Rio -  Quando o webdesigner Daniel Veloso, 29 anos, vai dormir, seus pais, a namorada, vizinhos, o porteiro e a maior parte dos moradores do bairro, a Tijuca, despertam para mais um dia de trabalho. O rapaz, que troca o dia pela noite, é uma das muitas pessoas que possuem um ritmo biológico diferenciado. E tem mais: são normais.
Flávia reduz as horas de sono para poder cumprir suas obrigações com o trabalho | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Flávia reduz as horas de sono para poder cumprir suas obrigações com o trabalho | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
A neurologista e vice-presidente da Associação Brasileira do Sono, Andrea Bacelar, diz que algumas pessoas possuem um sono diferenciado e sofrem por desconhecer a causa: “Notívagos têm mais disposição e realizam com mais qualidade atividades nesse turno, sem perder em saúde. É difícil para se adaptarem numa sociedade plenamente diurna”, afirma.
A modernidade também impõe exigências. É o caso da designer de joias da Design ETC Flávia Betchinger, 28 anos, que diminui as horas de sono pela produção da empresa: “Muitas das vezes vou dormir às 4h e acordo às 7h”, diz.
Foto: Arte: O Dia
Arte: O Dia
No caso da designer, contudo, há riscos para a saúde. “Dormir menos de seis horas aumenta riscos de diabetes e doenças cardiovasculares”, informa a médica do laboratório do sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, Rosa Hasan.

NECESSIDADE NÃO É IGUAL

Mas esses perigos não são uma regra única, porque há pessoas que dormem menos que a média e não apresentam problemas psíquico-físicos: “Há perfis de dormidores longos, que precisam de 10 horas em média ou curtos, de cinco horas. Mas 90% da população mundial precisam de sete horas”, diz Andrea.
O sono é necessário para produção de hormônios, reconstituição de tecidos e relaxamento muscular. “O sono varia por pessoa, mas é um dos momentos mais importantes. Não há como escapar”, afirma a neurologista.
O SONO DIÁRIO DE CADA UM
INFÂNCIA — A neurologista Andrea Bacelar afirma que uma criança dorme mais que um adulto, cerca de 20 horas: “A criança de 2 anos dorme a noite e tira dois cochilos, já a de 4 anos dorme 10 horas e precisa de um cochilo à tarde. Depois dos 5 anos, a criança só precisa de um sono e nenhum cochilo”, explica.

ADOLESCENTES — Embora precise dormir nove horas, muitos adolescentes desfrutam períodos menores de sono: “Isso ocorre porque a modernidade traz atrativos que os conectam. São redes sociais, videogame, eventos noturnos”, diz a médica.


PREFERÊNCIAS — “Geralmente, existe melhor adaptação pelas atividades matutinas. Isso é imutável. O indivíduo pode até se adaptar a um horário diferente do que está acostumado, mas sempre haverá uma preferência”, conta a neurologista Andrea Bacelar.


INVESTIGAÇÃO — Algumas empresas realizam estudos sobre o perfil do sono dos seus trabalhadores para melhorar a sua produção:  “É o caso de motoristas de ônibus que têm sono diurno”, explica Andrea.

Sem tempo para dormir, mas sem sentir cansaço
O escritor Eduardo Azevedo, o Dodô, 40 anos, é um exemplo de quem não precisa dormir muito: “Enfrento a madrugada escrevendo e vou dar aulas no dia seguinte, às 7h”, diz.
Além de lecionar, ele ainda trabalha como DJ. Falta tempo para dormir. Mas ele garante que não sente cansaço ou sono durante o dia. “Levo numa boa. Uma vez, tão acostumado a dormir pouco e trocar o dia pela noite, numa viagem ao Japão, senti-me em casa”, brinca o escritor.
Academia fica cheia à noite
Quando o despertador do relógio bate 3h, a academia Ipanema Sport Club, no bairro de mesmo nome, ainda está cheia. Em tempo integral, o local recebe alunos nesse horário por diferentes motivos: “São alunos insones, mas boa parte dos que frequentam o turno é porque só conseguem malhar nesse horário”, diz o coordenador de musculação do turno da noite, Luís Felipe, de 25 anos.
De acordo com o professor, fazer atividades físicas de madrugada, em princípio, não causa danos à saúde do praticante, caso esteja acostumado e não sinta sono: “Se apelar para a cafeína, através de compostos ou termogênicos, é possível que tenha problema para dormir depois”, diz o profissional de educação física.