- Pesquisa brasileira acompanhou mulheres antes de operação e mostra que fatores como constrangimento social às vezes superam problemas de saúde decorrentes da doença na hora da decisão
Flávia Milhorance
RIO - O preconceito sofrido por mulheres obesas é um dos principais
motivos que as levam a realizar uma cirurgia bariátrica. Fora dos
padrões de beleza e com limitações físicas decorrentes da obesidade,
elas se isolam socialmente e veem na operação uma forma de reverter esta
realidade. O fator saúde nem sempre é o maior motivador desta escolha. É
o que defende em estudo a pesquisadora da Universidade de São Paulo
(USP), Deíse Moura, que também vivenciou pessoalmente o drama.
Deíse realizou o estudo no Serviço de Controle da Hipertensão, Diabetes e Obesidade de Juiz de Fora (MG), onde foi voluntária e auxiliou grupos que estavam no pré e no pós-operatório. Foram entrevistadas 12 mulheres que aguardavam a cirurgia e que foram questionadas sobre os motivos e expectativas em torno da mesma.
- As mulheres deixaram claro em seus relatos que o preconceito vivenciado em decorrência de sua aparência física se sobrepõe aos demais aspectos implicados no processo de decisão da cirurgia, como os reflexos da obesidade sobre a saúde física, que leva muitas vezes a pessoa a desenvolver hipertensão arterial, diabetes, problemas osteoarticulares, entre outros - explica Deíse, que ainda defende:
- Precisamos compreender a obesidade como um fenômeno social e não meramente como uma doença. Estamos caminhando na contramão de um importante problema global. Precisamos ampliar a visão dos que cuidam dessa clientela e da sociedade em geral.
Durante o estudo, ela notou que as decisões geralmente eram tomadas por influência da família, que ambiguamente incentivavam o emagrecimento do obeso, mas reforçavam seus hábitos alimentares inadequados. E também pelo sofrimento social, pois a aparência da mulher obesa não condiz com o padrão corporal atual.
- Os profissionais que assistem esse público devem entender que antes de a obesidade existir há uma pessoa que porta a doença e que precisa ser olhada de forma atenta ao se decidir pelo tratamento cirúrgico - defende.
Segundo dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2012, a obesidade atinge 16% dos homens e 18% das mulheres. Embora a diferença seja entre ambos reduzida, de acordo com a a pesquisadora, estudos realizados no âmbito nacional e internacional mostram que, do total de obesos no pré-operatório da cirurgia bariátrica, aproximadamente 80% são do sexo feminino.
São considerados obesos aqueles com índice de massa corporal (IMC) maior que 30. Este número é obtido dividindo peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros.
Pesquisadora passa por cirurgia
Deíse conta que convivia com a obesidade desde a infância, com diversas tentativas frustradas de emagrecimento. Há quatro anos, decidiu estudar sobre a decisão da mulher pela cirurgia bariátrica.
- Era apenas um projeto de doutorado, que se desdobrou em um projeto de vida. Quando comecei a fazer esta pesquisa não acreditava que a cirurgia bariátrica seria o melhor caminho para mim. Pelo contrário, era bem resistente ao tratamento cirúrgico.
Ela conta que se motivou a buscar a cirurgia pelo constrangimento que tinha com seu corpo, na época com quase 130 kg. Deíse diz não ter vivido situações de preconceito declaradas, mas observava olhares em direção a ela. Conta de situações embaraçosas como sentir-se apertada no assento de um avião ou dificuldade de passar em uma roleta de ônibus.
- Tudo isso foi ganhando uma proporção muito grande dentro de mim e em resposta a esta exclusão eu comia cada vez mais, chegando à obesidade mórbida e à indicação clínica para a cirurgia bariátrica - lembra.
A cientista foi submetida à cirurgia há cerca de dois anos, quando perdeu 54 kg. Diz se sentir hoje mais disposta e com uma elevada autoestima. Mas defende o acompanhamento psicológico (e nutricional) não somente no pré, mas também no pós-operatório. Pois, segundo ela, o excesso de peso é eliminado, mas a compulsão alimentar pode permanecer.
- O corpo é de magro e a cabeça, de gordo, como muitos pacientes operados dizem - brinca. - A minha experiência está sendo bem sucedida, mas confesso que tenho que me policiar muito para não ceder ao que muitas vezes desejo comer. A cirurgia bariátrica não faz milagre.
Deíse realizou o estudo no Serviço de Controle da Hipertensão, Diabetes e Obesidade de Juiz de Fora (MG), onde foi voluntária e auxiliou grupos que estavam no pré e no pós-operatório. Foram entrevistadas 12 mulheres que aguardavam a cirurgia e que foram questionadas sobre os motivos e expectativas em torno da mesma.
- As mulheres deixaram claro em seus relatos que o preconceito vivenciado em decorrência de sua aparência física se sobrepõe aos demais aspectos implicados no processo de decisão da cirurgia, como os reflexos da obesidade sobre a saúde física, que leva muitas vezes a pessoa a desenvolver hipertensão arterial, diabetes, problemas osteoarticulares, entre outros - explica Deíse, que ainda defende:
- Precisamos compreender a obesidade como um fenômeno social e não meramente como uma doença. Estamos caminhando na contramão de um importante problema global. Precisamos ampliar a visão dos que cuidam dessa clientela e da sociedade em geral.
Durante o estudo, ela notou que as decisões geralmente eram tomadas por influência da família, que ambiguamente incentivavam o emagrecimento do obeso, mas reforçavam seus hábitos alimentares inadequados. E também pelo sofrimento social, pois a aparência da mulher obesa não condiz com o padrão corporal atual.
- Os profissionais que assistem esse público devem entender que antes de a obesidade existir há uma pessoa que porta a doença e que precisa ser olhada de forma atenta ao se decidir pelo tratamento cirúrgico - defende.
Segundo dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2012, a obesidade atinge 16% dos homens e 18% das mulheres. Embora a diferença seja entre ambos reduzida, de acordo com a a pesquisadora, estudos realizados no âmbito nacional e internacional mostram que, do total de obesos no pré-operatório da cirurgia bariátrica, aproximadamente 80% são do sexo feminino.
São considerados obesos aqueles com índice de massa corporal (IMC) maior que 30. Este número é obtido dividindo peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros.
Pesquisadora passa por cirurgia
Deíse conta que convivia com a obesidade desde a infância, com diversas tentativas frustradas de emagrecimento. Há quatro anos, decidiu estudar sobre a decisão da mulher pela cirurgia bariátrica.
- Era apenas um projeto de doutorado, que se desdobrou em um projeto de vida. Quando comecei a fazer esta pesquisa não acreditava que a cirurgia bariátrica seria o melhor caminho para mim. Pelo contrário, era bem resistente ao tratamento cirúrgico.
Ela conta que se motivou a buscar a cirurgia pelo constrangimento que tinha com seu corpo, na época com quase 130 kg. Deíse diz não ter vivido situações de preconceito declaradas, mas observava olhares em direção a ela. Conta de situações embaraçosas como sentir-se apertada no assento de um avião ou dificuldade de passar em uma roleta de ônibus.
- Tudo isso foi ganhando uma proporção muito grande dentro de mim e em resposta a esta exclusão eu comia cada vez mais, chegando à obesidade mórbida e à indicação clínica para a cirurgia bariátrica - lembra.
A cientista foi submetida à cirurgia há cerca de dois anos, quando perdeu 54 kg. Diz se sentir hoje mais disposta e com uma elevada autoestima. Mas defende o acompanhamento psicológico (e nutricional) não somente no pré, mas também no pós-operatório. Pois, segundo ela, o excesso de peso é eliminado, mas a compulsão alimentar pode permanecer.
- O corpo é de magro e a cabeça, de gordo, como muitos pacientes operados dizem - brinca. - A minha experiência está sendo bem sucedida, mas confesso que tenho que me policiar muito para não ceder ao que muitas vezes desejo comer. A cirurgia bariátrica não faz milagre.
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