4.07.2015

Cientista de Brasília cria sensor que acha câncer antes de sintoma surgir

Priscila Kosaka desenvolve projeto há seis anos em laboratório espanhol.

Técnica é 10 milhões de vezes mais sensível do que as atuais disponíveis.

Raquel MoraisDo G1 DF
A cientista brasiliense Priscila Kosaka, que desenvolveu uma técnica menos invasiva para detecção de câncer (Foto: Priscila Kosaka/Arquivo Pessoal)A cientista brasiliense Priscila Kosaka, que desenvolveu uma técnica menos invasiva para detecção de câncer (Foto: Priscila Kosaka/Arquivo Pessoal)









Membro do Instituto de Microelectrónica de Madrid há seis anos, a cientista brasiliense
 Priscila Kosaka, de 35 anos, desenvolveu uma técnica para detecção de câncer que
dispensa biópsias e que consegue identificar a doença antes mesmo do aparecimento 
dos sintomas. O resultado vem do uso de um nanosensor com sensibilidade 
10 mihões de vezes maior que a dos métodos dos exames tradicionais em 
amostras de sangue dos pacientes. A previsão é de que ele esteja no mercado 
em até dez anos e também seja utilizado no combate a hepatites e Alzheimer.
Consegui um resultado que parecia apenas um sonho há quase seis anos. O que me motivou? Conseguir proporcionar uma melhor qualidade de vida para as pessoas. Quero que o diagnóstico precoce do câncer seja uma realidade em alguns anos. Trabalho em busca de um resultado como esse desde o meu primeiro dia no Bionanomechanics Lab"
Priscila Kosaka,
cientista brasiliense











A pesquisadora explica que o sensor é como um "trampolim muito pequenininho” 
com anticorpos na superfície. Quando em contato com uma amostra de sangue de 
uma pessoa com câncer, ele “captura” a partícula diferente e acaba ficando mais pesado. 
Outras estruturas relacionadas à técnica também fazem com que haja uma mudança 
de cor das partículas, indicando que o paciente que teve o fluido coletado tem um tumor 
. A taxa de erro, segundo Priscila, é de 2 a cada 10 mil casos.
“Atualmente não existe nenhuma técnica que permita a detecção de moléculas 
estão em concentrações muito baixas e que coexistam com mais de 10 mil espécies 
de proteínas numa única bioamostra”, afirma. “Atualmente nenhuma técnica é capaz 
encontrar a ‘agulha no palheiro’. Portanto, existe uma necessidade de tecnologias 
capazes de registrar moléculas individuais na presença de outras moléculas muito mais
 abundantes. E o nanosensor que desenvolvi é capaz de fazer isso.”
De acordo com a cientista, novos estudos podem fazer com que o nanosensor 
também seja usado para identificar a que tipo específico pertenceria uma amostra
 cancerígena (gastrointestinal ou de pâncreas, por exemplo). Dados da Organização 
Mundial da Saúde estimam 21,4 milhões de novos casos de câncer em todo o planeta 
em 2030, com 13,2 milhões de mortes. Há mais de cem tipos da doença, e os mais
 comuns são de próstata, mama, cólon, reto e pulmão.
Entre os benefícios da técnica desenvolvida por Priscila está o
 fato de que a identificação pode ocorrer dispensando a biópsia
 e por meio dos exames rotineiros de check-up. A cientista conta 
que ainda é necessário que o sensor passe por novas fases de 
teste. Além disso, ela precisará de financiamento para os estudos.
 Um dos objetivos da pesquisadora é que o equipamento tenha 
um custo acessível e assim possa ser adotado amplamente 
pela população.
“[Estou] Muito feliz, amo o que faço. Consegui um resultado que parecia apenas 
um sonho há quase seis anos. O que me motivou? Conseguir proporcionar uma 
melhor qualidade de vida para as pessoas. Quero que o diagnóstico precoce do 
câncer seja uma realidade em alguns anos”, diz a mulher. “Trabalho em busca de 
um resultado como esse desde o meu primeiro dia no Bionanomechanics Lab.”
Bacharel em química pela Universidade de Brasília e doutora na área pela
 Universidade de São Paulo, Priscila é a responsável pelas atividades relacionadas
 à funcionalização de superfícies do laboratório, além de trabalhar na otimização 
estratégias de imobilização de biomoléculas em microcantilevers para biosensing. 
Ela atua ainda no desenvolvimento de sistemas de nanomecânicos e 
na combinação de nanotecnologias para o desenvolvimento de ferramentas 
de diagnóstico altamente sensíveis e específicos e é avaliadora e revisora de 
projetos europeus para a European 
Commission desde 2011.
A pesquisadora conta que a descoberta pode ser usada ainda no diagnóstico de 
hepatite e que pretende estender a técnica a mais doenças, como o Alzheimer.
 “Em lugar de fazer uma punção na medula espinhal para extrair líquido 
cefalorraquidiano para o diagnóstico de distúrbios neurológicos, temos sensibilidade 
suficiente para detectar uma proteína em uma concentração muito baixa no sangue.
Assim, o paciente não precisa passar por um exame tão invasivo, pode fazer um
simples exame de sangue.”
Benefícios
O oncologista Gustavo Fernandes afirmou apreciar a possibilidade de ver tecnologias 
do tipo à disposição no dia a dia. "Poder fazer diagnóstico precoce por meio de 
métodos menos invasivos é muito elegante. Os métodos que temos hoje são 
muito rudimentares, são muito arcaicos. É um exame físico melhorado em relação
 ao que se via antes, mas estamos atrás de nódulos, de caroços. 
O paciente continua fazendo uma porção de testes, de exames de imagem."
O médico disse ainda esperar ver como o equipamento poderá ajudar pacientes, 
já que cada tipo de câncer evolui de uma forma diferente e que mesmo entre tipos 
iguais há variações  – como as causas, o comportamento no organismo e a 
agressividade. A única certeza é de que a intervenção precoce é uma aliada 
no combate à doença.
"A gente fala de brincadeira que todos os tumores que a gente tratava como comuns
estão ficando raros. Câncer de mama é comum, mas as características genéticas 
são tão específicas que você não trata mais de câncer de mama, mas de câncer
 de mama de categoria tal. Ou seja, se você for apertando, você vai ter uma
 centena aí de doenças a partir de uma só. É que nem de pulmão, você acaba 
dividindo em muitos grupos. Tem muitas alterações sendo detectadas, que acaba 
que sob um mesmo nome tem várias doenças", concluiu.

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