4.08.2015

Agrotóxicos no Brasil bate recorde


Maria de Fátima Silva usa agrotóxicos desde criança sem proteção, e reclama 
de dores nas costas e no coração - Custódio Coimbra / Agência O Globo
RIO - O consumo de agrotóxicos no Brasil saltou de 2 bilhões de dólares 
para mais de 7 bilhões entre 2001 e 2008, alcançando valores recordes 
de 8,5 bilhões de dólares em 2011. Em 2009, o país se tornou o maior 
consumidor mundial de agrotóxico, com mais de um milhão de 
toneladas, o que equivale a um consumo médio de 5,2 kg de veneno 
agrícola por habitante. Os dados são de um relatório lançado nesta 
quarta-feira pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Segundo o texto, o uso de sementes transgênicas foi um dos
 responsáveis por essa realidade, já que os transgênicos exigem 
grande quantidade de agrotóxicos em sua produção.
— Não há dúvida que são venenos que atuam a nível molecular 
nas células, embora ainda tenhamos que conhecer melhor suas 
consequências — afirmou Cláudio Noronha, chefe de prevenção 
e vigilância do Inca. — Exposições ambientais a agentes químicos, 
físicos ou biológicos são o principal fator que leva ao câncer. 
E o Inca tem compromisso com esta questão.
Segundo a biomédica do Inca, Marcia Scarpa, da unidade técnica 
de exposição ocupacional e ambiental, há dois tipos de intoxicação
 pelo agrotóxico: agudo, ligado a sintomas logo após o contato, 
como irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreia,
 espasmos, dificuldades respiratórias e convulsões; e a intoxicação 
crônica, que ocorre quando o indivíduo é exposto a pequenas 
quantidades por longos períodos. Nesse caso há “uma infinidade 
de efeitos”, diz Marcia, como redução do sistema imunológico,
 desregulação endócrina e prejuízdos ao sistema nervoso central.
 Nesse caso está o câncer.
— Existe uma subnotificção de casos de intoxicação aguda. 
O efeito pode ser confundido com outros problemas como viroses 
— acrecenta Marcia, destacando que a média de subnotificção 
é de 1 notificado para cada 50 não notificados.
A agricultora Maria de Fátima Silva, de Andrades, em Teresópolis, 
usa defensivo agrícola sem proteção desde criança. Hoje aos 
54 anos, ela não enxerga os males, mas reclama de dores nas 
costas e no coração. Já o produtor de alimentos orgânicos,
 Alcimar Espírito Santo diz que hoje são poucos os agricultores
que enxergam os agrotóxicos como solução.
— Eles querem se ver livres disso. Vem crescendo o número de
 pessoas se convertendo aos orgânicos. E quem começa, não volta
 — comenta, admitindo que não é fácil fazer esta
 transição. — A gente deve buscar libertar o agricultor familiar 
que está aprisionado a este modelo de produção.


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