mesmo o processo para a escolha da empresa de auditoria foi definido, Oliva avalia que somente em 2010 os recursos começariam a ser liberados. "Não há dúvida de que há problemas de gestão em algumas unidades, que precisam ser solucionados. Mas o importante é dar agilidade a todo esse processo." O presidente da Alfob diz que os recursos poderiam ser usados para que laboratórios se adequassem às exigências regulatórias e, com isso, ampliar a produtividade e, principalmente, começar a se preparar para produzir novos medicamentos, cuja patente está próxima de terminar. "A indústria privada já está se beneficiando com recursos, que vêm de outros braços do programa. Esse descompasso certamente fará com que nossa capacidade de disputa pelo mercado fique ainda mais reduzida", completou. Procurado, o BNDES informou apenas que consulta pública para a contratação de serviços de consultoria está disponível no site do banco, na internet.
OUTRO LADO
O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, reconhece o atraso no programa do BNDES. Mas não concorda com as queixas feitas por Oliva, sobretudo quanto à falta de foco do ministério para atividades no setor. "Criamos a oportunidade de um programa de parcerias entre empresas públicas e privadas para produção de medicamentos. A Furp preferiu um voo solo", diz Guimarães.
A primeira etapa das parcerias foi apresentada em abril: 7 laboratórios oficiais e 10 empresas se juntaram para a produção de 21 medicamentos, entre eles, para asma, aids e controle de colesterol. A expectativa é de que isso possa trazer uma economia de R$ 160 milhões.
Todos os remédios aprovados integram a lista de medicamentos e produtos estratégicos. A expectativa é de que, a partir dessa lista, seja formada a rede de laboratórios idealizada pelo ministério.
Atualmente, laboratórios têm autonomia para escolher o que produzir - a quantidade sempre depende das encomendas feitas pelo ministério. O problema é que, muitas vezes, mais de um laboratório público produz o mesmo remédio, o que acaba levando a uma concorrência dentro do próprio setor.
Drogaria São Paulo terá loja sazonal em Campos do Jordão
01/06/2009 - DCI
A Drogaria São Paulo sobe a serra para acompanhar os clientes nas férias de inverno. A rede inaugura loja temporária em Campos do Jordão, charmosa cidade do interior paulista que atrai milhões de turistas nos meses mais frios do ano. A unidade será aberta no dia 10 de junho no Market Plaza, situado na Av. Macedo Soares, 499, Std. 15, no bairro Capivari. “Este é o segundo ano consecutivo que a Drogaria São Paulo aposta em Campos do Jordão. Além de gerar vendas em uma época de grande movimento, o objetivo é ampliar a rede de relacionamento com os clientes” – explica o diretor de marketing da rede, André Elias.
Rivotril: a tarja preta mais vendida no País
31/05/2009 - Último Segundo
A alta no consumo de um remédio, que só pode ser vendido com retenção da receita, é assunto polêmico entre a classe médica. Especialistas ouvidos pela reportagem do Último Segundo apontam pelo menos três fatores para explicar este consumo exagerado: uma preocupação maior com a saúde mental, a falta de consciência de alguns pacientes que ignoram a recomendação médica e o despreparo de parte dos profissionais de saúde.
Segundo o psiquiatra Edson Capone de Moraes Junior, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), o modelo médico existente, que separa corpo e mente, contribui para o aumento nas prescrições do Rivotril. “Ao invés de atuar no problema, trata-se a consequência”, diz. “Há médicos que não diferenciam quadros de depressão, ansiedade e psicose, e para todos indicam o mesmo remédio”.
O psiquiatra afirma que o Rivotril – há 35 anos no mercado - passou a ser considerado uma das opções mais “seguras” pelos médicos por ter boa tolerância no organismo. “Você não erra muito. Ele é facilmente aceito pelos pacientes”, afirma, acrescentando que, se houvesse psiquiatras para realizar o diagnóstico correto, não seria necessário tanto Rivotril.
“Alguns médicos quando se deparam com pacientes com distúrbios mentais é comum iniciarem o tratamento com um ansiolítico. Então, se não resolvem o problema, passam para um antidepressivo”, afirma.
O psiquiatra e psicanalista Plinio Montagna, presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, acrescenta ainda que, graças aos “bilhões de dólares injetados na publicidade de laboratórios farmacêuticos”, hoje não existe mais o receio em tomar uma medicação para distúrbios psiquiátricos. “Existe até certa glamorização da medicação”, considera.
Uso controlado
Para o Rivotril, não há consenso sobre o tempo seguro de uso. A dependência ao medicamento varia conforme a dose e a predisposição do paciente, mas, segundo Junior, o uso não deve passar de quatro meses. “Se o paciente é extremamente ansioso não posso tratá-lo com Rivotril a vida inteira”, afirma.
O Rivotril tem cinco ações principais no organismo. Serve como anticonvulsivante para casos de epilepsia, relaxante muscular, ansiolítico, hipnótico e sedativo, sendo que, na visão de Junior, são as três últimas funções que impulsionaram as suas vendas.
A princípio, ele era divulgado entre a classe médica apenas como um anticonvulsivante, sendo os seus demais usos conhecidos e ampliados nos últimos anos.
O medicamento é da classe dos benzodiazepínicos, como Lexotan, Valium, Diazepam e Frontal, e tem como princípio ativo o clonazepam. Junior explica que a substância é absorvida pelo organismo, passa pela circulação sanguínea e age em um sistema chamado Gabaérgico, inibindo a atividade cerebral e acalmando. “Ele é um dos mais potentes. Se tiver três benzodiazepínicos concorrendo no seu cérebro, ele chega primeiro”, afirma.
No entanto, Junior esclarece que apenas para casos de epilepsia ele é usado sozinho. Em casos de depressão e transtorno bipolar, por exemplo, é apenas adjuvante e serve para complementar o tratamento principal.
Mas muitos ignoram o uso correto do medicamento. A funcionária pública Luana Cardoso, de 24 anos, de Porto Alegre, é um exemplo de paciente que não segue o prescrito pelo médico. Ela afirma que toma Rivotril há seis anos “entre idas e vindas” e "faz de conta que segue as recomendações médicas", mas, na verdade, administra do seu jeito.
Após ter tido uma Síndrome do Pânico, o psiquiatra recomendou que tomasse dois comprimidos de Rivotril por dia, um pela manhã e outro à noite. Mas Luana só faz isso de segunda à quinta-feira. Aos finais de semana, não toma para poder ingerir bebida alcoólica. “Minha família toda usa Rivotril e como já vi o que acontece com quem usa e bebe prefiro não arriscar”, afirma. O medicamento potencializa o efeito do álcool e, em doses muito altas, pode levar ao coma. “O médico sempre diz que não o engano, só estou me enganando, mas não vou viver mais ou menos por causa de um remédio”, diz.
Um dos sinais de tolerância do corpo ao remédio é precisar de doses cada vez maiores para alcançar o efeito desejado, além do que o psiquiatra Junior chama de “necessidade subjetiva” do uso da substância. “Antes, o paciente tomava quando estava muito nervoso. Depois, a qualquer sinal de ansiedade”, afirma.
O estudante V.G.A, de 23 anos, é um dos que diz não conseguir mais viver sem o remédio. Começou a tomar há três anos por indicação do médico, após ter um surto psicótico, provocado, principalmente, segundo ele, pelo uso assíduo de maconha. “Era uma pessoa ansiosa e tinha sintomas de depressão, mas a cannabis mascarava isso”, considera.
Após o surto, quando V.G.A afirma que teve “pensamentos absurdos e mania de perseguição”, o médico o receitou um antidepressivo e 6 gotas de Rivotril por dia. “Hoje estou tomando 25 gotas por conta própria, à noite. Não durmo caso não tome. Me considero viciado”, conta.
O bancário e estudante de psicologia Danilo Perucci, de 22 anos, também não vive sem o remédio. Ele procurou um psiquiatra após ficar com insônia por problemas familiares. Para o sono, recebeu uma caixinha de Rivotril. Hoje, admite que faz um uso “cíclico” do medicamento, toma seis meses e para seis, sem seguir qualquer recomendação. “Uso por conta própria, só retorno para pegar outra receita”, confessa.
Perucci, que se diz “dependente psicológico” do remédio, afirma que nunca teve problemas para conseguir novas cartelas. “Eu vario entre três psiquiatras do meu plano de saúde que me receitam Rivotril sem muitas perguntas”, conta.
Saúde em risco
A partir de dois meses, médicos dizem que o uso deve estar sob constante monitoramento. Além da dependência química, que é o maior dos riscos e pode ser irreversível, o uso contínuo por anos pode causar perda de memória, irritabilidade e até mesmo depressão. Durante a gravidez, pode até mesmo causar aborto. “Como todos os sedativos do sistema nervoso central, em doses muito altas podem causar sonolência, reflexos diminuídos, confusão, coma, parada respiratória e, no extremo, morte. Mas as doses precisam ser muitíssimo altas”, acrescenta Montagna.
Para quem resolve parar com Rivotril o caminho nem sempre é fácil. O estudante de direito Luiz Roberto Blum, de 26 anos, demorou seis meses para conseguir. “Um psiquiatra me disse: ‘pare de tomar hoje’, mas eu não consegui ficar um dia sem. Tive sintomas de pânico e náuseas”, revela.
Aos poucos, Blum conseguiu substituir o remédio por outro ansiolítico, mas demorou seis meses para conseguir parar completamente. “O médico sempre me dizia para tomar somente quando necessário, o problema era que eu sempre achava necessário”, lembra.
Ansiedade necessária
De acordo com psiquiatras, a linha que separa a ansiedade natural daquela que deve ser tratada é delicada e, caso não seja avaliada com cuidado, o paciente corre o risco de eliminar emoções importantes para o desenvolvimento da mente. “Certo grau de ansiedade é necessário e inerente à condição humana”, afirma Junior.
Montagna completa que a ansiedade funciona como propulsora da ação e do pensamento. “É uma espécie de combustível para o funcionamento do ego. Podemos compará-la com a tensão das cordas de um violão. Se estão muito frouxas, não sai música. Se muito estiradas, podem até romper-se e também não haverá música. Num grau de tensão ótimo, aí, sim, podemos extrair música”, explica.
Mesmo quando considerada uma doença, os especialistas concordam em dizer que nem sempre o tratamento com remédios é a melhor opção. É preciso verificar os motivos que estão causando a ansiedade e atuar neles. “Muitas pessoas acham que tomando drogas de última geração estão sendo bem tratadas, mas, muitas vezes, é preciso diminuir as dosagens para que o paciente tenha outra dimensão do que acontece. A psicanálise pode ser bastante útil nesses casos”, completa Montagna.
Ranking dos medicamentos mais vendidos no País
Até Março de 2009
1° Microvlar
2° Rivotril
3° Puran T-4
4° Hipoglos Nf
5° Buscopan Composto
6° Neosaldina
7° Salonpas
8° Novalgina
9° Ciclo 21
10° Sal De Eno
2008
1° Microvlar
2° Rivotril
3° Puran T-4
4° Hipoglos Nf
5° Neosaldina
6° Buscopan Composto
7° Salonpas
8° Tylenol
9° Novalgina
10° Ciclo 21
2004
1° Microvlar
2° Neosaldina
3° Hipoglos Nf
4° Buscopan Composto
5° Novalgina
6° Rivotril
7° Tylenol
8° Cataflam
9° Neovlar
10° Luftal
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
Exame precoce não aumenta sobrevida
02/06/2009 - O Estado de S. Paulo
Pesquisadores britânicos disseram ontem que a detecção precoce do câncer de ovário reincidente não ajuda uma mulher a viver mais tempo. A conclusão vai contra a ideia de que quanto mais cedo o câncer é descoberto e tratado, melhor. E pode levar médicos e pacientes a reavaliarem a necessidade de exames periódicos.
Segundo esse novo estudo, apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, em Orlando, Flórida, as mulheres que iniciaram o tratamento quimioterápico precocemente, com base nos resultados do exame, não vivem mais do que aquelas que esperaram até os sintomas surgirem.
"Pela primeira vez, as mulheres podem ter certeza de que não há nenhum benefício nos exames de controle para detectar precocemente um câncer reincidente", disse Gordon Rustin, diretor de oncologia médica no Mount Vernon Hospital, em Middlesex, Inglaterra, que liderou o estudo.
Essa é mais uma de uma série de conclusões que sugerem que a detecção precoce do câncer pode não ajudar todos os pacientes. Estudo publicado em março indicava que a descoberta precoce do câncer de próstata por meio da busca de um antígeno específico não ajuda os homens a viverem mais tempo e tem levado a tratamentos desnecessários.
O novo estudo não se refere aos diagnósticos iniciais de câncer ovariano, mas aos exames de controle posteriores. Os médicos afirmam que, se o diagnóstico inicial for feito precocemente, o que é muito difícil, o tumor pode ser tratado com cirurgia. Mas, no caso de um câncer de ovário reincidente, a cirurgia não é uma opção.
NOVO USO
O Herceptin, remédio da Roche para câncer de mama, pode vir a fazer parte do tratamento de câncer de estômago. Segundo estudos apresentados também na reunião, a droga aumentou a sobrevida média de pacientes com tumores no estômago. Em Orlando, cientistas anunciaram que uma nova classe de remédios, os inibidores de poli (ADP-ribose) polimerase (Parp), é promissora no combate ao câncer de mama e que uma vacina contra linfomas não Hodgkin também é pesquisada.
Um novo teste para detectar a dengue
02/06/2009 - Jornal do Brasil - On Line
Um novo estudo recomenda que a rede pública de saúde adote exame de sangue para detecção do antígeno NS1 como diagnóstico da dengue. Além de comprovar que o resultado obtido com esse teste é mais rápido e eficaz do que os disponíveis atualmente, a pesquisa identificou que o NS1 é detectável até o sétimo dia da doença com segurança.
A proteína NS1 tem sido reconhecida como um importante imunógeno em infecções por dengue, além de estar presente em altas concentrações no soro de pacientes infectados com o vírus durante a fase clínica inicial da doença.
O trabalho foi realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa analisou amostras de 250 pacientes. Os resultados obtidos com o teste NS1 foram comparados com os apontados pelos métodos de diagnóstico usados atualmente.
O diagnóstico fornecido pelo teste apresentou sensibilidade e especifidade maiores que o isolamento do vírus e a amplificação do genoma do mesmo pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR), usada nos primeiros cinco dias da doença. A acurácia do teste de NS1 foi de 79,2% e a do PCR de 74,4%.
A inveja desvendada
02/06/2009 - Revista Istoé
Certa vez, um homem, extremamente invejoso de seu vizinho, recebeu a visita de uma fada, que lhe ofereceu a chance de realizar um desejo. "Você pode pedir o que quiser, desde que seu vizinho receba o mesmo e em dobro", sentenciou. O invejoso respondeu, então, que queria que ela lhe arrancasse um olho. Moral da história: o prazer de ver o outro se prejudicar prevaleceu sobre qualquer vontade. É por meio dessa fábula que a psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) definiu na obra "Inveja e Gratidão", um dos principais estudos já feitos sobre o tema, o comportamento de quem vive intensamente esse sentimento.
Ao mesmo tempo que o ciúme é querer manter o que se tem e a cobiça é desejar aquilo que não lhe pertence, a inveja é não querer que o outro tenha. O mais renegado dos sete pecados capitais é uma emoção inerente à condição humana, por mais difícil que seja confessá-la. Afinal, todo mundo, em algum momento da vida, já sentiu vontade de ser como alguém. Há até um lugar no cérebro reservado para a inveja. Pela primeira vez, uma pesquisa científica mostra onde ela e o shadenfreude - palavra alemã que dá nome ao sentimento de prazer que o invejoso experimenta ao presenciar o infortúnio do invejado - são processados na mente humana.
De autoria do neurocientista japonês Hidehiko Takahashi, do Instituto Nacional de Ciência Radiológica, em Tóquio, o estudo "Quando a sua Conquista É a minha Dor e a sua Dor É a minha Conquista: Correlações Neurais da Inveja e do Shadenfreude foi publicado recentemente pela prestigiada revista cientifica americana Science. Por meio de ressonância magnética realizada em 19 voluntários (dez homens e nove mulheres), na faixa etária dos 20 anos, foi possível identificar onde os sentimentos são processados no cérebro. Ao sentir inveja, a região do córtex singulado anterior é ativada.
"A minha inveja se repetia em tantos palcos quanto houvesse situações de comparação". Roberto Birindelli, 46 anos, ator.
O interessante é notar que é nesse mesmo local que a dor física se processa. "A inveja é uma emoção dolorosa", afirma Takahashi. O shadenfreude, por sua vez, se estabelece no estriado ventral, exatamente onde se processa a sensação de prazer. "O invejoso fica realizado com a desgraça do invejado", diz o pesquisador. Durante a pesquisa, Takahashi induziu os voluntários a imaginarem um cenário que envolvia outros três personagens, do mesmo sexo, faixa etária e profissão que eles. Dois deles seriam, hipoteticamente, mais capazes e inteligentes.
Dessa comparação nasce a inveja, especialmente quando as pessoas são muito parecidas. Ou seja, é mais comum uma mulher se incomodar com outra, da mesma faixa etária e profissão, do que com alguém com características totalmente diferentes. "Trata-se de um sentimento caracterizado pela sensação de inferioridade", explica o neurocientista Takahashi. "Quando há essa sensação, é porque houve comparação e a pessoa perdeu."
O ator Roberto Birindelli perdeu muitas batalhas, mas parece ter vencido a guerra. Ao longo de seus 46 anos, a inveja sempre o perseguiu. Na escola, nutria o sentimento pelos colegas de classe que conquistavam as garotas com facilidade. Na vida adulta, sofria quando um colega ator conseguia um teste para o melhor papel de uma produção.
O sentimento o corroía tanto que ele chegou a invejar o modo como uma determinada jaqueta de couro caía bem em um conhecido. "O que me deixava mal era saber que a roupa não ficaria tão boa em mim", confessa Birindelli. "A minha inveja se repetia em tantos palcos quanto houvesse situações de comparação." Insatisfeito em se projetar o tempo todo nos outros, o ator foi em busca de auto-conhecimento.
Descobriu o eneagrama (técnica para estudo do comportamento humano), fez terapia e mergulhou na meditação. "Percebi que o problema era comigo", reconhece. "Sou inseguro em relação à maneira como a sociedade me vê." Amparado, aprendeu a lidar com a questão. "Hoje em dia, sempre que vou sentir inveja de alguém, me pergunto: ser como ele é melhor do que ser quem sou?", explica Birindelli, que está no ar na novela "Poder Paralelo", da Record. Além da insegurança, a baixa autoestima, o sentimento de incapacidade e a sensação de injustiça são características comuns aos invejosos. "Pessoas bem resolvidas e esclarecidas tendem a ter menos inveja", diz o psiquiatra José Thomé, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Mas por que há pessoas muito invejosas e outras que passam a vida quase sem sentir essa emoção? A psicóloga Sueli Damergian, professora da Universidade de São Paulo (USP), acredita que o segredo está em não ultrapassar a linha da afeição. "A inveja é sempre fruto da admiração", diz. "Se ela ficar restrita a isso, pode funcionar como impulso para o desenvolvimento." O problema é quando essa barreira é rompida. "Se o impulso destrutivo for muito forte, o invejoso passa a viver a vida do outro e isso pode ser danoso tanto para ele quanto para o invejado."
Em casos patológicos, que, segundo especialistas, são mais comuns do que se imagina, quem sofre do mal é capaz de caluniar, perseguir, e, em casos mais extremos, desejar a morte do invejado. Há, também, os que somatizam. Nessas situações, podem apresentar quadro depressivo, autodestrutivo, agressividade e tendências suicidas. O psiquiatra Thomé acredita que, salvo os casos patológicos, as pessoas têm livre-arbítrio para viver ou eliminar a inveja. "É um sentimento muito primitivo, que deve ser trabalhado."
Entre a inveja destrutiva e a construtiva, a artista plástica Roberta Martinho, 34 anos, ficou com a segunda. Garota curiosa, ela teve consciência do sentimento ainda na pré-adolescência. Queria ser como o Visconde de Sabugosa, personagem de Monteiro Lobato, em "O Sítio do Pica-Pau Amarelo" - é recorrente a inveja de personagens fictícios ou pessoas distantes do convívio, como as celebridades. Seu segundo contato com a emoção, dessa vez mais realista, foi por meio da professora de história. "Invejava a cultura, a erudição e a inteligência dos dois", diz Roberta. Numa versão light do sentimento, ela nem chegou a desejar o infortúnio de seus invejados. "Queria ser como eles, mas não me sentia inferiorizada nem injustiçada", diz.
A maneira que encontrou para lidar com a questão foi mergulhar nos livros. "Ler muito, estudar, pesquisar", diz. Quando a pessoa consegue fazer com que o sentimento, em tese negativo, impulsione ações positivas, ela o transforma no que os especialistas chamam de inveja criativa. "Inveja, ciúme e raiva são tão importantes quanto a visão, a sexualidade e a alimentação", defende o psiquiatra Carlos Byington. "Todos eles trazem informações importantes para formar e transformar a própria identidade." Hoje, Roberta é frequentadora assídua de biblioteca e museu. E diz não sentir mais inveja de nada, nem de ninguém. "Descobri que as pessoas são únicas e que não devemos seguir padrões alheios."
Comum em toda a sorte de relações humanas, a inveja está presente até mesmo dentro de casa. As irmãs Júlia e Lídia Loyola, 25 e 23 anos, respectivamente, e suas meias-irmãs Fernanda e Gabriela Fernandes, 17 e 13, moram juntas e compartilham da incômoda emoção. Filhas da mesma mãe e de pais diferentes, estão sempre se comparando e lamentando aquilo que não são.
As mais velhas invejam a vida cheia de oportunidades das mais novas. "Aos 15 anos, quando precisava de dinheiro, trabalhava", diz Júlia. "A Fê não precisa disso." Fernanda reconhece. "Não fico tripudiando, mas reconheço que me sinto recompensada por ter vantagens em relação às minhas irmãs mais velhas, apesar de elas estudarem tanto", diz. "Ao mesmo tempo, queria ser como elas: tirar boas notas e não ficar de castigo."
"Invejava a cultura, a erudição e a inteligência dos dois", Roberta Martinho, 34 anos, sobre a ex-professora de história e o personagem Visconde de Sabugosa, de Monteiro Lobato.
O ambiente de trabalho, por sua vez, também é terreno fértil para os invejosos. Uma pesquisa das universidades de Warwick e Oxford, na Inglaterra, mostra que nem sempre se inveja a maneira de ser do rival, mas suas posses. No experimento, os entrevistados poderiam ganhar ou "queimar" o dinheiro do concorrente, sob o custo de perder parte de sua verba - 62% dos participantes escolheram se voltar contra o outro. Segundo a psicóloga Glaura Maria Verdiani, autora da tese de mestrado "Um Estudo sobre a Inveja no Ambiente Organizacional", pelo Centro Universitário de Araraquara (SP), é provável que esse sentimento esteja impregnado em 100% das relações profissionais.
"Em uma equipe de 30 pessoas, é possível que todos invejem alguém, em algum nível", revela. A emoção pode ter origem em qualquer um e partir para diferentes direções. Acontece entre pessoas do mesmo cargo, funcionários de funções inferiores e superiores. "Há chefes invejosos de seus subordinados, que são mais jovens, mais dispostos e, muitas vezes, mais talentosos", diz Sueli.
Aos 28 anos, a designer Claudia Neves foi vítima da inveja em seu local de trabalho. Até seis meses atrás, ela era a única funcionária entre vários homens do departamento em que trabalhava, numa agência de publicidade em São Paulo. Sua vida profissional virou de pernas para o ar com a chegada de outra garota, da mesma idade, que passou a dar expediente numa função com remuneração menor. No início, as duas se davam bem - ao menos aparentemente. Até que a nova colega passou a evitá-la e agir de maneira estranha.
"Ela não fazia o tipo feminina e, de repente, começou a me pedir dicas de maquiagem", conta Claudia. Além disso, mais gordinha, passou a se preocupar com a quantidade de calorias que ingeria. "Essa neurose começou depois que os meninos compararam o corpo dela com o meu", diz. Com o tempo, o melhor amigo de Claudia se afastou. E seu supervisor passou a implicar com seu trabalho.
A designer desconfia que foi vítima de calúnias. "Certa vez, meu chefe foi grosseiro comigo", conta. "Nessa hora, pude ver no rosto dela que estava rindo por dentro." Triste com a situação, Claudia pediu para ser demitida. "O ex-marido dela me disse que ela tinha ódio mortal de mim e queria me destruir", conta. Apesar da atitude drástica que teve de tomar, ela não acredita que a colega tenha saído vitoriosa. "Ela conseguiu me eliminar, mas estou muito feliz fora de lá", afirma.
Em novembro passado, nos Estados Unidos, o ex-âncora de telejornal Larry Mendte, 51 anos, além de demitido, foi condenado a pagar uma multa de US$ 5 mil (R$ 10,1 mil) e a prestar 250 horas de serviços comunitários por violar o e-mail de sua colega de bancada, Alycia Lane, 36 anos. Por dois anos, Mendte enviou mensagens se fazendo passar por ela para veículos de imprensa e colegas de trabalho. Durante o caso, admitiu ter inveja por causa do salário anual de US$ 780 mil (R$ 1,6 milhão) de Alycia. "O meu papel na emissora estava sendo reduzido quando ela me falou que era a nova estrela", disse, à época.
Assim como os demais sentimentos, a inveja vem de berço. Segundo Melanie Klein, até mesmo os bebês nutrem esse sentimento. Eles invejam o seio materno, capaz de alimentá-los e confortá-los. A emoção, no entanto, começa a se tornar mais visível na primeira infância e se manifesta na forma de cobiça. Pedro, 5 anos, e Isabela, 4, são primos e estudam juntos. "Eles disputam tudo: a atenção da família, dos professores, dos colegas", diz a educadora Caroline de Oliveira, 32 anos, mãe de Pedro. "Isabela é mais de cobiçar os brinquedos do primo, e ele, por sua vez, disputa a atenção das pessoas quando ela se destaca." Para lidar com a atenção, a mãe explica para o filho que não é possível ter tudo o tempo todo. "Tento prepará- lo para lidar com essa sensação, que estará sempre presente."
A psicóloga Sueli, da USP, assina em baixo. "É importante eliminar os sentimentos de inferioridade e baixa autoestima e mostrar o outro lado", explica. "Se a pessoa não é boa em algo, certamente será em outra coisa." Afinal de contas, a melhor maneira de domar o sentimento da inveja é, assim como fez o ator Birindelli, identificá-lo e aprender a lidar com ele. Graças a seu esforço, ele hoje circula satisfeito com a jaqueta de couro que tanto invejou no outro e, finalmente, comprou.
Esquistossomose na mira
02/06/2009 - Estado de Minas - Belo Horizonte
A comunidade científica deu um importante passo para o combate à esquistossomose, doença que nos últimos 12 anos infectou 1,2 milhão de brasileiros e matou 6,5 mil, de acordo com o Ministério da Saúde (MS). Em colaboração com grupos dos Estados Unidos, Inglaterra, França, Irlanda, Alemanha e Japão, pesquisadores do Centro de Pesquisas René Rachou, unidade mineira da Fiocruz, analisaram o sequenciamento genético do parasita Schistosoma mansoni, causador da doença. A pesquisa permitirá o desenvolvimento de drogas contra o mal, que afeta mais de 210 milhões de pessoas em 76 países. O mapeamento do genoma foi concluído recentemente e o grupo de cientistas anuncia o resultado do trabalho em artigo que será publicado na quinta-feira na revista britânica Nature, especializada em ciências mais conceituada do mundo.
Até o momento, existe apenas uma droga disponível para tratamento da doença, cuja fórmula é guardada a sete chaves pelo laboratório Merck, que a descobriu. Em projeto desenvolvido há quase duas décadas ao custo de US$ 15 milhões, os cientistas de diferentes partes do mundo tentam descobrir novas formas de combate à doença. Centros de pesquisa internacionais finalizaram o sequenciamento do genoma, mas a disponibilização das informações à comunidade científica coube aos pesquisadores de Minas, que desenvolveram um banco de dados.
Nesta primeira etapa do trabalho, os cromossomos da célula do DNA do parasita foram cortados em pequenos fragmentos e unidos novamente, posteriormente, para que suas caraterísticas fossem conhecidas. Para entender melhor o processo, basta imaginar várias edições de um livro secreto, com 10 milhões de palavras, cada, sendo picotadas. O resultado é uma sopa de letras e fragmentos de frases aleatórias. Imagine agora cientistas unindo as partes semelhantes, para criar uma sequência linear e dar sentido à publicação. Foi desta forma que as informações genéticas do Schistosoma mansoni se tornaram um livro aberto.
Nesse livro é possível identificar as proteínas presentes no DNA do parasita e a função delas em sua vida. Dar sentido biológico às informações é o principal desafio do trabalho. Em Minas, os pesquisadores do René Rachou estão debruçados sobre dois grupos de proteínas: as proteases, participantes do processo de digestão de nutrientes pela célula; e quinases, responsáveis por captar informações do ambiente para o parasita (presença de nutrientes no entorno ou células para reprodução, por exemplo). “Se conseguirmos inibir a produção das proteases, o parasita pode morrer de fome. A inibição das quinases significa o rompimento do equilíbrio com o meio e também pode resultar na sua morte”, explica o biólogo e pesquisador Guilherme Corrêa de Oliveira, de 42 anos, chefe do Laboratório de Parasitologia Celular e Molecular do René Rachou, um dos autores do artigo que será publicado na Nature.
Os pesquisadores mineiros tentam ainda mapear o metabolismo do Schistosoma, para identificar compostos e enzimas fundamentais à produção de proteínas. Inibir ou favorecer ambos pode ser uma forma eficiente de matar o organismo. Isso porque ele pode morrer pela falta ou acúmulo excessivo de compostos e enzimas.
Pesquisadores do projeto espalhados pelo mundo analisam paralelamente outros grupos de proteínas, também por meio de técnicas de biologia computacional. Possíveis alvos para a produção de drogas foram identificadas e serão citadas no artigo. Estudar o papel de enzimas para as quais já existem drogas de combate é uma prioridade. “É mais fácil trabalhar com essas drogas e aumentar a eficiência delas do que começar o trabalho do zero”, explica Oliveira, que não sabe precisar em quanto tempo o trabalho se encerrará. “Se houvesse interesse da indústria farmacêutica, já estava pronto, mas a doença é negligenciada”, afirma. A esquistossomose vitima 8% da população de Minas Gerais, segundo o MS. Não mata como outras doenças, mas debilita as pessoas infectadas, causando anemia, por exemplo.
Empresa lança pílula de tomate para combate ao colesterol
01/06/2009 - O Globo On Line
Uma empresa de biotecnologia vinculada a Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, está lançando, nesta segunda-feira, um suplemento natural feito de tomates que pode ajudar a combater o colesterol.
O Ateronon contém um ingrediente ativo das dietas comuns na região do Mediterrâneo - o licopeno, um antioxidante que dá a cor avermelhada ao tomate e que auxilia no bloqueio do colesterol LDL, o chamado "mau colesterol".
Apesar dos potenciais benefícios, a substância é pouco absorvida quando ingerida ao natural. A pílula, portanto, traz uma versão mais refinada e de maior absorção.
Testes preliminares feitos com 150 pessoas indicam que o suplemento pode reduzir a oxidação de gorduras no sangue a quase zero em apenas oito semanas.
O neurocientista Peter Kirkpatrick, responsável pelos próximos testes da pílula que serão realizados no Hospital Addenbrooke, na Inglaterra, afirmou que o suplemento pode ser mais eficaz do que as estatinas usadas em tratamentos de colesterol.
Cautela
Mas o professor Peter Weissberg, da British Heart Foundation, diz que apesar dos testes iniciais, ainda levará tempo para avaliar os efeitos reais do Ateronon.
"Enquanto isso, nosso conselho para pacientes que sofrem de doenças cardíacas é confiar nos medicamentos receitados pelos médicos e tentar ingerir muitas frutas e verduras frescas", disse Weissberg.
Para o professor Anthony Leeds, da organização Heart UK, que trabalha na prevenção de doenças cardíacas, "os testes iniciais são promissores".
"O novo produto de licopeno representa uma nova abordagem para o tratamento de alto colesterol e abre uma possibilidade interessante".
SAÚDE
Anvisa pode regular serviços que possam transmitir doenças
01/06/2009 - DCI - online
A necessidade de controle do risco de transmissão de doenças infectocontagiosas, como aids e hepatites B e C, pode levar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a regulamentar os serviços de barbearia, cabeleireiro, salão de beleza, manicure, pedicure, podólogo, aplicação de tatuagens e colocação de piercings. Isso é o que determina substitutivo do senador Papaléo Paes (PSDB-AP) a projeto de lei da Câmara (PLC 1/09) que estabelece normas de segurança sanitária para estes estabelecimentos. A matéria está na pauta da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) nesta quarta-feira (3).
Como os serviços prestados nesses estabelecimentos podem provocar cortes ou perfurações corporais nos clientes, levando ao risco de transmissão de doenças por meio de objetos contaminados, Papaléo considerou, em seu parecer, "ser dever da autoridade sanitária intervir sempre que houver possibilidade de ameaça à saúde pública". Por caber à Anvisa "regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e serviços que envolvam riscos à saúde pública", o relator decidiu incluir na lei que define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (Lei nº 9.782/99) a atribuição de regular os serviços relacionados no PLC 1/09.
Saúde de atletas e juízes
Medidas de proteção à saúde de atletas e de juízes de competições esportivas também serão analisadas pela comissão. O foco é o PLC 122/08, que altera a Lei Pelé (Lei 9.615/98) para obrigar as entidades de prática desportiva, profissional ou amadora, a realizar exames de saúde periódicos em seus atletas e as entidades organizadoras de competições desportivas profissionais a manter equipes para atendimento de emergência a atletas e juízes. A proposta recebeu parecer pela aprovação do relator, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), e será examinada posteriormente pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).
Rentabilidade do FGTS
Mudanças no cálculo da rentabilidade dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também serão discutidas pela CAS. Parecer do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) é favorável à aprovação de projeto de lei do Senado (PLS 301/08) nesse sentido, apresentado pelo senador César Borges (PR-BA). O parlamentar pela Bahia sugere que a rentabilidade das aplicações do FGTS seja repartida de forma igualitária para remunerar as contas vinculadas do fundo e cobrir seus custos de manutenção. A divisão desses rendimentos também deverá levar em conta a formação de reserva técnica para cobrir gastos eventuais não previstos, cabendo à Caixa Econômica arcar com o risco da oferta de crédito.
Hospitais cariocas
02/06/2009 - Valor Econômico
O Ministério da Saúde anunciou ontem um pacote de R$ 400 milhões para melhoria dos hospitais federais do Rio. Desse total, R$ 200 milhões serão investidos em obras prediais e aquisição de equipamentos médicos. O pacote prevê ainda que os hospitais filantrópicos Albert Einstein, Oswaldo Cruz, Samaritano, Sírio-Libanês, HCor e Moinhos de Vento vão investir outros R$ 43 milhões para ajudar na gestão dos hospitais públicos, conforme antecipou o Valor. Os outros R$ 157 milhões serão revertidos para as áreas de tecnologia e logística e contratação de novos gestores.
ODONTOPREV
02/06/2009 - Revista Istoé Dinheiro
Odontoprev, rede de assistência odontológica brasileira, está a caminho do México. A companhia de Randal Zanetti acertou uma joint venture com a Iké, responsável pelos cuidados bucais de 15 milhões de mexicanos. O investimento é de US$ 1 milhão por 40% do negócio. A Odontoprev levará seu conhecimento em planos odontológicos enquanto a Iké abrirá sua carteira de clientes. No relatório da Lopes Filho, o destaque é justamente para as formas de crescimento da Odontoprev, que estão direcionadas à compra ou à parceria com empresas que possibilitam sinergia de negócios. A Lopes Filho ainda mensurou os impactos da joint venture nas vendas e no valor de mercado da empresa. O preço-alvo da consultoria para o papel é de R$ 30
Risco de gripe suína deixa creche fechada por dez dias
02/06/2009 - O Estado de S. Paulo
Uma creche que atende 30 crianças em Campinas (a 90 km de São Paulo) ficará fechada por precaução durante dez dias em razão da confirmação de que uma funcionária do local está com gripe suína. A medida, adotada pela primeira vez no Brasil desde que os casos começaram a aparecer, foi anunciada ontem à noite pelo Ministério da Saúde. Não havia, porém, evidência de que as crianças tenham sido contaminadas. Elas estão sendo monitoradas.
A funcionária, que passa bem, contraiu a doença de um homem de Vinhedo que chegou doente do exterior. O nome da creche não foi divulgado. "A interrupção das aulas é parte do controle estratégico da doença", disse o secretário da Saúde de Campinas, José Francisco Kerr Saraiva. Em nota, o ministério enfatizou que não há evidência de transmissão sustentável do vírus A(H1N1) no País, isto é, não há surto ou epidemia da doença. No total, 21 casos foram confirmados no Brasil, principalmente em São Paulo (9) e no Rio de Janeiro (5). No total, sete casos são de transmissão autóctone (ocorrida dentro do País).
Especialistas ouvidos pela reportagem consideraram a medida correta e afirmaram que, antes de a mulher apresentar sintomas, não seria adequado impedir sua ida ao trabalho. Porém, destacaram que crianças, se contaminadas, são um dos principais fatores que contribuem para a disseminação do vírus da gripe.
"Não se pode segurar os contatos, se eles não têm sintomas. Mas a amplificação (da doença) é muito grande se o vírus é passado para crianças, não se sabe bem o porquê. Uma das hipóteses é de que a criança não tem histórico de tantas gripes. Nela, a quantidade de vírus no organismo é maior, então ela dissemina mais a infecção", diz o infectologista Celso Granato, da Universidade Federal de São Paulo.
O Ministério da Saúde também informou ontem que já discute com os governos estaduais internar somente as pessoas com suspeita de gripe suína que estejam em estado grave ou que sejam de grupos de risco, como crianças. Atualmente, mesmo os casos suspeitos que têm sintomas leves são internados.
De acordo com a ideia em discussão, os suspeitos leves poderiam ser acompanhados em casa, como ocorre hoje com casos em monitoramento. A mudança serviria para adequar a oferta de leitos a um eventual aumento de casos no Brasil.
"Defendi desde o início esta medida. O tratamento deve ser igual ao de outras doenças infecciosas. Internação só para casos graves", afirma o diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, David Uip. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, deverá fazer uma visita ao local hoje. "A expectativa é de que o ministério mude o critério ainda hoje", disse Uip.
SAIBA MAIS
- A influenza A(H1N1) é uma doença respiratória aguda (gripe), causada por um novo subtipo do vírus.
- A transmissão ocorre de pessoa a pessoa, principalmente por meio de tosse ou espirro e de contato com secreções respiratórias de infectados.
- Os sintomas são febre alta e repentina (maior que 38°C) e tosse. Pode ocorrer dor de cabeça, dores musculares e nas articulações e dificuldade respiratória.
- Se a pessoa apresenta sintomas, deve permanecer em repouso e tomar bastante líquido. Contato com outras pessoas deve ser evitado. Ligue para um médico ou unidade de saúde. Caso tenha de se deslocar, cubra o nariz e a boca.
- Como ainda não há vacina, evite contato com pessoas com febre ou tosse; lave as mãos frequentemente; alimente-se bem.
- Para o tratamento, há um antiviral (fosfato de oseltamivir) disponível na rede pública, mas que só faz efeito se tomado até 48 horas após os sintomas.
Exame em UTI descarta bactéria resistente
02/06/2009 - O Estado de S. Paulo
A Santa Casa de Londrina (PR) descartou ontem, por meio de exames clínicos realizados no final de semana em 16 pacientes, a presença da mesma bactéria Enterobacter que provocou a interdição do Hospital Universitário local há duas semanas.
Havia a suspeita de que um paciente de 66 anos, que permanece internado na Santa Casa, estivesse contaminado com a bactéria Klebsiella Spp ou com a tipo Kpc, ambas resistentes a vários antibióticos, mas a hipótese foi descartada. Apesar disso, a suspeita provocou o isolamento de duas UTIs da Santa Casa e a interdição de 16 leitos. Segundo o médico Marcos Tanita, coordenador do Serviço de Infecção Hospitalar da Santa Casa, a bactéria que o paciente tem é mais comum. "Realizamos esses exames como uma medida preventiva, mas, agora que temos os resultados, vamos seguir com o tratamento normalmente." Mais 15 pacientes foram transferidos para outra ala. Para evitar novas suspeitas, as UTIs são desinfectadas.
CAMPINAS
Dois recém-nascidos tiveram alta da UTI neonatal do Hospital da Mulher da Unicamp no fim de semana. Desde o dia 21, quando foi diagnosticado o terceiro caso de contaminação pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e classificado o surto na unidade, estão suspensas as internações de bebês. Outras 12 crianças contaminadas permanecem isoladas, em estado clínico estável.
Mosquitos ameaçam fauna de Galápagos
02/06/2009 - O Estado de S. Paulo
Tartarugas gigantes e outras espécies das Ilhas Galápagos, na costa do Equador, enfrentam perigo de contrair novas doenças por causa da preferência de um mosquito local pelo sangue de répteis sobre o de mamíferos, dizem cientistas britânicos em artigo na revista PNAS. Segundo eles, a variedade insular do Aedes taeniorhynchus pode espalhar pelo arquipélago doenças como malária e febre do Nilo Ocidental.
Artigo: Pandemia de influenza: reflexões iniciais
02/06/2009 - Folha de S. Paulo
NO INÍCIO deste ano, em algum lugar do México, emergiu um novo vírus de influenza, o A(H1N1), que ameaça o mundo com a possibilidade de uma pandemia. Ainda que o conceito refira-se exclusivamente à dispersão geográfica, e não à severidade da doença, sua utilização remete às repercussões dramáticas produzidas pela Gripe Espanhola.
Na verdade, essa pandemia ocorrida em 1918 foi absolutamente singular, em termos de gravidade e de letalidade, quando comparada com as outras pandemias que a antecederam ou sucederam. Mas o fato é que não há como predizer quando ou com que grau de gravidade ocorrerá uma pandemia de influenza.
Encontramo-nos agora na situação epidemiológica mais próxima a uma pandemia desde que a última ocorreu, em 1968 -a chamada Gripe de Hong Kong.
Tecnicamente, só é necessário confirmar que o vírus estabeleceu transmissão sustentável em pelo menos um país de outro continente, pois, nas Américas, essa condição já foi alcançada: México, EUA e Canadá. Com as tendências observadas até agora, sobretudo na Espanha, no Reino Unido, no Japão e na Austrália, esse nível está sendo rapidamente alcançado.
Algumas reflexões sobre os cenários atuais e futuros podem auxiliar na preparação dos países para enfrentar esse desafio.
Nos últimos cinco anos, o mundo vinha se preparando para uma pandemia pelo vírus A(H5N1), o da Gripe Aviária, que tem limitada capacidade de transmissão, mas apresenta letalidade alta entre os poucos casos que produz. O A(H1N1), ao contrário, transmite-se rapidamente, e a maioria dos casos são leves, com sintomas semelhantes ao da gripe sazonal, o que dificulta sua detecção.
Assim, é urgente fortalecer a vigilância epidemiológica em cada país, para identificar os casos importados e seus contatos num primeiro momento; perceber rapidamente quando a transmissão comunitária se estabelecer; e identificar possíveis mudanças no comportamento do vírus.
Essas informações são fundamentais para definir as distintas estratégias e medidas a serem tomadas.
A chegada do inverno no hemisfério Sul, quando se intensifica a transmissão dos vírus da influenza, pode trazer problemas aos serviços de saúde, com a possível ocorrência de uma dupla carga de morbidade. Os casos complicados da gripe sazonal podem somar-se aos produzidos pelo novo vírus, sobrecarregando emergências, respiradores e UTIs.
É urgente atualizar os planos de contingência para enfrentar esse cenário possível, por meio de estratégias para suspender procedimentos eletivos; definição de fluxo de pacientes; protocolos clínicos bem divulgados entre profissionais de saúde; e acesso aos medicamentos.
Os casos graves que estão sendo observados apresentam algumas características comuns, como a presença de diabetes, enfisema, asma e outras doenças crônicas, ou determinadas condições, como a gravidez. Os que faleceram, em geral, demoraram a ser hospitalizados e a receber o tratamento adequado com os antivirais.
Outra questão importante são as medidas de saúde pública, um terreno no qual, infelizmente, há vários exemplos de medidas adotadas sem nenhuma evidência de que possam produzir benefícios reais. Têm apenas o propósito de fornecer à população uma falsa sensação de segurança.
Entre elas estão a suspensão de voos, que não impediu a ocorrência de casos em Cuba, na Argentina e na China. Ou a distribuição massiva de máscaras, que não impediu a rápida disseminação no México.
A comunicação apropriada, simples e baseada em boa ciência, é a melhor arma contra a natural angústia de buscar proteção que todos têm e que, equivocadamente, chamamos de pânico ou alarmismo.
Esquecer as máscaras e lembrar de lavar as mãos várias vezes ao dia, proteger a tosse e o espirro, de preferência com lenço descartável, e não comparecer ao trabalho ou à escola quando com sintomas. Tais medidas, ao lado da suspensão localizada de aulas em escolas onde se registram surtos, têm sido, até agora, as mais efetivas.
Como é impossível prever o comportamento futuro do vírus, torçamos pelo melhor, mas nos preparemos para o pior. As ações implantadas com base racional não serão desperdiçadas, mesmo que se mantenha o atual cenário. Fortalecer a vigilância epidemiológica, a capacidade dos laboratórios de saúde pública, a preparação dos serviços de saúde e estruturar uma boa comunicação de risco são medidas que servirão para enfrentar essa e qualquer outra emergência de saúde pública que viermos a enfrentar no futuro.
JARBAS BARBOSA DA SILVA JR., 52, médico epidemiologista, mestre e doutor em saúde coletiva pela Unicamp, é gerente de Vigilância em Saúde, Prevenção e Controle de Doenças da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde em Washington, DC (EUA).
Funcionário de creche em Campinas é 21º doente do país
02/06/2009 - Folha de S. Paulo
O Ministério da Saúde confirmou ontem à tarde o 21º caso de infecção pela gripe A (mais conhecida como gripe suína) no Brasil. O novo caso, registrado em Campinas (SP), é 12º em menos de uma semana no país.
O doente, uma mulher, segundo nota do ministério, manteve contato com uma pessoa que havia contraído a gripe A no exterior, está internado e passa bem.
A paciente trabalha em uma creche que atende cerca de 30 crianças em Campinas. Alunos e funcionários da creche e pessoas que mantiveram contato com eles estão sendo monitorados.
Em decisão conjunta, ministério, Secretaria de Estado da Saúde e Prefeitura de Campinas decidiram suspender as atividades da creche durante dez dias, período em que ocorre a manifestação de sintomas da doença, após a contaminação.
Até agora, foram confirmados casos da gripe nos seguintes Estados: São Paulo (9), Rio de Janeiro (5), Santa Catarina (4), Minas Gerais (1), Rio Grande do Sul (1) e Tocantins (1). Do total, sete foram contraídos no Brasil.
"A transmissão no Brasil é limitada e não há evidência de sustentabilidade da transmissão do vírus de pessoa para pessoa", afirma nota divulgada pelo ministério.
Professor é educado para identificar esquizofrenia
02/06/2009 - Folha de S. Paulo
Programa foi inspirado em outras iniciativas de sucesso no exterior; 300 estudantes da zona sul de SP passam por avaliações médicas
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) criou um programa em que médicos e outros profissionais da saúde vão até as escolas ensinar os professores a identificar alunos com suspeita de doenças psiquiátricas graves, como a esquizofrenia. O foco são estudantes entre 11 e 18 anos de 40 escolas públicas de São Paulo.
Depois de identificados, os alunos seguem para o Proesq (projeto de esquizofrenia da Unifesp) para confirmar o diagnóstico -que envolve entrevistas com os jovens e seus familiares e exames de neuroimagem. No momento, 300 estudantes da zona sul de São Paulo passam por avaliações.
O programa foi inspirado em outras iniciativas de sucesso em países como EUA, Inglaterra e Alemanha. "A meta é a detecção precoce. Os professores podem ajudar muito na identificação de sinais sugestivos [da doença]. Às vezes, os adolescentes passam mais tempo com eles do que com seus pais", diz o psiquiatra Rodrigo Bressan, professor da Unifesp e coordenador do Proesq.
Entre os sinais investigados nos alunos estão queda no rendimento escolar, relatos de perseguição ou de ouvir vozes, agressividade e quadros depressivos e de isolamento.
Em geral, a esquizofrenia começa na adolescência ou no início da vida adulta -90% dos casos são diagnosticados entre 15 e 25 anos. Estima-se que 1,8 milhão de brasileiros (1% da população) tenham a doença.
A esquizofrenia preocupa os médicos por várias razões, entre elas, a dificuldade do diagnóstico precoce, o estigma e a não adesão à terapia.
Uma recente revisão de estudos feita pelo Instituto de Psiquiatria da USP mostrou que metade dos portadores de esquizofrenia não adere ao tratamento, o que aumenta em 88% as chances de recaída (surtos).
"Cada surto significa perda de neurônios e declínio mais rápido do paciente. Quanto mais surtos, maior o comprometimento das funções psíquicas e dos danos cerebrais", diz o psiquiatra Hélio Elkis, coordenador do projeto de esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de SP.
Resistência aos remédios
As recaídas também são causadas por refratariedade, quando o doente desenvolve resistência aos antipsicóticos convencionais -drogas que agem nos receptores neuronais de duas substâncias produzidas no cérebro, a dopamina e a serotonina. De 30% a 40% das pessoas com esquizofrenia podem apresentar o problema.
Nesses casos, é preciso associar à terapia outras drogas antipsicóticas. Mas também há entraves. Uma pesquisa da Unifesp mostrou que 80% dos pacientes refratários às drogas convencionais, tratados em um Centro de Atenção Psicossocial de São Paulo, não eram reconhecidos como tal e muito menos tratados adequadamente.
Segundo Bressan, os médicos tinham medo em medicá-los com a clozapina (antipsicótico usado em casos refratários e fornecido gratuitamente pelo governo do Estado). "O remédio tem como efeito colateral a granulocitose [queda dos glóbulos brancos do sangue]. Mas o risco é mínimo quando os doentes são acompanhados de forma adequada. Também falta treinamento para os profissionais da saúde."
Kiwok vai lançar tecnologia para avaliar cardíacos
02/06/2009 - Valor Econômico
Uma nova tecnologia sueca de monitoramento médico está prestes a desembarcar no Brasil. Lançado na Europa em 2006, o BodyKom, sistema criado pela Kiwok, permite que médicos e enfermeiros possam acompanhar o estado de saúde de pacientes cardíacos em tempo real, independentemente da localização geográfica. "Estamos em negociação com dois hospitais em São Paulo", revela ao Valor, de Estocolmo, o diretor de vendas e um dos fundadores da Kiwok, Björn Söderberg.
Segundo o executivo, o produto não exige nenhuma mudança nas rotinas médicas dos hospitais. O equipamento é composto de um kit de eletrodos, um pequeno sensor portátil e um telefone celular. Os dados captados pelos eletrodos grudados ao corpo do paciente passam para o sensor e são transmitidos ao aparelho móvel. Depois, aproveitando a rede celular, os registros, inclusive eletrocardiogramas, chegam ao hospital. "A vantagem é que o usuário pode estar em qualquer lugar, até jogando golfe", diz Söderberg, que teve a idéia de criar o produto depois de descobrir que tinha problemas de saúde.
O BodyKom é usado para acompanhar o tratamento de pacientes com problemas cardíacos, pressão alta e diabetes, categorias que dominam pelo menos 60% dos orçamentos hospitalares. Segundo a Kiwok, o equipamento pode gerar uma onda de economia nas instituições, ao evitar a ocupação de leitos para a observação de pacientes. Também promete contribuir para o aumento de qualidade de vida dos doentes. "As pessoas podem ser monitoradas em casa ou no trabalho."
Conforme o diretor, a novidade também pode reduzir o tempo de diagnóstico de problemas cardíacos, diminuir o número de visitas dos pacientes aos centros médicos e fazer avaliações em tempo real que podem ajudar no tratamento. "A ideia é fazer com que o acompanhamento hospitalar seja ainda mais personalizado e que ainda ajude os médicos a diagnosticar eventos mais rapidamente."
Sediada na capital sueca, a Kiwok foi fundada em 2003 e tem apenas dez funcionários. É a primeira vez que a companhia, que faturou US$ 900 mil em 2008, vê o Brasil como um mercado em potencial. "O país pode ser a nossa porta de entrada para a América do Sul", revela Söderberg.
O plano da empresa é iniciar as operações brasileiras a partir de dois grandes hospitais em São Paulo, com o apoio de parceiros internacionais, como a Ericsson, do setor de telecomunicações.
Com o ingresso de novos mercados de atuação, a projeção para 2009 é faturar US$ 1,3 milhão, em todo o mundo. Atualmente, a Kiwok tem oito grandes clientes na Suécia, Noruega e Índia. No ano passado, mais de 200 pacientes usaram o kit de monitoramento na região da Escandinávia. Até dezembro, a meta é entregar 300 unidades.
No início do ano, o instituto de pesquisas Gartner, especializado em Tecnologia da Informação, incluiu a empresa em uma lista de fabricantes de tecnologia que devem ser observados por organizações da área de saúde, por conta do ineditismo de seus projetos. Segundo Söderberg, nem a crise mundial tem atrapalhado as vendas. "Ao contrário, a recessão nos ajuda a mostrar aos diretores de hospitais a necessidade de adotar soluções com um melhor custo-benefício."
Estimativas feitas pela empresa garantem que o equipamento pode cortar mais da metade das despesas decorrentes do monitoramento presencial.
Os primeiros testes do produto foram feitos a partir de 2005, com 80 pacientes no Karolinska University Hospital, um dos mais importantes da Suécia, com 1,6 mil leitos e conhecido por suas atividades de pesquisa. Os cientistas do centro médico também identificaram novas possibilidades de estudo em larga escala com o uso do equipamento. Uma das linhas de pesquisa de maior interesse é a análise dos problemas cardíacos que acometem as mulheres.
Além de parcerias hospitalares, a Kiwok desenvolve acordos de cooperação com grandes empresas da área de tecnologia e telecomunicações na Europa, como a operadora nórdica TeliaSonera e a HP, que já demonstrou o sistema em 14 países. Junto com companhias como a Cisco e a Microsoft, a Kiwok foi incluída em um centro de tecnologia em saúde bancado pela HP, em Oslo, na Noruega. Aberto no início de maio, o showroom permanente faz parte da estratégia de expansão da marca na área da saúde, no mercado europeu.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares ainda são a primeira causa de morte no mundo: o número de vítimas chega a 17,5 milhões de pessoas por ano e 80% dos óbitos ocorrem em países em desenvolvimento. No Brasil, estima-se que os problemas relacionados ao coração matam 300 mil pessoas, anualmente.
A escalada da gripe suína
02/06/2009 - Jornal do Brasil - Rio de Janeiro
Em menos de uma semana, o número de registros confirmados de gripe suína no Brasil mais que dobrou. Eram nove casos registrados de 6 de maio até a última quarta-feira, dia 27. Desde então, foram contabilizadas mais 12 ocorrências, elevando o total para 21. A última confirmação foi feita ontem. Trata-se de uma pessoa que trabalha numa creche em Campinas que tem 30 crianças. E é mais um caso autóctone – o sétimo já.
– Esta escalada já era esperada – diz Alberto Chebabo, infectologista da UFRJ.
Segundo ele, isto se deve pelo fato de ser muito grande o número de pessoas que chegam todos os dias dos Estados Unidos. São 25 voos diários vindos dos EUA para o Brasil. E a doença tem avançado com rapidez nos EUA. Ontem, as autoridades sanitárias de lá informaram que o vírus H1N1 está circulando em todos os 50 estados americanos.
Procedência
Não por caso, dos 21 casos registrados no Brasil, dez tiveram procedência dos EUA.
– Se crescer o fluxo de pessoas entre o Brasil e os Estados Unidos, poderá aumentar a dificuldade de fazer o bloqueio da doença nos aeroportos – diz o médico da UFRJ.
Mas o casos confirmados no Brasil não se restringem a pessoas infectadas no exterior. Das 21 ocorrências, sete são autóctones – o que, aliás, é mais problemático, pois é um indício de que a doença circula no país. É o caso do paciente que teve o diagnóstico confirmado ontem em Campinas, que pegou a doença de outro que veio dos EUA. Outros três episódios autóctones ocorreram no Rio, dois em Santa Catarina e um em São Paulo.
Para o Ministério da Saúde, como se tratam de contágios de pessoas muito próximas de quem pegou a doença no exterior, não há evidência de transmissão sustentada.
Segundo a secretaria municipal de Saúde do Rio, o controle das pessoas que tiveram contato com os infectados no exterior é muito rigoroso. Eles são observados por dez dias em quarentena domiciliar, informou a secretaria.
O presidente da Sociedade Brasileira, Juvencio Furtado, porém, não descarta que a transmissão possa aumentar:
– Não há como dizer que não vai haver transmissão local em maior escala. Talvez ocorra um surto, principalmente por causa da chegada do inverno no Hemisfério Sul.
Na América do Sul, o número de casos tem aumentado. A Argentina por exemplo tem 115 registros e o Chile, 276.
– É um reflexo da chegada da temporada do frio. Algo semelhante pode ocorrer no Brasil – diz Chebabo, da UFRJ.
Pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem revelou que 97,4% dos entrevistados já ouviu falar da gripe suína: 61% avaliam que o Brasil está preparado para combater a doença. Já para 33,5%, o país não está pronto.
O vírus já foi diagnosticado em 17.564 pessoas de 64 países, matando 115 delas.
Projeto reforça atendimento em saúde
02/06/2009 - Zero Hora
Para melhorar o atendimento em postos de saúde e hospitais gaúchos no período de frio, quando se ampliam as internações, a Secretaria Estadual da Saúde lançou ontem o programa Inverno Gaúcho.
A estratégia inclui treinamento regionalizado para pelo menos um técnico de cada município que aderir à iniciativa, a realização de ações de educação em saúde com foco nas doenças de inverno e a indicação de medicamentos para compor kit básico para o tratamento das Infecções Respiratórias Agudas (IRAs) na população de zero a cinco anos e 60 anos e mais.
As doenças do aparelho respiratório representam o quarto grupo de causas de mortalidade do Estado e o primeiro grupo de causas de internações. No inverno, o número de internações por IRAs são 84,7% superior à média dos demais meses do ano, com consequente risco de aumento da mortalidade em menores de 5 anos em decorrência de doenças respiratórias agudas.
Entre as doenças, a pneumonia é a de maior frequência e ocorre principalmente em menores de cinco anos e maiores de 60 anos, como complicação de infecções virais, cuja incidência é maior nos meses de inverno.
O apoio
Algumas ações com as quais o governo gaúcho ajudará os municípios:
Aquelas cidades que ampliarem o horário de atendimento nas unidades básicas de saúde (UBS) para o terceiro turno (até as 22h) receberão o valor de R$ 3 mil mensais.
Outra opção prevê R$ 2 mil por mês para os municípios que já têm UBSs com terceiro turno e pretendam ampliar o número de funcionários
A terceira proposta prevê ampliação da cota de exames em até 10% do teto físico-financeiro ambulatorial, para os serviços credenciados sob gestão estadual, desde que haja capacitação de funcionários.
As áreas contempladas são as de radiologia, em especial Raio X de tórax, e análises clínicas. Os municípios que ampliarem tanto horário de atendimento como recursos humanos terão direito à ampliação da cota de exames.
Coluna: O drama da doença mental
02/06/2009 - Zero Hora
Ferreira Gullar, de quem sou amigo há muito tempo, é um grande poeta, e um grande ser humano, uma pessoa de vida difícil e sofrida. Perseguido pela ditadura, passou longo tempo no exílio, e, como se isso não bastasse, tem um filho esquizofrênico vivendo num sítio em Pernambuco; um outro filho, igualmente esquizofrênico, morreu de cirrose. Baseado em sua dolorosa experiência, Gullar escreveu em sua coluna da Folha de S. Paulo três artigos protestando contra a falta de vagas hospitalares para doentes mentais. “Ninguém aguenta uma pessoa delirante ou agressiva dentro de casa”, desabafou. A repercussão foi extraordinária, com centenas de leitores manifestando-se, e muitas entrevistas, incluindo matéria de capa na revista Época do último fim de semana. Ferreira Gullar trouxe à tona um problema real, candente e polêmico.
A raiz da polêmica está na palavra manicômio. Uma instituição que nasce com a modernidade. Na Idade Média, o louquinho da aldeia era tolerado e pessoas que ouviam vozes poderiam ser consideradas santas. Mas numa sociedade baseada na produção e na competição o maluco é um mau exemplo: não trabalha. Surgem então os manicômios. Estabelecimentos sombrios, em que os doentes eram tratados como animais e inclusive acorrentados, coisa que na França só terminou com a Revolução de 1789, graças à iniciativa do médico e membro do comitê revolucionário Philippe Pinel. Sem ir muito longe: o nosso São Pedro chegou a ter quase 6 mil doentes internados, cinco em cada leito. Em meados do século 20 uma nova e importante mudança ocorreu, em parte como resultado da luta pelos direitos humanos a partir da II Guerra, mas também por causa do extraordinário progresso médico, com advento de novos e potentes medicamentos para a doença mental, e a valorização do tratamento ambulatorial e comunitário.
No Brasil o processo de mudança foi conduzido pelo Movimento Antimanicomial, baseado na experiência italiana de Franco Basaglia, e que aqui teve como líderes o sociólogo Paulo Delgado (depois deputado) e o psiquiatra Paulo Amarante, autor de uma história da reforma psiquiátrica. A reforma, no Brasil e em outros países, foi grande, manifestando-se sobretudo na redução dos leitos psiquiátricos. Em Massachusetts, onde fiz um estágio de saúde pública nos anos 80, o número tinha baixado de 8 mil leitos para cerca de 400. No Brasil, a diretriz da reforma, dentro do SUS, resultou da Lei 10.216 de 2001 (Lei Paulo Delgado) que transfere o foco do tratamento do hospital, para uma rede ambulatorial e comunitária de atenção psicossocial. Entre os anos de 2003 e 2005 foram desativados 6.227 leitos. A maior parte deles estava em hospitais privados, credenciados pelo Ministério da Saúde, o que gerava uma despesa não pequena (e lucros idem para os proprietários de hospital) .
E aí voltamos aos Estados Unidos. Lá verificou-se que a diminuição dos leitos (o déficit hoje é de cerca de 100 mil vagas hospitalares) não resolveu o problema. Muitos pacientes não tinham para onde ir e viraram “homeless”, pessoas que vagueiam pelas ruas, onde são assaltados e maltratados, isto sem falar nos casos graves e urgentes que, como menciona Ferreira Gullar, exigem tratamento hospitalar. Um problema que tem chamado a atenção de, entre outros, Germano Bonow, veterano sanitarista, ex-secretário da Saúde do RS e deputado federal. A pergunta que emerge é: terá o pêndulo oscilado para o lado oposto? Não há dúvida de que a reforma psiquiátrica era urgente e necessária no Brasil, além de representar uma medida de justiça social; agora, porém, precisamos completar de forma digna e racional o que foi começado, e para isso o alerta de Ferreira Gullar representa uma significativa contribuição. A propósito, ele faz uma observação que vem apoiar a campanha anti-crack da RBS. “A doença de meus filhos foi precipitada pela droga” diz ele. Por causa da droga, e como muitos pais, Ferreira Gullar não valorizou o comportamento anormal dos filhos adolescentes. Uma triste lição que, como o problema da doença mental, precisa ser levada em conta.
A música do Cérebro
02/06/2009 - Revista Istoé
Em princípio, pode parecer estranho. Mas os cientistas estão descobrindo que todo cérebro tem sua própria trilha musical. É um som único, individual e produzido de acordo com a situação vivida. Quando se enxerga algo, ele tem determinadas "notas". Quando se está tenso, apresenta outras, diferentes. A descoberta desta "música" cerebral poderá ajudar no tratamento de problemas como o stress e a insônia e no entendimento de doenças como a epilepsia.
O som do cérebro é formado a partir das oscilações nos sinais elétricos emitidos pelos neurônios. Um dos grupos que estudam o tema é o de cientistas do Departamento de Ciência e Tecnologia de Segurança Nacional, órgão do governo americano. Eles estão conduzindo um trabalho interessante. Primeiro, gravaram as ondas elétricas produzidas por bombeiros em situação de alerta e de relaxamento. Depois, transformaram os sinais em notas musicais e criaram duas composições, obedecendo ao ritmo do cérebro para cada circunstância.
As músicas têm entre dois e seis minutos e, na sua maioria, são executadas ao piano. "As relaxantes se parecem com uma sonata de Chopin", diz Robert Burns, coordenador do trabalho. "E as indicadas para alerta têm melodias que lembram Mozart", conta. Os voluntários foram instruídos a escutar as canções de acordo com a necessidade. Não há resultados conclusivos, mas os pesquisadores acreditam que as melodias podem acalmar ou melhorar a concentração dos profissionais.
Na Inglaterra, cientistas da Universidade de Cardiff estão investigando a relação do ritmo cerebral observado quando se enxerga algo com a substância Gaba. Eles descobriram que, quanto maior sua concentração, mais altas as "notas musicais" fabricadas pelo cérebro. Como o composto está associado a doenças como esquizofrenia e epilepsia, eles acreditam que a informação pode contribuir para a melhor compreensão das enfermidades. "Com essa informação, esperamos entender melhor a ação de substâncias como o Gaba", explicou Krish Singh, autor da pesquisa.
Como escolher o seu implante de silicone
02/06/2009 - Revista Istoé
Aumentar o volume dos seios e modificar seu formato é uma mudança cada vez mais cobiçada pelas mulheres. Essa tendência foi confirmada em uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). O estudo mostrou que o aumento e a redução de mamas ultrapassaram as lipo aspirações. No ano passado, foram realizadas 151 mil operações destes gêneros, contra 91 mil lipos. Com o procedimento em alta, multiplicam-se os modelos de implantes de silicone - uma das formas de modificar as mamas - e as histórias de sucesso e de insatisfação. Por isso, especialistas estão empenhados em informar alguns critérios que ajudam na escolha da prótese, reduzindo a chance de o resultado da cirurgia ficar abaixo da expectativa da mulher. "É comum a paciente querer colocar um volume específico de silicone porque a amiga usou e o resultado ficou bom", diz o cirurgião plástico Alexandre Senra, de São Paulo, um dos mais requisitados para esse procedimento. "O primeiro passo é explicar que cada caso é único e a escolha depende de medidas como o volume e formato da mama para obter um conjunto harmônico."
Há desde o formato redondo até a prótese cônica, para deixar os seios empinados, lançada em 2008 no Brasil pela empresa Silimed. "Também existem os modelos feitos sob encomenda", diz Carol Genarri, da Import Medic, empresa que comercializa próteses. Preenchidas com quantidades que variam dos 60 mililitros aos 800 mililitros, as atuais são feitas com uma tecnologia que lhes confere maior segurança, como o recheio de silicone coesivo. É um gel em que as moléculas se entrelaçam e não escorrem caso ocorra uma ruptura do implante - risco que os especialistas afirmam ser mínino hoje.
Nas clínicas em que a avaliação da paciente é conduzida com a delicadeza que se exige para modificar a aparência de alguém, as decisões são tomadas depois de duas ou três consultas. Um dos aspectos que influenciam bastante é o momento de vida da mulher. As que amamentaram, por exemplo, podem ter a Nas clínicas em que a avaliação da paciente é conduzida com a delicadeza que se exige para modificar a aparência de alguém, as decisões são tomadas depois de duas ou três consultas. Um dos aspectos que influenciam bastante é o momento de vida da mulher. As que amamentaram, por exemplo, podem ter a
Outra questão a ser esclarecida é a duração do benefício. Em geral, os implantes duram entre 15 e 20 anos. Depois, é necessário trocá-lo.
A paciente também deve estar ciente de que o procedimento requer exames pré-operatórios, deve ser feito em hospitais com a presença de um anestesista e implica período de recuperação de cerca de três semanas. "O profissional que opera tem de ser especialista em cirurgia plástica. Na maioria dos casos de erros ou insatisfação da paciente, a pessoa foi operada por alguém que não era especialista", diz José Tariki, presidente da SBCP.
Quando o roteiro é seguido, a chance de felicidade é maior. Foi o que aconteceu com a estudante Cynthia Teixeira, 23 anos. Ela aumentou os seios há um ano, depois de ter recebido uma boa orientação.
"Eu acho que o aspecto está natural", diz. Quem fica insatisfeita só poderá fazer nova cirurgia cerca de seis meses depois.
O alívio da rinite
02/06/2009 - Revista Istoé
Para cerca de 47 milhões de brasileiros que sofrem de rinite alérgica, a rotina pode se tornar mais complicada do que o normal. As crises da doença, caracterizadas por espirros, coriza, olhos lacrimejantes e coceira, atrapalham o sono e o rendimento no trabalho e na escola. Uma pesquisa realizada em oito países da América Latina - incluindo 408 brasileiros - mostrou que 43% dos adultos entrevistados no País apresentam esses sintomas o ano inteiro e 55% os manifestam de forma intermitente. O grau de desconforto foi apontado como intolerável por 39% dos participantes, resultando em cansaço, irritação, ansiedade e até mesmo em depressão leve. Três novidades, contudo, prometem dar alívio aos pacientes. São medicações que acabam de chegar ao mercado nacional com propostas diferentes de ação e que, na avaliação dos especialistas, podem melhorar a estratégia de prevenção e de tratamento da enfermidade.
A rinite alérgica é uma inflamação da mucosa nasal causada pela exposição a alguma substância que provoca alergia (alérgeno). No Brasil, o agente mais comum responsável pelo desencadeamento das crises são os ácaros. Quando exposto a algum alérgeno, o corpo produz uma reação de defesa exagerada com o objetivo de impedir que a substância estranha chegue aos pulmões. Esse excesso de resposta do sistema imunológico gera muito mais muco, provocando espirros, coriza e obstrução do nariz. Em alguns casos também há coceira nos olhos e nos ouvidos e irritação na garganta.
O tratamento se baseia em três pilares: sempre que possível, manter-se afastado de alérgenos mais comuns (estratégia conhecida como higiene ambiental), usar remédios na hora das crises (antialérgicos) e fazer a prevenção. Esta última medida é executada com a utilização de medicamentos à base de corticosteroides.
A primeira novidade contra a doença é o remédio Omnaris. Ele está sendo chamado de droga inteligente: só começa a agir quando entra em contato com as células da mucosa nasal. Essa característica reduz a possibilidade de eventuais efeitos adversos que podem ocorrer quando doses residuais do remédio escorrem pela garganta e chegam ao estômago. "Esta droga acrescenta segurança aos pacientes", afirma o médico João Ferreira de Mello Jr., chefe do Grupo de Alergia em Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Além disso, a medicação apresenta maior concentração de água em relação às células da mucosa nasal, o que facilita sua absorção. A segunda boa nova é o medicamento Avamys. O diferencial do remédio é tratar também as consequências da rinite nos olhos - a alergia causa uma coceira irritante e bastante incômoda para os pacientes.
O tratamento se baseia em três pilares: higiene ambiental, medicações para controlar os sintomas e remédios preventivos
O outro medicamento que acaba de chegar ao mercado brasileiro ajuda a evitar as crises. O Nasaleze é composto por celulose micronizada inerte. Quando aplicada nas narinas, forma uma fina camada de gel, construindo uma barreira mecânica contra tudo o que pode iniciar uma crise. "Dessa maneira, o alérgeno não tem contato com a mucosa nasal", explica Martti Antila, diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, seção São Paulo.
O aperfeiçoamento do controle da doença por meio de opções mais eficazes ajudará pacientes como a fisioterapeuta Adriana Meire da Costa, 28 anos. Ela sofre com as crises desde criança e nem sempre consegue seguir o tratamento preventivo como deveria. "Às vezes, demoro para retornar ao médico e as crises voltam", conta.
HIV de brinquedo, tratamento a sério
02/06/2009 - Revista Istoé
Como explicar às crianças portadoras do HIV que elas têm o vírus da Aids? O assunto, bastante delicado, ganhou uma abordagem lúdica, mas racional, por parte de pesquisadores da Unifesp e do Centro Estadual de Referência e Treinamento em DST/Aids, ambas instituições de São Paulo. Trata-se de uma maleta na qual seringa, microscópio e bolinhas que representam o vírus são peças de brinquedo. Um dos objetivos do kit é levar a criança a não se assustar com a sua condição e, assim, colaborar com o tratamento.
Artigo: Os benefícios da vacina contra gripe
02/06/2009 - Jornal do Commércio
Desde 1999, o Ministério da Saúde implantou a Campanha de Vacinação contra Influenza no Brasil, direcionada para pessoas com 60 anos ou mais. Esta faixa etária foi escolhida por apresentar maior risco de adoecer e morrer em decorrência de complicações respiratórias da gripe.
Além desta população, outros grupos, não abrangidos pela campanha do Ministério da Saúde, também se beneficiam desta vacina. Dentre estes grupos, o que, obviamente, mais se beneficia da vacina contra gripe é o de crianças, principalmente as menores de dois anos de idade. As infecções pelo vírus Influenza são comuns nesta faixa etária, principalmente em crianças que frequentam creches e escolas, onde a circulação do vírus é bastante comum.
Além do desconforto causado pela doença e da criança não poder comparecer à creche ou escola causando prejuízos diretos às crianças e transtornos para os pais ou responsáveis, o risco de complicações nesta faixa etária é muito grande. A otite média aguda é a complicação mais comum, mas a pneumonia viral ou bacteriana também ocorre com certa frequência. A necessidade de hospitalização cresce quanto menor a faixa etária da criança, podendo chegar a 240-700/100.000 crianças em menores de 6 meses. Por isto nos Estados Unidos, além da população idosa, desde 2005 o comitê americano de vacinação recomenda a vacina, prioritariamente para crianças entre seis meses a dois anos de idade.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria também recomenda a vacinação nesta faixa etária, podendo se estender até cinco anos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações.
Indivíduos de qualquer faixa etária, com doenças de base que podem se complicar devido a um quadro gripal, também estão entre os grandes beneficiados da vacina contra gripe. Dentre estes, pacientes com doença pulmonar crônica como asma ou bronquite, cardiopatias crônicas, diabéticos e pacientes com doenças do sistema imunológico, como imunossupressão causada por câncer, quimioterapia ou Aids também devem se vacinar.
Grupos
E indivíduos que não estejam neste grupo de pessoas citados anteriormente devem se vacinar? A resposta é sim, apesar dos riscos de complicações causados pela gripe na população em geral, não sejam tão importantes quanto em idosos, crianças e portadores de doenças especiais, o benefício da vacina também se estende para este grupo, mesmo que em menor grau. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, a vacina contra gripe reduz em 25% o uso de antibióticos e o gasto com medicamentos e entre 33% a 44% a necessidade de atendimento médico.
Além disto, a vacinação reduz em 43% os dias de trabalho perdido devido à doença e suas complicações, fazendo com que muitas empresas ofereçam gratuitamente a vacinação como benefício ao funcionário.
A vacina contra gripe é segura e apresenta eficácia que pode chegar a 90%. Os efeitos colaterais são pouco comuns, podendo ocorrer febre baixa e reações no local da aplicação. Apenas pessoas com alergia grave à proteína do ovo e que apresentaram reações graves a doses anteriores da vacina não devem se vacinar. Para crianças entre seis meses e oito anos que estejam tomando a vacina pela primeira vez, são necessárias duas doses aplicadas com intervalo de um mês. Os demais pacientes, inclusive crianças da faixa etária mencionada que já se vacinaram em anos anteriores, devem tomar apenas uma dose da vacina que deve ser realizada anualmente, já que o vírus sofre mutações. O melhor período para a vacinação é entre fevereiro e maio, antes do início do inverno, período de maior risco de aquisição da gripe. A vacina necessita de 10 a 15 dias para que haja resposta do sistema imune.
Dr. Alberto Chebabo - Médico infectologista da Dasa/Bronstein Medicina Diagnóstica
Exames clínicos cancelados
02/06/2009 - Estado de Minas - Belo Horizonte
Pacientes que precisam do diagnóstico de tumores, funções renais, problemas pulmonares, hepáticos e cardíacos na área de medicina nuclear correm o risco de ficar sem esses procedimentos para o tratamento das doenças. O reator da empresa canadense MDS Nordion em Ontário, responsável pela produção da matéria-prima usada nos exames, foi desativado sexta-feira para conserto de um vazamento. Pelo menos 8 milhões de pessoas em todo o mundo devem ser afetadas. Em Minas, um dos principais laboratórios do estado sente os efeitos da crise e já desmarca análises programadas.
O fornecimento do molibdênio-99, matéria-prima para produção do gerador de tecnécio, um dos elementos radioativos, está suspenso em todo o país. No Brasil, o gerador é produzido unicamente pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), órgão gerenciado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O tecnécio é um fármaco radioativo usado como contraste em exames – a radiação é convertida em imagem luminosa, observada por meio das tomografias.
Cerca de 300 clínicas e hospitais em todo o país recebem o gerador semanalmente. O superintendente do instituto, Nilson Dias Vieira, enviou a todos os clientes uma carta destacando que se trata de uma crise mundial. Ele sugeriu otimização nas marcações de exames, já que o fator tempo é fundamental. O reator canadense é um dos quatro produtores de grandes quantidades de molibdênio destinado aos serviços de medicina nuclear em todo o mundo. Nesse reator, são produzidos mais de 50% do produto que abastece o mundo.
Bélgica, África do Sul e Holanda também produzem o componente, mas em proporções bem menores. O reparo no reator canadense não tem data para ser concluído. O presidente do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Biologia, Medicina Nuclear e Imagem Molecular, Adelanir Antônio Barroso, lembra que ano passado também houve problema com os reatores canadenses (que tem mais de 50 anos) e o recebimento dos insumos foram interrompidos por uma semana.
Na ocasião, um deles ficou inativo e, com apenas um dos equipamentos em funcionamento, a empresa aumentou em 128% o preço do produto para o Brasil, que repassou os custos para os usuários. Os convênios começaram a pagar 32% a mais. “Esse material é responsável por mais de 90% de tudo o que se faz em medicina nuclear. Até a semana passada, o gerador chegou, mas esta semana, não. Temos o suficiente para dois ou três dias no país”, diz
Muita gente vai ficar na fila
02/06/2009 - Estado de Minas - Belo Horizonte
Segundo o médico, um substituto que poderá ser usado apenas para os exames de coração é o tálio 210, que também é importado. O Brasil recebeu apenas 12% do que solicitou à empresa canadense. “O movimento teve de ser reduzido a 12% dos exames. O governo deve tomar uma posição diante dos contratos com a companhia, que deve arrumar uma solução para não nos deixar a zero. E dar prosseguimento rápido ao super-reator”, ressalta. O projeto atenderia interesses médicos e da Marinha e tornaria o país exportador da matéria-prima. O médico, que atende no Hospital Mário Penna e em outras três unidades, destaca que muita gente vai ficar sem atendimento.
O coordenador do Departamento de Medicina Nuclear do Hermes Pardini, José Ribamar Villela, onde são feitos 80 exames por dia, afirma que trabalha com remanescentes e alguns procedimentos já foram desmarcados. “O Brasil não tem estoque, pois a vida útil do material é curta. E o pior é que não sabemos quando tudo voltará ao normal”, diz.
Para ele, já passou da hora de o Brasil começar a produção própria do molibdênio-99. “O país poderia estar nesse esquema há muito tempo. Qualquer convulsão externa implica suspensão das exportações. Em 11 de setembro de 2001, com o fechamento do espaço aéreo por duas semanas, também ficamos sem o produto. O Ministério da Ciência e Tecnologia tem de desenvolver esse ramo, pois tem o domínio da tecnologia atômica. Pacientes que precisam de controle ficam desassistidos, mas procuramos alternativas”, acrescenta.
Malária
02/06/2009 - Estado de Minas - Belo Horizonte
Cientistas internacionais e a Organização Mundial da Saúde (OMS) dizem ter encontrado evidências de que o parasita causador da malária está se tornando resistente às drogas consideradas atualmente mais eficientes contra a doença. Segundo eles, essa resistência, verificada no Oeste do Camboja, precisa ser contida urgentemente para evitar uma catástrofe global. As drogas à base de artemesinina são as mais utilizadas no mundo contra a forma mais comum e mortífera da malária.
Normalmente, esses medicamentos são capazes de eliminar os parasitas da malária do sangue da pessoa infectada num prazo de dois a três dias. Mas agora dois grupos de cientistas, trabalhando em pesquisas separadas, dizem ter encontrado evidências de que a eliminação dos parasitas estaria levando entre quatro e cinco dias entre pacientes na região africana. Esse aumento do prazo para a eficácia da droga seria um sinal do aparecimento de uma resistência ao medicamento. De acordo com a OMS, 1 milhão de pessoas morrem ao ano por causa da malária. Crianças, particularmente na África, estariam sob o maior risco, com a morte de uma criança pela doença a cada 30 segundos.
"Dói internar um filho. Às vezes não há outro jeito"
30/05/2009 - Revista Época
Quando o escritor Ferreira Gullar publicou em 1999 o poema “Internação” (leia ao lado e abaixo), já era um veterano na convivência com doentes mentais. Quem fez a observação sobre o vento foi Paulo, seu filho mais velho, que hoje tem 50 anos. Ele sofre de esquizofrenia, doença caracterizada, entre outras coisas, por dificuldade em distinguir o real do imaginado. Desde os anos 70, Gullar tenta administrar a moléstia. Fazia o mesmo com Marcos, o filho dois anos mais jovem, que também tinha esquizofrenia e morreu de cirrose hepática em 1992. Remédios modernos permitem que pessoas como Paulo passem longos períodos em estado praticamente normal. Sem alucinações, sem agitação, sem agressividade. Mas o tratamento só funciona se o doente tomar os medicamentos antipsicóticos todos os dias e na dose certa. Isso nem sempre acontece. O resultado são os surtos, quando o paciente se torna quase incontrolável. Pode cometer suicídio ou agredir quem está por perto. Nesses momentos, esses doentes costumam precisar de internação. “Dói ter de internar um filho”, diz Gullar, hoje com 78 anos. “Às vezes, não há outro jeito.”
No Brasil, estima-se que haja 17 milhões de pessoas com algum transtorno mental grave – como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo. Em algum momento, eles podem precisar de um hospital psiquiátrico. Encontrar uma vaga, porém, tornou-se uma tarefa difícil.
Nos últimos 20 anos, quase 70% dos leitos psiquiátricos do país foram fechados. Sem conseguir quem os ajude a cuidar dos doentes, pais e irmãos afirmam ter várias dimensões de sua vida pessoal comprometidas, dos compromissos de trabalho às amizades. É o que revela uma pesquisa feita em 2006 em Minas Gerais com 150 famílias com pessoas atendidas nos Centros de Referência em Saúde Mental. Em muitos casos, os doentes em surto fogem sem deixar rastro. Podem acabar embaixo dos viadutos. O aumento da população de rua nas grandes cidades não é fruto exclusivo da desigualdade social. Uma pesquisa feita em 1999 com moradores de rua em Juiz de Fora conclui que 10% deles eram psicóticos sem assistência.
“As famílias, principalmente as que não têm recursos, não têm mais onde pôr seus filhos”, diz Gullar. “Eles viram mendigos loucos, mendigos delirantes que podem agredir alguém. O Ministério da Saúde tem de olhar para isso.” Gullar decidiu expor publicamente um problema que não é só seu. Nas últimas semanas, escreveu três artigos sobre o assunto em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo. “Não pretendo liderar movimento algum. Sou um cidadão que tem uma tribuna e pode falar sobre o que está errado.”
Ele afirmou, no primeiro texto, que a campanha contra a internação de doentes mentais é uma forma de demagogia. Foi o suficiente para fazer eclodir uma controvérsia latente. Nos dias seguintes, dezenas de leitores enviaram cartas ao jornal. Representavam dois grupos. O primeiro, em apoio a Gullar, aponta as razões fisiológicas da doença mental e considera que a internação é um instrumento necessário nos momentos de surto.
O segundo, contra ele, afirma que os doentes devem ser atendidos em Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Nesses locais, o paciente recebe medicação e acompanhamento semanal. A ideia é atendê-lo sem retirá-lo do convívio da família e da comunidade. Para esse grupo, mesmo nos momentos de crise, o doente deve ser atendido nos Caps. Ele passaria alguns dias internado na própria instituição (ou em hospitais comuns, com alas psiquiátricas) e depois voltaria para casa. “O hospital é um lugar de isolamento, funciona como uma prisão. As pessoas vão e não voltam”, diz Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia. “Algumas famílias querem que a pessoa fique internada. É a ideia da instituição como depósito.”
Gullar se ofende com comentários como esse, que ouve desde o final dos anos 80, quando a reforma psiquiátrica que levou à situação atual começou a ser discutida no Brasil. “Essas pessoas não sabem o que é conviver com esquizofrênicos, que muitas vezes ameaçam se matar ou matar alguém. Elas têm a audácia de fingir que amam mais a meus filhos do que eu.”
Os primeiros sinais da doença dos filhos de Gullar surgiram na adolescência, quando os garotos começaram a usar as drogas da moda: cocaína, maconha e LSD. Drogas não causam esquizofrenia. Mas costumam precipitar os sintomas em pessoas que desenvolveriam o transtorno somente mais tarde. As causas da doença ainda são desconhecidas. A principal hipótese é a ação de fatores genéticos e complicações durante a gravidez. Há vários casos de esquizofrenia na família da mulher de Gullar, a atriz Thereza Aragão, morta em 1994. Ele lembra pelo menos três: o avô dela e dois tios.
Nos últimos 20 anos, 70% dos leitos foram fechados, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 1975, Gullar estava exilado em Buenos Aires. O filho Paulo desapareceu no Rio de Janeiro. Foi encontrado em Taboão da Serra, em São Paulo, sentado na lama embaixo de chuva. Algum tempo depois, Gullar recebeu na Argentina uma carta do homem que encontrou o filho. Desesperado, Gullar telefonou para Vladimir Herzog, jornalista que seria morto pela ditadura alguns meses depois. Herzog foi procurar Paulo em Taboão. Mas o rapaz havia fugido outra vez.
Nos anos seguintes, Paulo passou por várias clínicas psiquiátricas. Ficava alguns meses internado e voltava para casa com a doença sob controle. Com a facilidade de acesso às drogas na Zona Sul do Rio, entrava em surto. Tornava-se agressivo e tentava suicídio. Há cinco anos, Gullar decidiu mandá-lo para o sítio de um amigo em Pernambuco. Longe das drogas, ele tem conseguido manter a doença sob controle. Pinta quadros, cria gatos e ajuda a cuidar dos cavalos. Fala com o pai todos os dias pelo telefone.
Gullar, que mora sozinho num apartamento antigo e escuro em Copacabana, tem saudade. Diz que Paulo envelheceu e tornou-se mais afetuoso. Lamenta não poder trazê-lo para casa. Acha que, se ele voltar ao Rio, vai se perder de novo. “Ninguém é a favor de manicômio ou de encerrar uma pessoa num hospital pelo resto da vida. Isso não existe há muito tempo”, diz. “Mas as famílias precisam ter a quem pedir ajuda.”
A história da pedagoga Heloísa Bergamo é um exemplo. Em outubro de 2005, ela procurou ajuda desesperadamente. Sua filha, Jacqueline, de 14 anos, passou um ano e meio sofrendo de transtorno bipolar. A doença faz o paciente alternar momentos de euforia ou irritação com depressão profunda. A menina alegre, cheia de amigos, não queria mais ir à escola. Dizia que ninguém gostava dela. Foi tratada com vários remédios. Não melhorou. Heloísa guarda a carta da médica que atendia Jacqueline havia mais de um ano no Hospital das Clínicas, em São Paulo. O texto dizia: “Optamos por interná-la, porém, sem vaga”. Heloísa saiu do hospital sem saber para onde ir. “Com minha filha se debatendo e querendo fugir, como poderia ficar perambulando pelos hospitais à procura de internação?” Heloísa levou a filha para casa. Um apartamento no 5º andar cuidadosamente protegido por redes nas janelas. Nos dois dias seguintes, continuou tentando conseguir vagas nos raros serviços que aceitam internar crianças e adolescentes. No terceiro dia, Jacqueline se jogou da janela basculante do banheiro.
O Hospital das Clínicas informa que Jacqueline não pôde ser internada porque a ala de psiquiatria infantil estava fechada para reforma. Segundo o hospital, a paciente foi encaminhada para uma central que monitora hospitais públicos à procura de internação. Heloísa é mais uma entre tantos desassistidos. O Hospital das Clínicas é uma das únicas instituições em São Paulo que aceitam internar pacientes infantis. Conta com apenas nove leitos em funcionamento. A média de internação de cada criança é de 26 dias. O gargalo do sistema é evidente.
Qual, então, é a raiz da crise atual? Em 2001, o Brasil aprovou a Lei nº 10.216, que redefiniu o modelo de atenção à saúde mental no país. Ela não proíbe as internações, mas determina que o atendimento dos doentes mentais seja realizado preferencialmente em serviços extra-hospitalares. “Na letra, a lei é muito boa porque não determina a extinção dos leitos”, diz o psiquiatra Marcos Aurélio Martins Ribeiro, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto. “Mas uma série de portarias do Ministério da Saúde fechou hospitais psiquiátricos.”
O Brasil abandonou um modelo baseado em hospitais, mas não oferece serviços para substituí-los.
Os críticos da gestão atual argumentam que um assunto médico está sendo abordado de forma ideológica. “Nossa política de saúde mental não tem nenhuma estratégia porque é baseada no conceito da antipsiquiatria”, diz o médico Valentim Gentil, chefe do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. “Esse movimento reforça a ideia errada de que o paciente de transtorno mental se recupera sem ajuda clínica.” Críticos como Gentil argumentam que a política atual é excessivamente baseada na herança do médico socialista italiano Franco Basaglia, morto em 1980. Nos anos 60, ele liderou um movimento conhecido como psiquiatria democrática. Ele combatia a psiquiatria clássica e considerava que o modelo de tratamento baseado na internação era repressor e ineficiente. As ideias de Basaglia se tornaram lei em 1978, na Itália, determinando o fechamento gradual dos hospitais psiquiátricos. Essa é a inspiração do movimento antimanicomial, que, segundo Gentil, tem forte influência no Ministério da Saúde.
ALÉM DOS REMÉDIOS
Pacientes no Centro de Reabilitação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Eles fazem atividade física e participam de oficinas de pintura e literatura.
“Eu diria que o componente antimanicomial existe porque faz parte da base de movimentos sociais que apoiaram a aprovação da lei”, diz Pedro Gabriel Delgado, coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde. “Mas o tratamento com qualidade pressupõe o tratamento de base comunitária. Por isso, houve a diminuição dos leitos”, afirma. Na prática, o Brasil abandonou um modelo de atendimento baseado apenas nos hospitais, mas ainda não foi capaz de criar Caps suficientes – e com serviços adequados – para atender à demanda. O resultado é a desassistência. Segundo o Ministério da Saúde, a cobertura pode ser considerada muito boa quando existem 0,7 Caps a cada 100 mil habitantes. De acordo com dados de janeiro, no entanto, dez Estados brasileiros e o Distrito Federal contam com uma cobertura classificada entre regular e crítica. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – os Estados com maior números de habitantes do país – estão no limite entre a cobertura boa e a regular. Isso significa que 56% da população brasileira mora em Estados que contam, no máximo, com um atendimento psiquiátrico considerado regular. Mesmo nos termos da saúde pública brasileira, que não é exemplar, essa estatística é ruim.
“A cobertura aumenta a cada ano, mas ainda é menor do que as necessidades”, diz Delgado. “O principal problema ocorre nas grandes cidades que não possuem uma rede eficiente de Caps e boa integração com os sistemas de emergência e de atenção básica de saúde. A criação dessa rede depende da decisão do município”, diz.
Pesquisas recentes feitas pelo Ibope para a Associação Brasileira de Psiquiatria revelam as dificuldades de atendimento. Em 2006, a avaliação foi feita com 2 mil pessoas em 142 municípios. O resultado: 47% dos entrevistados disseram que o acesso ao sistema público era difícil. Um ano depois, o índice havia subido para 57%. A avaliação feita no ano passado revelou que quase 30% das mães de crianças e adolescentes com transtornos mentais não conseguiram atendimento público. Isso equivale a 1,4 milhão de pacientes sem assistência. “Sem leitos suficientes, a saúde mental brasileira está progressivamente virando um caos”, diz Sérgio Tamai, da Associação Brasileira de Psiquiatria. “Não há política de saúde mental, mas um discurso ideológico que sobrevive há duas décadas sem nenhuma discussão médica de verdade.”
A ideia de que hospitais psiquiátricos sejam depósitos de doentes tratados à moda antiga – à base apenas de medicamentos – já não corresponde à realidade. A psiquiatria avançou e muitos serviços oferecem recursos complementares. No Centro de Reabilitação e Hospital Dia (CRHD) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, os pacientes participam de atividades físicas, grupos de reorientação profissional e oficinas de literatura e pintura. A maioria das clínicas particulares em nada se parece com os hospitais repressores e inadequados do passado. No Instituto Bairral, em Itapira, no interior de São Paulo, a paisagem arborizada lembra um resort confortável. “Quem sobreviveu ao sucateamento dos hospitais psiquiátricos acabou percebendo que o ambiente é fundamental para a recuperação do paciente”, diz o psiquiatra Ivan Ramos de Oliveira, diretor da clínica. Há 820 leitos. Cerca de 40% deles são reservados a pacientes particulares ou com convênio médico. O restante é destinado ao SUS.
São famosas as fotos de manicômios com pessoas dopadas e seminuas vagando como animais.
Por trás das mazelas e dos avanços humanitários da saúde mental brasileira dos últimos 20 anos, há um movimento político e social conhecido como Movimento da Luta Antimanicomial, ou MLA. Ele surgiu no Brasil em 1987, nas pegadas da antipsiquiatria de Basaglia, e com os mesmos objetivos: fechar os hospitais psiquiátricos e dar aos pacientes de doenças mentais outro tipo de tratamento, em convívio com a sociedade. A virulência do movimento foi proporcional ao descalabro da psiquiatria hospitalar brasileira, que vivia um período sombrio. São famosas, dessa época, as fotos de manicômios em que pessoas dopadas e seminuas vagavam por pátios imundos em condições animalescas, que Basaglia, ao visitar o Brasil em 1979, comparou às dos campos de concentração de Adolf Hitler. Tudo isso financiado com abundante dinheiro público. “Entrar nesses lugares era fácil, sair era outra história”, afirma o psicólogo Marcus Vinicius Oliveira, professor da Universidade Federal da Bahia e militante de primeira hora do movimento antimanicomial. “As pessoas não eram tratadas. Eram trancafiadas e esquecidas.”
Passados 22 anos desde seu lançamento, o movimento contra os manicômios – também conhecido como reforma psiquiátrica – domina amplamente as políticas públicas de saúde mental no Brasil. Seu amparo é a Lei nº 10.216. Em 13 artigos sucintos, ela especifica os direitos do doente mental e define os princípios que devem orientar seu tratamento: reinserção social e internação apenas como último recurso. Depois dela, os recursos do Estado migraram dos hospitais psiquiátricos para os Caps. Espécie de ambulatórios para atender os pacientes de transtornos mentais, eles estão distribuídos por todo o país e recebem 63,4% da verba total destinada à saúde mental. Arcam com o grosso do atendimento. Os hospitais, que atendem 32 mil pacientes do Sistema Único de Saúde, ficam com 36,6% das verbas totais. Os dados são de 2007. Cinco anos antes, a proporção era inversa: 75,2% para os hospitais e 24,7% para outros tipos de atendimento. Há 1.290 Caps no Brasil, mas apenas uma fração deles – 40 unidades, conhecidas como Caps 3 – é capaz de internar pacientes em crise.
Em Campinas, interior de São Paulo, o atendimento público para transtornos mentais é considerado um dos melhores do país. A prefeitura conseguiu montar uma rede com dez Caps, seis deles com capacidade de receber internações. A cidade dispõe de 120 leitos psiquiátricos, mas nos últimos anos o número de internações na cidade caiu: de 1.268 (em 2001) para 345, em 2007. Um dos fatores foi a mudança de atitude. “Os psiquiatras ligavam para nós em busca de leitos e, quando nós perguntávamos quem era o paciente e o que ele tinha, os médicos não sabiam responder”, diz o psiquiatra Deivisson Vianna, coordenador de Saúde Mental de Campinas. “Eu não sou contra internações, mas isso tem de ser tratado com cuidado.”
Com as famílias dos doentes, o diálogo também pode ser delicado. Há pacientes que, mesmo sem estar em surto, oferecem um convívio difícil. “Recebo mães que querem internar seu filho por causa da dificuldade de cuidar de uma pessoa assim em casa”, diz Vianna. O que ele faz? Um plano de assistência: o doente fica três dias no Caps, dois no Centro de Convivência, vai para casa dormir e passar o fim de semana. E a família sabe que, a qualquer momento, pode chamar a ambulância psiquiátrica. “Com isso, diminuímos a pressão sobre a família”, diz o médico. “Tem funcionado.” Luciano Lira é um exemplo do que o sistema tem feito de melhor. Ele tem 34 anos e vai ao Caps uma vez por semana.Foi diagnosticado com esquizofrenia há 12 anos e já sofreu duas longas internações. Chegou a sair de casa dentro de uma jaula e passar dias amarrado, tamanha sua agressividade. Faz cinco anos que ele não tem nenhuma crise, graças à medicação. Mora com a mãe, anda sozinho de ônibus por Campinas e frequenta a igreja evangélica. Todas as semanas grava um programa de rádio – Maluco beleza – que vai ao ar às terças-feiras pela manhã na Rádio Educativa da cidade. A mãe acompanha seus movimentos pelo celular. É uma situação confortável? De forma alguma. “Claro que é difícil cuidar dele às vezes”, diz a mãe, Maria do Carmo, de 57 anos, com os olhos cheios de lágrimas. “Mas, mesmo quando está em surto e fica agressivo, ele não deixa de ser meu filho.”
A beleza da reforma psiquiátrica – que tirou seres humanos de jaulas e os recolocou no convívio da família – está clara no caso de Lira e de sua mãe, assim como a maior debilidade do movimento: na ausência de investimento adequado do Estado, o fardo do atendimento aos doentes mentais tem recaído sobre os parentes. “As famílias têm de se corresponsabilizar pelos doentes, mas não podem ser totalmente responsáveis por eles”, diz Oliveira, o psicólogo da Federal da Bahia. “Não é esse o projeto da reforma.” Os profissionais de saúde mental ligados ao movimento antimanicomial dizem que a sociedade tem de desenvolver uma nova sensibilidade para lidar com as pessoas com transtornos mentais, rompendo a cultura de isolamento e encarceramento que predominou no passado. Mas isso não significa abrir mão da psiquiatria nem do Estado. “Em vez de combater a reforma, que é positiva, as pessoas poderiam nos ajudar a exigir mais investimento do governo”, diz Oliveira.
Há outra forma de atendimento que tem ajudado a melhorar a vida dos pacientes e não pesa sobre as famílias: as casas terapêuticas. Há 516 delas no país, com 2.714 pessoas. Em Campinas são 35 residências para 187 ex-internos de hospitais psiquiátricos. Funcionam como uma espécie de república, com ampla autonomia, mas acompanhadas diariamente por funcionários da prefeitura. Há seis anos, ÉPOCA visitou uma dessas casas em Campinas. Benedita Inácio de Jesus e Mário da Silva dividiam o lugar com outros cinco moradores. Voltamos a visitar na semana passada Benedita e Mário, hoje com 76 e 71 anos, respectivamente. Eles seguem morando juntos, mas com outros companheiros. Ambos sofrem de esquizofrenia. No dia da visita da equipe de reportagem, Mário vivia uma crise provocada pela doença. Estava agressivo, brigando com os auxiliares de enfermagem, arredio a perguntas. Provavelmente teria de ser internado por alguns dias. Quando está calmo, Mário dedica-se a desenhar. Gosta também de cuidar da cachorra Dinga. Benedita, tranquila, encadeia palavras desconexas, mas tenta responder às perguntas que lhe fazem. Naquele mesmo dia ela iria ao supermercado, uma de suas atividades preferidas. Muito religiosa, contou que guarda na igreja do bairro suas imagens de santos católicos. Quer evitar que suas relíquias sejam quebradas durante um surto de algum de seus companheiros de casa, como já aconteceu. “Às vezes é preciso fazer remanejamentos, mas, de modo geral, o modelo vem dando certo”, diz Márcio Azevedo, um dos coordenadores das moradias de Campinas.
Ao longo de mais de uma década da experiência, alguns incidentes já aconteceram. Anos atrás, Benedita deixou o fogão ligado durante uma noite inteira e quase incendiou a casa. A equipe psiquiátrica substituiu o fogão convencional por um corta-gás. Em uma casa composta só de mulheres, os profissionais de apoio se surpreenderam ao saber que ao longo da primeira semana de convívio elas comeram frango cru. Não sabiam que era necessário cozinhar. Já aconteceu também de alguns moradores colocarem fogo no colchão, acidentalmente, enquanto fumavam na cama. Mas os coordenadores dizem não se lembrar de nenhum episódio grave. “No começo do trabalho, quando dava 7 horas da noite, eu ia embora apreensivo com a ideia de eles ficarem completamente sozinhos”, diz Lucas Camilo, auxiliar de enfermagem que trabalha nas casas. “Agora, estou muito mais tranquilo. Nunca acontece nada sério. Se precisam de alguma coisa, telefonam para nós.”
As mudanças na saúde mental brasileira – que deslocaram o eixo do atendimento para fora dos hospitais psiquiátricos – repetem experiências similares de outros países. Os Estados Unidos nos anos 1960, a Itália em 1970, a Grã-Bretanha nos anos 1990. Onde o pêndulo avançou demais na direção da reforma, a sociedade está se movendo para repor o equilíbrio. As famílias não querem ver seus filhos vagando em surto pelas ruas, mas tampouco desejam abandoná-los em hospitais psiquiátricos. Nos países mais elogiados por sua política de saúde mental, como o Canadá, busca-se o equilíbrio entre uma sólida rede de assistência básica – como os Caps – e uma oferta adequada de leitos para atender os casos graves. Não é fácil.
Como tudo o que diz respeito ao poder público, trata-se de administrar recursos escassos. Onde é melhor investir o dinheiro dos contribuintes: nos hospitais, que vão abrigar pacientes em surto, ou nas redes locais, que vão acompanhar o dia a dia dos doentes? Pode-se fazer um paralelo com a educação. O país quer boas universidades públicas, mas não pode abrir mão de investir pesado na educação de base. Qual é a prioridade? Há interesses econômicos e ideologia nos dois lados do debate – e isso não tem ajudado os pacientes.
“A discussão sobre a necessidade de leitos hospitalares deveria ser técnica”, afirma o psiquiatra Jurandir Freire Costa, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, um dos mais respeitados intelectuais brasileiros da área médica. “Não se pode tratar disso com ideologia. O partidarismo nessa discussão prejudica os pacientes e o progresso médico.” O psiquiatra, que tem 65 anos, trabalhou na saúde mental antes da reforma e diz que aquilo era “uma antecâmara do inferno”. Ele pondera que a reforma psiquiátrica é recente e vem sendo implementada simultaneamente no país todo, com grande esforço. E falhas. “Eu não defendo os defeitos da reforma. Se uma única pessoa estiver sem assistência, isso já constitui um bom motivo para fazer a crítica, porque é inaceitável”, diz ele. “Devemos denunciar e discutir os erros, porque é assim que a discussão avança. Mas não podemos nos esquecer dos horrores da situação anterior. O que havia era muito pior.”
A história da reforma psiquiátrica
Os principais eventos que marcaram as discussões sobre o atendimento de saúde mental no Brasil nas últimas décadas
1978
O movimento contra os manicômios ganha força no mundo. A Itália aprova uma lei para fechar manicômios e reformar o atendimento psiquiátrico. A legislação é inspirada nas ideias do psiquiatra italiano Franco Basaglia, líder do movimento da década de 60.
1987
Crescem as denúncias contra a situação dos hospitais psiquiátricos brasileiros. Durante um congresso do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, é definido o lema da luta antimanicomial no Brasil: “Por uma sociedade sem manicômios”
1988
Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), surgem as primeiras experiências de tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Começa a descentralização do atendimento de saúde mental, antes realizado prioritariamente em hospitais.
1989
Um projeto de lei do deputado federal Paulo Delgado propõe a extinção dos manicômios do país. É a primeira batalha que o movimento contra os hospitais psiquiátricos leva ao Legislativo.
1989
A prefeitura da cidade de Santos, em São Paulo, fecha um hospital psiquiátrico marcado por denúncias de violência contra pacientes e se torna pioneira na adoção do novo modelo de saúde mental proposto pelo movimento antimanicomial.
1992
Uma portaria define as novas regras para o funcionamento ideal do atendimento comunitário fora dos hospitais. Os Caps se popularizam e definem o que seria a base do atual modelo de atendimento psiquiátrico no Brasil.
2001
O lançamento do filme Bicho de sete cabeças, dirigido por Laís Bodanzky, reacende o debate sobre a situação dos manicômios e vira bandeira da luta antimanicomial.
2001
Depois de 12 anos de tramitação no Congresso e inúmeras modificações, a Lei nº 10.216 é sancionada. O texto aprovado, no entanto, é um substitutivo que não prevê a extinção dos hospitais psiquiátricos, mas incentiva o tratamento fora dos hospitais.
2009
Há menos de duas semanas, o Senado reuniu especialistas para uma nova discussão sobre saúde mental. Houve manifestação a favor da luta antimanicomial. O Ministério da Saúde ainda defende a extinção dos hospitais psiquiátricos, mas reconhece que o atendimento atual é insuficiente.
Cérebro em sofrimento
A evolução dos medicamentos permite manter sob controle a maioria das doenças mentais, causadas por distúrbios fisiológicos no cérebro. Em casos graves, no entanto, pode haver necessidade de internação psiquiátrica. Ela é necessária para reduzir o risco de suicídio e atos violentos.
Transtorno bipolar
Alteração cíclica de humor, com momentos de euforia ou irritabilidade (quando o paciente se sente poderoso) e depressão. É causado por uma interação entre fatores genéticos – que levam a mudanças na química do cérebro – e fatores ambientais, como o estresse.
QUAL É A INCIDÊNCIA?
Em torno de 1,5% da população tem o problema
COMO É O TRATAMENTO?
Combinação de estabilizadores do humor, como o carbonato de lítio (Carbolitium) e o ácido valproico (Depakene) com antipsicóticos, como a risperidona (Risperdal). Em alguns casos, antidepressivos e benzodiazepínicos também são usados.
Depressão
Doença caracterizada por tristeza constante, apatia e baixa autoestima. É causada por uma combinação de predisposição genética e fatores sociais. Ocorre uma redução no cérebro da quantidade de substâncias que transportam as informações entre os neurônios, os neurotransmissores.
QUAL É A INCIDÊNCIA?
Uma em cada cinco pessoas apresenta o problema em algum momento da vida
COMO É O TRATAMENTO.
Remédios antidepressivos aumentam os níveis de neurotransmissores no cérebro. Os mais usados são fluoxetina (Prozac), sertralina (Zolof) e escitalopram (Lexapro). Em casos graves, os medicamentos podem ser necessários durante anos.
Transtorno obsessivo-compulsivo
Leva a comportamentos compulsivos, como lavar as mãos recorrentemente, ou a pensamentos obsessivos. Parece ser causado por uma alteração na química cerebral e pelo funcionamento anormal de partes do cérebro que controlam o recebimento de estímulos, como o núcleo caudado. Tem forte componente genético.
QUAL É A INCIDÊNCIA?
Cerca de 2,5% da população
COMO É O TRATAMENTO
Antidepressivos ligados à ação da serotonina, como a sertralina e a fluoxetina. A terapia ajuda o paciente a enfrentar situações que desencadeiam obsessões
Esquizofrenia
Os pacientes apresentam alucinações e delírios, dificuldades de socialização e prejuízos cognitivos. As causas são desconhecidas. Uma das hipóteses estudadas é a interação de fatores genéticos e ambientais, como privação de nutrientes durante a gestação e de oxigênio no parto
QUAL É A INCIDÊNCIA?
1% da população
COMO É O TRATAMENTO
Terapia ocupacional e psicoterapia associadas a remédios como o haloperidol (Haldol) e a clorpromazina (Amplictil). Também são necessários antipsicóticos de nova geração, como a risperidona (Risperdal) e a olanzapina (Zyprexa)
Leitos Hospitalares
O Ministério da Saúde fechou 70% das vagas para internação em 20 anos. Em 1989, eram 120 mil. Hoje, são 37.700. Veja a distribuição delas pelo país – por 1.000 habitantes
Dá para relaxar no dentista?
30/05/2009 - Revista Época
Quem observa a advogada Maria Fernanda Marcondes na sala de espera do consultório odontológico percebe que ela sofre ao ouvir o barulho da broca. As mãos ficam geladas e as pernas começam a tremer. É assim desde a infância. Mas, da última vez que foi ao dentista, Maria Fernanda teve uma experiência lúdica.
Ela vestiu um par de óculos especiais e se divertiu assistindo ao clipe “Flor de lis”, do músico Djavan. Nem percebeu quando a agulha fina perfurou sua gengiva. Nem quando o dentista manuseou instrumentos pontiagudos em sua boca. “Até esqueci que estava no consultório”, diz.
Telas de LCD plugadas a iPods e óculos com imagens em alta resolução já aparecem em pelo menos 300 clínicas brasileiras. “A ideia é tranquilizar os pacientes e tornar a ida ao dentista mais prazerosa”, diz Rodrigo Bueno, da Associação Brasileira de Dentistas. Bueno adaptou uma esteira de massagens à cadeira dos pacientes. A “sessão de spa” acontece momentos antes da consulta. A pessoa deita-se confortavelmente na cadeira e regula a intensidade da massagem com um controle remoto.
Quando Bueno chega para a consulta, o paciente está menos estressado. “A anestesia aplicada em um músculo rígido dói bem mais que se for aplicada em um músculo relaxado”, diz Bueno. Técnicas de aromaterapia para disfarçar o cheiro de produtos químicos e salas anexas com acupunturistas e psicólogos completam o trabalho do dentista. A ideia é acabar com o trauma do alicate, da broca e da anestesia e, se possível, tornar a experiência prazerosa.
Boa parte das novidades tem efeito positivo na consulta, relatam os dentistas. Mas ainda é cedo para dizer de onde vem o relaxamento: se das terapias e tecnologias ou do efeito psicológico dessa parafernália. “De onde vem não importa. O que vale é que os pacientes ficam mais tranquilos e nós trabalhamos melhor”, afirma o dentista Eudes Gondim Júnior, especializado em tratamento de canais.
O dentista é disparado o profissional da saúde que mais causa medo aos pacientes, revela um estudo da Associação Americana de Odontologia. Estima-se que três em cada dez adultos tenham receio de ir ao dentista e pelo menos 10% demonstra sinais de desconforto, como mãos geladas e pernas trêmulas. Esse medo exagerado tem até nome: odontofobia, hoje uma área bastante estudada pela odontologia.
Nos casos mais extremos, o apoio da tecnologia pode até atrapalhar. “Eles veem os óculos como um recurso do médico para esconder a realidade deles”, diz John Fagun, membro da Sociedade Americana de Odontologia. “E não aceitam desviar a atenção para qualquer artefato que possa distraí-los.” Nesses casos, diz Fagun, a melhor estratégia é explicar passo a passo o que está acontecendo e interromper sempre que for necessário.
O passado da medicina justifica o medo que se tem de dentista. Os anestésicos não eram tão potentes quanto hoje, e sentir dor era comum. Extraía-se um dente sadio ao menor sinal de cárie. Era raro quem fosse acompanhado por um dentista ao longo da vida. E o destino de todos era terminar banguela e com um “casal” de dentaduras na boca.
Hoje, parte dos jovens de até 30 anos – acompanhados por dentistas desde a infância – chega sem cáries à fase adulta. Muitos só conhecem a limpeza e as aplicações de flúor. No máximo alinham os dentes mal posicionados e extraem os sisos. “Em cerca de 90% dos procedimentos, o paciente não sente mais dor”, diz Bueno.
Evitar a dor, aliás, é uma lei. Em cirurgias longas e delicadas, como implantes e enxertos, os pacientes são atendidos em hospitais, com anestesia geral e assistência médica. Até os tratamentos mais simples hoje têm aliados: há brocas silenciosas para crianças, produtos químicos que removem cáries superficiais e sedativos inalatórios que dispensam o uso de agulhas.
Os microscópios adaptados transformaram a rotina dos dentistas. Além de favorecerem uma postura mais ergonômica do profissional, sempre debruçado sobre o paciente, eles se provaram fundamentais em tratamentos de canais. “Ajudam a preservar estruturas frágeis e difíceis de ser vistas a olho nu”, diz Gondim Júnior.
A novidade que deve tornar a odontologia ainda mais precisa vem da tecnologia. Os novos programas para implantes dentários permitem criar moldes físicos da arcada do paciente. Esses moldes são marcados com o local exato em que o dentista deve perfurá-los no momento da cirurgia. Nunca foi tão fácil – e sem dor.
OBJETOS DE FILME DE TERROR
As três ferramentas odontológicas que mais desesperam os pacientes.
ALICATE
Conhecido como boticão, é um instrumento odontológico que tem por finalidade a extração de fragmentos ósseos da boca. Embora as técnicas de remoção estejam bem mais avançadas, a pinça reforçada mudou pouco ao longo do tempo. E ainda é um instrumento associado à dor.
BROCA
A broca é a grande vilã dos consultórios odontológicos. Mas já existem substitutos silenciosos para cáries iniciais. O som do motor está entre os ruídos que mais incomodam as pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde, ao lado de bebês chorando, microfonia, vômito e giz raspando a lousa.
AGULHA
A visão da estrutura metálica fina e pontiaguda prestes a penetrar na gengiva é apontada por 42% dos pacientes como o momento mais temido nos consultórios odontológicos, de acordo com a Associação Médica Brasileira. Os sedativos inalatórios ainda não substituem a anestesia local quando a dor é intensa.
ALIADOS DO BEM-ESTAR
Qual é o efeito das novas tecnologias e terapias de spa no combate ao medo e à dor nos consultórios odontológicos.
Artigo: Novas armas contra a hepatite C
29/05/2009 - Revista Carta Capital
A hepatite C é muito mais comum do que se imagina: 1% a 1,5% dos brasileiros são portadores crônicos do vírus causador da doença, o HCV.
Ao contrário das hepatites A e B, a regra da hepatite C é tornar-se crônica: cerca de 80% dos que adquirem o vírus serão incapazes de eliminá-lo. A evolução é lenta e silenciosa, mesmo quando já existem lesões avançadas no fígado.
A transmissão do HCV ocorre através do contato com o sangue de pessoas infectadas (risco alto), por via sexual (risco baixo) e da mãe infectada para o filho (cerca de uma transmissão em cada vinte partos).
As transfusões de sangue foram um meio de contaminação muito comum até 1990, quando surgiu o teste para identificar os portadores do vírus. Hoje, o risco de receber sangue contaminado pelo HCV é de uma infecção para cada 2 milhões de transfusões.
O mesmo não pode ser dito sobre o uso de alicates e cortadores de unha, aparelhos de barbear e outros instrumentos cortantes eventualmente contaminados.
Ao contrário das hepatites A e B, ainda não foi descoberta uma vacina contra a hepatite C.
A infecção crônica pelo HCV pode causar alterações estruturais no fígado. Assim como na hepatite B, a resposta inflamatória disparada pelas células do sistema de defesa e as características genéticas do vírus estão associadas ao grau e à intensidade dos danos hepáticos.
Em alguns casos, a agressão crônica provoca focos de fibrose (como se fossem cicatrizes) que podem levar à cirrose. Num período de vinte anos, aproximadamente 20% dos infectados pelo HCV desenvolverão cirrose.
Uma das complicações mais temidas associadas à cirrose é o aparecimento do hepatocarcinoma: uma em cada 50 pessoas com cirrose apresentará câncer de fígado.
O objetivo do tratamento da hepatite C é prevenir a progressão e evitar as complicações da doença.
A era do tratamento começou com um pequeno ensaio clínico publicado em 1986, antes mesmo de o HCV ser conhecido. Nele, os autores descreveram melhora das provas de função hepática por meio da aplicação de interferon alfa.
No início dos anos 1990, quando o HCV foi descoberto, ficou claro que o interferon tinha a propriedade de reduzir o número de partículas virais no sangue. O tratamento, no entanto, era feito por via injetável, apresentava múltiplos efeitos colaterais e baixos índices de resposta.
O segundo avanço surgiu em 1995, com a publicação de um estudo clínico sobre a administração do antiviral ribavirina, medicamento que associado ao interferon aumentava o período de supressão da atividade viral, melhorava as provas de função hepática e as características histológicas do fígado. Essa combinação mantida por 48 semanas levava à supressão do HCV em 40% a 50% dos casos, números duas a três vezes maiores do que os obtidos apenas com interferon.
O terceiro veio em 2002, com o aparecimento do chamado interferon peguilado, forma de apresentação com menos efeitos colaterais e que possibilita a administração uma vez por semana. Em alguns subtipos do HCV (genótipos 2 e 3), apenas 24 semanas de tratamento associado à ribavirina são suficientes para obter resposta duradoura em 70% a 80% dos casos.
O quarto avanço parece estar ocorrendo agora com um novo antiviral, o telaprevir, desenvolvido especificamente para bloquear a ação de uma enzima necessária para a replicação do vírus.
Dois artigos recentemente publicados no The New England Journal of Medicine demonstraram que o telaprevir, associado à combinação de interferon peguilado e ribavirina, aumenta substancialmente os índices de supressão viral, mesmo no subtipo de evolução mais desfavorável (subtipo 1).
Duas décadas de pesquisas para decifrar a estrutura molecular do HCV parecem dar os primeiros frutos. Novas drogas “desenhadas” especificamente para destruí-lo poderão levar a tratamentos mais eficazes para todos os portadores de hepatite C.
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