4.20.2015


Integrantes de movimento pelos direitos dos transexuais criticam a obrigatoriedade do tratamento psiquiátrico de dois anos, pré-requisito do Ministério da Saúde para cirurgias de adequação corporal de sexo. As consultas seriam superficiais e, na opinião deles, perda de tempo. O BLOG LGBT doDIA mostrou neste domingo que pacientes chegam a ficar seis anos na fila pela cirurgia no Hospital Universitário Pedro Ernesto, único local da rede pública de saúde que oferece o serviço no Rio.
“Que terapia é essa com uma sessão a cada três meses?”, questiona Bárbara Aires, do Conselho LGBT Municipal. “Cada consulta leva de dez a vinte minutos. Ele só quer saber se você, segundo a visão dele, é transexual ou não, e mais nada”, diz Bruno Chaves, 28, nascido em corpo feminino, na fila para retirada de mamas. Quando questionada sobre a irreversibilidade da cirurgia, Bárbara tem a resposta na ponta da língua: ‘Se uma mulher faz uma cirurgia de redução de mama, ela não é encaminhada para nenhum psicólogo ou psiquiatra. Nós temos o direito, nós somos os donos de nossos corpos”, disse ela.
Posição diferente tem a também ativista Bruna Leonardo. “Eu consigo entender a necessidade da passagem pela psiquiatria. O hospital precisa ter o respaldo que as pessoas estão certas do que estão fazendo. Muitas pessoas acreditam que a cirurgia vai mudar a vida delas, que não vão mais sofrer preconceito, que é operar e vão ser vistas de outra forma pela sociedade e não é assim que acontece”, comentou.
Bruno e Bárbara lutam para que o atendimento na rede pública de saúde seja adequado. Foto: Alexandre Brum
Bruno e Bárbara lutam para que o atendimento na rede pública de saúde seja adequado. Foto: Alexandre Brum
Segundo Bárbara, a confusão entre identidade de gênero e orientação sexual no serviço de psiquiatria acaba levando homens e mulheres transexuais a montarem um roteiro, um ‘personagem’ que impeça o corte no programa transexualizador. “Você não pode falar que é uma trans lésbica ou um homem trans gay. O psiquiatra quer te encaixar ao máximo na caixinha. Se você é uma mulher trans, não pode em hipótese alguma dizer que gosta de ser tocada no pênis e se é um homem trans, não pode dizer que gosta de relação que envolva penetração.
“Se você disser que gosta de ser penetrado o médico vai dizer que você tem outro transtorno e ninguém que está no programa quer correr esse risco”, disse Bruno.
Responsável pela Psiquiatria no Pedro Ernesto, Miguel Chalub confirma que o atendimento tem o objetivo de identificar se o paciente é ou não transexual. “Meu papel segue o que determina o Conselho Federal de Medicina: é pericial. É ver se a pessoa tem convicção de que quer a cirurgia. Se noto que tem problemas emocionais, encaminho para tratamento”, diz o psiquiatra.
Chalub rechaça a reclamação quanto a falta de entendimento sobre a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual. “Eu trabalho nessa área há 15 anos e não tenho dificuldade sobre nada. Não é muito comum existir a associação entre homo e transexualidade, é raro. Mas, desde que seja transexual, ela será encaminhada à cirurgia da mesma forma”, disse o médico.
Bárbara contesta a posição do médico do Pedro Ernesto. “Não é nada raro, São muitos os homens trans gays e mulheres trans e travestis lésbicas. Como muitos trans quando vão até ele, já sabem dessa visão que ele tem, acabam seguindo um padrão que é necessário para se chegar à cirurgia”.
Alguns pacientes reclamam ainda que suas carteiras de identificação no hospital, em desacordo com a portaria do SUS, vêm apenas com o nome de batismo, e não com o chamado ‘nome social’. Isto, segundo eles, faz com que sejam chamados pelos funcionários por nomes que não condizem com suas aparências, o que é constrangedor.
O desrespeito ao nome social pôde ser contatado pela reportagem quando esteve no Pedro Ernesto. Dentro do espaço reservado à equipe que atende aos transexuais, o atendimento é exemplar. Todos são tratados pelo nome que escolheram, de acordo com a identidade de gênero. Entretanto, basta sair desse setor para os problemas virem à tona. A começar pela carteira de identificação dos pacientes no hospital que, em desacordo com o que determina a portaria do SUS, vem apenas com o nome de batismo. Homens e mulheres trans ainda tentam, por conta própria, acrescentar o nome social à carteira, mas, como no caso registrado pela reportagem, o documento é invalidado.
Com o documento apenas com o nome de registro, acabam se submetendo a situações constrangedoras dentro do hospital. Quando são atendidos por especialistas fora do setor de atendimento a transexuais, são chamados por nomes que que não condizem com a aparência física que apresentam, despertando olhares curiosos dos demais pacientes .“Tentei escrever a mão o meu nome social na carteira de identificação do hospital, mas a recepcionista negou o meu direito ao nome social e escreveu a mão a palavra anulado no papel. Argumentei com a recepcionista, mas ela disse que não podia fazer nada, que eram as normas e que assim é o determinado pelo hospital”, disse um homem trans, antes de ser internado para fazer a cirurgia de construção de pênis no Pedro Ernesto e que preferiu não se identificar. “Não usar o nome social o nome social de um homem ou mulher trans é expor essa pessoa ao ridículo”, sintetizou Bárbara.
Documento de homem transexual com o nome social foi anulado no ambulatório do Pedro Ernesto. Foto: Felipe Martins
Documento de homem transexual com o nome social foi anulado no ambulatório do Pedro Ernesto. Foto: Felipe Martins
O hospital informou que o usuário deve solicitar, na hora da matrícula, que seja nominado como prefere. Mas ressalta que o nome que consta no Registro Civil irá aparecer, mesmo que com menos destaque.
Postado por Felipe Martins às 12:10 am

Um comentário em “Transexuais reprovam psiquiatria e apontam desrespeito ao nome social no Pedro Ernesto

  1. iran
    Desejo às pessoas transexuais Paz,Felicidade e Perseverança,pois também sendo seres humanos,precisam serem respeitadas e aceitas no seio da sociedade humana e na sociedade brasileira.

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