RIO — Um dos mais antigos e venerados periódicos médicos do mundo, a revista "Lancet" está sob o ataque de um grupo de mais de 500 profissionais de medicina, entre eles cinco ganhadores do prêmio Nobel, devido à sua cobertura da crise humanitária causada pelo conflito entre Israel e Palestina. Médicos, pesquisadores e professores universitários prometem boicotar a publicação caso ela não se desculpe pelo tom da sua cobertura sobre o assunto.
De acordo com os críticos, a revista vem sendo usada de forma "grosseira e irresponsável" para "fins políticos". A polêmica teve início a partir de um artigo publicado pela "Lancet" com severas críticas à conduta de Israel no conflito em Gaza
Publicado em julho do ano passado, durante um ataque de Israel à Faixa de Gaza, o artigo "Uma carta aberta ao povo de Gaza" continha relatos de testemunhas a respeito do impacto médico dos ataques sobre civis, mas, de forma controversa, não incluía um reconhecimento do papel do Hamas na guerra.
O texto provocou um grande debate entre os colunistas do jornal, com alguns reclamando do seu "fanatismo anti-judeus" e outros alegando que a medicina "não deve tomar partido".
Posteriormente, foi revelado que dois signatários do artigo haviam circulado e-mails com um vídeo sugerindo simpatia à supremacia branca antissemita americana. Ambos se desculparam publicamente pelo vídeo ofensivo, mas o artigo foi mantido no ar assim mesmo. Diante das críticas, o texto ainda foi investigado pelo ombudsman do periódico, porém nenhuma atitude foi tomada em relação a ele.
Boa parte das reclamações se dirige a Richard Horton, atual editor do "Lancet", visto por muitos como apoiante da causa Palestina.
CARTA DE PROTESTO TEM MAIS DE 500 ASSINATURAS
Segundo o grupo que ameaça boicotar a "Lancet", a publicação tem exibido "propagandas de ódio extremistas e estereotipadas", e a editora Reed Elsevier, responsável pela revista, estaria "lucrando com a publicação de material desonesto e malicioso, que incita o ódio e a violência".
Um dos médicos contrários à cobertura da publicação, Sir Mark Pepys, da Universidade de College London, conseguiu com que 396 professores e especialistas em todo mundo assinassem uma carta de protesto contra a revista, que seria submetida ao conselho da Reed Elsevier no mês passado — desde que foi publicado em um site, o documento já conseguiu mais 150 apoiantes. O grupo ameaça boicotar a editora, que publica mais de 2 mil revistas científicas, se as suas demandas não forem atendidas.
Em resposta, no entanto, um grupo rival de médicos, liderados pelo professor Gragam Watt, da Universidade de Glasgow, retribuíram as críticas com uma campanha também on-line pelo não boicote ao "Lancet".
O episódio representa o mais sério caso de ameaça editorial ao "Lancet" desde que o primeiro editor do jornal, Thomas Wakley, enfrentou uma série de processos depois de atacar o nepotismo e a ganância da elite médica, pouco depois que o jornal foi fundado, há 192 anos atrás.
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